sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O ódio no Brasil - Leandro Karnal

Se a minha memória ainda está boa, acho que já sugeri esse vídeo há mais tempo. Não importa! Se não viram, devem ver; se o viram, revejam!

O que na história e no cotidiano do Brasil nos leva ao ódio e à violência? É possível sempre “amar o povo” (entendido como uma “multidão”), mesmo sendo invasivo, grosseiro, violento em suas manifestações históricas? Índio, negro e europeu: a “alma brasileira” detesta a si mesma? Apenas a fome leva o homem ao gosto pelo mal?

Assista ao vídeo acessando o link abaixo:

http://www.cpflcultura.com.br/evento/cafe-filosofico-cpfl-programacao-a-definir-2012-07-15/

Crianças chiliquentas e pais frágeis no documentário "Crianças Consumidoras"



A cada ano desenvolve-se uma nova ciência do consumo que turbina um mercado cujos ganhos se equivalem a soma das economias de 115 países pobres: é a ciência do consumo infantil, uma verdadeira “blitzkrieg” contra as crianças através da mobilização de especialistas que vão de antropólogos e sociólogos a neurologistas e cientistas comportamentais. É o tema do documentário “Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância” (2008) que alerta: profundas mudanças no psiquismo infantil estão sendo feitas nesse momento com o desaparecimento da infância por meio do novo perfil etnográfico dos “tweens” (a fusão da infância na adolescência) e o reforço subliminar da “cultura da reclamação” (chiliques, birras etc.) para que crianças insistentes influenciem cada vez mais a decisão de consumo dos pais. E por trás de tudo isso, a manipulação da percepção infantil para que vejam seus pais como seres inseguros, indecisos e frágeis.

Uma indústria de 15 bilhões de dólares que trabalha dia e noite para minar a autoridade dos pais se exime de qualquer consequência social do consumismo infantil alegando que a única responsabilidade sobre o que as crianças comem e compram é a dos próprios pais. “Seria como se de repente o dono de uma grande frota de caminhões anunciasse que de agora em diante fosse trafegar por uma estrada cheia de crianças a 250 km/hora e dissesse: ‘pais, cuidado! É tarefa de vocês cuidarem para que seus filhos não se machuquem!’”, responde Enola Aird, fundadora e diretora do Motherhood Project.

Essa é uma das contundentes declarações de ativistas, pesquisadores e profissionais no documentário Crianças Consumidoras – A Comercialização da Infância (Consuming Kids – The Commercialization of Childhood, 2008), um olhar profundo na forma como as crianças são manipuladas e exploradas em cada detalhe dos seus cotidianos, para não só se tornarem futuras consumidoras mas, inclusive, influenciar nas próprias escolhas de consumo dos pais.

Desde o chamado baby boom após a Segunda Guerra Mundial, o Marketing e a Publicidade logo perceberam que essa nova faixa etária deveria ser capturada a todo custo: “O embrião do consumidor começa a se desenvolver no primeiro ano de existência. Crianças começam sua jornada de consumo na infância. E certamente merecem consideração como consumidores nesse período”, declarou profeticamente o pioneiro do marketing infantil James U. McNeal.

Dirigido por Adriana Barbaro e Jeremy Earp, o documentário apresenta números que demonstram que o consumo infantil é hoje a principal meta das empresas: crianças consumindo 40 bilhões de dólares todo ano e, o que faz brilhar os olhos dos marqueteiros, 700 bilhões de dólares por ano de compras dos adultos por influência direta das crianças – tipo de carro, computador, celular ou viagens, por exemplo. Isso equivale a soma da economia de 115 países pobres no mundo.

Pais miseráveis e a “cultura da reclamação”



O documentário mostra com detalhes como psicólogos, antropólogos, sociólogos e cientistas cognitivos e comportamentais estão colocando as crianças no foco de um poderoso microscópio para moldar a preferências pelas marcas das crianças: discussões em grupo acompanhadas por especialistas por trás de vidros espelhados, marketing invisível onde até festas infantis são pretextos para estudos etnográficos, filmagem do comportamento das crianças diante de gôndolas de supermercados (olhar, como elas pegam os produtos e devolvem, quantas vezes reclamam e insistem com os pais etc.), play grounds e salas de aula. São capazes até de registrar imagens das crianças no banheiro, vaso sanitário e chuveiro para saber como interagem com shampoo, sabonetes e produtos de higiene.

Para o documentário, essa é a nova ciência do consumo baseada no estudo neurocomportamental da infância. Seu mais recente avanço é o neuromarketing onde crianças são colocadas em dispositivos MRI com elétrodos em volta da cabeça para criar um mapeamento cerebral das regiões mais estimuladas diante de estímulos visuais publicitários – com que frequência a criança pisca ou vira os olhos, por exemplo. Dessa maneira os anúncios são corrigidos para torná-los mais hipnóticos, reduzindo a frequência de movimento dos olhos.

O que impressiona é o nível de agressividade dessa verdadeira blitzkrieg: o marketing e a publicidade se esforçam em transformar a percepção infantil dos pais como uns “infelizes miseráveis” através do reforço da “cultura da reclamação”. Psicólogos se mobilizaram para estudar o fenômeno da reclamação (chiliques, manhas, birras etc.). Eles tentam saber que tipo de reclamação infantil funciona melhor com os pais. Por exemplo, as crianças dizem “Posso? Posso?...” em média até nove vezes. O “poder da reclamação” é maximizado por diversas táticas neurocomportamentais para que a criança ultrapasse essa média e continue pedindo e pedindo...

A “cultura da reclamação” seria maximizada com a percepção da criança de que os pais são frágeis, inseguros, indecisos e imaturos. Em uma passagem, o documentário faz uma tragicômica analogia com o personagem Homer da série de animação Os Simpsons: infernizado pelos pedidos insistentes dos filhos Bart e Lisa, o desesperado Homer cede aos pedidos como única alternativa para poder dormir.

Essa nova ciência do consumo na verdade estende à infância uma tática que se confunde com a própria história da Publicidade e sociedade de consumo: desde 1920 a Publicidade empreendeu um massivo esforço de desencorajamento das atitudes autônomas das famílias, mas, principalmente, dos próprios pais. Para ressocializar os indivíduos como consumidores dependentes do mercado, todos os saberes, tradições e autoconfiança familiar foram estereotipados como “ultrapassados” e “pouco confiáveis” e fontes de erros em um mundo moderno onde tudo supostamente muda muito rápido.

Sem autoconfiança, perdidos diante do bombardeio de informações propositalmente contraditórias de um complexo corporativo-publicitário de 15 bilhões de dólares, os pais fragilizados tornam-se prezas fáceis das chantagens emocionais da “cultura da reclamação”. Como vimos em postagem anterior, as próprias animações infantis ou infanto-juvenis mostram os pais como ausentes fisicamente ou como figuras pouco confiáveis e facilmente corruptíveis. Quanto mais as crianças veem os pais como figuras miseráveis, mais insistente tornam-se os pedidos infantis de consumo – sobre isso clique aqui e aqui.

O fim da infância com os "tweens"


Dentro dessa nova ciência do consumo, o marketing acabou descobrindo o que eles chamam de “crianças tornando-se adultos jovens”. Com diversos depoimentos de profissionais e pesquisadores da área, o documentário detalha como o marketing vem explorando uma natural ambição do jovem em querer ser mais velho e mais maduro.

O marketing tira vantagem dessa tendência natural vendendo coisas para grupos cada vez mais jovens. Como? Revistas para jovens de 17 anos não são lidas por leitores dessa faixa etária: são lidas por crianças de 10 ou 12 anos que querem saber como é ter 17 anos. Crianças de 6 anos promovem festas de pedicure e manicure para adquirem cosméticos. Seus modelos não são mais médicos, astronautas ou professores, mas agora são atraídos por ídolos adolescentes.

E nada mais revelaria a paixão da indústria por esse encurtamento etário do que a invenção do termo “tween” – contração das palavras kids e teen, “crianças” e “adolescentes”. Até pouco tempo atrás para o marketing os limites estavam entre 8 e 12 anos. Agora, tweens estão entre 6 e 12 anos e poderá chegar proximamente a 4 e 12 anos – ou seja, infância e adolescência submetidoas ao mesmo apelo publicitário.

E esse apelo estaria trazendo profundas transformações psíquicas na infância: hoje vemos bonecas com temas e roupas de forte apelo sexual que são direcionadas para meninas de 6 anos. É comum hoje em dia vermos meninas de quatro anos com mini-saias “virilha”, por exemplo. Como detalha o documentário, o problema é que enquanto uma parte da criança aceita cognitivamente usar mini-saias e maquiagens aos sete anos de idade, a outra parte do psiquismo não está madura o suficiente para lidar com as consequências emocionais de sair em público como uma Britney Spears em miniatura. E com os meninos, ideias de violência, poder e dominação já em pouca idade, passam a mensagem que quaisquer diferenças devem ser resolvidas com violência.

Por isso, numa das declarações mais contundentes do documentário, o Dr. Michael Prody, psiquiatra infantil, disparou: “Esses marqueteiros são muito semelhantes aos pedófilos. São especialistas em crianças. Se você vai ser um pedófilo ou um marqueteiro de crianças, você tem que saber sobre as crianças e o que elas vão querer”.

A cilada dos vídeos educativos


A última fronteira para essa nova ciência do consumo seria a primeira infância, quando ainda o bebê não consegue ainda entender a sintaxe da manipulação publicitária e mercadológica. Nesse ponto, o documentário entra no universo dos vídeos, animações e softwares supostamente educacionais e pedagógicos. Se o mais importante nos dois primeiros anos de desenvolvimento cerebral para a criança é a relação direta com outras crianças e a interação com o espaço físico, para quê a mediação de uma tela?

