sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Carta aos jornalistas

Caríssimos,
Vocês perderam a eleição. Protagonizaram a campanha mais sórdida jamais realizada por órgãos de imprensa em toda a história da República, e assim mesmo perderam. Tentaram envenenar a opinião pública brasileira contra uma candidatura, distorceram fatos, inventaram outros, e orquestraram no mesmo diapasão uma opinião seletiva sobre inquéritos policiais  em andamento, atropelando todos os protocolos de comportamento ético de uma imprensa que, mesmo não sendo nunca imparcial na opinião, deveria ao menos tentar sê-lo no noticiário.
Entretanto, não escrevo para celebrar a sua derrota. Muitos já o tem feito. Ao contrário, tomo a liberdade de lhes escrever pelo cuidado que tenho com o seu destino. Gosto da alta qualidade material dos produtos que oferecem à sociedade. As novelas da Globo são sem paralelo no mundo. Os casos de ficção e mesmo as reportagens especiais são de categoria internacional. O mesmo se aplica às revistas não ideológicas da Abril. Contudo, tudo isso está sendo colocado em risco pelo jornalismo sórdido que vocês praticam.
Tenho idade para ter visto muitos impérios jornalísticos  brasileiros que se destruíram, ou que foram destruídos pela concorrência. O seu pode ser o próximo. Vocês, nessa campanha presidencial, ao escolheram um lado com o sectarismo principista de um Estado Islâmico, foram além da crítica ao governo para atacar as próprias bases do Estado democrático. Vocês foram ao extremo de subverter o processo judicial envolvendo o poder da República que deveria ser o mais respeitado, a Justiça, em maquinações eleitoreiras rasteiras e macabras. Não fosse a internet, depurando o noticiário, e vocês teriam ganho.
Sei que o caminho suicida que escolheram era uma aposta na candidatura que lhes parecia a mais adequada para tirá-los das dificuldades empresariais e afastar o risco de uma regulamentação mais democrática da mídia. No primeiro caso, o fato de ambas as organizações serem os beneficiários das duas maiores contas de publicidade do governo parece não lhes ser satisfatório. Ou querem mais ou tem medo de perder o que tem. No segundo caso, o risco é um marco regulatório que quebre o monopólio de algumas mídias.
Sim, porque os verdadeiros democratas brasileiros não querem muito mais do que aquilo que os norte-americanos têm. Não me consta que a NBC, a ABC ou a CNN sejam proprietárias de jornais e revistas nos Estados Unidos. Por outro lado, não me consta que o New York Times ou o Wall Street Journal sejam donos de televisões e rádios. Quebrar o monopólio jornalístico da Globo no Brasil não seria diferente do que Cristina Kirchner fez com o Clarín na Argentina, e isso, é preciso reconhecer, simplesmente segue o padrão americano e não tem nada a ver com violação da liberdade de imprensa.
Esta é uma questão política da mais alta relevância, e se alguém, de um ponto de vista imparcial, analisa a campanha presidencial que acaba de ser encerrada encontra amplas justificativas para querer a busca de um marco regulatório adequado. Entretanto, isso é também uma questão econômica, tendo em vista a concorrência no mundo da mídia. A articulação de jornal, televisão e rádio traz óbvias vantagens comerciais monopolísticas para seu dono, além de um inequívoco poder político que pode ser manipulado contra concorrentes, mas também contra a democracia.
Trabalhei  sete anos no Jornal do Brasil até pouco antes do início de sua decadência. O JB, quando lá entrei no começo dos anos 70, era dono absoluto do mercado de pequenos anúncios. Quando muitos, e esse era o caso, era a melhor fonte de receita do jornal porque o anúncio era pago adiantado na boca do caixa. Pois bem, a certa altura O Globo decidiu entrar pra valer no mercado de pequenos anúncios. Se fosse jornal contra jornal, tudo bem. Mas o Globo lançou todo o peso da televisão para anunciar seus classificados. Aos poucos, liquidou com o negócio do JB, que não tinha televisão para defender-se.
Esse pequeno incidente revela o verdadeiro poder dos monopólios midiáticos. Quando se trata de política, esse poder é multiplicado. Basta lembrar das consultas obrigatórias que os presidentes faziam a Roberto Marinho sobre iniciativas importantes no tempo em que ele estava em pleno vigor físico. Os herdeiros estão longe da habilidade política do pai, e estão entrando num terreno perigoso de oposição sistemática ao governo. Isso acontece sobretudo na Veja e, principalmente, no Jornal da Globo.
Quando William Waack, Carlos Alberto Sardenberg e Arnaldo Jabor extrapolam sua função de apresentadores e comentaristas para assumirem o papel de doutrinadores raivosos contra a política externa ou interna do governo, manipulando descaradamente o noticiário, é, em sua essência, uma violação das regras de concessão pública de televisão e põem em risco uma organização que, fora da política, é líder absoluta da produção audiovisual na América Latina. Acho que interessa a todos os brasileiros que essa liderança seja conservada e ampliada. Espera-se que o jornalismo da Globo e de Veja não ponham tudo a perder, não junto ao governo, mas junto a telespectadores, leitores e anunciantes, sendo varrido da cena pelo noticiário plural da internet.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.
http://www.jornalggn.com.br/noticia/carta-aos-jornalistas-da-globo-e-da-abril-por-j-carlos-de-assis

