sábado, 31 de agosto de 2013

Folha: quem te viu, quem te vê!!!

Nem preciso comentar.

O Cafezinho vai fundo no desmonte de 'denúncia' da Folha

De O Cafezinho, de Miguel do Rosário

Desmontando a “pegadinha” da Folha

O Fernando Brito já escreveu alguma coisa sobre a nova farsa da Folha, cuja manchete hoje é nada mais que um ataque político rasteiro à iniciativa do governo federal de ampliar o número de médicos por habitante no país. Mas O Cafezinho também fez pesquisas sobre o tema e levantou informações interessantes.

Em primeiro lugar, o ministro da Saúde avisou há tempos que o prefeito que demitir médico estará violando o acordo com o governo federal, visto que o objetivo do programa é ampliar o número de médicos no país. E a prefeitura acabará perdendo dinheiro porque o governo cancelará o convênio com a prefeitura que fizer isso. Agora, um programa dessa magnitude, num país com 5.500 municípios, necessariamente implicará em fatos dessa natureza. Se não há médico brasileiro querendo ir ao interior, é natural que haja médicos brasileiros no interior querendo sair, ou trabalhando de má vontade, sem cumprir expediente.
Entretanto, o problema me parece ainda mais grave que isso. Fui pesquisar, individualmente, todos os exemplos citados pela Folha, de prefeitos que estão, supostamente, demitindo médicos para substituí-los pelos profissionais enviados pelo Ministério da Saúde. E descobri que a Folha conseguiu escolher a dedo.
Vamos lá.
1) Coari.
O primeiro caso citado é o da cidade de Coari, no interior profundo do Amazonas. A reportagem da Folha diz o seguinte:
Um exemplo é Coari, no Amazonas, a 421 km de barco de Manaus, onde a prefeitura paga R$ 25 mil para médicos recém-formados e R$ 35 mil para os especialistas.
“Somos obrigados a pagar esse valor ou ninguém aceita. Vamos tirar alguns dos nossos médicos e colocar os profissionais que chegarão do Mais Médicos”, diz o secretário da Saúde, Ricardo Faria.
A prefeitura diz que vai demitir um médico de seu quadro para trocá-lo por outro que chegará já na primeira fase do programa federal.
Pois bem, fui pesquisar o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, e quase me arrependi de tê-lo feito. O homem é o principal acusado da Operação Vorax, concluída pela Polícia Federal há alguns anos.
Leia esse trecho, extraído de matéria da Agência Brasil de junho de 2008;
Adail Pinheiro é apontado pela PF como o chefe do esquema responsável pelo desvio de, pelo menos, R$ 49 milhões dos cofres públicos. Segundo o delegado, não restam dúvidas sobre a participação dele no esquema de corrupção. Pinheiro foi indiciado pela PF pelos crimes de peculato, corrupção ativa, formação de quadrilha, favorecimento à prostituição, atentado violento ao pudor, sonegação fiscal e fraude em documento público. A organização criminosa é acusada de direcionar licitações, superfaturar obras e simular prestação de serviços para se apropriar de recursos repassados pelo governo federal e pela Petrobras referentes à exploração de petróleo e gás em Coari.
Ou seja, o prefeito entrevistado pela Folha é useiro e vezeiro em desviar recursos do governo federal, coisa que pretendia fazer agora com Mais Médicos.
Mas a coisa é ainda mais barra pesada. Pinheiro também se tornou o principal suspeito de chefiar uma organização voltada à exploração sexual de crianças. Como resultado paralelo da Operação Vorax, descobriu-se em Coari um sinistro esquema de pedofilia, e a Câmara dos Deputados criou uma CPI, presidida pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
Mais notícias aqui. Dê um google com o nome do prefeito e “exploração sexual de crianças”, para vocês verem o nível do primeiro exemplo trazido pela Folha de prefeitos espertalhões que pretendem demitir médicos da cidade para substituí-los pelos oferecidos pelo Ministério da Saúde.
2) Lábrea.
Trecho da matéria da Folha:
“Plano igual ao de Lábrea (a 851 km de Manaus), que tem seis médicos. “Pago R$ 30 mil para cada um deles. [Substituí-los] diminuiria os gastos da prefeitura”, diz o prefeito Evaldo Gomes (PMDB).”
Outra cidade encravada no sertão amazônico. O prefeito Evaldo Gomes, do PMDB, só está no cargo por uma liminar provisória, depois de ter sido acusado de vários crimes eleitorais.
A denúncia do TSE descreve os seguintes fatos:
a) Denúncia de eleitores indígenas ludibriados por Mesários; b) Problemas técnicos na urna da Seção Eleitoral n° 002; c) Violação do lacre da urna da Seção Eleitoral n° 73 e o deslocamento da urna ao local de votação 4 (quatro) dias antes da data do pleito bem como fornecimento de alimentação a eleitores pelo Presidente da referida Mesa Receptora de votos para captar ilicitamente sufrágio em favor dos investigados; d) Entrega pelo Chefe de Cartório Eleitoral de mais de 300 (trezentos) títulos eleitorais a servidor municipal no mês de agosto/2012 para distribuição; e) Irregular parceria entre o Chefe de Cartório Eleitoral e o Prefeito Municipal; f) Reunião entre o Chefe de Cartório, o Prefeito Municipal e o primeiro investigado no dia 02.10.2012; g) Entrega irregular de 300 (trezentos) títulos eleitorais na região sul de Lábrea; h) Irregularidades consistentes no fato de terceiros votarem em lugar de eleitores.
E muitos outros.
3) Sapeaçu.
O exemplo desta cidade ocupa a maior parte da matéria da Folha. Trecho da matéria:
O prefeito de Sapeaçu, Jonival Lucas (PTB), confirma a demissão de Junice e a chegada de um profissional do Mais Médicos para substituí-la.
Lucas afirma que a médica deixará o cargo por não cumprir a carga horária estabelecida e que o substituto será um profissional brasileiro que já atuou naquela região do interior da Bahia.
“Já estávamos procurando outro para assumir o lugar dela”, diz o prefeito do município, que fala em “uma série de vantagens para o município” com o Mais Médicos.

Esse é um caso interessante, porque envolve a Coofsaúde, uma cooperativa de médicos que atua no interior da Bahia. As prefeituras contratam a Coofsaúde para fornecer médicos aos hospitais municipais. É uma terceirização lamentável do serviço médico, mas tudo bem. Acontece que, procurando na internet, descobri uma série de denúncias contra a Coofsaúde justamente por pagar supersalários a diretores de hospital municipais que fizeram convênio com a cooperativa.
Em Jeremoabo, houve denúncia de que o Hospital Municipal da cidade, apesar dos péssimos serviços oferecidos, e da falta de médicos, pagava quase 100 salários mínimos ao diretor da instituição. Foram publicados os contracheques do diretor.

A imagem está apagada, mas dá para ver que a “taxa da cooperativa” é quase R$ 2.000/ mês. No site da Coofsaúde, informa-se que a instituição surgiu em “agosto de 2005, fruto da união de um grupo de profissionais de saúde , com a finalidade de prestar serviços ,de forma legal e justa, atendendo aos princípios do cooperativismo e assumindo a responsabilidade na gestão de seus contratos junto ao poder público. Atualmente a nossa cooperativa possui mais de 1000 (mil) cooperados, mais de 30 (trinta) contratos com Prefeituras Municipais”
É óbvio que a Coofsaúde é uma parte totalmente interessada no fracasso do programa “Mais Médicos” do governo federal, visto que ele concorre diretamente para reduzir os lucros da instituição.  Fui conferir na cartilha da Coofsaúde e descobri que a entidade não tem “fins lucrativos”, mas tem “sobras”:
O que são sobras? A cooperativa tem lucro?
O que em uma empresa comum é chamado de lucro, nas cooperativas chama-se de sobras. Ao final de cada exercício fiscal é levantado o balanço financeiro da sociedade e, em caso de haver sobras, estas devem ser distribuídas igualitariamente aos sócios.

A cartilha informa ainda que o “cooperado” não tem nenhum direito trabalhista garantido. Não tem décimo-terceiro, FGTS, aviso prévio, férias remuneradas. Nada.
O autônomo cooperado tem direito a férias, 13° salário, aviso prévio e FGTS?
O prestador de serviço que aderir à cooperativa e, por estatuo da mesma, adquirir o status de cooperado, não é caracterizado como empregado, conforme artigo 442 da CLT, adiante reproduzido:

“Qualquer que seja o ramo da atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daqueles”. Dito isto, fica claro que o cooperado não tem os mesmos direitos de um trabalhador celetista como as férias remuneradas, 13º salário, aviso prévio e FGTS.
Segundo o site Congresso em Foco, Jonival Lucas, agora prefeito de Sapeaçu, “foi um dos deputados denunciados pela CPI dos Sanguessugas. Responde ao processo 13226-30.2007.4.01.3600 na Justiça Federal de Mato Grosso pelos crimes de quadrilha ou bando, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.”
Em entrevista dada há pouco para o site Bahia Recôncavo, Jonival reafirma que Junice foi demitida por negligência, por não cumprir a carga de horário. E reforça que ela não vai ser substituída por nenhum cubano, mas por um brasileiro que já trabalhou na região, do programa Mais Médicos.
Neste caso, a fonte desqualificada nem é tanto o prefeito, e sim a médica entrevistada.
Nas redes sociais, internautas denunciam Junice: ele teria 3 vínculos públicos e 128 horas semanais de trabalho, o que provaria, naturalmente, que ela não está cumprindo efetivamente a carga horária de suas obrigações médicas.