O espaço e as interações estariam sendo sabotados: telas atrás de mini-vans, computadores, celulares, telas de TV com Nickelodeon e DVDs portáteis para bebês. Sem chance de procurarem se acalmar sozinhas ou inventarem brincadeiras por conta própria, viciam-se em telas. E, como aponta o documentário, é exatamente isso que quer a indústria do marketing: crianças de tenra idade sendo treinadas a compreender as imagens bidimensionais de uma tela.

Em termos diretos: ver TV só treina o cérebro a ver mais TV – e tornar a criança menos crítica e vulnerável às manipulações neurocomportamentais do marketing e publicidade.

Ficha Técnica


Título: Crianças Conumidoras – a comercialização da infância
Diretor: Adriana Barbaro e Jeremy Earp
Roteiro: Adriana Barbaro e Jeremy Earp
Entrevistados: Enola Aird, Daniel Acuff, Michael Brody, Josh Golin entre outros
Produção: Media Education Foundation

Distribuição: Media Education Foundation
Ano: 2008
País: EUA

VÍDEO : http://www.youtube.com/watch?v=plcVyx6V7ms

FONTE: http://cinegnose.blogspot.com.br/2014/01/criancas-chiliquentas-e-pais-frageis-no.html#more

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

PSDB diz que é escândalo emprestar a Cuba. Esqueceram de perguntar por que FHC emprestou

PSDB diz que é escândalo emprestar a Cuba. Esqueceram de perguntar por que FHC emprestou


O PSDB não dá para ser levado a sério.
Perdeu completamente qualquer compostura e racionalidade na hora de criticar o governo Dilma.
Só não é exposto ao ridículo porque a mídia brasileira também é ridícula e simplesmente repete o que as “notas oficiais”aecistas publicam no site do partido.
Depois do “mico aéreo” e do “mico da conta do restaurante”, agora o PSDB parte para o “mico cubano”, publicando – com farta reprodução nos jornais - um comunicado em que critica os empréstimos do BNDES às obras do porto de Mariel, em cuba e diz que  os “recursos que vão para a ilha da ditadura castrista – e também para a Venezuela chavista e para outros países, notadamente os ideologicamente alinhados – são os mesmos que faltam para obras estruturantes no Brasil, em especial as de mobilidade urbana nas nossas metrópoles.”
Ontem eu tratei a sério disso, aqui, mostrando que o dinheiro é emprestado – tem sido pago em dia – para aquisições de mercadorias e serviços no Brasil.
Mas tem limite a cara de pau.
Qualquer dia eu vou começar a imprimir e guardar as notícias das coisas que o governo tucano fazia e a posição “indignada” do PSDB sobre as mesmas coisas no governo petista.
E esta é uma delas.
Fernando Henrique diretamente e o BNDES, sob seu comando fizeram empréstimos a Cuba, aliás muito corretamente.
Aqui está o memorando de entendimento entre Brasil e Cuba para financiar a compra de alimentos com recursos orçamentários – reparem, orçamentários, diretamente da União – através do Proex (leia-se Banco do Brasil) em US$ 15 milhões,  firmado em 1998.
Mas foi comida, aí era humantário? E o que dizem do financiamento a ônibus de turismo para a ilha de Fidel, como está consignado no relatório de atividades do BNDES do ano de 2000?
“(…)o apoio do BNDES a exportações de ônibus de turismo e urbanos para Cuba somou cerca de US$ 28 milhões. Cabe destacar o financiamento concedido para a aquisição de 125 ônibus Busscar com mecânica Volvo, utilizados na dinamização da atividade turística desse país, no valor total de US$ 15 milhões”
Mas teve também para a “Venezuela chavista” de que fala a nota do PSDB:
“Projeto da Linha IV do Metrô de Caracas (Construtora Norberto Odebrecht S.A.) – Construção do primeiro trecho, com extensão de 5,5 km. O investimento total do projeto soma US$ 183 milhões, sendo o financiamento do BNDES de US$ 107,5 milhões, correspondentes a 100% das exportações brasileiras de bens e serviços e ao seguro de crédito às exportações.”
Uai, igualzinho ao Porto de Mariel? E com a mesma empreiteira, a Odebrecht?
É verdade que os tucanos fazem uma ressalva: “Fosse o Brasil um país que esbanjasse dinheiro e com questões de infraestrutura e logística resolvidas, poderia até ser compreensível.”
Fico imaginando a cara de Aécio Neves diante de algum repórter que lhe perguntasse se no governo FHC podia-se emprestar dinheiro à Cuba e à Venezuela porque não existiam problemas de logística e infra-estrutura no Brasil dos tucanos.
(Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=13150 

O jornalismo Mainardi ou tudo dá errado neste pais…


O jornalismo Mainardi ou tudo dá errado neste pais…

30 de janeiro de 2014 | 18:44 Autor: Fernando Brito

Da capa de economia do site da Folha, hoje:
Com inflação alta, rendimento real do trabalhador tem menor avanço desde 2005,  onde se mostra que a renda real dos trabalhadores -já descontada a inflação– subiu 1,8%.
É verdade, mas todos sabem que os patrões fizeram – até com o apoio do catastrofismo da mídia – jogo mais duro nas negociações,.
Os jornalistas de São Paulo, por exemplo, tiveram um reajuste bruto de 6,95%, ou apenas 1% acima da inflação:  só a metade do que tiveram de aumento os demais trabalhadores.
Isso não é tão importante, não é?
Importante é que nos shoppings, as vendas crescem 8,6%, o pior desempenho desde 2007!
 Mesmo que os lojistas dos shoppings se digam satisfeito por continuarem mantendo uma taxa de alto crescimento e nenhum deles esteja revisando seus planos de expansão.
Ah, e os Estados Unidos, aquele prodígio do Norte, onde as crianças já nascem falando inglês, de tão civilizadas que são?
Um crescimento de 1,9% no PIB, um “pibão” que anuncia recuperação e prosperidade para o grande irmãos do Norte, enquanto nós, miseráveis, estamos enganchados num pibinho, que cresce míseros 2,4%, o que qualquer pessoa sabe que é menos que 1,9%, não é?
Tão grave é a crise que uma pequena foto e chamada passam despercebidas: é a aposta da Audi na fabricação de seu modelo A3 – o sonho de consumo dos coxinhas endinheirados – em São José dos Pinhais, no Paraná, a partir do ano que vem.
Será que os jornais concordam com o que disse Diogo Mainardi no Roda-Viva, da TV Cultura, quando afirmou que “na internet só tem otário”?
Quem sabe não seria bom seguir a sugestão que ele deu para a D. Luiza, a do Magazine, e vender o Brasil para a Amazon?

(Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=13196

Dilma em Lisboa e as contas de Aécio

 
 
 
Dilma em Lisboa e as contas de Aécio

Por Altamiro Borges, em seu blog

Desde sábado (25), a mídia tucana – que no ano passado recebeu mais de R$ 1,4 bilhão em verbas de publicidade do governo federal – não para de falar na tal escala da presidenta Dilma Rousseff em Portugal e do seu jantar em Lisboa. Jornalões e emissoras de rádio e tevê despejam uma overdose de futricas sobre o assunto.
De nada adiantou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, explicar que a escala foi determinada pela aeronáutica por motivos técnicos de segurança e que as despesas foram bancadas pelos integrantes da comitiva presidencial.
De nada adiantou, também, a própria Dilma ter explicado que ela e sua comitiva pagaram a conta no restaurante. O governo alimenta cobras, despejando verbas publicitárias na mídia tucana, e sofre as consequências do seu denuncismo seletivo e da sua escandalização da política. Deve ser masoquismo!Com base neste novo bombardeio da mídia, o seu fiel dispositivo partidário (PSDB, DEM e PPS) tenta fazer a farra com objetivos eleitoreiros. Os tucanos até ingressaram com pedido de apuração dos gastos da viagem no Conselho de Ética da Presidência da República, que nesta quarta-feira (29) considerou a solicitação improcedente.
O ridículo pedido – que se soma às queixas patéticas contra o cartão de natal da presidenta e ao seu pronunciamento de final de ano na tevê – só demonstra o desespero do PSDB, que não tem propostas e conta um cambaleante presidenciável. Por falar nele, Aécio Neves também expressou “indignação com os excessos” da presidenta Dilma em Lisboa. Haja cinismo!
O mineiro é famoso por suas noitadas no Rio de Janeiro, com voos subsidiados pelo Senado. Até os bafômetros da cidade maravilhosa conhecem as suas baladas!Em março de 2013, o Estadão publicou curiosa notinha sobre o “indignado” tucano.
“Representante de Minas, o senador Aécio Neves fez para o Rio de Janeiro 63% das viagens bancadas pela verba de transporte aéreo (VTA) do Senado. Desde o início do mandato, ele pagou com dinheiro público 83 voos, dos quais 52 começaram ou terminaram na capital fluminense. Na maioria dos casos, ele embarca rumo ao Aeroporto Santos Dumont, o mais próximo da zona sul da cidade, onde passou parte da juventude, cursou a faculdade, mantém parentes e costuma ser visto em eventos sociais. O Senado pagou R$ 33,2 mil pelos voos a partir do Rio ou para a capital fluminense. Dos 25 que aterrissaram ali, 22 foram feitos de quinta a sábado; dos 27 que decolaram, 22 saíram entre domingo e terça”.
Ainda segundo a reportagem do jornal serrista, “as passagens de Aécio pelo Rio costumam aparecer em colunas e redes sociais que, não raro, registram sua presença em baladas e eventos cariocas nos fins de semana. Em tom bem-humorado, em 27 de agosto a imprensa do Rio registrou a participação do senador numa celebração do ‘PC (Partido do Chope)’, num bar em Copacabana, três dias antes. O Senado pagou R$ 939 pelo voo entre São Paulo e a cidade naquele dia, uma sexta-feira, e mais R$ 172 pelo trecho Rio-Belo Horizonte na segunda-feira seguinte. De 24 para 25 de novembro de 2011, quinta para sexta, o tucano foi fotografado em casa noturna de São Paulo deixando o aniversário do piloto Dudu Massa, na companhia de uma socialite. No sábado, foi para o Rio com passagem que custou R$ 420 ao Senado”.
A notinha do Estadão, jornal comprometido com o paulista José Serra nas sangrentas bicadas tucanas contra o mineiro Aécio Neves, logo caiu no esquecimento. Não foi manchete nos jornalões e nem motivo de comentários venenosos nos telejornais. Já a notícia sobre a escala da presidenta Dilma em Lisboa virou o principal tema da atualidade.
Ela deu brecha até para Aécio Neves, “quarto senador do Rio de Janeiro”, como já é conhecido, mostrar sua indignação. Até agora, pelo menos, o grão-tucano FHC não seguiu a trilha da mídia seletiva e evitou tratar do tema do momento.
Ele parece não se embriagar tão facilmente como seu pupilo mineiro e sabe que toda ação gera uma reação.Como antidoto a uma possível recaída do ex-presidente, o jornalista Paulo Moreira Leite até relembrou, “em nome do bom senso e da memória”, uma reportagem publicada pela Agência Brasil sobre a viagem de FHC a Lisboa, em 2002.
O texto relata que “Fernando Henrique Cardoso cumpre agenda privada hoje em Portugal. Durante a manhã ele fará um passeio turístico acompanhado de dona Ruth Cardoso, do embaixador do Brasil em Portugal, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Não há compromissos oficiais no período da tarde”. Na época, a mídia amiga não fez qualquer estardalhaço. Neste caso, dinheiro gasto em publicidade oficial foi bem aplicado!