O quarto poder que virou o primeiro


O partido da mídia

Por Luiz G. Mottta

O Brasil está dividido em dois partidos políticos: o partido da mídia e os outros. Nada separa tanto a sociedade brasileira hoje quanto a imprensa. Ela se transformou em um partido político autônomo que se dá o direito de intervir diretamente na política – especialmente em períodos eleitorais – de acordo com uma ideologia radical conservadora. Ela é um ator político ativo, tanto na formulação de um pensamento conservador como na defesa dos interesses liberais.
A mídia tornou-se um partido com independência política porque se autonomizou financeiramente, possui metas ideológicas explícitas, planos de ação de curto prazo conforme a conjuntura, e um projeto ideológico de longo prazo: o acúmulo do maior capital político (poder) possível. Esse projeto está em curso e se consolidando conforme os desejos dos proprietários da mídia.
Nenhum outro grupo detém hoje tamanha autonomia de ação, e tanto poder de intervenção no debate público. A mídia brasileira já foi um esboço de espaço público, limitado é verdade, mas onde foi possível alguns grupos debaterem as grandes questões nacionais. Essa pretensão é coisa do passado, a mídia jornalística abandonou-a. Ela não é mais um espaço democrático de debates, e sim um ator social com posição definida e uma ação política ostensiva. É uma organização em rede que interfere na política de maneira direta, dirige a opinião pública e ameaça seus adversários com a arrogância de um poder para o qual não foi eleita. Faz isso descaradamente “em nome do povo”, pretendendo obter credibilidade. Se essa credibilidade não é repassada pela sociedade, não importa: a mídia fingirá que a detém, em nome da democracia.

Opção assumida

Graças à visibilidade pública de seus agentes, a mídia jornalística tornou-se um ator político poderoso. Ela detém o monopólio da voz, detém o poder de selecionar, suprimir e orientar a informação. O público só toma conhecimento daquilo que a mídia quer divulgar. E esconde deliberadamente os temas que não quer tornar público. Pensamentos diferentes só são permitidos até certos limites, e se algum grupo ultrapassar esses limites é imediatamente ridiculizado nas páginas e telas. Eventos e escândalos políticos são forjados, requentados ou amplificados conforme a conveniência de ocasião.
Todos os outros poderes tornaram-se frágeis diante da mídia. Ela é mais poderosa do que o Poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Ninguém ousa desafiá-la. Todo político a teme, toda autoridade pública – do presidente ao prefeito municipal – se submete, todo juiz pondera primeiro a repercussão na mídia de suas decisões. E todos procuram, a todo custo, conquistar as graças dos repórteres e veículos a fim de obter maior visibilidade pública. Mas a mídia é hábil, faz um jogo sórdido, só permite a certos atores “aparecerem bem na fotografia” porque ela detém o poder de decidir, em última instância. Quando quer, age como o escorpião, destrói mortalmente, sem piedade, seus antigos aliados. A mídia não tem amigos, só aliados de conveniência.
Nas democracias liberais a mídia jornalística se proclamou independente dos partidos políticos. Proclamou-se publicamente independente, ela se autoqualifica como neutra em relação aos poderes, capacitando-se a exercer o seu papel crítico de maneira imparcial. Assim, busca credenciar-se como porta-voz legítimo da sociedade. Não é o que ocorre no Brasil. Na última década, a mídia jornalística assumiu determinada posição política e adquiriu, cada vez mais, um ponto de vista conservador. Tanto em seus próprios editoriais, onde manifesta claramente sua posição liberal, quanto disfarçadamente nas coberturas jornalísticas.
Nos período pré-eleitorais, a posição política dos jornais e telejornais torna-se mais explícita quando percebem alguma ameaça à sua ideologia. Na eleição que se finda, a posição da maioria dos veículos se radicalizou a tal ponto que eles aderiram incondicionalmente ao pensamento conservador e passaram a utilizar ostensivamente o noticiário com o objetivo de influenciar os eleitores. Se nunca houve imparcialidade no campo do jornalismo, agora a opção é assumida: ou se está ao lado da mídia ou do outro, o adversário a ser massacrado.

Na prática

Nas duas últimas décadas, a mídia desqualificou implacavelmente a atividade político-partidária. Não faltaram reportagens e escândalos infamando partidos, parlamentares, juízes e autoridades públicas. Claro, os políticos mais próximos foram mais poupados. É verdade que nossas autoridades deram o combustível necessário. Mas, interessa aqui se dar conta que essa ação pública foi uma prática política orientada para desqualificar o campo político e fortalecer o campo da mídia a fim de se obter legitimidade aos olhos da sociedade como a guardiã única dos interesses sociais.
A imoralidade dos outros deve ser pública, mas os negócios sujos do partido da mídia e seus parceiros são omitidos e jogados para debaixo do tapete. Posa-se de bom mocinho, de herói de uma pérfida e hipócrita moral pública.
A mídia brasileira não é mais aliada a partidos políticos conservadores, não se associa a certos segmentos políticos, não pratica o paralelismo político. Ela é o próprio partido, está organizada como partido, age como partido, detém uma autonomia própria maior do que qualquer partido, Parlamento, Executivo ou Judiciário. É a mídia que elabora as doutrinas dominantes, que formula as estratégias, que orienta seus correligionários. Os políticos é que aderem a ela – que orienta a ação política, seus argumentos e seus candidatos.
Na prática, a mídia jornalística é um partido político, só não vê quem não quer.
***
Luiz G. Motta é jornalista, professor titular da Universidade de Brasília  
 
(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed822_o_partido_da_midia)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Advogado de Youssef nega participação em 'divulgação distorcida'

Eu não estava querendo publicar mais nada com relação à eleição, mas isso que li hoje é bom publicar. Note-se que a matéria é do jornal Valor, cujos donos são a Folha de SP e a Globo. Logo, não pode ser acusado de petista...