4) Camaragibe.
“Dos quatro profissionais do Programa Mais Médicos a que Camaragibe, na região metropolitana do Recife, terá direito, apenas dois são novos. Os outros já estão na cidade e vão deixar de receber pela prefeitura para ter o salário pago pelo governo federal.”
A Folha informa, por fim, que a prefeitura de Camaragibe, Bahia, também vai substituir médicos próprios por profissionais contratados pelo governo federal. O prefeito da cidade é o Jorge Alexandre, do PSDB. Os servidores municipais tem acusado o prefeito de estar promovendo uma série de cortes de direitos adquiridos há muito tempo, e contratando pessoal sem concurso. O seu sindicato conseguiu que o Ministério Público publicasse uma recomendação ao prefeito para respeitar o plano de carreiras do município.
Me parece, portanto, que a prefeito Jorge Alexandre, é suspeito duas vezes nessa “pegadinha” da Folha. É de um partido adversário do governo federal, interessado portanto em desgastar a iniciativa do Ministério da Saúde. Tem um histórico de querer “economizar” cortando direitos dos funcionários, e agora vemos, também empregos, contrariando a orientação expressa do Ministério da Saúde, pela qual as prefeituras que demitirem médicos para receberem profissionais do programa serão cortadas do convênio.


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um brasileiro inventou a "luz engarrafada"

Recebi hoje um email dando conta desta invenção realmente extraordinária. Por que será que coisas assim costumam não ser muito divulgadas? Nem aceitas? Por que? Por que? Por que?


Brasileiro inventor de ‘luz engarrafada’ tem ideia espalhada pelo mundo

 
Alfredo Moser poderia ser considerado um Thomas Edison dos dias de hoje, já que sua invenção também está iluminando o mundo.
Em 2002, o mecânico da cidade mineira de Uberaba, que fica a 475 km da capital Belo Horizonte, teve seu próprio momento de “eureka” quando encontrou a solução para iluminar a própria casa em um dia de corte de energia.
Para isso, ele utilizou nada mais do que garrafas plásticas pet com água e uma pequena quantidade de cloro.
Nos últimos dois anos, sua ideia já alcançou diversas partes do mundo e deve atingir a marca de 1 milhão de casas usando a “luz engarrafada”.
Mas, afinal, como a invenção funciona? A reposta é simples: pela refração da luz do sol em uma garrafa de dois litros cheia d’água.
“Adicione duas tampas de cloro à água da garrafa para evitar que ela se torne verde (por causa da proliferação de algas). Quanto mais limpa a garrafa, melhor”, explica Moser.
Ele protege o nariz e a boca com um pedaço de pano antes de fazer o buraco na telha com uma furadeira. De cima para baixo, ele então encaixa a garrafa cheia d’água.
“Você deve prender as garrafas com cola de resina para evitar vazamentos. Mesmo se chover, o telhado nunca vaza, nem uma gota”, diz o inventor.
Outro detalhe é que a lâmpada funciona melhor se a tampa for encapada com fita preta.
“Um engenheiro veio e mediu a luz. Isso depende de quão forte é o sol, mas é entre 40 e 60 watts”, afirma Moser.
Apagões – A inspiração para a “lâmpada de Moser” veio durante um período de frequentes apagões de energia que o país enfrentou em 2002. “O único lugar que tinha energia eram as fábricas, não as casas das pessoas”, relembra.
Moser e seus amigos começaram a imaginar como fariam um sinal de alarme, no caso de uma emergência, caso não tivessem fósforos.
O chefe do inventor sugeriu na época utilizar uma garrafa de plástico cheia de água como lente, para refletir a luz do sol em um monte de mato seco e, assim, provocar fogo.
A ideia ficou na mente de Moser que, então, começou a experimentar encher garrafas para fazer pequenos círculos de luz refletida. Não demorou muito para que ele tivesse a ideia da lâmpada.
“Eu nunca fiz desenho algum da ideia. Essa é uma luz divina. Deus deu o sol para todos e luz para todos. Qualquer pessoa que usar essa luz economiza dinheiro. Você não leva choque e essa luz não lhe custa nem um centavo”, ressalta.
Pelo mundo – O inventor já instalou as garrafas de luz na casa de vizinhos e até no supermercado do bairro. Ainda que ele ganhe apenas alguns reais instalando as lâmpadas, é possível ver pela casa simples e pelo carro modelo 1974 que a invenção não o deixou rico. Apesar disso, Moser aparenta ter orgulho da própria ideia.
“Uma pessoa que eu conheço instalou as lâmpadas em casa e dentro de um mês economizou dinheiro suficiente para comprar itens essenciais para o filho que tinha acabado de nascer. Você pode imaginar?”, comemora Moser.
Carmelinda, mulher de Moser há 35 anos, diz que o marido sempre foi muito bom para fazer coisas em casa, até mesmo para construir camas e mesas com madeira de qualidade.
Mas parece que ela não é a única que admira o inventor. Illac Angelo Diaz, diretor executivo da fundação de caridade MyShelter, nas Filipinas, parece ser outro fã.
A instituição MyShelter se especializou em construção alternativa, criando casas sustentáveis feitas de material reciclado, como bambu, pneus e papel.
Para levar à frente um dos projetos do MyShelter, com casas feitas totalmente com material reciclado, Diaz disse ter recebido “quantidades enormes de garrafas”.
“Enchemos as garrafas com barro para criar as paredes. Depois enchemos garrafas com água para fazer as janelas”, conta.
“Quando estávamos pensando em mais coisas para o projeto, alguém disse: ‘Olha, alguém fez isso no Brasil. Alfredo Moser está colocando garrafas nos telhados”’, relembra Diaz.
Seguindo o método de Moser, a entidade MyShelter começou a fazer lâmpadas em junho de 2011. A entidade agora treina pessoas para fazer e instalar as garrafas e assim ganhar uma pequena renda.
Nas Filipinas, onde um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza (de acordo com a ONU, com menos de US$ 1 por dia) e a eletricidade é muito cara, a ideia deu tão certo, que as lâmpadas de Moser foram instaladas em 140 mil casas.
As luzes “engarrafadas” também chegaram a outros 15 países, entre eles Índia, Bangladesh, Tanzânia, Argentina e Fiji.
Diaz disse que atualmente podem-se encontrar as lâmpadas de Moser em comunidades que vivem em ilhas remotas. “Eles afirmam que viram isso (a lâmpada) na casa do vizinho e gostaram da ideia”.
Pessoas em áreas pobres também são capazes de produzir alimentos em pequenas hortas hidropônicas, usando a luz das garrafas para favorecer o crescimento das plantas. Diaz estima que pelo menos 1 milhão de pessoas vão se beneficiar da ideia até o começo de 2014.
“Alfredo Moser mudou a vida de um enorme número de pessoas, acredito que para sempre”, enfatiza o representante do MyShelter.
“Ganhando ou não o Prêmio Nobel, queremos que ele saiba que um grande número de pessoas admira o que ele está fazendo.”
Mas será que Moser imagina que sua invenção ganharia tamanho impacto? “Nunca imaginei isso, não”, diz, emocionado. “Me dá um calafrio no estômago só de pensar nisso.” (Fonte: G1)

Em livro, Palmério Dória revela identidade de ex-deputado: gravou colegas que venderam votos para reeleger FHC

Todos sabiam, ninguém investigou. Afinal, a corrupção não era de trabalhadores, era de pássaros de linda plumagem...



Em livro, Palmério Dória revela identidade de ex-deputado: gravou colegas que venderam votos para reeleger FHC