Tijolaço: O Brasil vai afundar com pleno emprego



O Brasil está se acabando, segundo a mídia. Mas com todo mundo empregado, né?
30 de janeiro de 2014 | 11:57
Fernando Brito, no Tijolaço

A tragicomédia da imprensa brasileira, que transforma em “desgraça” todos os problemas econômicos que nosso país tem diante de um mundo abalado, desde 2008, pela crise e pela estagnação da economia, tem um grande inimigo: os fatos.
O dado divulgado agora de manhã pelo IBGE, registrando (mais um) recorde na taxa de ocupação dos brasileiros, com o menor índice já apurado, na história, nas regiões metropolitanas do país é um destes fatos contra os quais só há argumentos se eles forem de má-fé.
Repito, o menor desemprego de toda a história deste país.
Como foi má-fé a exploração de que “o desemprego não era tão baixo assim” quando o IBGE lançou uma nova pesquisa, mais abrangente que aquela que vem sendo feita desde 2002 e que, portanto, é a que pode servir de comparação.
O trabalho divulgado pelo IBGE tem outras informações reconfortantes.
Por exemplo a de que não apenas aumentou muito proporção dos trabalhadores com carteira assinada, desde 2003, como a de que isso se deu dentro de um processo de inclusão e justiça social.
De 39,7% de trabalhadores do setor privado, passamos a 50,7% em dezembro passado.
Entre 2003 e 2012, o número de trabalhadores negros ou mestiços com carteira assinada, que era muito inferior ao da população branca praticamente igualou-se.
É claro que a economia brasileira tem problemas e terá ainda mais com a crise a conta-gotas que o fim do ciclo de expansão monetária da política norte-americana for sendo encerrado, o que “chupa” de volta para os títulos do Tesouro dos EUA a montanha de dólares espalhados pelo mundo, sacolejando os fluxos de capital dos países emergentes.
Mas estamos numa situação que nem de longe pode ser classificada como crise, ainda mais sob a ótica do povo trabalhador, onde crise econômica tem um sinônimo: não conseguir emprego.
Um trabalhador que, a duras penas, vem conseguindo elevar seus níveis de escolaridade, embora a “nata” econômica, que reclama de sua desqualificação não apenas não move uma palha para treiná-lo e educá-lo quanto pratica uma cruel rotatividade, mandando embora todos aqueles que se tornam mais capazes pela experiência e, portanto, começam a ter sonhos “perigosos” de pretender uma remuneração melhor.

Na Ucrânia a União Europeia brinca com fogo

Na Ucrânia a União Europeia brinca com fogo 

Flávio Aguiar

Berlim - Há muita cortina de fumaça na Ucrânia, e não apenas nas manifestações: também na mídia. Em primeiro lugar, porque é mesmo difícil discernir o que está de fato acontecendo, quais são as forças em jogo, quem lucra, quem perde, quais são as alternativas. Em segundo lugar porque há em muitos espaços da mídia do Ocidente uma tendência de ler os acontecimentos ainda em termos de Guerra Fria, aindaem termos de “mocinhos” versus “bandidos”.

Para uma leitura deste tipo, as coisas são mais ou menos simples. Trata-se do enfrentamento entre manifestantes que desejam uma Ucrânia livre, associada à Europa, que, para esta leitura, segue sendo o ‘modelo civilizatório’, liberta da corrupção. Do outro lado está o governo autoritário de Viktor Yanukovitch, apoiado pelo “pérfido” Putin que, como patrão político da Rússia, é, “naturalmente”, o vilão da história, chantageando a pobre Ucrânia desamparada com seus bilhões de rublos e seu gás inesgotável, necessário para aquecer o inverno rigoroso do país.

Na verdade, as coisas não são tão simples, ou melhor dizendo, tão simplórias.

Algumas recentes matérias vem pondo um pouco de luz neste tíunel aparentemente sem saída chamado Ucrânia. Refiro-me particularmente a duas: “Viktor Yanukovitch [o presidente]’s future may depend on oligarchs as much as protesters” (The Guardian, 28.01.2014, de Shaun Walker) e “The Right Wing’s Role in Ukranian Protests” (Spiegel International, 27.01.2014, da Redação).

Quando o comunismo espatifou-se na Ucrânia, o país quebrou. Tudo foi privatizado a toque de caixa. Mas, como sóe acontecer, muita gente lucrou, e lucrou muito, neste processo. Fortunas se fizeram da noite para o dia, algumas vezes, melhor dizendo, do dia para a noite, porque nem sempre, como também sóe acontecer, os procedimentos podiam vir à luz do dia. Formaram-se, como na Rússia de Yeltsin, alguns conglomerados financeiros, industriais e comerciais, em torno dos novos oligarcas subitamente enriquecidos, seis, para ser mais preciso, segundo o Guardian. Estes seis passaram a dar as cartas nos bastidores da política ucraniana.

Um deles, o mais poderoso, e rico, Rinat Akhmetov, tornou-se muito próximo do atual presidente, vindo que era da mesma região, no leste do país.

Por sua parte, Yanukovitch é de fato um político relativamente popular, e acabou eleito legitimamente para a presidência. Quando isto aconteceu, Yanukovitvch começou a cercar-se de uma nova geração de a princípio pequenos oligarcas, mas que foram crescendo, e são hoje os chamados “lobos”. Isto desagradou a velha oligarquia estabelecida. Para complicar a situação, três forças externas estão na dança: a União Europeia, a OTAN e a Rússia. A União Europeia, desde sua criação, está em processo de expansão – uma expansão meio descontrolada, como se vê pelo atual estado de crise em que boa parte dela – arrastando o todo – está metida. Uma fatia importante deste crescimento são os “mercados emergentes” das ruínas do comunismo. Por que não a Ucrânia?

Por outro lado, sob a liderança (em estilo czarista) de Putin, a Rússia vem recuperando a força política e diplomática perdida, e a Ucrânia é peça-chave nesta recuperação, seja pela extensa fronteira que compartilha com ela, seja pela cobertura do Mar Negro logo abaixo, cujo controle, evidentemente a OTAN cobiça , coisa que Moscou não pode admitir.

Dito isto, pode-se ver que de fato uma grande parte do destino do atual governo ucraniano depende do que Moscou e Bruxelas fizerem ou deixarem de fazer, e da conveniência deste governo para os oligarcas por detrás, a quem, disputas internas à parte, interessa tanto o dinheiro (15 bilhões de euros para um país virtualmente quebrado) russo e seu gás, quanto as finanças europeias cujo ímpeto, também como soe acontecer, é restringir gastos públicos, sobretudo na área social,  diminuir salários e aposentadorias, cortar o poder dos sindicatos, etc., na receita por demais conhecida.

Mas há também a praça, onde as manifestações se sucedem, sem que arrefeçam até o momento. Pela matéria do Spiegel, pode-se discernir três grandes forças principais animando as manifestações: o Partido da Pátria-Mãe (ou Pai, na versão original), ligado à ex-lider Yulia Timoshenko, hoje presa, o Partido Udar, do principal líder da oposição, Vitaly Klitschko, e – aí vem a complicação maior – o Partido Svoboda (Liberdade), liderado por Igor Myroshnychenko, de extrema-direita. Todos estes três partidos têm representantes no Parlamento.

Mas o que a matéria do Spiegel explora é que de longe quem predomina nas mabifestações, que teriam arrefecido sem isto, é o ultra-nacionalista e xenófobo Svoboda. As ações e declarações dos membros e lideranças deste partido – inclusive de Myroshnychenko – rescendem a xenofobia, antissemitismo, ressentimento nacionalista (que na Europa é palavra associada sempre à direita), anti-homossexualismo, anti-minorias, além de práticas esdrúxulas, para dizer o mínimo, como já foi observado: recentemente jovens ligados ao partido distribuíam panfletos com trechos dos discursos de Goebbels, o homem forte da propaganda nazista. Além disto até recentemente o nome do Partido era “Social-Nacional”, numa alusão mais do que clara ao nome oficial do Partido de Hitler, o “Nacional-Socialista”.