Advogado de Youssef nega participação em 'divulgação distorcida'
Por André Guilherme Vieira | De São Paulo
 
O advogado que representa Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou envolvimento na divulgação de informações que teriam sido prestadas pelo doleiro no âmbito da delação premiada, sobre o conhecimento de suposto esquema de corrupção na Petrobras pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Asseguro que eu e minha equipe não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida", afirmou ao Valor Pro. A informação de que Dilma e Lula sabiam da corrupção na Petrobras foi divulgada na sexta-feira passada pela revista "Veja".
No mesmo dia, o superintendente da Polícia Federal (PF) no Paraná, delegado Rosalvo Ferreira Franco, determinou abertura de inquérito para apurar "o acesso de terceiros" ao conteúdo do depoimento prestado por Youssef a delegados da PF e a procuradores da República.
"Acho mesmo que isso tem que ser investigado. Queremos uma apuração rigorosa", garante Basto, que já integrou o conselho da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). "Eu não tenho nenhuma relação com o PSDB. Me desliguei em 2002 do conselho da Sanepar [controlada pelo governo do Estado]. Não tenho vínculo partidário e nem pretendo ter. Nem com PSDB, nem com PT, nem com partido algum", afirma. O Paraná é governado por Beto Richa desde janeiro de 2011. Ele foi reconduzido ao cargo no primeiro turno da eleição deste ano.
A reportagem menciona que a declaração de Youssef teria ocorrido no dia 22 de outubro. "Nesse dia não houve depoimento no âmbito da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na quarta-feira", afirma, irritado, Basto. O advogado diz ser falsa a informação de que o depoimento teria ocorrido na quarta-feira para que fosse feito um "aditamento" ou retificação sobre o que o doleiro afirmara no dia anterior: "Não houve retificação alguma. Ou a fonte da matéria mentiu ou isso é má-fé mesmo", acusa o defensor de Youssef.
Iniciadas no final de setembro, as declarações de Youssef que compõem seu termo de delação premiada são acompanhadas pelo advogado Tracy Joseph Reinaldet dos Santos, que atua conjuntamente com Basto.
O Valor PRO apurou que o alvo principal da operação Lava-Jato disse em conversas informais com advogados e investigadores, que pessoalmente considerava "muito difícil" que o presidente da República não tivesse conhecimento de um esquema que desviaria bilhões de reais da Petrobras para abastecer caixa dois de partidos e favorecer empreiteiras.
"Todo mundo lá em cima sabia", teria dito o doleiro, sem, no entanto, citar nomes ou apresentar provas.
O esquema de corrupção na diretoria de Abastecimento da Petrobras teria começado em 2005, segundo a investigação e o interrogatório à Justiça Federal do ex-diretor de Abastecimento da petrolífera, Paulo Roberto Costa. Era o segundo ano do primeiro mandato do então presidente Lula. Dilma foi nomeada ministra de Minas e Energia em 2003.
Segundo a versão de Costa à Justiça, Lula teria cedido à pressão partidária para nomeá-lo diretor da Petrobras, sob risco de ter a governabilidade ameaçada pelo trancamento da pauta do Congresso. "Mesmo que essa declaração do Paulo Roberto [Costa] seja fato e que a comprovemos nos autos, qual é o crime que existe nisso?", questiona um dos investigadores da Lava-Jato. "Uma coisa é a atividade política. Outra é eventual crime dela decorrente. Toda a delação de Costa e outras que venham a ocorrer serão submetidas ao crivo do inquérito policial e da devida investigação", esclarece.
A PF também instaurou inquérito para apurar supostos vazamentos da delação premiada de Costa.
Investigações sobre vazamentos podem resultar em processo penal. No dia 21 deste mês, o deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B-SP) foi condenado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por violação de sigilo funcional qualificada. Queiroz, que é delegado da PF, foi responsabilizado por "vazar" informações da operação Satiagraha, deflagrada em São Paulo em 2008.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O comentário que fiquei devendo

Na terça feira postei aqui o artigo de um xará meu, publicado na Folha de São Paulo e me perguntava e repassava a pergunta aos leitores: por que a Folha, tucana e apoiando descaradamente a campanha de Aécio, publicava um artigo como aquele?
Não recebi nenhum comentário a respeito.
Mas prometi para hoje o meu comentário.

Por primeiro, cumpre registrar o que já falei antes: se existe algum jornal que apoiou a campanha de Aécio à presidência este foi a Folha de São Paulo.

Acreditar que ela publicou para mostrar "imparcialidade" ou "neutralidade" é a mesma coisa que acreditar em duendes, coelhinho da Páscoa e Papai Noel.

Não, a Folha nunca foi neutra. E não o seria às vésperas da decisão, na semana da votação do segundo turno. 

Havia possibilidades de Aécio vencer? Sim, havia. O artigo poderia atrapalhar? Talvez. Lembremo-nos que a influência dos jornais na atualidade tem sido muito menor do que em outros tempos. Os leitores da Folha, com certeza, em sua maioria eram eleitores de Aécio. Não iriam modificar seu voto por conta daquele artigo.

Então? Como ficamos?

Penso o seguinte: a Folha estava enviando um aviso muito claro. Não aos eleitores, mas ao próprio candidato que ela apoiava.

Para entender melhor o que estou querendo dizer, é necessário recordar uma frase do FHC, mais ou menos do seguinte teor: Para tirar o PT do poder, qualquer "coisa" serve.
O Serra e o Alckmin tiveram sua chance. Não conseguiram. 
Marina parecia ser a "coisa" da vez. Mas dançou.
Sobrou Aécio.

Que todos sabem, não goza do amor dos líderes do PSDB paulista. 

Para desespero do Serra e do Alckmin, Aécio parecia ter condições de se tornar presidente. 

Quatro anos? Oito anos? Não... isso não poderia acontecer.

Então a Folha deu o recado. No jargão jornalístico, o artigo "pautou" o que o jornal iria fazer assim que Aécio ganhasse a eleição: iria escarafunchar todos aqueles escândalos citados, iria investigar todas as minúcias do nepotismo, dos aeroportos, dos salários dos professores.

