quarta-feira, 30 de julho de 2014

Aeroportos e colisões tucanas


Na série de escaramuças que marca o jogo pesado entre Aécio e Serra, a reportagem da Folha sobre o aeroporto em Cláudio pode ter sido um ponto fora da curva.

por: Saul Leblon
Há exatamente quatro anos, em 29 de julho de 2010, o jornal ‘O Globo’ noticiava a evidência de um  racha profundo nas fileiras tucanas, a minar a campanha  do então candidato à presidência da República pelo PSDB, José Serra.

Aspas para o Globo de 29-07-2010:

‘O candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, terá uma estrutura independente em Minas Gerais para impulsionar sua campanha no Estado (...). A estratégia foi montada para fazer frente a algumas dificuldades. A decisão foi tomada após descontentamento com o ritmo da campanha no Estado, onde o ex-governador Aécio Neves, que recusou-se  a ocupar a vaga de vice na chapa de Serra, é a principal liderança do PSDB...’

Corta para o coquetel de autógrafos de  Serra, no Rio, na semana passada, dia 23 de julho de 2014, no lançamento de seu livro de memórias, "50 anos Esta Noite".

Aécio Neves não compareceu ao evento, onde Serra comentou  laconicamente o episódio que há dez dias faz sangrar seu velho rival e agora o  candidato do PSDB à presidência. 

‘Um programa de construção de aeroportos no interior de repente bate na família. Não quer dizer que houve favorecimento..’ disse olímpico sobre a obra de R$ 14 milhões feita por Aécio na fazenda de um tio,  paga com dinheiro público.  ‘Eu não tenho parentes no interior. Se tivesse, poderia ter acontecido...’, observou  Serra com irônica ambiguidade.

Especulações sobre a origem da denúncia veiculada em 20/07, pela  ‘Folha de SP’,  de notórias afinidades com o serrismo, ganharam lastro extra a partir do editorial  publicado pelo diário da família Frias , no último domingo, 27-07.

O texto com  sugestivo título,  ‘O pouso do tucano’,  desmonta as explicações de Aécio para o escândalo e lança uma comprida sombra sobre o futuro de sua candidatura:

 ‘Mais econômico, na verdade, teria sido não fazer obra nenhuma. A demanda por voos em Cláudio é pequena, e o aeroporto de Divinópolis fica a 50 km de distância. Ainda que todo o processo tenha sido feito de maneira legal, como sustenta Aécio Neves, restará uma pista de pouso conveniente para o tucano e seus parentes, mas de questionável eficiência administrativa. Não é pouca contradição para um candidato que diz apostar na união da ética com a qualidade na gestão pública’.

Mas o principal  subtexto das suspeitas quanto à fonte da denúncia remete ao recheio mineiro da derrota  sofrida por  Serra nas eleições presidenciais de 2010, quando as urnas sepultaram de vez suas pretensões ao cargo máximo da política brasileira.

Numa disputa marcada logo no  início pela colisão frontal com Aécio, que postulava a mesma indicação no PSDB, Serra terminaria abatido fragorosamente pelo ‘poste’,  Dilma Rousseff,  que teve  56,05% dos votos, contra 43,9% do ‘experimente’ ex-governador de São Paulo.

Um tônico inesperado da derrota foi  a desvantagem ampla de Serra nas urnas de Minas Gerais.

No  segundo maior colégio eleitoral do país – de onde Aécio conquistou uma vaga no Senado, arregimentando 7,5  milhões de votos--  Serra obteve um apoio inferior a sua média nacional ( 41,5%).

O de Dilma, ao contrário,  foi sugestivamente superior (58,4%).

Seria um erro atribuir o resultado ao boicote de Aécio, abstraindo assim a tradicional força do PT em Minas Gerais e o prestígio conquistado pelos investimentos do governo Lula (que teve 65% dos votos de Minas em 2006 e 66,5% em 2002) .

A verdade, porém, é que a derrota consagrava um processo de desidratação interna do candidato do PSDB, que remontava à própria  dificuldade inicial de preencher a vaga de vice em sua chapa, reservada até o último minuto como um prêmio de consolação que Aécio rechaçou.

A recusa, mineiramente dissimulada na protocolar promessa de ‘não poupar esforços pelo candidato’, era o troco à forma  como o ex-governador de São Paulo   impusera seu nome ao partido, sem abrir espaço para uma consulta às bases, inédita entre tucanos, reivindicada pelo rival .

A disposição bélica das fileiras serristas de atropelar o adversário mineiro com um misto de fatos consumados e jogo baixo ficaria evidente  logo no início de 2009.

Um artigo  famoso, publicado em fevereiro daquele ano na página 3 do jornal O Estado de S. Paulo,  dava o peso e a medida  do fair play  que ordenaria o confronto a partir de então.

Assinado pelo editorialista do jornal, Mauro Chaves, reconhecidamente ligado aos tucanos, mas sobretudo a Serra, o texto trazia  no  título a octanagem do arsenal disponível,  caso Aécio insistisse em desafiar a vontade ‘bandeirante’.

“Pó, pará, governador?” , diziam as garrafais, num  trocadilho com o suposto uso de droga por parte do político mineiro.

Era o gongo de uma série de rounds subterrâneos.

Eles incluiriam acusações mútuas sobre dossiês mortíferos engatados de um lado e de outro em um embate fraticida que quase paralisaria o PSDB.

Sobre Serra pairavam suspeitas de ter mobilizado  ex-delegados  da polícia federal para municiar o paiol contra Aécio.

A ira do mineiro envolveria garras não menos afiadas.

 Uma delas, Andrea Neves,  cabo-de- guerra do irmão para golpes de bastidores e controle da mídia, estaria associada à contratação de repórteres, antes até, em 2008,  pelo jornal Estado de Minas, para investigar a vida de Serra e de sua família.

Com resultados suculentos, diga-se.

O livro ‘A privataria Tucana’, de Amaury Ribeiro  Jr, seria um subproduto desse mutirão.

O nebuloso episódio de uma reunião  ocorrida em junho de 2010, da qual teriam participado  Amaury, arapongas e Luiz Lanzetta  --membro da pré-campanha de Dilma,  atiçaria as evidência de um tiroteio cerrado nos  bastidores da campanha tucana.

Denunciado por um alcagueta presente, o encontro  teria tratado de  informações comprometedoras envolvendo  lavagem de dinheiro, paraísos fiscais, Verônica Serra (filha do tucano) e a irmã do banqueiro Daniel Dantas, Veronica Dantas.

Na Polícia Federal,  Amaury confirmou que pagou R$ 12 mil a um despachante paulista para obter as informações sobre os tucanos, entre setembro e outubro de 2009. O jornalista não revelou quem o contratara, nem quem financiou a  investigação,  iniciada como pauta do Estado de Minas.

O fato é que, nesse processo,  a candidatura presidencial de Serra desidratava de dentro para fora do partido. Seu caminho para as urnas lembrava um trem fora dos trilhos, com poucas chances de ser devolvido ao leito original.