Estes são os que se dizem “prontos para morrer” em nome da luta que estão levando. Para azar de todos, na hipótese de a oposição querer formar um governo sem Yanukovitch, ela terá forçosamente de incluir o Svoboda.

Ou seja, todos da oposição – e de quebra a União Europeia – estão flertando com o perigo.

No momento, é difícil discernir alguma nova configuração política que rompa com os poderes dos oligarcas – novos ou menos novos – e crie uma outra força mais democrática do que aquelas em jogo. No curto prazo o que de melhor pode acontecer é a formação de uma articulação política entre Yanukovych e os dois partidos de oposição, Udar e Pátria-Mãe (ou Pai), isolando ou pelo menos neutralizando o Svoboda. Também que Moscou mantenha o empréstimo prometido e a promessa de cobrar menos pelo gás que fornece ao país, e que a presença da União Europeia no jogo (o que também, de momento, é inevitável) seja suficientemente contrabalançada para trazer o menor estrago possível, com seus ‘planos de austeridade’,  à política de recuperação da Ucrânia, quando esta for possível.

(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Na-Ucrania-a-Uniao-Europeia-brinca-com-fogo/6/30129)

85 ricos têm dinheiro igual a 3,57 bilhões de pobres no mundo


85 ricos têm dinheiro igual a 3,57 bilhões de pobres no mundo

Luiz Flávio Gomes

Essa é a conclusão do relatório Governar para as Elites, Sequestro democrático e desigualdade econômica, que a ONG Oxfam Intermón publicou em 19/01/14. A desequilibrada concentração de renda nas mãos de poucos (típica do capitalismo retrógrado, exageradamente desigual) significa menos renda per capita para cada habitante e cada família do país. Mas isso não implica automaticamente mais violência (mais homicídios). Outros fatores devem ser considerados: escolaridade (sobretudo), emprego estável ou não, perspectiva de futuro, a racionalidade ou irracionalidade da política criminal adotada, religião, tradição, existência ou não do “tabu do sangue” (ninguém pode sangrar outra pessoa) etc.
 
O que sabemos? Que cruzando os dados objetivos do IDH (índice de desenvolvimento humano), Coeficiente Gini (distribuição da renda familiar), renda per capita e o número de homicídios temos uma tese: quanto mais elevado o IDH e menor o Gini menos desigualdade e menos violento é o país (e vice-versa: quanto mais baixo o IDH e mais alto o Gini, mais desigualdade e mais violência existe). Como regra geral essa premissa é bastante válida. As exceções confirmam a regra.
 
O que essa tese aconselha ao bom governo assim como às lúcidas classes burguesas dominantes? Que o incremento (a melhora substancial) dos fatores estruturadores do IDH (escolaridade, longevidade e renda per capita) e do Gini (distribuição da renda familiar) não pode ser desconsiderado como fator preventivo da violência. É de se chamar a atenção aqui, especialmente, para a educação. No lapso temporal de uma geração a Coréia do Sul se revolucionou completamente por meio da educação massiva de qualidade. Esse é o fator preventivo mais relevante de todos. Como já dizia Beccaria, em 1764: “Finalmente, o mais seguro, porém o mais difícil meio de evitar os delitos, é aperfeiçoar a educação” (Capítulo 45, do livro Dos delitos e das penas).
 
Os dez países de mais alto IDH do mundo são os menos violentos (1,8 homicídios para cada 100 mil) e ainda estão dentre os menos desiguais, com exceção dos EUA. Contam, ademais, com rendimento per capita muito alto e um excelente nível de alfabetização. O mais desigual neste grupo (EUA) é precisamente um dos mais violentos (conta com quase o triplo de homicídios da média dos 47 países de maior IDH, que é de 1,8 para cada 100 mil pessoas). Isso nos conduz a concluir que não devemos nunca considerar um único fator (IDH) para medir ou prognosticar a violência.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/85-ricos-tem-dinheiro-igual-a-3-57-bilhoes-de-pobres-no-mundo/7/30114

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Bomba! PF confirma inquérito contra sonegação da Globo!


Bomba! PF confirma inquérito contra sonegação da Globo!

27 de janeiro de 2014 | 15:36 Autor: Miguel do Rosário
sonegacao
Reproduzo aqui o texto que acabo de publicar no Cafezinho:
Polícia Federal confirma abertura de inquérito contra sonegação da Globo!
Agora já temos um número e um delegado responsável. É o inquérito 926 / 2013, e será conduzido pelo delegado federal Rubens Lyra.
O chefe da Delegacia Fazendária da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Fabio Ricardo Ciavolih Mota, confirmou à comitiva do Barão de Itararé-RJ que o visitou hoje: o inquérito policial contra os crimes fiscais e financeiros da TV Globo, ocorridos em 2002, foi efetivamente instaurado.
Os crimes financeiros da TV Globo nas Ilhas Virges Britânicas foram identificados inicialmente por uma agência de cooperação internacional. A TV Globo usou uma empresa laranja para adquirir, sem pagar impostos, os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.
A agência enviou sua descoberta ao Ministério Público do Brasil, que por sua vez encaminhou o caso à Receita Federal. Os auditores fiscais fizeram uma apuração rigorosa e detectaram graves crimes contra o fisco, aplicando cobrança de multas e juros que, somados à dívida fiscal, totalizavam R$ 615 milhões em 2006. Hoje esse valor já ultrapassa R$ 1 bilhão.
Em seguida, houve um agravante. Os documentos do processo foram roubados. Achou-se uma culpada, uma servidora da Receita, que foi presa, mas, defendida por um dos escritórios de advocacia mais caros do país, foi solta, após conseguir um habeas corpus de Gilmar Mendes.
Em países desenvolvidos, um caso desses estaria sendo investigado por toda a grande imprensa. Aqui no Brasil, a imprensa se cala. Há um silêncio bizarro sobre tudo que diz respeito à Globo, como se fosse um tema tabu nos grandes meios de comunicação.
Um ministro comprar uma tapioca com cartão corporativo é manchete de jornal. Um caso cabeludo de sonegação de impostos, envolvendo mais de R$ 1 bilhão, seguido do roubo do processo, é abafado por uma mídia que parece ter perdido o bonde da história.
Nas “jornadas de junho”, um grito ecoou por todo o país. Foi talvez a frase mais cantada pelos jovens que marchavam nas ruas: “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”.
A frase tem um sentido histórico. É como se a sociedade tivesse dito: a democracia voltou; agora elegemos nossos presidentes, governadores e prefeitos por voto direto; chegou a hora de acertar as contas com quem nos traiu, com quem traiu a nossa democracia, e ajudou a criar os obstáculos que impediram a juventude brasileira de ter vivido as alegrias e liberdades dos anos 60 e 70.
O Brasil ainda deve isso a si mesmo. Este ano, faz cinquenta anos que ocorreu um golpe de Estado, que instaurou um longo pesadelo totalitário no país. A nossa mídia, contudo, que hoje se traveste de paladina dos valores democráticos, esquece que foi justamente ela a principal assassina dos valores democráticos. E através de uma campanha sórdida e mentirosa, que enganou milhões de brasileiros, descreveu o golpe de 64 como um movimento democrático, como uma volta à democracia!
A ditadura enriqueceu a Globo, transformou os Marinho na família mais rica do país. E mesmo assim, eles patrocinam esquemas mafiosos de sonegação de imposto?
O caso da sonegação da Globo é emblemático, e deve ser usado como exemplo didático. Se o Brasil quiser combater a corrupção, terá que combater também a sonegação de impostos. Se estamos numa democracia, a família mais rica no país não pode ser tratada diferentemente de nenhuma outra. Se um brasileiro comum cometer uma fraude fiscal milionária e for pego pela Receita, será preso sem piedade, e seu caso será exposto publicamente.
Por que a Globo é diferente? A sonegação da Globo deve ser exposta publicamente, porque é uma empresa que sempre viveu de recursos públicos, que é uma concessão pública, que se tornou um império midiático e financeiro após apoiar um golpe político que derrubou um governo eleito – uma ação pública, portanto.
Esperamos que a Polícia Federal cumpra sua função democrática de zelar pelo interesse público nacional. E esperamos também que as Comissões da Verdade passem a investigar com mais profundidade a participação das empresas de mídia nas atrocidades políticas que o Brasil testemunhou durante e depois do golpe de 64. Até porque sabemos que a Globo continuou a praticar golpes midiáticos mesmo após a redemocratização, recusando-se a dar visilidade (e mentindo e distorcendo) às passeatas em prol de eleições diretas, manipulando debates presidenciais e, mais recentemente, tentando chancelar a farsa de um candidato (o episódio da bolinha de papel).
O Brasil se cansou de ser enganado e, mais ainda, cansou de dar dinheiro àquele que o engana. Se a Globo cometeu um grave crime contra o fisco, como é possível que continue recebendo bilhões em recursos públicos?

Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=13110

Professor erra?