Aécio não tem um teto de vidro. A casa é toda de vidro.

E assim, a "coisa" que supostamente tiraria o PT do poder seria derrubado para que o vice, paulista, assumisse. E São Paulo recobraria o poder sobre o país.
Para sorte do Aécio, ele perdeu.

Simples assim?
Posso estar equivocado, aceito de bom grado quem possa me demonstrar o contrário.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

As três razões para meu voto

Transcrevo o post de hoje do blog da KikaCastro. E assino embaixo!

por Cristina Moreno de Castro

Como prometido, hoje vou escrever sobre meu voto. Apesar de muitos terem dito que eu não deveria declarar meu voto, por estarmos em um momento de muita agressividade na internet, acho que estas são eleições em que não podemos nos omitir, temos que tomar um partido, sair do muro, porque muita coisa está em jogo. Claro que não escrevo este post para aqueles que já estão convictos de seu voto (e todos têm seus motivos para escolher um ou outro candidato, que devem ser respeitados), mas para os que ainda estão abertos a mudar de opinião (ou tomar uma posição), a partir da reflexão. E, para contribuir com essa reflexão, trago uma planilha com diversos dados que coletei a partir de registros oficiais, além de mais de 70 links para notícias confiáveis, selecionadas a partir de critério jornalístico, que detalham o que escrevo ao longo do post, e que podem ser consultadas como fonte de informação. Espero que os leitores, mesmo os que discordem de mim, mantenham o respeito, como sempre mantiveram neste blog ;)
Decidi que vou votar 13, ou seja, pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Por três razões principais:
  1. Porque seu governo conseguiu conquistas importantes em algumas áreas;
  2. Porque as principais críticas que são feitas ao governo perdem força se comparadas com o governo de Fernando Henrique Cardoso, último presidente da República filiado ao PSDB;
  3. Porque, embora eu considere a alternância de poder muito importante para uma democracia, não acho o princípio válido quando a alternativa é Aécio Neves, personagem que venho acompanhando de perto desde que assumiu o governo de Minas pela primeira vez, em 2003.

Passo a explicar melhor cada uma dessas razões.
1) Para mim, as melhores conquistas do governo Dilma, que foi um governo de continuidade do Lula, dizem respeito:
Para mim, é uma conquista impressionante que o número de miseráveis e de subnutridos no meu país tenha sido reduzido tão consideravelmente em tão pouco tempo. Me parece que isso só foi possível por ter havido uma política de Estado que priorizou isso, antes de qualquer outra coisa. Vejo que a vida do povo, de modo geral, melhorou muito, com o acesso ao ensino superior e a bens de consumo importantes. No campo da economia, a cartilha desenvolvimentista seguida pelo governo de Dilma tem sido defendida por Bancos Centrais de todo o mundo, e os neoliberais, da linha de Armínio Fraga, estão começando a perder espaço.

2) A inflação está nas alturas? O crescimento está baixíssimo? A cesta básica está impossível de pagar? A Petrobras está sucateada? Não é o que os números me mostram, pelo menos não dessa forma tão trágica como vem sendo alardeada pelos defensores do Estado mínimo.
Vamos aos fatos:
  • a inflação no mês passado foi de 0,57%. No mesmo mês de 1998 (primeiro mandato de FHC), houve deflação de 0,22%. No mesmo mês de 2002 (segundo mandato de FHC), foi de 0,72%.
  • O ano de 1998 fechou com inflação de 1,65%. Já em 2002, fechou a 12,53% (o governo FHC já tinha conseguido reduzir a hiperinflação a quase zero, que foi seu grande mérito no primeiro mandato, então não é mais válido o argumento de que a inflação estava a 1000% antes de chegar a 12,5%; no segundo mandato, o presidente do Banco Central, responsável direto pelo controle da inflação, era Armínio Fraga, que Aécio escolheu agora como seu ministro da Fazenda). Em 2013, fechou a 5,91% (abaixo do teto da meta) e o acumulado nos últimos 12 meses está em 6,75%.
  • Uma das razões para o aumento da pressão sobre os preços nesta época do ano é a prolongada seca (veja AQUI também); portanto, há chances de o ano fechar com inflação dentro da meta estipulada pelo BC, como em todos os outros anos do atual governo (2011, 2012 e 2013).
  • Considerando a média da inflação em todo o mandato, a do governo Dilma é a mais baixa desde o Plano Real, inclusive que as dos governos FHC e Lula.
O crescimento está terrível? Pibinho? Em relação ao crescimento chinês do governo Lula, está mesmo. Em relação ao governo FHC, não é bem assim.
  • O país cresceu 0,04% em 1998 (último ano do primeiro mandato de FHC) e 2,66% em 2002 (último ano do segundo mandato).
  • Em 2013, o crescimento foi de 2,49%. Em 2014, o acumulado em 12 meses está em 0,93%.
  • Gozado é que, pelo menos desde 2013, o PIB de Minas tem crescido ainda menos que a média nacional. E, sim, o Estado também foi prejudicado pela seca.
A cesta básica custa R$ 303,54 em Belo Horizonte (setembro), segundo o Dieese. Subiu muito em relação aos R$ 93,58 que custava em 1998, certo? Errado: graças ao aumento do salário mínimo, que saltou de R$ 130 (ou o equivalente a R$ 362,29, tendo em vista a inflação acumulada no período) para R$ 724, o trabalhador que gastava mais de 158 horas de trabalho para bancar esta cesta hoje gasta 92 horas, ainda segundo o Dieese.
A Petrobras, que tinha lucrado R$ 701,7 milhões em 1998 e R$ 8,089 bilhões em 2002, lucrou R$ 23,6 bilhões em 2013 (foi a empresa que mais lucrou no país em 2013, dentre todas as 313 de capital aberto) e, só no primeiro semestre de 2014, já lucrou R$ 10,4 bilhões. O valor de mercado da Petrobras caiu em relação ao auge que atingiu no governo Lula (de R$ 380 bilhões em 2010 para R$ 240 bilhões nesta semana). Mas era de R$ 15,5 bilhões em 2002. (Leia mais AQUI)
Também é legal comparar o olhar que o Brasil passou a ter no resto do mundo. Em 2002, tivemos que recorrer ao FMI para empréstimo de US$ 41 bilhões. Apenas três anos depois, Lula quitou a dívida, que estava em US$ 15 bi e, em 2009, tornou-se credor do organismo, emprestando US$ 14,5 bi para ajudar países em dificuldades financeiras. Em 2012, já no governo Dilma, o Brasil aumentou o aporte no FMI, enquanto fez exigências para que países em desenvolvimento tenham mais participação no Fundo. Esse histórico pode ser visto AQUI, em infográfico do jornal "O Globo". É inquestionável como o Brasil cresceu aos olhos do mundo, passando a ser mais respeitado desde o governo Lula e o surgimento dos Brics, em 2006/2011, grupo que criou seu primeiro banco de desenvolvimento neste ano. Para ficar em um exemplo fácil, a Copa do Mundo, que todos diziam que seria caótica, foi vista como "a melhor dos últimos tempos" pelo britânico "Financial Times".
Por fim, vale comparar a gestão da energia nos dois governos. Apesar de estarmos com os reservatórios com níveis inferiores aos de 2001, numa das secas mais prolongadas da história, não houve necessidade de racionamento de energia, nem houve apagão – como naquele ano, durante a gestão de FHC.
Não consegui reunir todos os dados que eu queria, porque isso é uma coisa que demanda tempo e isso tem-me faltado. Queria ter coletado mais informações e números, sobre educação e investigações da Polícia Federal, por exemplo, como o cineasta Pablo Villaça fez tão bem. Mas é possível ver estes indicadores acima e outros que encontrei, com as respectivas fontes para cada um deles, na planilha que montei. CLIQUE AQUI para acessá-la.