por Luiz Carlos Azenha
Foi o acreano Narciso Mendes, hoje com 67 anos de idade, quem usou um gravador emprestado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, para comprovar que deputados federais de seu estado venderam os votos na aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997.
A revelação é feita no livro O Príncipe da Privataria, de Palmério Dória, que chega às livrarias hoje.
Em Brasília não era segredo o papel desempenhado por Narciso, à época deputado federal pelo Partido Progressista, de Paulo Maluf. Porém, pela primeira vez ele assume oficialmente o que fez.
Trecho do livro:
A compra dos votos para a reeleição, frisa Narciso, “se dava às escâncaras”. Seria “muita ingenuidade”, diz ele, considerar inverossímil que, no episódio da troca de cheques pré-datados por dinheiro vivo, os deputados saíssem carregando R$ 200 mil em sacolas. Afinal, em notas de R$ 100,00 seriam duas mil notas, ou o dobro se fossem notas de R$ 50,00. Duzentos pacotes de mil reais: volume considerável. “Tinha de ser em sacolas!”, diverte-se ele.
O que Narciso diz é que cheques foram antecipados e, posteriormente — depois da aprovação da emenda — trocados por dinheiro.
Dois deputados renunciaram antes de serem cassados pela Câmara, ao admitirem envolvimento na tramoia: Ronivon Santiago e João Maia. Outros três, igualmente da bancada acreana, também foram citados como tendo vendido o voto.
Na época, o PSDB atribuiu a manobra a interesses paroquiais, de governadores que também seriam beneficiados pela aprovação da emenda. Porém, o livro coloca a operação no colo de Sérgio Motta, então ministro das Comunicações e principal articulador de FHC junto ao Congresso Nacional.
Narciso, hoje empresário no Acre, é dono do jornal O Rio Branco e de uma retransmissora do SBT. Ele sustenta que se opôs à emenda que garantiu a reeleição a FHC por questões ideológicas. Não concordava que pudesse beneficiar quem a promovia.
Reproduzindo um trecho de A Arte da Política, livro de FHC, afirma: “Aqui diz Fernando Henrique Cardoso: Sérgio Motta indignou-se, queria logo uma CPI na ingenuidade de imaginar que, naquela circunstância, da CPI resultasse outra coisa diferente do que culpar o governo”.
Comenta:
“Nem Sérgio Motta queria CPI, nem Fernando Henrique queria CPI, nem Luís Eduardo Magalhães [líder do governo] queria CPI, ninguém queria, porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos”.
Mas, quantos votos foram comprados para que FHC pudesse se reeleger?
Nos cálculos do senador Pedro Simon, citado no livro, 150. A 200 mil reais por cabeça, por baixo, R$ 300 milhões!
Narciso acha que foram mais. Nega que, como foi acusado por escrito por FHC, tenha tentado tumultuar a tramitação da emenda.
“Como é que um desgramado, do baixo clero, do Acre, tinha poderes para tumultuar a emenda da reeleição?”, afirma Narciso.
Também rebate a ideia de que o governador do Acre à época, Orleir Cameli, assim como outros dirigentes de estados do Norte, tivessem tomado a iniciativa de promover a emenda, como sugere FHC em seu livro.
 Uma mentira, diz Narciso, pois no Acre, por exemplo, Orleir Cameli não se candidatou à reeleição. Ademais, acrescenta, não foi “o pessoal do Norte” quem inventou a reeleição, muito menos a compra de votos. “Foi uma criação do  senhor Sérgio Motta e do senhor Fernando Henrique Cardoso”, reitera.
*****
O livro O Príncipe da Privataria é, na verdade, um balanço do entorno do homem que “vendeu o Brasil”. Uma denúncia menos na linha de Amaury Ribeiro Jr. e mais na de Aloysio Biondi e seu O Brasil Privatizado.
Um escândalo sobre o qual o Brasil pouco refletiu, já que a mídia corporativa se refere àquele como um período de ouro do país. É importante frisar que os principais grupos de mídia tiraram proveito direto dos negócios envolvidos na privatização.
Na Nota do Editor que abre o livro, Luiz Fernando Emediato pergunta: “onde estava, no reinado dos tucanos, o ministério público, o procurador geral da República, os Joaquim Barbosa daquele tempo? O chamado “mensalão” — tenha existido ou não — parece coisa de amadores diante do profissionalismo de empresários, burocratas e políticos daquele tempo. Nenhuma CPI. Nenhuma investigação que chegasse ao fim. Nenhuma denúncia capaz de levar a um processo e a uma condenação!”
Palmério Dória avança a tese de que Glauber Rocha, na década de 70, foi visionário ao dizer:
No Brasil, o gancho do Pentágono é o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que funciona em São Paulo.
Fernando Henrique Cardoso é apenas um neocapitalista, um kennedyano, um entreguista.
Como a Central de Inteligência dos Estados Unidos deu dinheiro à Fundação Ford e esta ao Cebrap — na casa, especula Palmério, do milhão de dólares –, “o Cebrap recebeu dinheiro da CIA”.
Teria sido este o início da “inspiração” que levou FHC a adotar a agenda do consenso de Washington, que resultou na queima de R$ 100 bilhões em patrimônio público dos brasileiros.

 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

As opções para a Síria e a região em caso de um ataque militar ocidental

Será que teremos, de fato, uma nova intervenção do ocidente (leia-se EUA) no Oriente Médio? Já não bastaram as do Afeganistão e do Iraque? 
Bem, uma coisa é certa: na medida em que um ataque vai criar tanta confusão, provavelmente as pessoas no mundo inteiro irão se esquecer da espionagem gigantesca que os norte-americanos fizeram, fazem e continuarão a fazer! Nada como um novo problema para fazer esquecer um outro problema!

As opções para a Síria e a região em caso de um ataque militar ocidental

Em entrevista à 'Carta Maior', Pat Thaker, diretora de África e Oriente Médio da Unidade de Inteligência da revista 'The Economist', analisa as alternativas que se abrem para a Síria e a região em caso de uma intervenção militar ocidental. “Uma das opções que a Síria tem é envolver Israel no conflito lançando um míssil ou ativando a frente sul do Líbano por meio de seu aliado, Hezbollah. Também poderia lançar um ataque contra o sul da Turquia e Jordânia”, avalia Thaker. Por Marcelo Justo, de Londres


Londres - Em março de 2003, o parlamento britânico votou a favor do ataque militar ao Iraque para por fim a um programa de armas de destruição em massa, programa que, segundo os serviços de inteligência, “poderia atingir o Reino Unido em 45 minutos”. Nesta quinta-feira, o parlamento inicia um debate que deverá definir se na próxima semana ocorrerá um ataque militar a Síria por seu suposto uso de armas químicas, suposição baseada nos informes de inteligência. Aqui, a famosa frase de Marx – a história se repete primeiro como tragédia e depois como farsa – mereceria ser reformulada. No caso sírio, o ataque será uma tragédia sem nenhum dos sorrisos que costumam acompanhar uma farsa. Em entrevista à Carta Maior, Pat Thaker, diretora de África e Oriente Médio da Unidade de Inteligência da revista ‘The Economist’, analisou as alternativas que se abrem para a Síria e a região.

A ofensiva militar parece inevitável. Qual é o cenário mais possível de ataque militar?
Uma ação breve e contundente. O momento e a duração são fundamentais. Não vamos ver a intervenção militar que vimos no Iraque. Os objetivos serão instalações militares ou vinculadas aos militares. Não creio que haja ataques diretos sobre instalações de armas químicas pelo risco de liberar agentes tóxicos. Será preciso ver qual será a reação da Síria e de seus aliados. E ver que impacto terá sobre a região em seu conjunto. Uma das opções que a Síria tem é envolver Israel no conflito lançando um míssil ou ativando a frente sul do Líbano por meio de seu aliado, Hezbollah. Também poderia lançar um ataque contra o sul da Turquia e Jordânia. Será preciso ver também qual será a reação da Rússia e do Irã ante um conflito. Ambos têm conselheiros militares na Síria e advertiram que pode haver consequências. No caso do Irã, há um novo governo que está enfrentando seu primeiro grande desafio diplomático.

Quais são os riscos de uma intervenção “breve e contundente”?
Nestas intervenções sempre morrem civis inocentes. Isso pode ter um forte impacto sobre a região. Tampouco se pode descartar que as defesas sírias possam alcançar a força aérea dos aliados. É um conflito que vem ocorrendo há tempo, de modo que se poderia pensar que essa é uma alternativa que já está comtemplada, o que não quer dizer, certamente, que não traga riscos. Mas, além disso, a intervenção vai abrir uma nova fase na guerra civil. Os Estados unidos tem muito claro que o objetivo não é remover Assad, mas é evidente que será percebido como uma tentativa de removê-lo ou de forçá-lo a negociar sua própria substituição. A guerra civil síria já teve impacto no Líbano, Iraque, Jordânia e Turquia. Com esse ataque é de se supor que o tema dos refugiados se agravará.

No Reino Unido, ex-chefes militares, como o do exército britânico, o general Lord Robert Dannatt, assinalaram que não há uma estratégia muito clara. Um temor é que essa intervenção acabe reforçando a posição dos grupos vinculados a Al Qaeda que lutam contra o governo de Assad, o que seria ao menos uma ironia, uma intervenção militar estadunidense que acabe aliando-se a Al Qaeda.
Essa é uma das perguntas fundamentais. Ninguém sabe bem como está conformada a oposição armada a Assad. Uma parte é Al Qaeda. De modo que, quando se arma o movimento rebelde, se está armando a Al Qaeda. Isso tem sua contrapartida no fato de que é necessário enviar uma mensagem clara sobre os ataques químicos. Mas é evidente que um enfraquecimento do regime de Assad que conduza a sua queda vai aprofundar um conflito com uma enorme incerteza no médio prazo e um forte perigo de regionalização.

A mera possibilidade de um ataque militar teve um claro impacto econômico com a alta do preço do petróleo e a instabilidade dos mercados acionários. Esse conflito pode afetar a tímida recuperação que estão vivendo os EUA, o Japão e a zona do euro?
O mercado está reagindo a esta possibilidade iminente de ataque e se ajustará sempre e desde que o fornecimento de petróleo não seja afetado. Se o ataque não produzir uma instabilidade regional, o impacto econômico não será sério em nível global. Mas isso é uma grande interrogação. Não sabemos o que vai ocorrer. De maneira que, no curto prazo, haverá instabilidade. Depois dependerá de como se sairá a intervenção militar e de sua duração. Há dois fatores que moderam o impacto econômico. A guerra civil síria não é um fenômeno novo e a Síria não é um importante produtor de petróleo. Além disso, todas as mudanças que ocorreram no mercado petroleiro com a exploração das reservas de xisto e o fato de que os EUA passarão de importador a exportador do produto são fatores que estabilizam o mercado. O fornecimento já não depende tanto do Oriente Médio, o que ajuda a neutraliza o impacto dessa instabilidade regional.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Enquanto isso, continuamos a nos envenenar...

 A matéria foi publicada no ano passado, mas vale a pena requentá-la!