Professor erra?!

pedagogia limaNestes dias, ao refletir sobre a práxis docente, recordei de uma das obras lidas na época do doutorado: Pedagogia: reprodução ou transformação, escrita por Lauro de Oliveira Lima.[1] O autor observa que, em suas origens, a pedagogia foi uma atividade desempenhada por escravos:
“Pedagogia é a atividade do pedagogo (país, paidós = criança; e agein = conduzir, em grego). O pedagogo, entre gregos, romanos e provavelmente muitos outros povos antigos, era o escravo que conduzia a criança de cerca de sete anos à escola (note-se que a palavra scholé, em grego, significa lazer, descanso, brincadeira, o que mostra que a intenção era fazer a criança conviver com as demais, aprender atividades – ginástica, música, dança etc. – que não podiam ser realizadas no lar por falta de companheiros em número suficiente). Dessa forma, o pedagogo constitui-se o mediador entre a família (o útero, o ninho) e a comunidade (a sociedade adulta)” (p. 12-13).[2]
Nossos ancestrais eram escravos. O reconhecimento dessa origem não indica a aceitação da condição de escravo, ainda que escravo moderno assalariado, mas contribui para a reflexão sobre o exercício da docência. Há quem se veja como Senhor, superior aos demais. Entre nós estabelece-se uma hierarquia fundada na meritocracia e consagrada por diferenças salariais abissais entre os diversos níveis da carreira docente. A arrogância titulada nem sempre reconhece a importância dos que exercem a docência na educação infantil, fundamental e no ensino médio. O preconceito entranhado na alma é um empecilho à humildade.
Somos assalariados, trabalhadores! Ou não?[3] Talvez o professor universitário não se veja assim, mas como uma espécie de elite cultural, acima da massa de ignorantes e também dos seus colegas professores que não tem título de doutorado e dos que estão na base do sistema educacional. Talvez! Contudo, mesmo entre os professores do ensino fundamental e médio talvez encontremos quem se recuse a reconhecer a sua condição social. Um amigo dirigente do maior sindicato de professores do Brasil, a APEOESP, me dizia outro dia da resistência de alguns colegas a serem chamados de trabalhadores, e chegam a corrigi-lo quando ele usa este termo. Na sociedade hierárquica sempre há alguém qualificado como inferior por quem está numa posição inferior a outro!
A arrogância faz par com o sentimento de superioridade. O ser superior tende a se considerar infalível. O discurso e prática professoral fundados na relação superior-inferior tem dificuldade de autocrítica. Não há espaço para a reflexão da práxis docente, pois o problema, a falha, etc., é imputada à incapacidade do outro. Nestas circunstâncias, o professor coloca-se acima de suspeita. Como escreve Lima:
“Se num hospital os doentes começarem a morrer sistematicamente, a primeira suspeita é que os médicos são incompetentes. Se o edifício ameaça ruir ou as barrancas da estrada deslizam, todos apontam o engenheiro que os construiu como responsável. Se as safras anuais não alcançam o nível de rendimento previsto, provavelmente os agrônomos não exerceram bem suas funções. Se a empresa vai à falência, é que tem mau administrador. Mas se os alunos não aprendem… se são reprovados em massa, é que o professor é rigoroso! … Em síntese, o professor é o único profissional acima de qualquer suspeita” (p. 39).
Se errar é humano, depende de quem erra! Mas o professor é humano – ainda que se imagine um semideus ou a própria divindade encarnada! Ele até pode esconder-se atrás do discurso ininteligível – pois quanto menos se faz entender, mas parece que é inteligente e os alunos o oposto. É possível que se ampare na instituição, a qual o legitima, ou na corporação dos pares, etc., mas ele é falível. No fundo nutre a auto-ilusão dos que se consideram superiores, mas não está imune ao julgamento dos que se fazem iguais a ele pela condição humana compartilhada!

[1] São Paulo: Brasiliense, 1982, 110p.
[2] As citações são da obra referida acima.
[3] A julgar pela constatação empírica e depoimentos de trabalhadores não docentes, parece que alguns titulados se veem como especialmente diferentes daqueles que exercem atividades manuais e/ou técnicas, ou seja, como não-trabalhadores, mas sim enquanto uma casta especial consagrada pela função titulada. Este é um dos fundamentos para a recusa da paridade nas eleições na universidade. Sugiro a leitura de “Lições da greve dos trabalhadores da UEM”, publicado em 12.09.2012.

Fonte: http://antoniozai.wordpress.com/2013/08/03/professor-erra/ 

A destruição da infância

Os desenhos da televisão, os tablets, os joguinhos já se tornaram a babá eletrônica das crianças nos dias de hoje. Como se não houvesse perigo nisso! Dói na alma ver, em mesas de restaurantes, nos finais de semana, família toda reunida e em vez de dialogarem, todos, em silêncio, apertando os botões dos tablets, dos smartphones... onde vamos parar?

A destruição da infância

Está acontecendo algo muito grave que não vem sendo debatido: uma grande deterioração do meio cultural no qual as crianças estão submersas.

Vincenç Navarro

Está acontecendo algo sobre o qual não se comenta muito nos fóruns midiáticos e políticos do país (Espanha), e que está causando impacto enorme na qualidade de vida em nosso presente e em nosso futuro. Estou me referindo à grande deterioração do meio cultural no qual a criança está submersa. Um indicador disso, entre outros, é o mundo midiático ao qual as crianças estão expostas. E não me refiro somente ao número de horas que passam diante da televisão ou de outras mídias de entretenimento, o que continua sendo um problema grave (nos Estados Unidos, onde este tipo de estudo é sistematicamente realizado, o tempo de exposição subiu de uma hora e meia nos anos 1970 para cerca de quatro horas atualmente). Estou me referindo, além do tempo de exposição, à evidente deterioração dos conteúdos de produção midiática. A destruição no conteúdo educativo dos programas televisivos ou dos videogames tem sido eminente, com um aumento notável da promoção do consumismo, do individualismo, da violência, do narcisismo, do egocentrismo e do erotismo como instrumentos de manipulação.

A evidência de que isto se dá dessa maneira é assustadora. Estes conteúdos – que configuram de forma muito negativa os valores sociais – estão espalhados por toda a sociedade, incluindo os adultos. Mas o que é ainda mais preocupante é que muitos desses valores se apresentam com mais intensidade nos programas voltados para o público infantil. E a situação está piorando. Vou me explicar.


Em meados da década de 1970, foi feito um estudo sobre o conteúdo dos programas de televisão para meninos e meninas nos EUA. Foi realizado por pesquisadores da Johns Hopkins University. Nesta pesquisa, constatou-se que a violência, muito generalizada nos Estados Unidos, estava inclusive mais presente, paradoxalmente, na programação infantil. Tal estudo provocou uma revolta considerável naquele país. E fui eu a apresentá-lo no Congresso dos EUA, não enquanto professor realizador do estudo, mas como dirigente da Associação Americana de Saúde Pública (American Public Health - APH, segundo a sigla original), tendo sido escolhido entre o corpo diretivo pelos 50 mil membros dessa Associação.


O Comitê de Assuntos Sociais do Congresso dos EUA organizou uma série de depoimentos para analisar o que estava acontecendo nos programas de televisão orientados para crianças. E convocou uma sessão em que estavam, de um lado, os presidentes das três cadeias de televisão mais importantes do país (CBS, ABC e NBC) e, de outro, o representante da APHA (que era eu). Para sempre me lembrarei daquele momento. Ali estava eu, filho de La Sagrera, bairro popular por excelência de Barcelona, Espanha, com o enorme privilégio (em um país de imigrantes) de representar meus colegas da APHA e defender os interesses da população norte-americana diante de três das pessoas mais poderosas dos EUA, que durante seu depoimento tentavam ridicularizar o meu, alegando que eu estava exagerando quanto ao impacto desses programas nas crianças norte-americanas.

Como não podiam questionar os dados que documentavam a enorme violência dos programas infantis, centravam-se em negar que tiveram impacto nas crianças. Este argumento foi fácil de destruir, com a pergunta que lhes fiz diante do Congresso:

“Se vocês acreditam que seus programas não têm impacto entre as crianças, por que cada anúncio comercial que aparece nestes programas custa quase um milhão de dólares?”. Não responderam. Negar que tais programas tenham um impacto nos espectadores é absurdo. O Congresso dos EUA, por certo, não fez nada, pois não ousava contrariar estes grupos poderosos.

A situação está se deteriorando

E a situação está inclusive pior atualmente. Esta fixação infantil pela mídia audiovisual está amplamente estendida, agora por meio dos videogames, que estão substituindo a televisão. O grau de exposição das crianças aos videogames alcançou um nível que ultrapassa em muito o tempo à frente da televisão. A transmissão dos valores por meio dos jogos eletrônicos, citados anteriormente, é massiva. É o equivalente ao fast food no universo psicológico, cultural e intelectual.

Tanto que, em vários países europeus, se considera proibir a importação de videogames dos EUA (que são extraordinariamente mais violentos), que destroem massivamente meninos e meninas. Acredito que as autoridades públicas espanholas deveriam considerar sua proibição, como já acontece em vários países da Europa.


Porém, para além da destruição que muitos desses videogames provocam na infância, a exposição a essa cultura tira as crianças de outras atividades. Existe evidência de que, quanto maior o tempo dedicado aos videogames, menor é a capacidade de leitura e de compreensão de textos. A leitura de livros – dos clássicos da infância, de Heidi ao Pequeno Príncipe – está diminuindo muito rapidamente. Serei criticado sob a alegação de que este texto denota nostalgia, o que não é certo, pois minha crítica não é ao fato de não lerem esses textos, mas sim à ausência de leitura desse tipo de texto, em que a narrativa conecta o indivíduo com a realidade que o cerca, ajudando a desenvolver uma visão solidária, amável e coletiva da sociedade. Enfatizar a força, o ego, o “eu” e a satisfação rápida e imediata do desejado, sem freios, levará todos nós a um suicídio coletivo.

E me preocupa o fato de que isto já esteja acontecendo. Se desejam ver seu futuro, vão agora aos Estados Unidos e o verão. As mudanças sofridas desde a década de 1980, quando se iniciou o período neoliberal com Reagan e Thatcher, foram enormes. O neoliberalismo, a exaustação ao "êxito" sem freios, ao individualismo, ao narcisismo, ao darwinismo, inundaram todas as áreas da cultura da infância.