3) Se o PT e o PSDB nos enojam com o aparelhamento de Estado para benefício do partido -- como demonstraram os escândalos do mensalão e este agora da Petrobras (que já resvalou em um dos ícones tucanos, Sérgio Guerra, e em todo o PSDB), e os escândalos do mensalão tucano (que tem como um dos réus Clésio Andrade, vice de Aécio no primeiro mandato e marido da atual presidente do TCE, Adriene Barbosa, que tomou posse como conselheira em 2006, indicada por Aécio quando Clésio ainda era seu vice), a máfia dos fiscais do ISS (que atinge as prefeituras de José Serra, Gilberto Kassab e Fernando Haddad), as propinas milionárias pagas pela Alstom e Siemens para ficarem com os trens e metrôs de São Paulo, além de dezenas de outros escândalos descobertos nos governo FHC, Lula, Dilma, Alckmin, Serra, Eduardo Azeredo e outros --, Aécio Neves me preocupa ainda mais porque, além de também ter aparelhado as estatais mineiras, como Cemig e Codemig, usou seu governo em Minas para benefício próprio ou de sua família, como podemos inferir pelas notícias sobre o aeroporto de Cláudio (e muitas outras práticas coronelistas em Cláudio, que incluem até suspeita de compra de votos), a pista de Montezuma, práticas de nepotismo, que podem ter favorecido diretamente empresas da família -- tudo com a conivência completa do Ministério Público do Estado e do já citado TCE presidido por sua amiga, a mulher de Clésio Andrade -- ou, muito antes, no início de sua carreira política, por Aécio ter sido nomeado diretor da Caixa por seu parente, que era ministro da Fazenda (e há suspeita de que ele tenha sido conivente, ou pelo menos omisso, em relação à Máfia das Lotecas).
Fora essa parte dos escândalos, que pode ser encontrada por qualquer eleitor que "der um Google" por aí, questiono (e não só eu!) a forma como ele governou Minas Gerais (direto do Rio de Janeiro, onde mais morou), com um choque de gestão questionadíssimo (ver AQUI e AQUI), com relatos de ter deixado um "Estado quebrado" para Anastasia, com educação sucateada (e salários abaixo do piso nacional, como se vê nesta carta de professores), investimentos em saúde e educação questionados na Justiça até hoje, falta de transparência, inclusive nos gastos com publicidade, que explodiram em seu governo e foram destinados, em parte, a empresas de telecomunicações de sua família (ou, agora, a contribuir para a campanha eleitoral, conforme entendimento do TSE), e construção de uma obra faraônica, a Cidade Administrativa, por R$ 1,2 bilhão, que já teve que ser reformada um ano depois de pronta; questiono sua nulidade como senador e, antes, como deputado; e não gosto de seus traços autoritários, ao sair processando tudo e todos, até o Google, o Twitter e blogueiros, só por publicarem informações ou opiniões que lhe desagradam. "Traços", aliás, foi bondade minha, porque considero que muitas das ações do pessoal de Aécio foram tentativas claras de intimidação e de censura prévia, que não condizem com a democracia que estamos tentando construir para o Brasil. (Dois documentários já foram produzidos a respeito: veja AQUI e AQUI).
Ainda vale ressaltar que, embora os governos de Lula e de Dilma tenham apanhado de todos os lados, seja nas redes sociais, na blogosfera ou na imprensa, não tenho conhecimento de ações judiciais movidas por eles para tentar calar as pessoas ou os veículos de comunicação. Como esse assunto, da liberdade de expressão e de imprensa, me é muito caro, acho importante registrar essa diferença abissal entre os dois candidatos nesse assunto. Não se trata de corporativismo de jornalista, mas de um princípio básico da democracia. É importantíssimo, fundamental mesmo, que a imprensa -- e as pessoas de um modo geral -- sejam livres para se expressarem em uma democracia, porque só com a crítica pode haver evolução.
É tudo mentira? Conspiração da "blogosfera comunista" e da "esquerda caviar"? Bom, deixei os links de diversos jornais, com todos os matizes ideológicos, para que você tire suas próprias conclusões. Mas, lendo a análise de apenas um dos debates presidenciais, feita pela "Folha de S.Paulo" (que está longe de poder ser tachada como petista), é fácil verificar qual candidato distorceu mais o que disse, em detrimento da verdade. (Atenção, que tem o "não é bem assim" e o "é bem assim".)
Para concluir, olhando para o futuro, como diz Aécio, não gosto da perspectiva de um Brasil presidido por um candidato que tem o apoio de Bolsonaro, RonaldoMarco Feliciano, Silas Malafaia e Levy Fidelix. Claro que Dilma também reúne a seu redor um monte de políticos das trevas, mas percebo que a nata do conservadorismo brasileiro, que apoiou o regime militar e elegeu Collor em 1989, está "fechada com Aécio". E o PMDB, que já foi um bom partido e hoje está longe disso, estará com qualquer um dos dois (alguém se surpreende?).