Em julho de 2010, a percepção de que estaria sendo cristianizado por fileiras amplas do tucanato era muito forte.

O termo ‘cristianização’ colava em sua trajetória como o bolor  nos  corredores  abafados dos hotéis de estação.

A expressão vem do nome do político mineiro, Cristiano Machado que, a exemplo de Serra, havia imposto sua candidatura ao partido (o PSD) nas eleições presidenciais de 1950.

Cristiano foi abandonado pelos companheiros, que acabaram apoiando Getúlio Vargas.

O termo “cristianização” passou a designar o candidato ‘escondido’ pela sigla, que teme o contágio tóxico que sua impopularidade acarreta às demais candidaturas.
Assim foi com Serra.

Em 2010, a três meses das urnas do 1º turno,  a maior parte do material de campanha de Aécio Neves, candidato ao Senado por MG, e o de Anastásia, seu candidato ao governo do Estado,  omitia a imagem de Serra em santinhos e adesivos.

O alto comando serrista busca desesperadamente formas de fazer com que a campanha demotucana encontrasse motor próprio em MG.

Além de um comitê exclusivo,  os serristas tiveram  que montar  40 subcomitês  distribuídos por todo o estado, na tentativa de algo quixotesca de contornar o boicote silencioso sofrido  no  segundo maior colégio eleitoral do país, por parte de seu ‘aliado’ e líder local, Aécio Neves.

No melancólico reconhecimento da derrota final para Dilma, em 1º de novembro de 2010, Serra diria que o "povo" não quis que sua eleição fosse "agora" e se despediu do eleitor com um "até logo".

No breve discurso ao lado da família, o tucano agradeceu o empenho do partido, festejou a eleição de Alckmin, porém não citou uma única vez o senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves.

A queda de braço não terminaria ali.

Aécio rapidamente ocuparia o vácuo da derrota pavimentando a sua candidatura dentro de um PSDB de joelhos, com o serrismo acuado.

O mineiro aplastou o desafeto em todas as frentes de comando.

Tomou a presidência do partido em primeiro lugar. E negou a Serra até mesmo a direção do medíocre, mas rico, Instituto Teotônio Vilela,  o think  tank  do PSDB.

Humilhado, Serra  engoliu um cargo honorífico no Conselho Político do partido, um enxerto  criado pela Executiva Nacional, mas no qual, ainda assim, seria minoritário.

A partir de então, experimentaria a mesma ração de fatos consumados e menosprezo que dispensara ao oponente  em 2010.

Braço direito de Aécio Neves no Senado, o impoluto Cassio Cunha Lima, distribuía patadas em seu nome dirigidas diretamente ao estômago de Serra.

Em outubro  do ano passado, enquanto Serra se comportava como se ainda pudesse pleitear a  candidatura tucana ao Planalto –ou mudaria para o PPS, sugeriam seus ventríloquos  na mídia--  Cunha lima  desembarcou em São Paulo.

O emissário de Aécio conversou com FHC , Geraldo Alckmin e outros graúdos bicos curtos e  longos.

Não procurou Serra. E ainda disparou um recado recebido com espanto pelas viúvas do ex-governador na mídia:

‘Não vamos mais repercutir o que Serra diz. A imprensa que faça isso. Deixa ele falar, nós vamos ignorar’ (revista Veja; 25/10/2013).

Serra ouviu e registrou em sua volumosa  agenda mental  encapada com  o ditado: ‘a vingança é um prato que se come frio’.

Dois meses depois, 48 horas antes de Aécio lançar sua bisonha ‘cartilha’,  na qual não mencionaria uma única vez o pré-sal nos  12 pontos que comporiam  suas propostas de governo, Serra retirou o prato da geladeira.

E disparou um artigo na ‘Folha de SP’, em 15/12/2013.

O tema: o consumo de drogas.

O primeiro parágrafo: ‘ O debate sobre o consumo de cocaína no Brasil pode e deve ser uma pauta em 2014’.

Desde então, aconselhados por Fernando Henrique e o pelotão dos ‘interesses maiores’, os desafetos  baixaram os punhais. Uma trégua acomodatícia  foi costurada pelos seguidores dos dois lados com a linha grossa da conveniência.

Aécio trouxe o braço direito de Serra, Aloysio Nunes,  para ocupar a vaga de vice em sua chapa. Serra recolheu-se à disputa por uma cadeira no Senado, com a promessa de um ministério, se Aécio for eleito.

As farpas refluíram;  parecia que o PSDB cicatrizaria as  profundas fendas  internas.

Até que no  17 de julho agora, uma quinta-feira, surgiu a notícia da defecção de um serrista graúdo afastado de um cargo de confiança na campanha de  Aécio.
Xico Graziano, conhecido pela mão pesada com que exerce a fidelidade aos próprios interesses, foi defenestrado do pomposo cargo  de ‘chefe da estratégia de redes’ da candidatura Aécio.

Nos bastidores afirma-se que Xico Graziano perdeu o posto  por uma questão prosaica: incompetência.

Seu projeto de site de campanha teria sido  avaliado como um fiasco   pela cúpula da candidatura.

Depois se soube que um  outro  site já estaria pronto e seria lançado em seguida.

Quem supervisionou o trabalho paralelo e empurrou Xico para a ladeira da campanha  foi a irmã do mineiro, Andrea Neves.

Três dias depois do episódio, no domingo, a ‘Folha’ estamparia a  denúncia do aeroporto construído por Aécio na fazenda do ‘tio Múcio’, com gastos de R$ 14 milhões do tesouro de Minas Gerais.

Na série de escaramuças desse histórico pode ser um ponto fora da curva.

Uma desprezível  coincidência.

A ver.

(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/Aeroportos-e-colisoes-tucanas/31493)

Nosso Judiciário de duas caras



Inacreditável, porém real: os “argumentos” de um mesmo desembargador paulista para livrar da prisão fazendeiro estuprador e encarcerar mulher pobre que furtou frasco de xampu
Por Laura Capriglione e Joana Brasileiro, na Ponte