As meninas como objeto sexual

Outro elemento da deterioração da cultura infantojuvenil está na reprodução dos estereótipos, por trás da qual há uma relação de poder. Um dos mais marcados é o que reproduz a visão machista da sociedade, apresentando as mulheres como objetos eroticamente desejados, e que, notavelmente, afeta a infância. Essa visão já alcançou dimensões patológicas. Nos países mais machistas (e a Espanha está no topo da lista), a mulher está sempre muito decotada (e cada vez mais) e, se não, vejam os noticiários diários. Por que os homens não vão decotados à televisão quando dão as notícias, mas sim as mulheres?

A imagem erótica, com uma definição de beleza estabelecida pelo homem, está alcançando nível tamanho de exagero, que começa inclusive com as bonecas Barbie. Vários países europeus – como a França – estão pensando em proibir tais tipos de boneca. Está chegando a um nível que exige uma mobilização, protestando contra essa destruição por meio da promoção de valores que são prejudiciais à infância e à população em geral. Espero que o leitor se some a essas mobilizações. Se você ama seu país, sugiro que faça algo. Não deixe que manipulem nem a você, nem a seus filhos, filhas, netos e netas. Indigne-se! Faça algo!

(*) Professor de Políticas Públicas. Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e professor da Johns Hopkins University. Site pessoal: www.vnavarro.org

(Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/A-destruicao-da-infancia/6/30096)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Os rolezinhos nos acusam: somos uma sociedade injusta e segregacionista


Os rolezinhos nos acusam: somos uma sociedade injusta e segregacionista

Leonardo Boff

O fenômeno dos centenas de rolezinhos que ocuparam shoppings centers no Rio e em  São Paulo suscitaram as mais disparatadas interpretações. Algumas, dos acólitos da sociedade neoliberal do consumo que identificam cidadania com capacidade de consumir, geralmente nos jornalões da mídia comercial, nem merecem consideração. São de uma indigência analítica de fazer vergonha.

Mas houve outras análises que foram ao cerne da questão como a do jornalista Mauro Santayana do JB on-line e as de três  especialistas que avaliaram a irrupção dos rolês na visibilidade pública e o elemento explosivo que contém. Refiro-me à Valquíria Padilha, professora de sociologia na USP de Ribeirão Preto:”Shopping Center: a catedral das mercadorias”(Boitempo 2006), ao sociólogo da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jessé Souza,”Ralé brasileira: quem é e como vive (UFMG 2009) e  de Rosa Pinheiro Machado, cientista social com um artigo”Etnografia do Rolezinho”no Zero Hora de 18/1/2014. Os três deram entrevistas esclarecedoras.

Eu por minha parte interpreto da seguinte forma tal irrupção:

Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias,  sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins como saúde, escola, infra-estrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação.

Mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada. O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluidos no contrato social. Não adianta termos uma “constituição cidadã” que neste aspecto é apenas retórica, pois  implementou muito pouco do que prometeu em vista da inclusão social. Eles estão fora, não contam, nem sequer servem de carvão  para o consumo de nossa fábrica social (Darcy Ribeiro). Estar incluido no contrato social significa ter garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos bunkers do consumo? “Oia nóis na fita”; “nois não tamo parado”;”nóis tamo aqui para zoar”(incomodar). Eles estão com seu comportamento rompendo as barreiras do apartheid social.

É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado social pois contradiz o  projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites altamente insensíveis  à paixão de seus semelhantes e por isso cínicas.

Continuamos uma Brasilíndia: uma Bélgica rica dentro de uma India pobre. Tudo isso os rolezinhos denunciam, por atos e menos por palavras.

Em segundo lugar,  eles denunciam a nossa maior chaga: a desigualdade social cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva constatar que com as políticas sociais do governo do PT a desigualdade diminuiu, pois segundo o IPEA os 10% mais pobres tiveram entre 2001-2011 um crescimento de renda acumulado de 91,2% enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%. Mas esta diferença não atingiu a raíz do problema pois o que supera a desigualdade é uma infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer que funcione e acessível a todos. Não é suficiente transferir renda; tem que criar oportunidades e oferecer serviços, coisa que não foi o foco principal no Ministério de Desenvolvimento Social.

O “Atlas da Exclusão Social” de Márcio Porchmann (Cortez 2004) nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias,  das quais cinco mil famílias extensas detém 45% da riqueza nacional. Democracia sem igualdade, que é seu pressuposto, é farsa e retórica. Os rolezinhos denunciam essa contradição. Eles entram no “paraíso das mercadorias” vistas virtualmente na TV para ve-las realmente e senti-las nas mãos. Eis o sacrilégio insuportável pelos donos do shoppings. Eles não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses bárbaros. Sim, bem o viu T.Todorov em seu livro “Os novos bárbaros”: os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer: esta ordem é ordem na desordem. Ela os faz frustrados e infelizes, tomados de medo, medo dos próprios semelhantes que somos nós.

Por fim, os rolezinhos não querem apenas consumir. Não são animaizinhos famintos. Eles tem fome sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar sua vida. Tudo isso lhes é negado, porque, por serem pobres, negros, mestiços sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na margem.

Esse tipo de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convem mais. Os rolezinhos mexeram numa pedra que começou a rolar. Só parará se houver mudanças.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Os-rolezinhos-nos-acusam-somos-uma-sociedade-injusta-e-segregacionista/30069 

Brasil? Poupe-me...

Pois é... mas há quem prefira "ouvir" a Veja, a Folha, o Estadão...


Brasil? Poupe-me...

Foi preciso que o presidente de um dos maiores bancos viajasse 8.940 kms, para encontrar um jornalista disposto a ouvir e reportar uma outra visão do Brasil.

por: Saul Leblon

Foi preciso que o presidente de um dos maiores bancos brasileiros viajasse 8.940 kms para fora do país, um estirão aéreo de  11 hs  até Genebra, na Suíça, para encontrar um jornalista, o competente Assis Moreira, correspondente do Valor Econômico, disposto a ouvir e reportar  uma visão  da economia  ausente na pauta  do Brasil aos cacos,  que predomina nas páginas  do seu próprio jornal.

Que isso tenha acontecido na carimbada paisagem de neve e ternos pretos de Davos, onde se realiza o concílio das corporações capitalistas,  diz algo sobre  o belicismo da emissão conservadora em  azedar  as expectativas  contra o Brasil e seu desenvolvimento.

Luiz Carlos Trabuco Cappio, presidente do Bradesco, não dirige uma instituição socialista.

Segundo maior banco do país, o Bradesco  acumulou até o 3º trimestre de 2013 um lucro  da ordem de R$  9 bilhões, em boa parte pastejando tarifas e juros no lombo de seus clientes.

Até aí,  estamos na norma de um setor que  ao primeiro alarme da crise mundial deixou o Brasil falando sozinho.

Recolheu-se ao bunker dos  títulos públicos (juro limpo, risco zero de inadimplência) e deixou o pau quebrar do lado de fora.

Mais de 50% do financiamento da economia brasileira hoje é garantido pelos bancos estatais –  15  pontos acima do padrão de mercado pré-crise.

Não dispusesse  de um  sistema de bancos estatais, o país seria  arrastado à crise pela vocação  pró-cíclica da lógica financeira.

O Bradesco tem 26 milhões de correntistas; está espalhado por todo o Brasil  –sua rede de oito mil agências talvez só perca para a do Banco do Brasil.

Um dos segmentos de maior  expansão do banco  no ano passado  foi a carteira  imobiliária: o financiamento de imóveis  totalizou  R$ 12,5 bi –crescimento de 33% no período, contra 11% do credito em geral.

Talvez essa capilaridade explique a dissonância.

O que disse Trabuco, em Genebra,  destoa da água para o vinho dos clamores emitidos pela república rentista, aferrada a circularidade do lucro que não passa pela produção, nem pelo consumo.

No cassino, a regra de ouro é o descompromisso com a sorte do desenvolvimento e o destino da sociedade  –não raro, o confronto, em modalidades conhecidas.

A saber: arbitragem de juros (leia ‘O governo invisível não quer Dilma’; neste blog), especulação  com papelaria e moedas (bolsas, volatilidade cambial) e imposição de  Selic gorda no financiamento da dívida pública.

Até mesmo pelo maior  entrelaçamento  geográfico  com o país real (se o Brasil der errado isso tem consequências) o dirigente do Bradesco se obriga a um outra visão da economia e do governo.

Excertos da sua entrevista a Assis Moreira soam como mensagens de um marciano  em meio ao alarido do rentismo  local:

(...) ‘O grande desafio que nós temos é fazer o capital produzir no Brasil. É fazer o investimento estrangeiro ou capital privado nacional funcionar para suprir os nossos fossos, principalmente de infraestrutura. O Brasil não é um país pobre, é um país desigual. Não é um país improdutivo. Nós temos problema de competitividade, mas o país é produtivo’.

(...) ‘ninguém quer ficar fora do Brasil. Porque a democracia brasileira, o Judiciário, as instituições, a harmonia social, independente dos problemas que possam existir, tem uma coesão. O Brasil tem um projeto de país’.

(...) ‘Houve uma época na economia brasileira em que tudo estava no curto prazo. Agora, teve um alongamento. E foi positivo, porque o governo soube aproveitar isso, que foi o alongamento da dívida interna. Hoje já temos estoques  importante de títulos de 2045, de 2050’.

(...) ‘O relatório do FMI foi até positivo em alguns aspectos, porque olhou para a economia brasileira e viu um crescimento superior à média da projeção dos economistas brasileiros. Isso é o reconhecimento da capacidade do PIB potencial.