Enfim. Quero, sim, que haja alternância de poder, queria que fosse possível uma presidência sem blocão com o PMDB, quero que esses escândalos parem de ocorrer com todos os partidos, quero que o Brasil continue crescendo mais e mais, mas não vejo como Aécio Neves possa ser aquela alternativa que muitas pessoas pensam que é.
Concorda comigo? Compartilhe o post :D Discorda? Espero que com argumentos e com educação ;)

Fecho o post com o necessário bom humor, que acho que deve prevalecer mesmo durante discussões ou em momentos de tensão :D
paul

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A mídia estragou a oposição


Luciano Martins Costa
 
Os jornais de quarta-feira (22/10) fazem uma série de digressões na cobertura da disputa eleitoral, levando seus leitores a passear por temas paralelos, como se os editores estivessem saturados com o bate-boca que eles mesmos estimularam.
O Estado de S.Paulo aposta em manchete sobre a crise de abastecimento de água em São Paulo, o Globo destaca entrevista do ministro José Antônio Dias Toffoli, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e a Folha de S.Paulo apresenta explicações para a virada nas intenções de voto, favorável à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Como pano de fundo, os jornais registram reclamações do candidato do PSDB, o senador Aécio Neves, contra os números do Datafolha. Citando a incongruência das pesquisas realizadas na véspera do primeiro turno, que se mostraram distantes da realidade das urnas, o ex-governador de Minas Gerais fez blague da suposta vantagem de sua oponente.
Os jornais observam que os indicadores funcionaram como um balde de água fria sobre o ânimo dos eleitores da oposição. O Estado de S. Paulo insere a questão hídrica no centro das controvérsias eleitorais: o jornal paulista dá voz ao presidente da Agência Nacional de Águas, o petista Vicente Andreu, que alerta para o risco de São Paulo ter que retirar água do lodo no fundo do manancial da Cantareira.
Em defesa de seu instituto, a Folha afirma que uma onda de otimismo com a economia ajuda a explicar a reação de Dilma Rousseff nas pesquisas: nova rodada, realizada na terça-feira (21), confirma a virada da presidente sobre Aécio Neves, com 52% dos votos válidos contra 48% do tucano.
O Globo aposta em entrevista crítica com relação aos ataques pessoais que marcaram a campanha, mas, em editorial, se junta à opinião manifestada pela Folha de S.Paulo na semana passada, quanto ao problema da falta de água: o jornal carioca também admite que houve “inépcia administrativa” do governo paulista diante dos fatores climáticos previstos há muito tempo, que indicavam a insuficiência das chuvas no Sudeste.
O editorial dá um jeitinho de compartilhar a responsabilidade com o governo federal, mas reconhece que o governador de São Paulo deixou de tomar medidas preventivas que poderiam reduzir a gravidade do problema.
A trégua dos canhões
Tudo isso soa como tergiversação. O leitor e a leitora escolados na interpretação crítica do texto jornalístico hão de observar que os principais diários de circulação nacional evitam assumir publicamente a decepção que aflige as redações com a queda no desempenho de seu candidato. Aécio Neves já não parece despertar o ânimo dos editores, e as primeiras páginas dos jornais refletem a falta de um bom factoide para reabastecer a artilharia da imprensa.
Como naqueles intervalos das grandes batalhas, um pesado silêncio indica que a mídia foi buscar munições. Mas alguns colunistas, talvez por falta de sintonia com o momento reflexivo das redações, ainda atiram pedras na candidata da situação: o economista com doutorado em universidade americana, ex-diretor do Banco Central e dono de consultoria esquece seus títulos e resvala na grosseria ao afirmar que a presidente da República não lê seus textos; aliás, ele sugere que ela não lê coisa alguma.
Peças de mau jornalismo como esse artigo justificam em grande parte a percepção de alguns analistas: acomodada sob o guarda-chuva protetor da imprensa hegemônica, a oposição política aos governos do Partido dos Trabalhadores amoleceu e perdeu a fibra. Ao aceitar a tutela da mídia tradicional, o PSDB se tornou relapso em sua função de pensar o país por uma ótica diversa daquela que predomina em Brasília há treze anos. Uma colunista do Estado de S.Paulo, em texto no qual chama o ex-presidente Lula da Silva de “herói sem caráter”, diz que a oposição é tíbia e errática.
A certeza do respaldo da mídia parece ter desobrigado os pensadores da oposição de caprichar na qualidade de suas manifestações públicas, e até intelectuais antes respeitados se deixaram envolver no discurso bizarro produzido pelos pitbulls da imprensa.
Na reta final da disputa eleitoral, jornalistas, empresários e executivos com altas responsabilidades dão curso a boatos e mitos nas redes sociais para tentar influenciar os indecisos. Articulista versado em ofensas se converte em crítico da baixaria; editorial pede mais respeito aos eleitores depois de estimular a pancadaria; o cabelo da ex-ministra Marina Silva vira assunto de política.
E os jornais fingem que não têm nada a ver com o baixo nível da campanha.