O fazendeiro G.B., de 80 anos, foi preso em fevereiro de 2011 quando mantinha relações sexuais com X, uma menina de 13 anos, dependente de álcool e drogas, em uma camionete estacionada no meio de um canavial. Outra menina, Y, de 14 anos, já havia masturbado o homem e também se encontrava dentro do veículo. Pelo serviço, X recebeu R$ 50. Y ficou com R$ 20. A ordem de prisão em flagrante foi dada pela Polícia Militar.
Como X era, na ocasião dos fatos, menor de 14 anos, a Justiça de Catanduva (384 km de São Paulo) condenou G.B. a oito anos de prisão em regime fechado por estupro de vulnerável. Mas o fazendeiro ficou apenas 40 dias detido. Recorreu da condenação e o Tribunal de Justiça de São Paulo reverteu a condenação, que virou absolvição.
Isso, apesar de o artigo 217-A, introduzido no Código Penal pela Lei nº 12.015, de 2009, ser claríssimo ao definir o chamado “estupro de vulnerável” como a conjunção carnal ou a prática de outro ato libidinoso com menor de 14 anos. Pena: reclusão, de 8 a 15 anos. Pelo mesmo artigo, define-se que incorre em igual pena quem mantenha relações sexuais com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
“O acusado cometeu crime de violação dos direitos da criança e deveria ser punido por isso. Houve exploração sexual de menor, o que é crime hediondo”.  Míriam Maria José dos Santos Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
Leva a assinatura do relator, desembargador Airton Vieira, o acórdão que absolveu o fazendeiro. Airton Vieira, só para lembrar, foi um dos assessores do ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), no caso do “mensalão”. O julgamento do fazendeiro pedófilo teve a participação também dos desembargadores Nuevo Campos e Hermann Herschander.
A absolvição de G.B. foi recebida com consternação pelas entidades de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. “O acusado cometeu crime de violação dos direitos da criança e deveria ser punido por isso. Houve explor1264ação sexual de menor, o que é crime hediondo”, disse a presidente do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), Míriam Maria José dos Santos.
A Ponte obteve a íntegra do acórdão de absolvição. Como o caso correu sob segredo de Justiça, para preservar as meninas, não será mencionado nenhum apelido ou nome ou endereço que eventualmente permita identificá-las.
A Ponte também teve acesso ao excepcional documentário Bagatela (DocTV, direção Clara Ramos, 2009), que acompanhou as trajetórias de mulheres presas por cometer os chamados “crimes de bagatela”, aqueles pequenos furtos de produtos de valor irrisório (xampu, bolachas, leite em pó, queijo). No documentário, tem papel destacado o mesmo Airton Vieira, então juiz da 4º Vara Criminal Central de São Paulo, desta feita defendendo máximo rigor no julgamento desses crimes insignificantes.

Um juiz, duas atitudes, duas Justiças. Uma é tolerante e compreensiva com o fazendeiro, patriarca em Paraíso (cidade próxima a Catanduva), proprietário de canaviais no interior rico de São Paulo, que teria sido “enganado” pelas meninas, as quais lhe teriam asseverado serem maiores de 18 anos. A outra é indignada, raivosa, vingativa, exemplar. Esta é para as mulheres pobres que cometem os tais “crimes insignificantes”.
O que se verá nas linhas abaixo será o debate do desembargador Airton Vieira consigo mesmo. Em vermelho, trechos do acórdão por ele redigido, absolvendo o fazendeiro pedófilo ao mesmo tempo em que culpa as vítimas por seu modo de vida “devasso”. Em azul, trechos de sua fala contra as ladras de xampu e queijo.
Seria divertido, se não fosse trágico demais.

“É bem verdade que se trata de menor de 14 anos, mas entendo ser crível e verossímil, diante do que aconteceu, que o réu tenha se enganado quanto à idade real da vítima X, Afinal, partindo-se do pressuposto de que, no presente caso, a vítima X, à época dos fatos, contava com parcos 13 anos, 11 meses e 25 dias de idade, e, levando-se em consideração que era pessoa que se dedicava ao uso de drogas e ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, [e que] já manteve relações sexuais com diversos homens, o que significa não ser ela nenhuma jejuna na prática sexual, é que não se pode presumir que o réu tinha conhecimento real da idade da vítima e que tinha o dolo de manter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos”.

“Hoje é uma gilete, amanhã é um quilo de carne… Você vai somando nos vários supermercados, nas várias lojas, isso ganha milhões. Por outro lado, se você não punir quem faz desse tipo de ação o seu dia a dia, ou ainda que seja uma vez isolada, você há de convir comigo o seguinte: todos nós estaremos legitimados a entrar em qualquer supermercado e subtrair algo na faixa de 5, 10, 20 reais. (…) Vejam o prejuízo que isso causa”.


“Não se pode perder de vista que em determinadas ocasiões podemos encontrar menores de 14 anos que aparentam ter mais idade, mormente nos casos em que eles se dedicam à prostituição, usam substâncias entorpecentes e ingerem bebidas alcoólicas, pois em tais casos é evidente que não só a aparência física como também a mental desses menores se destoará do comumente notado em pessoas de tenra idade.”

“Não são muitos os casos que se amoldariam em tese ao princípio de bagatela. Por mês, eu não chego a contar nos dedos de uma mão. Sabonetes, xampus, giletes, gêneros alimentícios, mas não de primeira necessidade. Ou seja, bolachas, queijos, postas de bacalhau. Tem coisas interessantes neste aspecto. Porque a pessoa não furta, via de regra, aquilo que você pode pensar que é uma necessidade premente dela. Eu não vejo como uma necessidade premente de alguém o uso de xampu.”


“Seria insensibilidade, a meu ver, distante dos verdadeiros contornos em que o fato se deu, manter a condenação do réu, que na época dos fatos contava com 76 anos de idade, pela prática do crime de estupro de vulnerável contra a vítima X, menor de 14 anos, sobretudo quando emerge dos autos uma verdadeira e clara situação de erro de tipo, pois o réu não tinha consciência da idade dela.”

“Se eu mantenho alguém preso é porque eu entendo que aquela pessoa ou deve permanecer presa, ou deve vir a ser presa. Se ela vai sair melhor ou pior, isso não é problema meu. Foi opção dessa pessoa. Ela podia ter seguido o exemplo honesto, que apesar de sofrer muito, dignifica o país. Honra a população brasileira. Sofre, mas sofre com altivez, olhando nos seus olhos.”


“Logicamente, não se pode desprezar a possibilidade, bastante frequente, da ocorrência de erro de tipo em relação à idade do menor [Não é possível que se exija] ao ‘consumidor’ que, antes de qualquer ato de libidinagem, exija a apresentação de documentos, os quais, ainda assim, podem não ser verdadeiros. Nesse meio, por outro lado, é comum que menores tenham aparência envelhecida além de sua idade real, decorrente de insônia (noites mal dormidas), ingestão excessiva de álcool, enfim, os maus-tratos que a vida devassa lhes oferece contribuem para a aparência de ‘amadurecimento’ (entenda-se envelhecimento) precoce.” (Airton Vieira citando Cezar Roberto Bitencourt)

“Você contrataria para trabalhar na sua residência, para usufruir da intimidade do seu lar alguém que tivesse sido condenado por furto? Eu vou ser franco: eu não contrataria. Eu não vou ser hipócrita. Como eu não gostaria de trabalhar com alguém já condenado, eu não gosto de mandar alguém prestar serviços à comunidade numa escola ou num hospital porque alguém em nome dessa escola ou em nome desse hospital celebrou um convênio qualquer. Eu não vejo isso como salutar. Não estou querendo dizer que eu defendo a prisão sistemática de todo mundo. O que eu defendo é que a pessoa sinta efetivamente uma retribuição por parte do Estado do mal que ela causou com ao praticar um crime. Do contrário, ela vai se sentir autorizada a praticar outros crimes, quiçá piores até.”