 

Confirmado: Coca-cola Zero usa adoçante banido nos EUA



No Brasil, ao invés de aspartame, multinacional prefere o ciclamato — suspeito de causar câncer e atrofia nos testículos, mas quinze vezes mais barato…
Por Antonio Martins | Imagem: poema de Décio Pignatari
Um zunzunzum profundamente incômodo para a Coca-Cola e os jornais comerciais — e no entanto provavelmente verdadeiro — está percorrendo redes sociais como o Facebook e Google+ (veja íntegra ao final do post). Afirma-se que a Coca Zero,  lançada no país em 2005 e um dos produtos de maior sucesso da empresa, contém em sua fórmula o ciclamato de sódio, substância proibida no refrigerante vendido nos Estados Unidos. A razão da diferença seria uma velha conhecida: o desejo de maximizar os lucros (pouco importando Ambiente, Direitos Sociais ou mesmo Saúde)  nos países onde agências estatais são menos rigorosas. O ciclamato de sódio, foi banido a partir de 1969 no Japão, Estados Unidos e outras nações. Há fortes suspeitas de que provoque câncer. Porém, custaria quinze vezes menos que o aspartame – adoçante também sintético presente na Coca Zero vendida nos Estados Unidos e Europa Ocidental.
Será mais uma lenda urbana? Uma pesquisa inicial sugere que não. Acompanhe por quê:

a) O próprio site da filial brasileira da Coca-Cola admite, em seu site, que a fórmula do refrigerante contém ciclamato de sódio — assim como as de Sprite Zero, Fanta Zero e Kuat Zero.
b) Também é verdade que o mesmo produto vendido nos Estados Unidos usa aspartame ao invés de ciclamato, como se vê neste texto do Huffington Post.
c) Um verbete na Wikipedia revela que as suspeitas sobre o caráter cancerígeno do ciclamato são reais. A substância aparentemente não é metabolizada no organismo, degenerando em ciclohexilamina, que pode aumentar a incidência de tumores. O uso ultra-intenso de ciclamato de sódio produziu cânceres de bexiga em ratos, deformações, redução dos níveis de testosterona, atrofia dos testículos. O fenômeno foi demonstrado já em 1969, por pesquisas conduzidas pela agência de medicamentos dos EUA — que determinou seu banimento. Como as quantidades de ciclamato usadas nos testes foram muito grandes, os resultados são controversos e 55 países continuam a tolerar o produto.
d) O Brasíl é um destes países. Em junho de 2009, período em que também surgiram dúvidas a respeito dos possíveis danos do ciclamato à Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu, a respeito, o Informe Técnico 40. Embora defenda a liberação, o documento reconhece as dúvidas científicas a respeito de suas propriedades.
O consumo de alimentos, bebidas e outros produtos à base de adoçantes como aspartame, ciclamato é cada vez mais difundido no Brasil. As suspeitas sobre os efeitos destas substâncias são, é claro, um tema muito relevante de Saúde pública. No entanto, são raríssimas ou inexistentes as matérias sobre o assunto, nos jornais e revistas. Há quem prefira (Veja quem, entre outros: 1 2) entreter seus leitores com “testes comparativos de sabor” entre os adoçantes… Por ignorância ou previsíveis interesses, eestes textos omitem por completo as pesquisas e controvérsias cientificas que envolvem tais produtos.
Abaixo, um dos textos que circula nas redes sociais.

Coca-cola Zero. Sukita Zero. Fanta Light. Dolly Guaraná. Dolly Guaraná Diet. Fanta Laranja. Sprite Zero. Sukita. Oito bebidas e duas substâncias altamente nocivas ao ser humano. Na Coca-cola Zero, está o ciclamato de sódio, um agente químico que reconhecidamente faz mal à saúde. Nos outros sete refrigerantes, está o benzeno, uma substância potencialmente cancerígena.Essa é a mais recente descoberta que vem sendo publicada na mídia e que só agora chega aos ouvidos das maiores vítimas do refrigerante: os consumidores. A pergunta que vem logo à mente é: “por que só agora isso está sendo divulgado?”. E, pior: “se estes refrigerantes fazem tão mal à saúde, por que sua venda é permitida?”.

Nos Estados Unidos da América, a Coca-cola Zero já é proibida pelo F.D.A. (Federal Drugs Administration), mas sua venda continua em alta nos países em desenvolvimento ou não desenvolvidos, como os da Europa Oriental e América Latina. O motivo é o baixo custo do ciclamato de sódio (10 dólares por quilo) quando comparado ao Aspartame (152 dólares/Kg), substância presente na Coca-cola Light. O que isso quer dizer? Simplesmente que mesmo contendo substância danosa à saúde, a Coca Zero resulta num baixo custo para a companhia, tendo por isso uma massificação da propaganda para gerar mais vendas.

E a ironia não para por aí. Para quem se pergunta sobre os países desenvolvidos, aqui vai a resposta: nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido e na maioria dos países europeus, a Coca-cola Zero não tem ciclamato de sódio. A luta insaciável pelos lucros da Coca-cola Company são mais fortes nos países pobres, até porque é onde menos se tem conhecimento, ou se dá importância, a essa informações.

No Brasil, o susto é ainda maior. Uma pesquisa realizada pela Pro Teste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – verificou a presença do benzeno em índices alarmantes na Sukita Zero (20 microgramas por litro) e na Fanta Light (7,5 microgramas). Já nos refrigerantes Dolly Guaraná, Dolly Guaraná Diet, Fanta Laranja, Sprite Zero e Sukita, o índice de benzeno estava abaixo do limite de 5 microgramas por litro.

Só para se ter uma idéia, o benzeno está presente no ambiente através da fumaça do cigarro e da queima de combustível. Agora, imagine isso no seu organismo ao ingerir um dos refrigerantes citados. Utilizado como matéria-prima de produtos como detergente, borracha sintética e náilon, o benzeno está relacionado a leucemias e ao linfoma. Contudo, apesar de seus malefícios, o consumo da substância não significa necessariamente que a pessoa terá câncer, pois cada organismo tem seu nível de tolerância e vulnerabilidade.

Corantes e adoçantes

Na mesma pesquisa da Pro Teste, constatou-se que as crianças correm um grande risco, pois foram encontrados adoçantes na versão tradicional do Grapette, não informados no rótulo. Nos refrigerantes Fanta Laranja, Fanta Laranja Light, Grapette, Grapette Diet, Sukita e Sukita Zero, foram identificados os corantes amarelo crepúsculo, que favorece a hiperatividade infantil e já foi proibido na Europa, e o amarelo tartrazina, com alto potencial alérgico.

Enquanto a pesquisa acusa uma urgente substituição dos corantes por ácido benzóico, por exemplo, a Coca-cola, que produz a Fanta, defende-se dizendo que cumpre a lei e informa a presença dos corantes nos rótulos das bebidas. A AmBev, que fabrica a Sukita, informou que trabalha “sob os mais rígidos padrões de qualidade e em total atendimento à legislação brasileira”.

Por fim, a Refrigerantes Pakera, fabricante do Grapette, diz que a bebida pode ter sido contaminada por adoçantes porque as duas versões são feitas na mesma máquina e algum resíduo pode ter ficado nos tanques.

Quando será o fim dessa novela e da venda dos refrigerantes que contém substâncias nocivas à saúde, ninguém sabe. Mas enquanto os fabricantes deixam a ética e o respeito ao cidadão de lado em busca do lucro exacerbado, você tem a liberdade de decidir entre tomar esse veneno ou preservar a qualidade do seu organismo. Agora, é com você!

Prometi e não cumpri... ainda os médicos!

Pois é... eu disse que não falaria mais nada, mas não teve jeito.
Minha amiga Vânia me enviou, e tive de repassar.
O autor é o Gilberto Dimenstein.


Debate sobre os médicos me dá vergonha




O perfil dos médicos cubanos é o seguinte: em geral, eles têm mais de uma década de formados, passaram por missões em outros países, fizeram residência, parte deles ( 20%) cursaram mestrado e 40% obtiveram mais que uma especialização.
Para quem está preocupado com o cidadão e não apenas com a corporação, a pergunta essencial é: essa formação é suficiente?
Aproveito essa pergunta para apontar o que vejo como uma absurda incoerência - uma incoerência pouca conhecida da população - de dirigentes de associações médicas. Um dos dirigentes, aliás, disse publicamente que um médico brasileiro não deveria prestar socorro (veja só) se um paciente for vítima de um médico estrangeiro. Deixa morrer. Bela ética.
Provas têm demonstrado que uma boa parte dos alunos formados nos cursos de medicina no Brasil não está apta a exercer a profissão. Não vou aqui discutir de quem é a culpa, se da escola ou do aluno. Até porque para a eventual vítima tanto faz.
Mesmo sendo reprovados nos testes, os estudantes ganham autorização para trabalhar.
Por que essas mesmas associações, tão furiosas em atacar médicos estrangeiros, não fazem barulho para denunciar alunos comprovadamente despreparados?
A resposta encontra-se na moléstia do corporativismo.
Se os brasileiros querem tanto essas vagas por que não se candidataram?
Será que preferem que o pobre se dane apenas para que um outro médico não possa trabalhar?
Sinceramente, sinto vergonha por médicos que agem colocando a vida de um paciente abaixo de seus interesses.

Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

Sugestão de site

 
Entrem no site NOVOJORNAL http://www.novojornal.com/
para saberem o que o senadorzinho de Ipanema
anda aprontando.
Uma das aprontações é tentar fazer com que a Justiça feche este site.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

2º Festival de Historia de Diamantina

De 19 a 22 de setembro será realizado o 2º Festival de História, em Diamantina.
Uma extensa programação, com a presença de um seleto time de historiadores e cientistas sociais.
Vale a pena conferir!

o site da FHIST é este aqui: 



Rodas de Conversa e Palestras

Na programação do Festival de História, as complexas e instigantes relações entre a História e o Patrimônio Cultural darão o tom das rodas de conversa e palestras que acontecerão no Teatro Santa Izabel, no Mercado Velho e na Biblioteca Antônio Torres. Especialistas, historiadores, arquitetos, gestores públicos estarão frente a frente com o público para debater os desafios da proteção, conservação e salvaguarda do patrimônio cultural material e imaterial brasileiro. Entrada livre.