(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_midia_estragou_a_oposicao)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O que leva a Folha de São Paulo publicar este artigo???

Eu tenho uma hipótese, mas vou comentá-la apenas na segunda feira, se me permitem os leitores e leitoras deste blog. Aceito sugestões, também. Lembrando que a Folha e o Estadão são tucanos desde criancinhas!

Ricardo Melo

Aécio perde batalha da verdade

Insistência do tucano em chamar de "mentiras" fatos incontestáveis derrete sua própria credibilidade
A frase atribuída ao nazista Joseph Goebbels -uma mentira repetida mil vezes se transforma em verdade- tem sido a resposta preferida do candidato Aécio Neves e sua equipe diante de críticas. O problema é quando a verdade, repetida mil vezes, continua sendo verdade, sem contraponto ou contraditório capaz de desmenti-la.
O candidato tucano construiu uma pista de pouso em propriedade familiar. A chave da mordomia ficava na mão de parentes, os quais, aliás, ele empregou aos montes. Tudo documentado. Nenhum estudo, mesmo fabricado às pressas, provou a necessidade da obra. Isso não é uma questão íntima. É dinheiro público queimado para fins pessoais. Existe uma ação em curso, por improbidade administrativa. É um fato, não depoimento selecionado de delação desesperada, desculpe, premiada.
O governo de Minas destinou uma gorda fatia de publicidade para empresas de telecomunicações dos Neves. Nem o candidato nega. É deselegante perguntar como o rapaz lida quando se encontram o público e o privado? Cabe aos brasileiros descobrir o montante, pois envolve gente disputando a Presidência. "Não registramos quanto foi gasto", respondem o tucano e seu staff.
Documentos do Tribunal de Contas de Minas Gerais apontavam suspeitas de irregularidades no governo do atual senador. A capivara foi citada durante um dos debates. Horas depois, a papelada desapareceu do site oficial do tribunal, uma instância pública (!). Tomou Doril. Sumiu. E nada se faz a respeito.
O drible no bafômetro e outros momentos pouco edificantes da rotina noturna do senador estão fartamente documentados na internet e imprensa escrita. Não são montagem, assim como não é falso o stand-up daquele artista de fim de noite que relacionou Maradona e Aécio quanto ao consumo de drogas. Hoje o mesmo personagem posa de aecista desde criancinha. Mas nunca desmentiu a performance.
Balela a história de que trazer a público tudo isso é baixaria etc, etc. Isso é falta de argumento de quem não tem resposta.
Pense bem: quantas vezes já não deparamos com indivíduos brilhantes (o que não é propriamente o caso...), mas com uma trajetória errática, que seríamos incapazes de indicar para uma função, mesmo menor, numa empresa? Não há nisso preconceito nenhum; somente o desejo de saber qual é a pessoa certa para o lugar certo.
"Ah, mas e os programas, as propostas?", indagam os puritanos habituais. Bem, todos conhecem o que pensam tanto Dilma quanto Aécio e seu braço direito, Armínio Fraga.
A primeira pelo que ela e seu partido fizeram nos últimos tempos no Planalto. Aécio, pelo que ele e sua equipe revelam em entrevistas e jantares. Coisas como corte de gastos sociais, esvaziamento de bancos públicos, encolhimento de salários, facão nas empresas, tarifaço, mudança nas leis trabalhistas e por aí vai. As tais medidas impopulares. Para ele, sem isto o Brasil vai piorar. Acredite quem quiser.
Com a campanha perto do fim, supostas regras de etiqueta surgem para esconder o essencial. Cortina de fumaça. Estão em jogo a vida e o futuro de milhões de pessoas. Elas têm todo o direito de conhecer quem pretende ocupar o cargo mais alto da República.
Pesquisas são só pesquisas. A depender delas, o PT não teria ganho no primeiro turno na Bahia e em Minas Gerais, Aécio não teria os votos obtidos em São Paulo, e o PMDB estaria fora do segundo turno no Rio Grande do Sul.
A questão não é satanizar institutos. É dar aos seus levantamentos o peso que merecem. Mais do que nunca, o primeiro turno mostrou que a palavra final é do eleitor, não de pesquisados. Da mesma forma que é patética a tática de carimbar como mentiras verdades inapagáveis, registradas em vídeo, áudio e folhas de papel.

Quanto ganha um(a) professor(a) da rede estadual mineira?


No dia 19/10/2014, a Secretaria de Educação de Minas Gerais publicou nos jornais “Estado de Minas” e “Super” e em outras mídias impressas, um comunicado oficial informando que têm sido ditas inverdades sobre o salário do professor na Rede Estadual de Minas Gerais e que, a VERDADE é que o valor real da hora/aula do professor na REEMG é de R$ 60,63.

Diante desta valiosa informação fui então verificar quanto ganha um professor da rede estadual de Minas Gerais. Vamos aos cálculos:
A carga horária semanal de um professor em Minas Gerais é de 24 horas. Multiplicando as 24 horas por 4 semanas, chegamos ao valor de 96 horas/mensais, em média. Multiplicando as 96 horas, pelo valor da hora/aula publicada pelo governo ontem, no valor de  R$ 60,63, chegamos ao valor mensal de R$ 5.820,48. Realmente um bom salário!!! Mas não é essa a realidade...