“Desse modo, não posso, sobretudo pela forma em que ocorreram os fatos, aplicar friamente o que dispõe o artigo 217-A do Código Penal e fundamentar a manutenção da condenação do réu com base na jurisprudência de nossa Corte Suprema, que entende tratar-se de vulnerabilidade absoluta, deixando passar despercebido o verdadeiro quadro de como se realizou essa relação de que teria resultado o estupro de vulnerável. Ante o exposto (…), dou provimento ao recurso da defesa para fins de se absolver o réu.”

“Nós gostamos de ter essa visão romanceada do criminoso, como se o criminoso fosse um coitado. Como se fosse alguém que a sociedade não deu oportunidades para ele. Longe disso. O julgador não é legislador. Muitas coisas que eu entendo erradas sou obrigado a cumprir. Eu sou escravo da lei. Isso é uma segurança para toda a população. Até porque, amanhã ou depois, o que eu posso entender irrisório, 5 ou 10 reais, outro vai entender que irrisório é 400 ou 500 reais. Onde iremos parar com esse raciocínio?”

O silêncio dos julgadores

O site Ponte dirigiu à assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo as seguintes perguntas:
1. “X”, 13 anos, e “Y”, 14, são apresentadas como adolescentes usuárias de álcool e drogas. Diz o acórdão que teriam experiência “dessas coisas de sexo” e que “se prostituíram livremente para o réu”. Pergunta: o fato de serem dependentes químicas não as torna mais vulneráveis ainda, já que estariam tangidas pela síndrome de abstinência?
2. Como falar em “liberdade” de se prostituírem se está claro que as meninas “saem com homens para arrumar dinheiro para comprar substâncias entorpecentes”?
3. O fato de serem usuárias contumazes de álcool e drogas em vez de lhes aumentar a autonomia de decisão não as deixa em condição de vulnerabilidade análoga à de alienados ou débeis mentais “ou aqueles que, por outra causa, não pudessem oferecer resistência”, tal como prevê o artigo 217-A do Código Penal?
4. Qual a estatura de “X” e “Y” à época dos fatos?
5. Por que o relator aceitou sem mais a alegação de que não se pode “determinar ao ‘consumidor’ que, antes de qualquer ato de libidinagem”, exija a apresentação de prova de idade? Não caberia ao menos a caracterização de crime culposo?

Mas nenhuma resposta foi dada. Abaixo, o email enviado pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo:
“Os magistrados não podem conceder entrevista porque o caso está sob segredo de Justiça e, também, porque há um impedimento pela Lei Orgânica da Magistratura (o artigo 36 veda manifestação, por qualquer meio de comunicação, de opinião sobre processo que esteja sob sua responsabilidade ou de outro juiz).”

(fonte: http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=18074)

terça-feira, 29 de julho de 2014

XIX ENCONTRO REGIONAL DE HISTORIA

Estou em Juiz de Fora, participando do XIX Encontro Regional de História promovido pela ANPUH.
O Encontro está sendo realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora, no novo prédio do Instituto de Ciências Humanas. Situado bem no alto de um morro, na cidade universitária, de lá se tem uma bela vista parcial da cidade:

foto: RMF


O prédio do ICH é moderno, tem amplas salas de aulas, uma biblioteca muito boa. A UFJF está crescendo bastante. Uma placa colocada numa das ruas da cidade universitária afirma que ela é a quinta melhor universidade mineira.

foto: RMF

Segunda feira, dia 28, à noite, tivemos a abertura oficial do evento, com a presença da comissão organizadora, de pró-reitores.

foto: RMF

Após os discursos de praxe, tivemos a conferência de abertura, proferida pelo professor Benito Bisso Schmidt, da UFRGS. O tema, que é o mesmo tema do Encontro, foi Profissionalização do Historiador: os desafios para o século XXI.

foto: RMF


Hoje tiveram inicio os minicursos e os simpósios temáticos.. O início foi auspicioso. Darei novas informações nos próximos blogs.

Telaviv: assim se fabrica a guerra infinita

Jornalista judeu analisa: no fundo, Israel não deseja paz. Por isso, ocupa territórios, segrega e alimenta fundamentalismo religioso baseado no desprezo ao outro
Por Gideon Lewy | Tradução: Inês Castilho

Israel não deseja a paz. Nunca quis tanto que estivesse errado o que escrevo. Mas as evidências se acumulam. Na verdade, pode-se dizer que Israel nunca desejou a paz – uma paz justa, ou seja, baseada num acordo justo para ambos os lados. É verdade que a saudação rotineira em hebreu é Shalom (paz) – shalom quando alguém se despede e shalom quando alguém chega. E quase todo israelense dirá sempre que deseja a paz, claro que sim. Mas ele não se refere ao tipo de paz que traz justiça, sem a qual não há paz e não haverá paz. Os israelenses desejam paz, não justiça; certamente nada que se baseie em valores universais. Nos últimos dez anos, aliás Israel afastou-se até mesmo da aspiração de construir a paz. Desistiu completamente dela. A paz desapareceu da agenda, seu lugar foi tomado por ansiedades coletivas, fabricadas sistematicamente, e por questões pessoais, privadas, que agora têm prioridade sobre todas as outras.
Os israelenses que ansiavam pela paz aparentemente morreram há cerca de uma década, depois do fracasso da reunião de Camp David em 2000, da disseminação da mentira de que não há um parceiro palestino para a paz e, claro, do terrível período da segunda intifada, encharcado de sangue. Mas a verdade é que, mesmo antes disso, Israel nunca desejou realmente a paz. Nunca, nem por um minuto, Israel tratou os palestinos como seres humanos com direitos iguais. Nunca viu seu sofrimento como um sofrimento humano e nacional compreensíveis.
Também o movimento israelense pela paz – se é que chegou a existir – morreu uma morte lenta, em meio às penosas cenas da segunda intifada e à mentira da falta de parceiros. Tudo o que restou foi um punhado de organizações tão empenhadas quanto ineficazes, face às campanhas de deslegitimação montadas contra elas. Logo, Israel foi deixada em sua postura isolacionista.