Confira a programação!

Biblioteca Antônio Torres, 20 de setembro, 9 horas Roda de conversa Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial - O Jongo Estudo de Caso: O plano de salvaguarda do Jongo A política de salvaguarda do patrimônio imaterial no Brasil, a sua interface com a Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial (2003) e a articulação com os demais países da America Latina. Instrumentos de identificação, reconhecimento, apoio e fomento e o desafio da promoção da sustentabilidade do patrimônio cultural e seus detentores. 

Ivana Cavalcanti, técnica do Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN.  Natália Brayner, técnica do Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN.  Corina Rodrigues Moreira, técnica da Superintendência do IPHAN em Minas Gerais. Mercado Velho, 20 de setembro, 16 horas Palestra O Mercado dos Tropeiros de Diamantina na História Centro de trocas, de comércio e, sobretudo, de intercâmbio cultural. Nesta palestra, será apresentado, por meio do estudo de caso do antigo Mercado de Tropeiros de Diamantina, como o aprofundamento das pesquisas históricas pode ampliar a compreensão de um bem cultural.  Leandro Campos é mestre em Arquitetura e Urbanismo/ Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Área de Concentração: Conservação e Restauro, pela UFBA, com graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. É consultor técnico UNESCO na implantação do Centro Lúcio Costa. 

Biblioteca Antônio Torres, 21 de setembro, 9 horas Roda de conversa Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial - O Queijo Estudo de caso: O desafio da salvaguarda do Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre/Alto Parnaíba A política de salvaguarda do patrimônio imaterial no Brasil e sua interface com as demais políticas públicas. Instrumentos de identificação, reconhecimento, apoio e fomento e o desafio da promoção da sustentabilidade do patrimônio cultural e de seus detentores.  Ivana Cavalcanti, técnica do Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN.  Natália Brayner, técnica do Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN.  Corina Rodrigues Moreira, técnica da Superintendência do IPHAN em Minas Gerais.

Teatro Santa Izabel, 21 de setembro, 16 horas Palestra Sinais de messianismo nas artes: jesuítas, rebeliões e inconfidências em Minas Gerais Símbolos que desvendam o universo religioso português e espanhol, projeções artísticas de um programa político-teológico da obra missionária da Companhia de Jesus para a construção de uma pretendida Monarquia Universal da Igreja Católica estiveram presentes nas antigas Minas Gerais do Ouro e dos Diamantes. Os testemunhos artísticos encontrados se ligam à presença significativa dos jesuítas, suas doutrinas e seus ideais messiânicos, que apenas agora começam a ser revelados pela historiografia.  Jaelson Bitran Trindade, historiador com doutorado em História Social pela USP. Pesquisador do CEDOPE - Centro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses (XV-XIX) - UFPR, atua principalmente nos temas da Arte, Religião e Poder. Integra a equipe do IPHAN em São Paulo.

domingo, 25 de agosto de 2013

Para encerrar os comentários sobre os médicos estrangeiros

Eu tinha prometido a mim mesmo que não iria mais tocar no assunto, mas hoje me cairam diante dos olhos duas matérias que me deram comichão e então eu vou publicá-las aqui, prometendo que não volto mais ao assunto. O primeiro é bem irônico, do Blog do Mello, o segundo é do Observatório da Imprensa.


Porque prefiro ser tratado por médicos brasileiros. Ou não

Eu prefiro ser tratado por médicos brasileiros, embora 54,5%  dos 2400 formandos que fizeram a prova do Conselho Regional de Medicina de SP não atingiram a nota mínima. O pior é que os erros se concentraram em áreas básicas. Mesmo assim vão poder exercer a profissão e atender aos infelizes que caírem em suas reprovadas mãos. Mas eu não moro em São Paulo.

Prefiro médicos brasileiros, porque eles são coisa nossa. Por exemplo, a gente liga pra marcar consulta e a telefonista do doutor pergunta: - é particular ou plano? Se for plano, empurram sua consulta lá pra frente. Particular, eles dão um jeitinho. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque quando chego ao consultório, fico esperando mais de uma hora pra ser atendido. É porque eles são bonzinhos, gostam de atender a todo mundo, e sabem que ali, no calor apertado da sala de espera, sempre pode rolar uma conversa agradável sobre sintomas e padecimentos com outros médicos. E a socialização é muito importante. Sem contar que podemos adquirir informação, com a leitura daquela Veja em que Airton Senna e Adriane Galisteu ainda estão namorando. Ah, tempo bom! É coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque quando a consulta é particular, eles fazem questão de não dar recibo, ou então a recepcionista pergunta se vou querer a nota fiscal, porque aí o preço é diferente. Não é sonegação, claro que não. É porque eles têm vergonha de espalhar quanto cobram pela consulta. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque eles vivem chorando miséria, mas, mesmo assim, no estacionamento dos médicos nos hospitais só tem carrão importado. Parece até pátio de delegacia de polícia. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque você faz todo o acompanhamento de sua doença com o doutor do seu plano de saúde, mas na hora da cirurgia, embora ela seja coberta pelo plano, o doutor sempre pede um por fora, pra ele e equipe. Inclusive o anestesista, aquele médico que não é médico, não tem plano, não obedece a sindicatos nem nada. É sempre por fora. É coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque várias vezes você chega ao posto de saúde, a uma emergência ou ao hospital e ele simplesmente não foi trabalhar, e usa de sua criatividade, inventando até dedinhos de silicone, para receber aquele salário que eles dizem que é uma merreca. Mas, isso é mentira, na verdade eles não vão trabalhar porque os hospitais, ambulatórios, as emergências e postos de saúde não dão condições. Eles só não largam o emprego porque têm pena dos pacientes que vão deixar na mão - embora não trabalhem. Pelo menos é o que dizem. Coisa nossa.

Só escrevo este texto, porque tenho vários amigos médicos e, infelizmente, não vejo nenhum deles se levantar contra esse hediondo corporativismo, contra essa maluquice generalizada de que seus colegas cubanos (que trabalham no mundo inteiro) são despreparados e, pior, vão espalhar a ideologia comunista pelo Brasil. Esses médicos que acham que municípios sem médicos têm que continuar assim, enquanto não tiverem infraestrutura, como naquela história da época da ditadura, de que era preciso primeiramente fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.

Se os médicos estivessem defendendo seu mercado de trabalho... Mas, não, os médicos estrangeiros só estão vindo ocupar vagas que foram recusadas por seus colegas brasileiros, que não querem trabalhar e também não querem que outros trabalhem. O paciente... ah, o paciente. Ele não é mais paciente, agora é cliente.

Claro que temos ótimos médicos. E muitos deles já se declararam a favor da vinda de seus colegas do exterior.

Temos ótimos médicos, repito. Vários deles trabalhando em condições precárias. Temos muito o que melhorar, e a presidenta Dilma reconheceu o problema em seu pronunciamento na TV:

Quero propor aos senhores e às senhoras acelerar os investimentos já contratados em hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde. Por exemplo, ampliar também a adesão dos hospitais filantrópicos ao programa que troca dívidas por mais atendimento e incentivar a ida de médicos para as cidades que mais precisam e as regiões que mais precisam. Quando não houver a disponibilidade de médicos brasileiros, contrataremos profissionais estrangeiros para trabalhar com exclusividade no Sistema Único de Saúde.
Neste último aspecto, sei que vamos enfrentar um bom debate democrático. De início, gostaria de dizer à classe médica brasileira que não se trata, nem de longe, de uma medida hostil ou desrespeitosa aos nossos profissionais. Trata-se de uma ação emergencial, localizada, tendo em vista a grande dificuldade que estamos enfrentando para encontrar médicos, em número suficiente ou com disposição para trabalhar nas áreas mais remotas do país ou nas zonas mais pobres das nossas grandes cidades.

Sempre ofereceremos primeiro aos médicos brasileiros as vagas a serem preenchidas. Só depois chamaremos médicos estrangeiros. Mas é preciso ficar claro que a saúde do cidadão deve prevalecer sobre quaisquer outros interesses. O Brasil continua sendo um dos países do mundo que menos emprega médicos estrangeiros. Por exemplo, 37% dos médicos que trabalham na Inglaterra se graduaram no exterior. Nos Estados Unidos, são 25%. Na Austrália, 22%. Aqui no Brasil, temos apenas 1,79% de médicos estrangeiros. Enquanto isso, temos hoje regiões em nosso país em que a população não tem atendimento médico. Isso não pode continuar. Sabemos mais que ninguém que não vamos melhorar a saúde pública apenas com a contratação de médicos, brasileiros e estrangeiros. Por isso, vamos tomar, juntamente com os senhores, uma série de medidas para melhorar as condições físicas da rede de atendimento e todo o ambiente de trabalho dos atuais e futuros profissionais.