Com relação ao movimento de capitais, o FMI falou genericamente, sobre migração [de capital]. O pior dos mundos seria um cenário em que os Estados Unidos, Europa e Ásia mudassem o patamar dos juros, aí teríamos... Acho que a fuga de capital no Brasil não se aplica’.


Isso na 4ª feira. Um dia antes,  o mesmo jornal debruçava-se no colo do mercado financeiro para anunciar a rejeição  do governo invisível  do dinheiro  à reeleição de Dilma.

A dificuldade em pensar o Brasil advém, muito, da inexistência de um espaço ecumênico  de debate em que opiniões como a de um Trabuco,  ou a  de Luiza Trajano  --a dona do  Magazine Luiza, que desancou ao vivo um gabola desinformado do pelotão conservador--   deixem de ser um acorde dissonante no jogral que diuturnamente aterroriza:  de amanhã o Brasil não passa.

Os desafios ao passo seguinte do desenvolvimento brasileiro são reais.

De modo muito grosseiro, trata-se de modular um ciclo de ganhos de produtividade (daí a importância  de resgatar seu principal núcleo irradiador, a indústria)  que financie  novos degraus de acesso  à cidadania plena.

A força e o consentimento necessários para conduzir  esse  novo ciclo requisitam um salto de discernimento e organização social,  indissociável de um amplo debate sobre metas,  ganhos, prazos, sacrifícios  e valores.

 Não se trata apenas de sobreviver  à convalescência do modelo neoliberal.

Trata-se de distinguir  se a crise global é uma ruptura ou o desdobramento  natural de um modelo cuja restauração é defendida  por rentistas, jornalistas e rapazes assertivos, desprovidos do recheio competente.

Antes de classificar como excrescência o que se assiste na Europa  --onde o ajuste neoliberal  produziu  26,5 milhões de desempregados, implodiu pilares da civilização e acumula déficits paralisantes, que a recessão ‘saneadora’ não permite deflacionar--,  talvez fosse mais justo creditar à razia o bônus da coerência.

O que o schumpeterismo ortodoxo  promove  no antigo berço do Estado do Bem- Estar Social é radicalização do processo de ‘destruição criativa’ que por três décadas esganou  o rendimento do trabalho, sacrificou soberanias, instituições e direitos, simultaneamente  a concessão de mimos tributários aos endinheirados.

Para clarear as coisas: não foi a crise que gerou o arrocho e a pobreza em desfile no planeta --mas sim o arrocho e a desigualdade neoliberal que conduziram ao desfecho explosivo, edulcorado agora por  vulgarizadores que, no Brasil,  advogam  dobrar a aposta no veneno.

A ordem dos fatores altera a agenda futuro.

Se a crise não é apenas financeira, controlar as finanças desreguladas é só um pedaço do caminho.

 O percurso inteiro inclui controlar a redistribuição do excedente econômico, ferozmente concentrado nas últimas décadas na base do morde e assopra --arrocho de um lado, crédito e endividamento suicida do outro.

O saldo está exposto no cemitério de ossos da crise mundial.

Genocídio do emprego, classe média em espiral descendente, mercados atrofiados,  plantas industriais carcomidas,  anemia do investimento e colapso dos serviços público e do investimento estatal.

Para quem acha que a coisa começou agora, o insuspeito Wal Street Journal acaba de publicar  reportagem com números pedagógicos sobre o esmagamento da classe média no mundo rico, antes da crise.

Dados compilados por Emmanuel Saez, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Thomas Piketty, da Escola de Economia de Paris’, diz o Wall Street  corroboram o desmonte social em curso nos países ricos.

 Em 2012, os 10% mais ricos da população norte-americana ficaram com metade de toda a renda gerada no país. Trata-se do percentual mais alto desde 1917.
Mas o ovo regressivo vem sendo chocado bem antes disso.

Estatísticas coligidas por Branko Milanovic, ex-economista do Banco Mundial , adverte  o Wall Street, mostram que, de 1988 a 2008, a renda real dos 50% mais pobres nos EUA cresceu apenas 23%. Enquanto isso, a renda do 1% dos americanos no topo da pirâmide cresceu 113% no período –‘ um percentual que outros estudos consideram subestimado’, lembra o jornal conservador. As famílias dos 50% mais pobres na Alemanha e no Japão tiveram um desempenho ainda pior. A renda real dos 50% mais pobres no Japão caiu 2% em termos reais.

“As desigualdades nacionais em quase todos os lugares, exceto na América Latina, aumentaram", diz Milanovic  ao Wall Street.

Pela ansiedade dos nossos falcões e a animosidade de seus  gabolas no debate das questões nacionais, tudo indica que eles não querem ficar para trás.

Ao ouvirem notícias encorajadoras sobre o potencial do país desabafam enfadados:
‘Brasil? Poupe-me...’

fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Brasil-Poupe-me-/30077 

Deu no The New York Times: Brasil tem resposta para desigualdade

Deu no The New York Times: Brasil tem resposta para desigualdade

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, para informar aos brasileiros o óbvio ululante.

José Carlos Peliano (*)

Colunista sênior do The New York Times, Joe Nocera, escreveu sobre o Brasil na segunda feira agora, dia 20, apontando a surpresa que lhe despertou a cidade do Rio de Janeiro. Muniu-se de mais informações após sua viagem de volta aos Estados Unidos, reunindo-se com alguns economistas para procurar entender o que se passava com o país em particular onde se apoiavam seus pilares econômicos.

Chamou-lhe a atenção, o que os brasileiros já sabiam, a variedade de boas lojas em bairros como Ipanema e igualmente a quantidade de pobreza nas favelas ao redor. Segundo ele, para os visitantes, saltava aos olhos o número de cidadãos de classe média pelas ruas em meio aos carros por todos os lados e o tráfico congestionado. Por não ser ilusão o que via, passou a acreditar que tudo aquilo era sinal de uma classe média emergente. As pessoas tinham dinheiro para comprar carros.

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, país cuja cultura nos é bem conhecida, para informar aos brasileiros o óbvio ululante, salve Nelson Rodrigues, já que os profissionais dos nossos jornalões e televisões de plantão não informam por não saberem ver ou não conseguirem enxergar.

Se tivesse dito só isto já era o suficiente para mostrar que as mídias sociais, baluartes modernos da resistência informativa, veem como ele o país. Mas suas observações foram mais carregadas ainda de tinta ao destacar a queda na desigualdade de renda na última década, os recordes atuais do baixo desemprego e a saída da pobreza de cerca de 40 milhões de pessoas. Por fim, ainda assinalou que, embora o crescimento do produto tenha reduzido, a renda per capita continua a subir.

Já os economistas reunidos com ele relativizaram as conquistas. Disseram que a boa forma da economia brasileira tem voo curto a despeito dos ganhos obtidos.
Estariam faltando ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. O baixo desemprego dos que querem trabalhar seria porque, enquanto a economia cresce pouco e com eficiência contida, o Estado compensa incentivando o consumo com programas sociais. Para eles o país teve mais sorte do que sucesso.

Não é sorte, embora os santos possam ter ajudado! Com a retração dos investimentos, apesar do esforço e incentivo do governo, a estratégia de expansão do consumo foi estabelecida para segurar a economia, mesmo a crescimento baixo, exatamente nesses anos de vacas magras desde o início da crise financeira mundial com a quebra do Lehman Brothers. O Brasil foi um dos poucos países que suportaram o baque, outros entraram em recessão ou mais leves ou mais graves, todos eles fazendo o dever de casa imposto pelas autoridades financeiras mundiais de ajustar e pagar suas dívidas públicas e privadas, desviando os olhos dos impactos sociais. Pois então, enquanto o Brasil cresce devagar, a economia mundial não conseguiu ainda se levantar.

De fato, o viés de consumo da política econômica é opção do governo que deu certo interna e externamente. Aqui, liderado pelos programas sociais somam-se outras medidas complementares, entre elas, correções maiores que a inflação no salário mínimo, aposentadorias e pensões e repasses parciais à gasolina dos aumentos de custos. Lá fora, os economistas com ele reunidos não viram: o próprio governo dos Estados Unidos e a ONU se interessaram pelo Programa Bolsa Família e pretendem implementá-lo para reduzir o desemprego, melhorar a renda familiar e sustentar o consumo. Joe Nocera destaca o papel do programa e compara seu êxito com a recusa do Congresso americano em melhorar o seguro desemprego e outros programas sociais naquele país.

Do lado do investimento, os economistas se esqueceram de mencionar que há muitas fichas apostadas na expansão e modernização da infraestrutura e na exploração do pré-sal não só pelos efeitos produtivos diretos, mas também pelos efeitos indiretos. Um forte incentivo e impulso do complexo industrial são esperados, o que tem tudo para promover a volta de novos projetos e a expansão de muitas plantas industriais existentes. Seguras e concretas alternativas brasileiras mesmo diante da crise mundial que arrasta as economias dos países.

Ao contrário do Brasil, o jornalista afirma que a produtividade americana voltou a crescer, mas apesar disso o desemprego não desce dos 7% e a classe média aos poucos perde posição social (em parte por conta de não serem distribuídos melhor os ganhos de produtividade). Diz taxativamente que a desigualdade de renda é um fato na vida dos Estados Unidos e ninguém tem sido capaz de fazer alguma coisa a respeito. Será que no fundo querem seguir a receita desandada do Brasil de esperar o bolo crescer para distribuir algumas migalhas?

O objetivo do governo atual e dos dois anteriores no Brasil foi exatamente garantir o desenvolvimento com a melhoria das condições de vida da população, em especial dos mais pobres; os Estados Unidos querem o desenvolvimento a qualquer custo. Infelizmente só o jornalista americano consegue entender isto, parabéns!, os nossos da grande mídia não.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Deu-no-The-New-York-Times-Brasil-tem-resposta-para-desigualdade/7/30065

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Polícia de Alckmin vai a guerra na Cracolândia para acabar com Braços Abertos de Haddad

E nós estamos apenas no início do ano... a campanha nem começou! Faço uma ideia do que o segundo semestre irá nos proporcionar!