A evidência mais esmagadora da rejeição da paz por Israel é, claro, o projeto das colônias de ocupação da Palestina. Desde o início de sua existência, nunca houve um teste mais seguro ou mais preciso para as verdadeiras intenções de Israel do que esse empreendimento particular. Em linguagem clara: os construtores das colônias desejam consolidar a ocupação, e quem deseja consolidar a ocupação não deseja a paz. Esse é o resumo da ópera.
Colônia israelense, construída em território palestino e separada por muro. Para Lewy, “os construtores das colônias desejam consolidar a ocupação, e quem deseja consolidar a ocupação não deseja a paz”
Considerando que as decisões de Israel são racionais, é impossível aceitar que a construção nos territórios e a aspiração pela paz possam coexistir mutuamente. Cada ato de construção em colônias de ocupação, cada casa móvel e cada varanda transmitem rejeição. Se Israel quisesse alcançar a paz através dos Acordos de Oslo, teria ao menos parado, por iniciativa própria, de construir as colônias. O fato de que isso não aconteceu prova que Oslo foi uma fraude, ou, na melhor das hipóteses, a crônica de um fracasso anunciado. Se Israel desejava construir a paz em Taba, em Camp David, em Sharm el-Sheikh, em Washington ou em Jerusalém, seu primeiro passo teria sido acabar com toda ocupação nos territórios. Incondicionalmente. Sem exigir nada em troca. O fato de Israel não tê-lo feito é a prova de que não quer uma paz justa.
Mas as colônias são apenas um dos indicadores das intenções de Israel. Seu isolamento está entranhado bem mais fundo – em seu DNA, sua corrente sanguínea, suas crenças mais primordiais. Lá, no nível mais profundo, está o conceito de que esta terra está destinada apenas aos judeus. Lá, no nível mais profundo, está entrincheirado o valor de “am sgula” — os escolhidos por Deus.
Na prática, isso se traduz na noção de que, nesta terra, os judeus estão autorizados a fazer o que aos outros é proibido. Esse é o ponto de partida, e não há como chegar a uma paz justa a partir daí. Não há nenhuma maneira de alcançar uma paz justa quando o nome do jogo é desumanização dos palestinos. Não há forma de conseguir alcançar a paz quando sua demonização é martelada na cabeça das pessoas dia após dia. Quem está convencido de que cada palestino é um suspeito e quer “jogar os judeus no mar” nunca vai construir a paz com os palestinos. A maioria dos israelenses estão convencidos de ambas as afirmações.

Na década passada, as duas populações foram separadas uma da outra. O jovem israelense médio nunca se encontrará com seu par palestino, a não ser durante seu serviço militar (e, mesmo assim, apenas se servir nos territórios ocupados). Nem o jovem palestino médio encontrará um israelense da sua idade, a não ser o soldado que o hostiliza no checkpoint, ou invade sua casa no meio da noite, ou o colono que usurpa sua terra ou queima seus bosques.
Em consequência, o único encontro entre os dois povos é entre os ocupantes, que são armados e violentos, e os ocupados, que são desesperados e também se voltam para a violência. Foram-se os tempos em que palestinos trabalhavam em Israel e israelenses iam fazer compras na Palestina. Foi-se o período de relações meio-normais e um-quarto-iguais, que existiram por poucas décadas entre dois povos que dividiam o mesmo pedaço de território. É muito fácil, nesse estado de coisas, incitar e inflamar um contra o outro, espalhar medos e instigar novos ódios sobre os já existentes. Essa é, também, uma receita certa de não-paz.
Foi assim que um novo anseio israelense surgiu: o desejo de separação: “Eles ficam lá e nós ficamos aqui (e lá também)”. Num momento em que a maioria dos palestinos – avaliação que me permito fazer, após décadas de cobertura nos territórios – ainda quer coexistência, mesmo que cada vez menos, a maioria dos israelenses quer não-envolvimento e separação, mas sem pagar o preço. A visão de dois estados ganhou adesão generalizada, mas sem qualquer intenção de implementá-la na prática. A maioria dos israelenses é a favor, mas não agora e talvez nem mesmo aqui. Eles foram treinados a acreditar que não há parceiro para a paz – isto é, um parceiro palestino – mas há um parceiro israelense.
Infelizmente, a verdade é quase o oposto. Os palestinos não-parceiros não têm mais nenhuma chance de provar que são parceiros; os não-parceiros israelenses estão convencidos de que são interlocutores. Começou então um processo em que as condições, obstáculos e dificuldades impostas por Telaviv se amontoaram, mais um marco no isolamento israelense. Primeiro, veio a exigência de acabar com o terrorismo; em seguida, a demanda pela troca da liderança (Yasser Arafat visto como uma pedra no caminho); e depois disso o Hamas tornou-se o obstáculo. Agora é a recusa dos palestinos em reconhecer Israel como um Estado judeu. Israel considera legítimo cada passo que dá – de prisões políticas em massa à construção nos territórios –, enquanto todo movimento palestino é considerado “unilateral”.

O único país sem fronteiras do planeta não quis, até aqui, delimitar sequer as fronteiras que estaria pronto a aceitar num acordo. Israel não internalizou o fato de que, para os palestinos, as fronteiras de 1967 são a mãe de todos os acordos, a linha vermelha da justiça (ou justiça relativa). Para os israelenses, elas são “fronteiras suicidas”. Essa é a razão pela qual a preservação do status quo tornou-se o verdadeiro alvo, o objetivo primordial da política de Israel, quase seu tudo ou nada. O problema é que a situação existente não pode durar para sempre. Historicamente, poucas nações aceitaram viver sob ocupação sem resistência. E também a comunidade internacional estará apta, um dia, a proferir um pronunciamento firme, acompanhado de medidas punitivas, sobre este estado de coisas. Segue-se que o objetivo de Israel é irrealista.
Desconectada da realidade, a maioria dos israelenses mantém seu estilo de vida normal. A seus olhos, o mundo está sempre contra eles, e as áreas de ocupação à sua porta estão fora de sua esfera de interesse. Quem ousa criticar a política de ocupação é rotulado de anti-semita, cada ato de resistência é percebido como uma ameaça existencial. Toda a oposição internacional à ocupação é lida como “deslegitimização” de Israel e como um desafio para a própria existência do país. Os sete bilhões de pessoas do mundo – a maioria das quais contra a ocupação – estão erradas, e seis milhões de judeus israelenses – a maioria dos quais apóia a ocupação – estão certos. Essa é a realidade na visão do israelense médio.
Some a isso a repressão, a ocultação e a dissimulação, e você tem uma outra justificativa para o isolamento. Por que alguém deveria lutar pela paz, desde que a vida em Israel seja boa, a calma prevaleça e a realidade se mantenha oculta? A única maneira de a Faixa de Gaza, sitiada, lembrar as pessoas de sua existência é atirando foguetes, e, atualmente, a Cisjordânia só entra na agenda quando há sangue derramado por lá. Da mesma forma, o ponto de vista da comunidade internacional só é levado em conta quando tenta impor boicotes e sanções, que por sua vez geram imediatamente campanhas de autovitimização cravejadas de contundentes – e, às vezes, também impertinentes – acusações históricas.
Este é, pois, o quadro sombrio. Não contém um raio de esperança. A mudança não vai acontecer por si mesma, a partir do interior da sociedade israelense, caso continue a se comportar como se comporta. Os palestinos cometeram mais do que um erro, mas seus erros são marginais. A justiça de base está do seu lado, e o isolamento de base é o limite dos israelenses. Eles querem ocupação, não paz.
Tenho a esperança de estar errado.
(fonte: http://outraspalavras.net/capa/telaviv-assim-se-fabrica-a-guerra-infinita/)

Aécioporto: Escândalo fez Aécio cair em pleno voo


Antonio Lassance (*)
Charge: Ipojucã

A denúncia do aeroporto construído na fazenda que pertencia ao tio de Aécio Neves, com dinheiro público, fez um estrago maior do que o esperado pelo candidato e sua coordenação de campanha.

