|
|
O primeiro-ministro interino da Ucrânia foi obrigado a
reconhecer a responsabilidade das forças de segurança de seu governo
pela morte de 46 pessoas.
|
No dia 27 de abril, em Lvov, na
Ucrânia, um grupo de centenas de pessoas – a maioria de jovens “arianos”
- se reuniu para prestar homenagem à Décima Quarta Divisão Waffen SS
Grenadier. A unidade foi criada pelos nazistas em 1943, com
“voluntários” ucranianos, que cometeriam depois diversas atrocidades
contra seu próprio povo.
Foi nesse país - tomado pela estupidez e
a loucura - que, premido pelas circunstâncias, o “primeiro-ministro”
“interino”, Arseni Yatseniuk, foi obrigado a reconhecer, há três dias, a
responsabilidade das “forças de segurança” de seu “governo” pela morte,
em Odessa, de 46 pessoas.
A maioria delas foi queimada viva, no
interior da Casa dos Sindicatos, ocupada por russo-ucranianos e
anti-golpistas, e cercada por um bando imberbe e covarde de aprendizes
de assassino, e de “unionistas”. Um termo recém-criado pelos jornais
ocidentais para designar os neonazistas do Pravy Sektor, o Setor de
Direita, da Ucrânia.
As declarações de Yatseniuk - ele próprio já
flagrado fazendo a saudação hitlerista - desmentem as primeiras
versões, publicadas por meios de comunicação ocidentais. Os sitiados
teriam, segundo elas, queimado a si mesmos, incendiando a base do prédio
em que se encontravam, ao atirar “coquetéis” Molotov na rua.
Nos
vídeos feitos no local, em nenhum momento se vê alguém jogando algo, ou
disparando, das janelas. Mas, por diversas vezes, se pode perceber
garrafas cheias de gasolina sendo lançadas por quem estava do lado de
fora, explodindo, em labaredas, nas paredes, e homens de colete à prova
de balas disparando em direção à fachada.
Os nazistas, como seus
infernais rebentos, - e certos animais que o temem - sempre tiveram
reverente fascínio pelo fogo. Hitler ascendeu ao poder, e exterminou a
oposição de esquerda, colocando nos comunistas e socialistas a culpa
pelo incêndio – pessoalmente ordenado por ele mesmo – do Reichstag, a
sede do parlamento alemão da época.
Göering mandava queimar,
publicamente, em grandes piras, obras de arte e livros considerados
subversivos, seqüestrados das residências de opositores – o que daria
origem, mais tarde, a obras como Farenheit 451, de Ray Bradbury.
Os
assassinos da SS, antes de cercar, incendiar aldeias e matar a
população de cidades como Lidíce ou Oradour, cantavam, bêbados, hinos
guturais em volta de fogueiras, nas quais esquentavam, à noite, seus
punhais.
E não há como esquecer a luz macabra que saía dos fornos
dos crematórios dos campos de extermínio, que se abriam e fechavam sem
parar, como a boca insaciável da morte.
Mas o Fogo Eterno não é
aquele do Mal, que consumiu o prédio da Casa dos Sindicatos e dezenas de
vidas na semana passada, em Odessa.
O Fogo Eterno é aquele que brilha, mas não se apaga, no coração dos heróis.
O
Fogo Eterno queima, e não se consome, no peito dos que morreram na
luta contra o nazismo. Da mesma forma como estão morrendo, agora, os
russo-ucranianos em defesa de seu solo, de sua língua, da honra de seus
antepassados, e do sangue que seus filhos herdarão, para contrabandear,
driblando desafios e malefícios, até as manhãs do futuro.
O Fogo
Eterno é aquele que guiou os manifestantes que, horas depois,
libertariam 67 companheiros que estavam trancados nas celas da sede das
forças de segurança, na mesma cidade.
O Fogo Eterno é aquele que
brilha na alma dos homens e das mulheres, que, aos milhares, depositaram
em homenagem aos mortos, dúzias e dúzias de flores, de todas as cores,
diante do prédio incendiado, e em outros altares improvisados, por toda
Odessa.
Muitos gostariam que essa chama – aquela que Prometeu
roubou aos Deuses – a da Indignação, da Inteligência e da Utopia, se
apagasse de uma vez por todas.
Há quem queira que fique, apenas, a
iluminar a humanidade, a luz mortiça que tremula aos pés de barro dos
ídolos da cobiça e do egoísmo – e a competição estéril de homem contra
homem, pelos frutos do hedonismo, no espaço que separa o nascimento e a
morte.
No entanto - apesar de seus adversários - o Fogo Eterno,
que não é aquele do inferno, mas sim, o da Liberdade, continuará a arder
no coração dos homens, a incomodar a paz dos indiferentes, a atrapalhar
o ócio dos privilegiados. E a iluminar a caminhada da Humanidade, em sua luta por justiça, pelas sinuosas trilhas da História.
(Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-fogo-eterno/30867)