Ao mesmo tempo, estamos tocando o maior programa da história de ampliação das vagas em cursos de Medicina e formação de especialistas. Isso vai significar, entre outras coisas, a criação de 11 mil e 447 novas vagas de graduação e 12 mil e 376 novas vagas de residência para estudantes brasileiros até 2017.  [Fonte]

Mas, o que estamos vendo é que existe um grupo de médicos para quem os cidadãos brasileiros de municípios sem médicos devem sofrer calados ou pegar um ônibus, barca, trem, o que seja, para procurar uma cidade onde um senhoríssimo doutor (brasileiro) o atenda, quando der. A esses lembro que Deus é ironia, e eles podem amanhã ou depois sofrer um acidente, numa pequena cidade, um pequeno município daqueles que ninguém jamais ouviu falar, eu gostaria de saber o que sentiriam ao ouvir alguém lhe falar assim:

- Necesita de ayuda, señor?


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O que move as entidades médicas

Por Luciano Martins Costa em 23/08/2013 na edição 760

Uma leitura cuidadosa dos principais jornais brasileiros de circulação nacional mostra que há uma tendência da imprensa a desqualificar o programa Mais Médicos, pelo qual o governo federal procura suprir a falta de profissionais de saúde em bairros periféricos das grandes cidades e nos municípios distantes dos grandes centros.
De modo geral, o noticiário abre com informações aparentemente equidistantes da polêmica central sobre o assunto, mas a hierarquia das notícias e as escolhas das análises priorizam opiniões contrárias à iniciativa do governo.
Nas edições de sexta-feira (23/8), a exceção é a Folha de S. Paulo, que dá espaço para um artigo esclarecedor sobre a questão. No Estado de S. Paulo, o principal destaque vai para dados factuais, como o número de cidades paulistas que vão receber médicos selecionados na primeira fase do programa. Nesse texto está inserida a defesa do projeto, sem um destaque especial. As opiniões contrárias estão separadas em dois outros textos, um deles informando que as entidades representativas dos médicos brasileiros e partidos de oposição vão recorrer ao Ministério Público do Trabalho para impedir que se consolide a contratação de estrangeiros.
Abaixo da reportagem principal também é publicado o resultado de uma pesquisa que supostamente mostra que o programa Mais Médicos é rejeitado pela maioria da população. No entanto, esse texto peca pela falta de precisão e acuidade. Por exemplo, não informa de quem é a iniciativa da consulta, feita por um tal Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ). Também omite que o ICTQ é uma empresa de educação continuada que é apoiada pela indústria farmacêutica, oferecendo cursos para profissionais do setor.
A “pesquisa” é referendada por um dirigente do Conselho Federal de Medicina, que usa as informações para reforçar a campanha da entidade contra o programa do governo. Trata-se, portanto, de uma daquelas artimanhas do jornalismo segundo a qual um suposto dado objetivo, como o resultado de uma pesquisa, é apresentado como fato comprovador de uma opinião preexistente, omitindo-se do leitor o contexto que lhe permitiria relativizar a informação – no caso, o interesse específico da indústria farmacêutica.

A serviço das farmacêuticas

O Globo nem mesmo se dá ao trabalho de dissimular sua posição: abre a página explorando contradições entre integrantes do governo sobre o salário que os médicos cubanos irão efetivamente receber. No quadro em que o jornal costuma emitir sua opinião, fica claro que seus editores se alinham com o viés mais reacionário das entidades médicas: o texto afirma que “como existe um eixo Havana-Brasília, assentado em simpatias ideológicas, é preciso atenção redobrada na qualidade da prestação de serviço dos companheiros cubanos”.
Assim, em linguagem quase chula, o jornal carioca apoia a ideia de que os médicos cubanos estão sendo trazidos para fazer “pregação comunista”, como entende o presidente do Conselho Federal de Medicina.
A Folha de S. Paulo se destaca por abrir um pouco mais o leque de alternativas do leitor, informando na reportagem principal que o Ministério Público do Trabalho vai investigar as condições da contratação de médicos cubanos. Em outra página, também com destaque, publica a posição do governo brasileiro, manifestada pelo secretário nacional de Vigilância Sanitária e pelo ministro das Relações Exteriores. Há também um perfil dos médicos cubanos que já atuam no Brasil, material acompanhado por um infográfico que mostra a distribuição desses profissionais em todos os estados.
Mas o diferencial da Folha é uma análise produzida pelo jornalista Marcelo Leite (ver aqui), na qual ele observa que Cuba forma milhares de médicos por mês, “como produto de exportação”. O autor explica que o governo cubano montou uma verdadeira indústria de profissionais de saúde, a maioria deles com especialização em medicina preventiva. Esse seria o segredo principal das realizações do regime cubano na área da saúde, como uma taxa de mortalidade infantil inferior à dos Estados Unidos. A ilha comandada pelos irmãos Castro desde 1959 produziu a partir de então 124.789 médicos e se destaca pela prevenção de doenças, diz o articulista.

Esse é o ponto central da polêmica: ao trazer 4 mil médicos de Cuba, o governo brasileiro está sinalizando que sua estratégia para suprir as deficiência da saúde nos lugares mais pobres vai se basear no atendimento preventivo, que reduz sensivelmente os custos do sistema e diminui a dependência em relação às empresas do setor farmacêutico.

O articulista da Folha dá a pista de onde vêm os interesses contrários ao programa do governo, ao afirmar que “na medicina preventiva, sua especialidade, é possível que [os médicos cubanos] se revelem até mais eficientes que os do Brasil, cuja medicina tem outras prioridades”.

Some-se isso com aquilo e... bingo! O leitor já sabe a serviço de quem estão as entidades que se opõem ao programa Mais Médicos.


sábado, 24 de agosto de 2013

A quem interessa a baderna nos protestos de rua?

A pergunta é mais do que pertinente. As transmissões televisivas dos protestos enfatizam o tempo todo que a "ordem" está sendo violada por baderneiros, vândalos, criminosos. Mas se são poucos, por que ainda não foram identificados? Por que não se faz um cerco a eles, que estão sempre juntos e se prende a todos? O artigo abaixo, retirado do blog do Azenha dá, acredito eu, algumas pistas interessantes a respeito.

A quem interessa a baderna nos protestos de rua?




 por Wladimir Pomar, no Correio da Cidadania, sugestão de Antônio David


A continuidade das manifestações populares, mesmo em menor escala, já era esperada. Há uma série de problemas e reivindicações locais que afetam diferentes setores da população. E, como as manifestações de rua se mostraram instrumentos importantes de pressão, seja sobre empresas, seja sobre governos e parlamentos locais, é natural que os reivindicantes apelem para elas. Por outro lado, seria ilusão supor que tais manifestações não se tornariam arena de disputas políticas.

Aparentemente, apenas a ultraesquerda está em todas. Na prática, fica cada vez mais evidente que a ultradireita também está lá, sem bandeiras, mas de capuz. Olhando com atenção as manifestações de cem, duzentas ou mais pessoas, não fica difícil localizar uma minoria, às vezes de cinco a dez mascarados, que se dedica a “atacar o capitalismo” quebrando portas, vitrines, postes, telefones públicos, e o que mais haja a ser destruído em sua passagem.

Além disso, olhando com um pouco mais de atenção, é impressionante que a polícia passe ao lado desses mascarados sem tomar qualquer atitude, no mais das vezes descarregando sua repressão sobre os de cara limpa. Algo estranho? De forma alguma. Nas grandes manifestações de junho e julho, as mesmas cenas se repetiram à exaustão. O que leva qualquer pessoa mais atenta a concluir que há algum tipo de acordo, real ou tácito, entre as forças policiais e os encapuzados.

Cá entre nós, é estranho que, a essa altura dos acontecimentos, com todo o aparato de “inteligência” existente nas polícias, estas ainda não tenham mapeado quem são os poucos membros dos pequenos grupos que quebram e destroem bens públicos e privados e não os tenham levado à justiça para responder por atos de vandalismo.

Tal omissão só pode ser explicada se a própria polícia, e também o ministério público, estiverem de acordo com os objetivos buscados por tais grupos paramilitares.

O mais provável é que tais grupos estejam a serviço daqueles que pretendem colocar o conjunto da população contra os manifestantes, já que estes até agora não se mostraram capazes de conter as ações de vandalismo. A continuidade da baderna levaria, no final das contas, a população a aceitar com indiferença a repressão policial contra as manifestações e, portanto, contra o direito democrático de protestar nas ruas.

No entanto, também não é algo fora de cogitação que tais grupos tenham pretensões ainda mais ambiciosas, de criar um ambiente favorável a aventuras golpistas. Não esqueçamos que todos os golpes de Estado da história brasileira foram consumados a pretexto de “manter a ordem”. Se isto for verdade, a baderna interessa fundamentalmente à direita conservadora e reacionária, que domina a economia e a riqueza brasileira, e tem pânico de que o povo se acostume a praticar a democracia.

De qualquer forma, quaisquer que sejam os objetivos desses grupos, os setores populares que pretendem se manifestar democraticamente nas ruas não podem deixar a contenção deles a cargo da polícia. Precisam aprender a deixá-los à mostra, e de tal forma que, para a população em geral, fique evidente não só seu pequeno número de seus participantes, mas também a omissão policial. É esta que deve ser responsabilizada por só intervir quando o quebra-quebra já aconteceu.

Este é um aprendizado que precisa ser cursado com a ajuda daqueles que viveram as lutas populares dos anos 1970 e 1980, contra a repressão ditatorial militar. Em outras palavras, a baderna não interessa à esquerda e esta deve estar junto aos manifestantes, contribuindo com sua experiência para isolar aqueles que, com o falso pretexto de combater o capitalismo, na verdade contribuem para enfraquecer a luta democrática da maioria.

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

A CIA e a guerra fria cultural

Muito interessante o artigo. Sabia-se do essencial, essa interferência cultural no mundo inteiro, mas os detalhes mais sórdidos nem todos conheciam. Acho que vale a pena adquirir este livro e ler com bastante atenção!