A equipe responsável pela campanha já tem sinais claros de que a denúncia "pegou" - ou seja, ganhou grande repercussão entre os eleitores mais informados sobre política e já virou o assunto principal associado ao candidato. (Nota da redação: Ver abaixo um dos vídeos que faz uma paródia ao famoso filme de comédia "Apertem os cintos, o piloto sumiu", que está circulando pelas redes sociais):


(nota do blog: para ver o video, clique na fonte citada lá no final)



Os sinais foram colhidos em pesquisas internas, tanto telefônicas quanto de análise da repercussão em redes sociais.

A péssima notícia virou um grande problema para a campanha oposicionista e deixou seu comando, a começar do próprio Aécio, indeciso sobre o que fazer, de agora em diante.

Até o momento, a tática era a de fugir do assunto o máximo possível.
Pensava-se, de início, que o ideal seria não comentá-la para não dar mais "asas" ao assunto, e diminuir o risco de "o aeroporto do tio de Aécio" - que é como o assunto tem se popularizado - colar ainda mais na imagem do candidato.

Os dados colhidos da percepção dos eleitores mostram que isso já não funciona mais. Pior: pode já estar surtindo efeito contrário.

Quando foi pego de surpresa, Aécio deu declarações que, logo em seguida, foram desmentidas por outras reportagens.

Nos dias seguintes, se calou sobre o caso. Ontem, ao ser perguntado por jornalistas a respeito, Aécio simplesmente recusou-se a responder.

De agora em diante, a postura só ajuda a consolidar a convicção, entre muitos eleitores, de que o candidato está "metido em corrupção" - para usar uma frase comum surgida nas respostas da pesquisa telefônica.

A postura de criticar as investigações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Ministério Público pode piorar o quadro ainda mais, pois deve reforçar a crítica de que se tenta esconder sujeira debaixo do tapete.

Pesquisas internas, como as telefônicas, servem apenas como um recurso rápido para analisar o tamanho da repercussão que um assunto ganha na campanha e calibrar a dose da resposta a ser dada.

Quando se responde a algo com baixo interesse na opinião pública, comete-se o erro de dar importância maior do que se deve, patrocinando notícia negativa.

Por outro lado, minimizar ou fugir de um assunto considerado muito grave por uma grande parcela da opinião pública acarreta um prejuízo bem maior. É o que, entre os profissionais da comunicação, se conhece como tática do avestruz.

A campanha de Aécio já espera por uma queda em suas intenções de voto, a ser aferida nas próximas rodadas, a partir de agosto.

Agora começa a fase na qual a divulgação do escândalo começa a chegar no boca a boca da campanha com mais força.

Doravante, se Aécio for pousar na pista do seu agora muito conhecido aeroporto, escondidinho na cidade de Cláudio, interior de Minas Gerais, é bom pedir ao comandante para avisar: "atenção, torre de controle. Temos um problema!"


(*) Antonio Lassance é cientista político.

(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Aecioporto-Escandalo-fez-Aecio-cair-em-pleno-voo/4/31467 )

sábado, 26 de julho de 2014

Valores fascistas e oba-oba no Brasil

Este texto foi enviado pelo nosso amigo e colaborador Guilherme Souto. Ele não indicou a fonte, mas, com toda certeza, é o blog do Rudá Ricci.


Por Rudá Ricci
22/07/2014
É lugar comum entre intelectuais: dificilmente encontramos na história do Brasil um momento tão rebaixado de produção cultural como o atual.

Na música, letras empobrecidas rivalizam com melodias e ritmos previsíveis que qualquer músico iniciante chega a ter tédio ao reproduzir.

Na literatura, diários são alçados à condição de sugestões para uma vida feliz. O estilo folhetinesco, que faz pastiche de romances, estudos historiográficos e vida íntima de intelectuais e artistas, forra estantes e mesas centrais de livrarias, que se apresentam como shopping centers da leitura rápida e descartável, customizadas com cafés ao fundo para alegrar o leitor, que carrega sempre a opinião do último livro que leu, sabe-se lá quando foi.

A inovação mais ousada na dramaturgia contemporânea não passou do teatro besteirol que, por sua vez, deu lugar ao stand-up comedy brasileiro, este tipo menor de repentista que acredita ter licença para disseminar escatologias. Aliás, a escatologia destes niilistas sem humor vai rompendo barreiras na busca da fama pelo escândalo. Tudo pelo sucesso é a bandeira desfraldada que dá nome a novos programas oferecidos nos canais pagos, numa espécie de esconde-esconde que tenta dar a aparência de gente pura e despretensiosa, tal água da fonte do jardim do centro das metrópoles tupiniquins. Fazem par com a profusão de “cervejarias artesanais” que proliferam na corrida para abastecer os 62 litros bebidos a cada ano por cada brasileiro que procura nocautear suas mágoas e frustrações: uma sequência de tentativas e erros (mais erros que tentativas) até que se chegue ao porre generalizado, sem eira nem beira.

O cinema tenta, mas nada que se compare com a delicadeza e inteligência do cinema argentino e muito menos com o Cinema Novo que um dia conseguimos forjar.

Na política, que por muito tempo estimulou amplos debates sobre o Brasil e sobre nossas possibilidades perdidas, expoentes com nenhuma experiência e portadores de uma única ideia força se propõem a dirigir o país. Sua fragilidade é completamente estampada nos seus rostos, mas parece que nem sempre queremos ver o óbvio plastificado no sorriso aberto e na fala totalmente previsível que é anunciada pela voz off do locutor, não menos previsível, do marketing amoral. Aliás, não só pecam pela pobreza de espírito como se envolvem em situações nebulosas, que não inspiram nenhum de nossos jovens a pensar a política como uma ação nobre. Os partidos se atacam sem respeito e não toleram nada inferior à destruição por completo do seu adversário. Poucos conseguem explicar, à luz do dia, a vantagem de se gastar numa campanha mais que os salários somados de quatro anos de mandato parlamentar que almejam conquistar.
 
Este clima soturno, de baixa inspiração, que rasteja numa preguiça mental, flerta, o que me parece pior, com o relaxamento moral.
 
Esses tempos sombrios em nosso país estimulam minha memória a resgatar textos alarmantes de clássicos da esquerda. Outro dia, me deparei recordando algumas passagens de um livro pouco festejado de Georg Lukács a respeito do declínio da razão às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Lukács tentou somar e articular vários sinais de irracionalismo que deságuam no fascismo. Trotsky foi outro que pulou de minha memória. Em seu surpreendente Revolução e Contrarrevolução na Alemanha, o dirigente russo analisou os acontecimentos dramáticos que se sucederam logo no início dos anos 1930 e que abriram o caminho para o nazismo. Algo me sussurra que este rebaixamento intelectual e moral do Brasil atual abrem brechas para a cultura fascista.
 