 

Polícia de Alckmin vai a guerra na Cracolândia para acabar com Braços Abertos de Haddad

23/01/2014 | Publicado por Renato Rovai 
Policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) e da Policia Civil do governo Alckmin transformaram a região da Cracolãndia, agora há pouco, em uma praça de guerra.
A ação foi uma clara retaliação e ao mesmo tempo uma provocação do governo do Estado à ação da Prefeitura, que iniciou na semana passada a Operação Braços Abertos, com o objetivo de reabilitar os dependentes de crack.
A Operação Braços Abertos foi bem recebida pela população exatamente por ser diferente da ação de Alckmin há dois anos, quando policiais expulsaram usuários com balas de borracha e jatos de água.
Todos os dias o governo Alckmin tenta sitiar a administração Haddad ou via ações do Ministério Público (MP) ou com absurdos como o de hoje. Quem não se lembra da PM não defendendo o prédio da prefeitura nas manifestações de junho?
E mesmo assim Haddad foi anunciar a redução das passagens no Palácio dos Bandeirantes com Alckmin.
De novo, pode-se querer fazer de conta que Alckmin não tem nada a ver com isso. É um jeito de fazer política.
Mas, sinceramente, um jeito que só levará a um resultado. A inviabilidade do governo.

Posar de vítima, a tática dos poderosos no Brasil


Posar de vítima, a tática dos poderosos no Brasil


por Luiz Carlos Azenha
Minha primeira experiência com a tática foi no interior de São Paulo. Jovem repórter, vi quando um candidato a prefeito de Marília apareceu todo engessado na véspera da eleição e foi acusado de forjar uma surra para despertar compaixão dos eleitores.
Perdeu.
Na campanha eleitoral de 2010, o candidato tucano José Serra foi acusado de exagerar e distorcer protestos contra ele feitos por mata-mosquitos do Rio de Janeiro, que haviam sido demitidos do Ministério da Saúde quando da passagem de Serra pelo cargo.
Jogou a culpa pelo incidente no PT e se disse atingido por um objeto de um quilo.
Perdeu.
Mas, nem sempre é assim com a tática empregada de forma recorrente pelos poderosos: demitem, perseguem, espionam, montam dossiês, promovem assassinatos de reputação.
Denunciados, posam de vítimas. Sustentam que estão sendo perseguidos.
É o que pode acontecer com o jornalista Rubens Valente, da Folha de S. Paulo, que lançou recentemente o livro Operação Banqueiro.
Segundo Valente, o grupo Opportunity foi à Justiça para dizer que o livro é parte de um complô dos adversários do banqueiro Daniel Dantas.
Curiosamente, o próprio livro trata desta tática, adotada por outro personagem: o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que se disse vítima de uma espécie de “estado policial”, bisbilhotado por arapongas em seu próprio gabinete.
As denúncias de Mendes, amplamente repercutidas pela mídia, especialmente pela revista Veja, foram essenciais para criar na opinião pública a comoção necessária à desmoralização de policiais e juizes envolvidos na Operação Satiagraha, posteriormente anulada integralmente pelo STJ.
Não há, de acordo com Rubens Valente, um só fiapo de prova de que Gilmar de fato foi espionado — ele que deu dois habeas corpus ao banqueiro Dantas em período recorde.
A tática de gritar “perseguição” também serve para desviar a opinião pública do debate essencial.
No caso, o conteúdo do livro Operação Banqueiro, que é bombástico e requer investigações.
Nele, Valente demonstra que Daniel Dantas tinha instrumentos — quais, exatamente, não se sabe ainda — para chantagear lideranças do PSDB.
Que um lobista contratado pelo banqueiro tinha interlocução tanto com o então presidente Fernando Henrique Cardoso quanto com o governador/candidato ao Planalto, José Serra.
Num momento específico retratado pelo livro, o objetivo de Dantas era evitar que houvesse uma investigação dos cotistas do Fundo Opportunity nas ilhas Cayman, o refúgio fiscal do Caribe.
A lei proibia que residentes no Brasil tivessem cotas nos fundos que haviam sido formados para participar das privatizações.
Rubens Valente teve acesso a mais de mil mensagens apreendidas pela Polícia Federal, em 2008, na casa de Roberto Amaral, à época lobista do banqueiro.
Trecho do livro:
Também é possível compreender o que seria essa “Operação Copa do Mundo”, pois há inúmeros e-mails tratando do assunto. Amaral pressionava o governo a não dar apoio a um esforço que foi iniciado pelo procurador Luiz Francisco e que passava pelo BC [Banco Central] e CVM [Comissão de Valores Mobiliários], para obter as listas de cotistas do Opportunity Fund nas ilhas Cayman, na berlinda após as revelações do ex-sócio de Dantas, [Luiz Roberto] Demarco. A estratégia de Amaral foi dizer a FHC que, se as listas fossem enviadas ao Brasil, nomes ligados ao tucano viriam a público. Uma nota de imprensa havia dito que Luiz Francisco aumentaria esse esforço após a Copa do Mundo de 2002, daí o nome “operação”. Ao escrever “disse que já tinha agido”, Amaral comunicava a Dantas que o presidente da República estava a par do assunto e teria feito algo não compreensível.
Valente narra que os petistas Milton Temer e Luiz Gushiken se empenharam em obter as listas. Temer, então deputado federal, levou o caso ao presidente do BC, Armínio Fraga.
Não deu em nada.
O autor de Operação Banqueiro conta que Roberto Amaral escreveu um e-mail ao presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu esforço lobista, com o seguinte teor:
A estratégia é diabólica: os alvos são os que mandei no último fax e os supracitados [em amarelo]. A fonte é ótima. Já existe uma lista na CVM, inodora, insípida e incolor. São os bois de piranha. Aberto o precedente, aí o L.F. [Luiz Francisco] faz a festa e um carnaval junto, cronometrado para estourar depois da Copa do Mundo, a melhor época, na avaliação do estado maior encarregado desta operação. Contribuição de petista para petista. Sugiro a você, com empenho, que encarregue o ministro Malan de desmontar com urgência esta armação, felizmente descoberta a tempo. O Armínio, embora parente do presidente da CVM, não é indicado para tratar deste caso. Converso pessoalmente. O juiz nas ilhas Cayman de posse do pedido da CVM, se for enviado, libera os nomes dia 15 de junho.
Qual era o instrumento de pressão disponível ao banqueiro? Segundo Valente, o envolvimento de outros bancos em operações parecidas com as do Opportunity, dentre os quais o Pactual, o Matrix e o Garantia, cujos nomes constavam de uma lista apreendida pela Polícia Federal na casa do lobista.
Escreve Rubens Valente:
Trata-se de uma lista de bancos que teriam fundos de investimento no exterior nos mesmos moldes do Opportunity. A estratégia de Amaral era dizer ao Planalto que, caso as listas de cotistas do Opportunity viessem para o Brasil, as dos outros também chegariam, com desfecho imprevisível. Havia um interesse especial sobre o banco Matrix, que teria um impacto “trinta” vezes maior do que o caso Opportunity.
O Matrix, como observou o comentarista Mardones em outro post, tinha papel essencial no ninho tucano. Acompanhem este trecho de uma reportagem da IstoÉ sobre o fim do banco, fechado em 2002:
O Matrix foi fundado em 1993 por um elenco de estrelas das finanças, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, que viria a se tornar ministro das Comunicações, e André Lara Resende. Na equipe original de sócios aparecia também o ex-presidente do Citibank no Brasil, Antônio Carlos Boralli, além de Moritz e Ruhman, ex-executivos do Safra, e Tom, que havia trabalhado no Garantia. Em pouco tempo, eles passaram a chamar a atenção pelos bons negócios que faziam com dinheiro do banco, em apostas em juros, câmbio e títulos da dívida. Ganharam muito dinheiro. Só em 1995, o banco lucrou R$ 43,3 milhões – uma impressionante rentabilidade de 44% do patrimônio líquido. Logo o banco foi cercado por boatos de que desfrutava de informação privilegiada, pela presença de Mendonça de Barros e Lara Resende em seus quadros, mas nada foi provado. Mesmo depois da saída de Mendonça de Barros, em outubro de 1995, e de Lara Resende, em agosto de 1997, o banco continuou cercado de boatos. E também continuou a ganhar dinheiro. “O Matrix teve uma das tesourarias mais ganhadoras do mercado, com ou sem o André Lara e o Mendonça de Barros”, diz Erivelto Rodrigues, da consultoria Austin Asis.
Como Rubens Valente diz no vídeo abaixo, o que corria risco de implodir, fossem feitas as revelações que alguns petistas pretendiam e que Dantas tratou — com sucesso — de evitar, era todo o processo da privataria tucana. Ele começa explicando o que era o fundo Opportunity nas ilhas Cayman:
Rubens Valente: A ameaça de “entregar” o Matrix from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
Em tese, a publicação do livro deveria desencadear novas investigações.
Mas antes, presumo, assistiremos ao espetáculo de um banqueiro todo-poderoso, capaz de mover mundos e fundos, se dizendo vítima de “perseguição pessoal” de um simples jornalista.
Nunca faltará “mídia amiga” para vender ao público que a ideia — risível, considerando o poder de cada um — é fato. Coisas do Brasil!

(se o vídeo não abriu, dê um pulo aqui - http://www.viomundo.com.br/denuncias/o-banqueiro-e-o-jornalista-posar-de-vitima-a-tatica-dos-poderosos-no-brasil.html