A CIA e a guerra fria cultural

O livro de Frances Stonor Saunders A CIA E A GUERRA FRIA CULTURAL é um documento que merece toda a divulgação possível. Mostra como a mais especializada, criminosa e tentacular instituição de espionagem do imperialismo manipulou o mundo da cultura para promover o descrédito do comunismo e mobilizar contra a União Soviética grande parte da intelligentsia progressista ocidental.

Esta semana chegou-me às mãos um livro muito importante: A CIA E A GUERRA FRIA CULTURAL*.
Desconhecido em Portugal, gostaria que fosse editado no nosso país para ser lido por milhares de pessoas desinformadas por um sistema mediático perverso que apresenta uma imagem deformada do sistema de poder dos Estados Unidos.
O título é enganador. Ao iniciar a leitura estava persuadido de que se tratava de mais uma obra de divulgação de ações criminosas da CIA. Daí a surpresa.
O livro de Frances Stonor Saunders é muito mais ambicioso. A autora, jornalista e historiadora britânica, dedicou cinco anos à investigação de um tema muito mal conhecido: as atividades encobertas desenvolvidas pela CIA no mundo da cultura para promover o descrédito do comunismo e mobilizar contra a União Soviética grande parte da intelligentsia progressista ocidental.
Em 1945, o prestígio da URSS nos EUA era enorme. A maioria do seu povo sentia uma grande simpatia, sobretudo apos a batalha de Stalinegrado, pelo país que desempenhara um papel decisivo na derrota do Reich nazi.
Essa realidade era muito incómoda para a elite do poder estado-unidense. A Doutrina Truman e o Plano Marshall demonstraram ser manifestamente insuficientes para alterar a atitude da classe média estadunidense perante a União Soviética.
Os cérebros ligados ao poder em Washington concluíram pela necessidade urgente de convencer o homem comum norte-americano de que o aliado na guerra durante quatro anos, de 1941 a 1945, era, afinal, um perigoso inimigo.
A elite que se propunha a reorganizar o mundo sob a égide dos EUA em torno dos seus «valores» estava consciente de que esse objetivo somente poderia ser atingido se o Ocidente capitalista fosse empurrado para a conclusão de que o comunismo, «obscurantista, desumano, agressivo», era a grande ameaça para a humanidade, pelo que se tornava imprescindível combatê-lo.
A Oficina de Serviços Estratégicos-OSS, que funcionou durante a guerra como uma Gestapo americana, foi de certa maneira uma predecessora da CIA. O seu chefe, o general William Donovan, reuniu à sua volta destacadas figuras da aristocracia do capital como os filhos do banqueiro JP Morgan, os Vanderbilt, os Dupont, e intelectuais como George Kenan e Charles Bohlen.
Uma das primeiras iniciativas da OSS foi o recrutamento de militares e civis nazis. Dezenas de altas personalidades alemãs passaram de criminosos de guerra a aliados de confiança. Um caso expressivo:o general das SS Reinhardt Behlen, chefe dos serviços secretos nazis que, em vez de ser preso e julgado, recebeu o tratamento de colaborador privilegiado da OSS.
No seu livro, Frances Saunders dedica os primeiros capítulos às campanhas desenvolvidas por Donovan, com o apoio de Truman, para demonstrar aos europeus que os EUA eram uma sociedade onde a cultura ocidental lançara raízes profundas, contrapondo essa imagem à “barbárie soviética”. O Bem contra o Mal.
A literatura, a música, a pintura, a arquitectura,o ballet dos EUA foram amplamente divulgados na Alemanha, na França, na Itália e noutros países. Simultaneamente, antecipando-se a eventuais acusações de patrioteirismo, obras de Aristófanes, Goethe, Schiller, Thomas Mann, Ibsen, Strindberg, Shaw, Gorki, Gogol eram difundidas numa prova inequívoca do amor dos EUA pela cultura universal.
Essa ofensiva cultural não produziu, porem,os resultados previstos.

Coube à CIA a tarefa de levar adiante no contexto da Guerra Fria um projeto muito mais complexo e ambicioso, também na frente da cultura.
Criada em 1947 pela Lei de Segurança Nacional, a Agencia Central de Inteligência-CIA assumiu as proporções de um polvo gigantesco. Inicialmente não estava autorizada a intervir em assuntos de outros países. Truman e os seus sucessores permitiram que ela desenvolvesse atividades de espionagem, e promovesse operações militares. Hoje possui linhas aéreas, emissoras de TV e radio, jornais, companhias de seguros,imobiliárias,bancos.
Em l948 foi criado na Agencia um Escritório de Coordenação de Politicas – OPC com a missão específica de realizar «operações secretas» em múltiplas áreas.

Esse estranho departamento especial cresceu vertiginosamente. Em três anos o seu pessoal passou de 302 pessoas a 2812,alem de 3142 assalariados no estrangeiro. O orçamento elevou-se de 4,7 milhões de dólares para 82 milhões.
O ideólogo do sistema era então George Kennan, o ex embaixador em Moscovo, fanático anticomunista, arquiteto do Plano Marshall que desempenhou um grande papel na conceção e funcionamento da Guerra Fria.
Foi um dos pais da CIA e consultor da OPC. Coube-lhe formular o conceito da «mentira necessária» como componente fundamental da diplomacia estado-unidense.
Uma das operações secretas mais difíceis foi a concebida para utilizar a esquerda não comunista em campanhas anticomunistas. Secreta porque os intelectuais envolvidos em campanhas contra a União Soviética deveriam ser manipulados habilidosamente. A OPC atuava nos bastidores, invisível. O governo americano, as embaixadas dos EUA, os grandes media norte- americanos abstinham-se inclusive de comentar elogiosamente as tomadas de posição antissoviéticas de escritores e artistas europeus, muitos dos quais eram ex-comunistas. Tudo se passava como se as conferencias, seminários, festivais manifestações e outros eventos em que participavam esses intelectuais fossem espontâneos, nascidos de iniciativas suas.
Mas a realidade era muito diferente. Oculta,era a CIA quem planeava a orquestração anticomunista, quem financiava generosamente (com o Departamento de Estado) essas campanhas.

Frances Saunders desce a minucias ao descrever o esforço desenvolvido pela OPC através de intermediários respeitáveis para conseguir que grandes nomes da esquerda aderissem a iniciativas de cariz anti- soviético.
Nos EUA prestaram-se a esse papel escritores prestigiados como John Steinbeck, John dos Passos, Gertrude Stein, Schlesinger, W.H.Auden, Arthur Miller, e orquestras sinfónicas, museus, etc. Os intelectuais trotsquistas aderiram massivamente. Na Europa, foram envolvidos na teia antissoviética: André Gilde, Albert Camus, Elsa Triolet, Andre Malraux, Simone de Beauvoir, Raymond Aron, Georges Orwell, Aldous Huxley, Laurence Olivier, Jean Cocteau, Salvador de Madariaga, Claude Debussy, Denis de Rougemont, Milan Kundera, e muitos outros. E – chocante, mas real - Aragon, Sartre, Bertrand Russell.
A intervenção na Hungria das tropas do Tratado de Varsóvia, em 1956 criou na Europa uma atmosfera favorável à intensificação da Guerra Fria.
Entre os muitos livros cuja publicação foi promovida pela CIA, um deles, The God That Failed (O Deus Que Falhou) foi best-seller mundial. Traduzido em dezenas de línguas vendeu milhões de exemplares. Partiu da CIA a ideia de reunir seis ensaios (a maioria já publicados na revista alemã Der Monat controlada pela Agencia) de Arthur Koestler, Ignazio Silone, Andre Gide, Richard Wright, Stephen Spender, todos eles escritores famosos que haviam sido militantes ou simpatizantes comunistas.

«Além de ser uma espécie de confissão coletiva – escreve Frances Saunders- o livro era um ato de recusa, uma rejeição do estalinismo no momento em que para muitos essa atitude era ainda uma heresia. Foi um livro de importância transcendental no pós-guerra e aparecer nele foi um passaporte válido para o mundo oficial da cultura nos vinte anos seguintes».
Koestler, que adquirira enorme notoriedade com o seu romance O Zero e o Infinito, Milovan Djilas e George Orwell, autor do 1984, destacaram-se nessas iniciativas pela sua febre anticomunista.
O primeiro, que havia sido nos anos 30 um dedicado militante do Partido Comunista Alemão-DKP, colaborou intimamente com a CIA e foi conselheiro do Foreign Office em campanhas antissoviéticas.
Comités e Associações constituídos para defender a Cultura, a Liberdade e a Democracia, mas cujo objetivo era a promoção de iniciativas anticomunistas, permitiram então à CIA (sempre atuando nos bastidores) exercer uma grande influência sobre uma parcela importante da «esquerda não comunista».
Para isso contou com a colaboração e a ajuda financeira de organizações como a Fundação Ford.

Das muitas revistas criadas para «promover a cultura», uma delas, a britânica Encounter, alcançou prestígio mundial. Dirigida por Stephen Spender, um poeta inglês, foi concebida para funcionar como um instrumento político anticomunista no mundo da cultura. E atingiu o objectivo. Durante anos colaboram nela eminentes figuras da intelligentsia mundial.
Nem o diretor, Spender, conhecia a origem do financiamento. Quando uma inconfidência revelou, nas vésperas da Assembleia do Congresso pela Liberdade da Cultura, a ponte entre Encounter a CIA e as elites financeiras dos EUA, o escândalo foi maiúsculo.
Em reuniões desse Congresso fantasmático, ideado pela CIA, participaram, aliás, durante anos grandes nomes da esquerda não comunista. Na prática foi uma tribuna anticomunista.
No seu belo livro, Frances Saunders dedica alguns capítulos a ações encobertas da CIA não comentadas neste artigo. Cita nomeadamente várias Fundações, Universidades, congressistas e governantes que apoiaram iniciativas criminosas da famosa Agencia. Um mar de lama tóxica.
E dedica especial atenção aos quadros – ideólogos e executantes - que idearam as campanhas antissoviéticas, fazendo delas uma poderosa arma da Guerra Fria.