O fato é que aqui no Brasil, os valores fascistas estão, pouco a pouco, sendo considerados aceitáveis como elementos da imposição da ordem. O uso ilegal da força e perseguição por parte das polícias estaduais e ameaças permanentes de enquadramento de qualquer conflito de rua como crimes similares à ação terrorista são assimiladas e até festejadas por articulistas da grande imprensa tupiniquim. Ataques à manutenção (nem é possível, nesta altura da ofensiva dos valores fascistas citar a palavra avanço) dos direitos civis como desmonte da estabilidade da família. As capas de revistas semanais estimulam o alarme geral, o ódio e a divisão do país entre manipulados e clarividentes (sendo os editores, obviamente, os líderes da casta superior dos clarividentes a orientar os manipulados de bom coração).
 
A cultura fascista, afinal, é totalitária. Ao contrário da cultura autoritária que desmobiliza, a cultura fascista convida à mobilização pelo ódio. Sustenta uma visão de mundo que se apoia na negação da diferença e no uso da força como imposição de uma lógica masculina e viril, sendo a inteligência um adorno desprezível em virtude da urgência do uso dos músculos.

O que me anima é que o brasileiro comum, aquele que não tem poder e não é elite, ao final, percebe os engodos. Possivelmente porque já foi vítima de vários. Daí que se frustra com o atual governo, mas não cai na raquítica teia dos expoentes da oposição. O brasileiro, afinal, é órfão recente da seleção de futebol e, ainda de luto, não parece convicto em se deixar cair em mais um canto de sereia.

Mas o problema permanecerá após as eleições. Na hipótese da reeleição, o atual governo cairá na mesmice que é marcada pela sua omissão, ausência de ousadia e crença numa luz no fim da galáxia, tal como sugeria o velho e crente Juan Posadas, o sapateiro de Córdoba que se chamava Homero Rómulo Cristalli Frasnelli e que ironicamente tinha dificuldades para ter os pés no chão. Na hipótese, até agora remota, de vitória de um candidato da oposição, entraremos num túnel do tempo, sem saber ao certo onde estacionaremos, numa aventura sem fim, sem a competência de Doug Phillips e Tony Newman.

Situação e oposição, afinal, fazem suas concessões à cultura fascista que se insinua. São o que produzimos de pior na política desde a vitória de Eurico Gaspar Dutra contra Eduardo Gomes. Os dois, aliás, apoiaram o golpe militar de 1964. Mas, cá entre nós, poucos sabem da existência deles. E nem sei se precisariam saber.

Na iminência de uma nova extinção?


Este é um artigo que você não pode deixar de ler!


Na iminência de uma nova extinção?

Dados inquietantes indicam que a sexta extinção em massa de espécies que habitam a Terra não está mais prestes a acontecer. Na verdade, ela já começou. E o ser humano é o principal responsável por esse declínio, dizem pesquisadores. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Globo X futebol: quem perde é o torcedor

Por Thiago Cassis, no site da UJS:

“Horário do metrô esvazia Arena Corinthians antes do fim do jogo”, é com essa manchete que o site G1, da Rede Globo, inicia a reportagem que fala sobre a dificuldade dos torcedores presentes ao jogo entre Corinthians e Bahia, realizado na noite de ontem (23), de voltarem pra casa após a partida.

Segundo a reportagem, a estação de metrô de Itaquera, forma utilizada pela maioria dos torcedores para retornarem a seus lares, encerrou as atividades 00:19, 25 minutos depois do apito final da partida. Com isso grande parte do público saiu do jogo quando ainda faltavam 10 minutos para o fim e nem puderam ver o terceiro gol corintiano.

Se paramos um pouco pra pensar – não precisa nem pensar muito – logo chegamos a questão “e por que não começam a partida mais cedo?”. E esse é o ponto temido pela Globo. Começar a partida mais cedo, e beneficiar a população – coisa que historicamente a empresa apoiadora da ditadura nunca se importou muito – seria a melhor forma de resolver a questão. Mas isso significa mexer na programação da emissora se quisesse transmitir a partida ou então deixar de exibir os jogos. De uma forma ou de outra representaria perda de dinheiro. E como sabemos, no fim das contas é só isso que importa.

Tanto faz, se o estádio recebeu 24 mil torcedores, mas poderia ter recebido 40 mil se começasse mais cedo. Pouco importa se alguns trabalhadores, que pagam caro pra assistir as partidas no novo estádio “padrão FIFA”, não conseguirão chegar em suas casas. Tudo que importa para a Rede Globo é sua grade de programação e os lucros que consegue com o, cada vez mais fraco, futebol brasileiro. E aqui vale lembrar o recente comentário do jogador Alex sobre o futebol brasileiro “quem cuida é a Globo, a CBF é apenas a sala de reuniões”.

Estádios vazios, jogos cada vez mais tarde, uma seleção sofrível, resultado de má administração e o G1 aparece com uma reportagem afirmando que “a tendência é que o Corinthians entre em contato com os responsáveis pelo metrô e pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para prorrogar o horário nas próximas partidas”. Além de mandarem no nosso futebol, e de desinformarem diariamente nossa população agora querem também mudar o horário de funcionamento dos transportes.

A Rede Globo não defende o transporte 24 horas em nome do bem estar da população de São Paulo (e se não fossem os já conhecidos desvios de verba do governo tucano, omitidos pela emissora, talvez tivéssemos condições melhores nos transportes da cidade), ela aborda o tema apenas para defender os exorbitantes lucros que tem com os patrocinadores do “seu” futebol. Ou seja, ela coloca a questão da mudança de horários nos transportes para manter intacta sua grade de programação e seus interesses financeiros.

Parece brincadeira, mas é só um grupo de comunicação prejudicando nosso povo e afundando nosso futebol.
(fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/07/globo-x-futebol-quem-perde-e-o-torcedor.html)

Terreno do tio de Aécio pode custar mais R$ 3,5 milhões aos mineiros


Terreno do tio de Aécio pode custar mais R$ 3,5 milhões aos mineiros. É oficial.