Cito alguns nomes dessa mafia política praticamente desconhecida em Portugal: Lasky, Josselson, Nabokov, Kristol, Hook, Wisner. Termino transcrevendo o último parágrafo do livro de Frances:
«Sob a (ainda não) estudada nostalgia dos «Dias dourados» da inteligência americana havia uma verdade muito mais demolidora: as mesmas pessoas que liam Dante, estudaram em Yale e se educaram na virtude cívica, recrutaram nazis, manipularam o resultado de eleições democráticas, proporcionaram LSD a pessoas inocentes, abriram o correio de milhares de cidadãos americanos, derrubaram governos, apoiaram ditaduras, conceberam assassínios, e organizaram o desastre da Baia dos Porcos.

Em nome de quê? perguntava um crítico: «Não da virtude cívica, mas do império».
Vila Nova de Gaia, 9 de Agosto de 2013
*Frances Stonor Saunders, Who Paid the Piper? The CIA and the Cultural Cold War, Granta Books, United Kingdom, 1999.
fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-livro-a-cia-e-a-guerra-fria-cultural

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

7 de setembro, teremos um desfile golpista?

Complicado, muito complicado...


Carta Capital n˚ 762
O Desfile Golpista
Quem são os organizadores de um protesto contra Dilma Rousseff no Dia da Independência
Por Andre Barrocal, na CartaCapital,


As manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e de qualidade por militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais, milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário.
O alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma. O caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni.
É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de protestos.
A ONG em questão é a Brazil No Corrupt-Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco eles brigam nos tribunais contra a OAB na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de Setembro” e a campanha Eu Não Voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.
Um dos principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda na Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que encampou a idéia de extinguir o exame.
Filho do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da qual eles sentem saudade.
“Naquele tempo havia segurança, saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.
A ONG adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é chamado de… “paraibano”.
A agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma denúncia à Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano passado. Pai e filho foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio Tenenblat. Em 2009 e 2010, ambos entraram na Justiça com duas ações populares contra o exame da OAB e o então presidente da entidade no Rio, Wadih Damous.
A segunda ação parou nas mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de 2011. Na sentença, o juiz acusa os autores de “litigância de má-fé”, pelo fato de manterem outra ação semelhante. “O dolo, a deslealdade processual e a tentativa de ludibriar o Poder Judiciário são evidentes”, anotou.
Na apelação levada ao juiz para tentar reabrir o prazo, os Fonseca e seu advogado, José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de favorecer a OAB “por tráfico de influência ou por desconhecimento”, o que “demonstra claramente sua parcialidade e má-fé como magistrado”.
Em maio de 2012, os três foram denunciados pela procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues por crime contra a honra. Em novembro, um acordo suspendeu o processo por dois anos. Os acusados foram obrigados a se retratar publicamente, a se apresentar à Justiça de tempos em tempos e a pedir autorização sempre que pretenderem deixar o Rio por mais de 30 dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo, o processo será retomado.
Ari Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da “Operação Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público. Morador de Curitiba, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni. Nogueira é um ativo militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara.
Por meio do Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a notícia de que Dilma teria recebido na eleição de 2010 uma doação de 510 reais de uma ex-beneficiária do Bolsa Família, chamado por ele de “bolsa preguiça”. Dias depois, a doação, registrada na prestação de contas de Dilma entregue à Justiça eleitoral, virou notícia nos meios de comunicação.
O Ministério doDesenvolvimento Social acionou a doadora, Sebastiana da Mata, para saber se a contribuição era dela mesmo. Ela negou.
Por Twitter e Facebook Nogueira é um dos difusores da convocação para o “maior protesto da história do Brasil”, em 7 de setembro. Sua página no Twitter é ilustrada com o dizer “Partido Anti-Petralha”, forma depreciativa de se referir aos militantes petistas bastante difundida na rede de computadores. No orkut, define-se como “conservador de direita”e manifesta preferência pelo PSDB.
Até junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como contratado na Assembléia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em 2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa.
Em 2010, uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito para apurar uma lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na Assembleia. Nogueira a integrava. Desde então, alguns suspeitos foram denunciados e julgados.
O caso de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda uma autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado. Espera ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria trabalhado, enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.
Rossoni, antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2.
Reeleito à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de receber benefícios de empresas donas de contratos de rodovias privatizadas no Paraná. Durante mais de dois anos, o parlamentar conseguiu barrar a criação de uma CPI do Pedágio no estado. Perdeu, porém, a guerra. A CPI foi instalada no mês passado.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os protestos vistos por um historiador

Tantas pessoas analisaram os protestos que marcaram o mês de junho! Sociólogos, politicólogos, economistas, jornalistas, pseudojornalistas... Hoje eu trago um artigo do historiador Jaime Pinsky, o olhar do historiador sobre os eventos de junho.

O pecado original  
artigo do historiador Jaime Pinsky publicado originalmente no jornal
Folha de São Paulo em 26 de julho de 2013


Para uns é a questão toda refere-se à precariedade do transporte urbano. Para outros, a saúde pública. Há quem diga que o problema maior é a educação, universal, mas de má qualidade. A corrupção e a violência também têm sido apontadas como razões para as manifestações recentes em todo o Brasil. Pode parecer que há motivos variados e até mesmo conflitantes. Errado. Todos os protestos decorrem do indiscutível  e inaceitável distanciamento que existe no Brasil entre a Nação e o Estado.

A Nação, constituída pelos cidadãos concretos, pelas pessoas reais, não reconhece nos poderes constituídos, todos eles (executivo, legislativo e judiciário) seus representantes. “Nós” somos nós e “eles” são eles. Expressar-se, como tem se expressado a sociedade, é mais sintomático ainda em se tratando de gente que poucas vezes sai às ruas (todos observamos o deslumbramento de muitos que as frequentavam pela primeira vez). Mas, como escreveram em seus cartazes Lívia e Ana Paula, desde os primeiros dias, “são quinhentos e treze anos e vinte centavos”. Cabe-nos ler e entender o que elas queriam dizer com isso.

Somos fruto de um “pecado original”, aquele que criou o Estado brasileiro em 1822 sem que houvesse, de fato, uma Nação que o reivindicasse - o contrário do que aconteceu na maioria dos países em que a estrutura jurídico política surge como decorrência dos anseios de uma nação já constituída (nação aqui definida como o povo com consciência de sua identidade). Pelo fato de, entre nós, criarmos um Estado com todo seu aparato (exército, burocratas, cobrança de tributos e impostos, controle social, sistema prisional, imposição linguística, sistema educacional, dezenas de ministérios, mordomias inexplicáveis, etc.) que não respondia a anseios da população, esta nunca o reconheceu, tratando-o sempre na terceira pessoa do plural. 

É verdade que governantes, legisladores e juízes não têm facilitado. Ao assumirem papéis na estrutura jurídico-política deixam de ser povo e se transformam em “autoridades”. Claro que em qualquer país há rituais inerentes a funções públicas, mas o exagero entre nós é evidente. Nossos supostos representantes vão muito além de cumprimento de obrigações protocolares: as “autoridades” exigem “respeito” equivalente ao que o Faraó, seus funcionários e sacerdotes exigiam dos súditos. São automóveis com motoristas à disposição de toda a família, são diárias de viagem superiores ao salário mensal de professores, é o uso de aviões de serviço para conforto pessoal (e até da sogra), é cabeleireiro que cobra 5 salários mínimos por hora de trabalho, tudo isso às custas dos nossos impostos diretos e indiretos. 

Entre nós, ao contrário do que acontece na maioria das democracias, o modo como se exerce o poder distancia os representantes dos representados. Cidadãos brasileiros são percebidos pelos poderosos de plantão (ou os vitalícios, que os há) não como cidadãos, mas como súditos, simples massa de manobra, gente para ser enganada a cada eleição. 

Talvez por isso nossos governantes quase não governem: uma vez no poder dedicam-se a criar as bases de sua permanência (e da corriola, é claro) na função obtida, preparando-se para a próxima eleição. Não querem perder o direito ao uso (e abuso) das vantagens conquistadas. Detestariam voltar a ser apenas parte da Nação.  

Por outro lado, povo nas ruas pode ser bom, mas substituir a democracia representativa pela direta é inviável em uma sociedade complexa como a nossa. Afinal, não estamos na Grécia Clássica, não cabemos todos em uma praça. Precisamos, pois, de representantes. Porém, chegou a hora destes mudarem sua forma de fazer política, criar leis, promover justiça. Temos que melhorar nossa democracia. Estamos todos de acordo com penas mais severas e sentenças rápidas para os que confundem patrimônio público com o privado. Concordamos também que não tem sentido arrotar prioridade de transporte público e manter um modelo que isenta de impostos os automóveis privados. Não há dúvidas ainda sobre a necessidade de uma ampla reforma política. Mas, antes que o abismo cresça ainda mais, precisamos reaproximar o Estado da Nação.