24 de julho de 2014 | 15:00 Autor: Fernando Brito

indeniza

O leitor Hélio me manda o link – e coloco à disposição de todos, sobretudo da galharda imprensa brasileira –  da Lei de Diretrizes Orçamentárias de Minas Gerais, onde, em seu anexo II, se prevê a perda da ação em que o tio de Aécio Neves se irresigna com o valor da indenização de R$ 1 milhão paga para a pavimentação do aeroporto que já havia sido feito, com verba pública, em seu terreno.
Lá, prevê-se a possibilidade de que Minas venha a ter de pagar R$ 3.464.629,60 ao tio de Aécio.
É mais cara das indenizações por desapropriação que Minas tem em litígio judicial, passível de perda.
Não é possível precisar se este valor está estimado além do R$ 1 milhão inicial, mas é provável, porque se trata, na tabela, do valor a pagar e aquele milhão já foi pago.
Com o valor corrigido da obra (R$13,4 milhões, em dezembro de 2008), o total de gastos com o “aecioporto” vai passar, e muito, dos R$ 20 milhões de reais.
Com metade do valor dá para pegar todos os 27 mil habitantes de Cláudio e trazer de avião para um passeio no Rio de Janeiro, com uma promoção que vi agora para agosto, R$ 260, ida e volta, e ainda pagar hotel.
Assim, podiam visitar o Aécio, já que ele não está podendo mais pousar por lá.
Isso porque era, segundo o tucano, “a opção mais barata”.
Imaginem a mais cara.
Ô trem bão, !
(fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=19371)

Mulheres dos anos dourados

Em Mulheres dos Anos Dourados, a historiadora Carla Bassanezi Pinsky revela figuras de um tempo em que casar era indispensável, traições masculinas eram perdoadas em nome da harmonia conjugal e bons eletrodomésticos deveriam compensar a monotonia da existência das mulheres. Será que a sociedade mudou tanto de lá pra cá?

A obra já está em pré-venda, aproveite!

     
   
A “boa esposa”, a “moça de família”, a “leviana” (com quem os rapazes se divertem, mas não se casam), a “outra”, a “jovem rebelde”, a “rainha do lar” são, entre outras, figuras típicas dos Anos Dourados, apelido nostálgico do período que vai de 1945 a 1964 no Brasil. Neste livro, as revistas femininas são a porta de entrada para uma instigante viagem à época em que a distinção entre os papéis atribuídos ao homem e à mulher era bem nítida, o casamento era “a base da sociedade” e a “harmonia conjugal”, o grande objetivo das “mulheres de bem”. O mergulho realizado por Carla Bassanezi Pinsky nas páginas de publicações como Jornal das Moças, O Cruzeiro, Querida e Claudia também revela as transformações nos costumes, nas relações familiares, nas imagens femininas e masculinas, no olhar sobre a sexualidade e até mesmo na ideia de ser feliz. Os conflitos de geração, as decepções e as possibilidades de contestação e rebeldia completam o retrato de um passado até hoje muito vivo, ainda uma forte referência.



 
Nº de Páginas: 400
Formato: 16 x 23

ISBN:
978-85-7244-863-5
Data: 31/07



 
Nova História das Mulheres
Carla Bassanezi Pinsky, Joana Maria Pedro (Orgs.)

de R$59,90
por R$47,92

Brasileiras – Guerreiras da Paz
Clara Charf (Org.)

de R$45,00
por R$36,00

Minha História das Mulheres
Michelle Perrot

de R$35,90
por R$28,72

História das Mulheres no Brasil
Mary Del Priore (Org.)
de R$75,00
por R$60,00

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Posicionamento político e oligarquia

Colaboração do prof.Antônio de Paiva Moura



Posicionamento político e oligarquia

Segundo Navarro e Brasiliano (2014), raros são os políticos e os candidatos a altos cargos no Brasil, que abertamente se apresentam para o debate ou na propaganda eleitoral, como de direita. Mesmo sendo diretamente ligados a interesses empresariais, preferem utilizar-se do verniz social vermelho. Os termos esquerda e direita são rechaçados pelos militantes políticos e pelos estrategistas de marketing, a serviços dos mesmos. O que está mais em uso são os termos, progressista e conservador. A demagogia começa nas siglas dos partidos e atingem a medula dos discursos. O PP, partido progressista, foi fundado por grandes empresários de São Paulo, dando à palavra progresso, outro significado, confundindo o social e humano, com as chaminés fumegantes das fábricas. Ser de esquerda, ou ser progressista significa defender uma plataforma de transformações que superem as injustiças geradas pelo sistema econômico capitalista. Daí surgiu o termo “reacionário”, para designar quem reage a essa posição progressista.
Em Minas Gerais, desde o mandato de Aécio Neves no governo, o PP coligou-se com o PSDB. Há tanta afinidade entre estes partidos que o deputado estadual Dinis Antônio Pinheiro do PSDB, passou para o PP, somente para se candidatar a vice-governador de Minas na chapa do PSDB.
A família Pinheiro, de Ibirité, Região Metropolitana de Belo Horizonte, já se constitui uma dinastia inserida na oligarquia mineira. Dinis Antônio Pinheiro, com 47 anos de idade já se encontra em seu terceiro mandato como deputado estadual. Em 2013 foi eleito presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Ao mesmo tempo, seu irmão, Antônio Pinheiro Júnior ocupa o cargo de deputado federal pelo PP. Enquanto isso, seu filho, Antônio Pinheiro Neto, de 21 anos de idade é prefeito de Ibirité, pelo mesmo partido PP. O pai do deputado Antônio Pinheiro Júnior também foi prefeito de Ibirité. Os Dinis Pinheiro vão se despontando em Minas como a família de Antônio Carlos Magalhães na Bahia. Dizem abertamente e sem medo de qualquer punição, que compram votos mesmo e, pelo poder, fazem qualquer coisa.
Partidos de direita têm como adjetivo o termo “Socialista”, a exemplo do PSB Partido Socialista Brasileiro. Em Belo Horizonte, filiados como Célio de Castro, já não existem mais. Márcio Lacerda, apesar de ter sido militante de esquerda durante a ditadura militar, em 1975 aproximou-se da burocracia do regime militar e fundou a Construtel. Esta empresa cresceu vertiginosamente e ultrapassou as fronteiras do Brasil. Em 1994 Lacerda colaborou com o vultoso valor de 1.287 milhões de reais para a campanha de Fernando Henrique Cardoso, cujo projeto político era claramente neoliberal. É estranho como Marcio Lacerda ocupou o lugar do Dr. Célio de Castro no PSB, Partido Socialista Brasileiro.
Alexandre Kalil, presidente do Clube Atlético Mineiro, foi convidado por Márcio Lacerda a candidatar-se a deputado federal pelo PSB, mesmo sabendo que ele é um empresário, dono da Erkal Engenharia e tem ligação com os Bancos BMG e o extinto Baco Rural. Kalil está sendo investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais, acusado de enriquecimento ilícito através de agiotagem em empréstimos feitos pelo Atlético Mineiro. Quando o Dr. Fábio Fonseca e Silva deixou a presidência do Atlético para se candidatar a deputado federal, ele fez falta ao clube, mas prestou um grande serviço à Nação brasileira. Em plena ditadura militar, teve a coragem de denunciar que a indústria farmacêutica norte-americana e europeia testava medicamentos na população pobre do Brasil, a exemplo da talidomida. Já Alexandre Kalil, certamente, será um defensor dos empresários e dos banqueiros.
A letra “S” nas siglas dos partidos, na atualidade, é, na verdade, mais um indicativo de anti-social, que um símbolo de luta contra as injustiças sociais.

Belo Horizonte, julho de 2014


Antônio de Paiva Moura