Vamos considerar então que o governo esteja falando só do pagamento em horas de efetivo trabalho em sala de aula, ou seja, das 16 horas semanais, conforme estipulada pela Lei Federal do Piso. Vamos supor que as 8 horas de planejamento, reuniões e outras atribuições do cargo, que fazem parte das 24 horas semanais, seja uma doação do professor, já que muitos acreditam que o professor deve trabalhar por amor e vocação. Então teremos 16 horas/aula semanais x 4 semanas = 64 horas/aulas mensais. Multiplicando as 64 horas/aula mensais, pelo valor da hora/aula publicada pelo governo ontem, no valor de  R$ 60,63, chegamos ao valor mensal de R$ 3.880,32. Um salário até interessante, né?!!! Mas não é essa a realidade...

O salário do professor estadual hoje, com Licenciatura Plena, é de R$ 1.455,30 para 24 horas semanais, ou seja, R$ 15,16 a hora/aula.
Se não acreditam, acessem a tabela no link a seguir ou peça um professor estadual seu contra cheque, já que as tabelas foram retiradas do site oficial. A lei que determina o subsídio atual é a Lei Estadual 21.058 de 26 de dezembro de 2013.

http://sindutemg.org.br/novosite/files/08-01-2014-peb.pdf

Bom, se o governo mente assim descaradamente com dados oficiais, tudo em nome da “verdade”, você realmente acredita que esta é a opção de mudança??? Minas Gerais viveu 12 anos de mídia amordaçada e ninguém sabia nada, e mesmo com as informações vindo à tona continuam tentando mentir, mentir e mentir.
Reflita, busque as informações, cuidado com a mídia manipulada. O Brasil inteiro não pode pagar por um erro tão perigoso.
Se você é a favor da educação pública, gratuita e de qualidade, repasse estes dados.

O que será feito do ódio e de sua linguagem?


Ao fazer um balanço crítico do ano que chegava ao fim, na perspectiva da atuação da mídia brasileira, escrevi neste Observatório, em dezembro de 2013:
“O que de mais importante aconteceu no nosso país de 2005 para cá – vale dizer, ao longo dos últimos oito anos – e se consolidou em 2013 com as várias semanas de julgamento televisionado, ao vivo, no Supremo Tribunal Federal – foi a formação de uma linguagem nova, seletiva e específica, com a participação determinante da grande mídia, dentro da qual parcela dos brasileiros passou a ‘ver’ os réus da Ação Penal nº 470, em particular aqueles ligados ao Partido dos Trabalhadores. (...) Nos últimos anos ‘mensalão’ passou a ser ‘um esquema de corrupção’ e tornou-se ‘mensalão do PT’, enquanto situações idênticas e anteriores, raramente mencionadas, foram identificadas pela geografia e não pelo partido político (‘mensalão mineiro’). Como resultado foi se construindo sistematicamente uma associação generalizada, seletiva e deliberada entre corrupção e os governos Lula e o PT, ou melhor, seus filiados e/ou simpatizantes. (...) A generalização seletiva tornou-se a prática deliberada e rotineira da grande mídia e, aos poucos, as palavras ‘petista’ – designação de filiado ao Partido dos Trabalhadores – e ‘mensaleiro’ se transformaram em palavrões equivalentes a ‘comunista’, ‘subversivo’ ou ‘terrorista’ na época da ditadura militar (1964-1985). ‘Petista’ e ‘mensaleiro’ tornaram-se, implicitamente, inimigos públicos e sinônimos de corruptos e desonestos” (ver “A linguagem seletiva do ‘mensalão’“).
Em abril de 2014, depois de visitar várias regiões do país lançando seu premiado romance K, o escritor e jornalista Bernardo Kucinski recuperou a palavra “politicídio” para descrever o que antecipou como “uma mobilização em marcha para exterminar o PT da sociedade brasileira, a começar pela sua presença no imaginário da população”.
Saul Leblon comentou na Carta Maior:
“A aspiração não é nova nas fileiras conservadoras. Em 2005, já se preconizava livrar o país ‘dessa raça pelos próximos trinta anos’. Jorge Bornhausen, autor da frase, reúne credenciais e determinação para levar adiante seu intento. (...) A verdadeira novidade é a forma passiva como um pedaço da própria intelectualidade progressista passou a reagir diante dessa renovada determinação de exterminar o PT da vida política nacional” (íntegra aqui).
Nos meses que antecederam à realização da Copa do Mundo de Futebol presenciamos a uma intensa e uniforme campanha de descrédito que celebrava o fracasso antecipado em expressões do tipo “Não vai ter Copa”. Fracasso antecipado pela incapacidade brasileira – mas, sobretudo, do governo brasileiro – de realizar um evento dessa magnitude.
Superada a Copa do Mundo, iniciou-se o ciclo eleitoral propriamente dito e recrudesceu a indisfarçável partidarização da grande mídia em níveis desconhecidos até aqui. Hegemoniza-se rapidamente, não só na grande mídia, mas também nas redes sociais, uma assustadora “linguagem do ódio” – incluindo a edição deliberada de imagens – contra os governos liderados pelo PT nos diferentes níveis da administração pública e contra petistas que os apoiam.
Talvez a característica mais forte dessa “linguagem do ódio” seja a utilização dos verbos “acabar”, “varrer”, “eliminar”, “exterminar”, “expulsar”, “aniquilar” que contamina e, em muitos casos, transita de um para outro lado da disputa, como se estivéssemos numa guerra civil em que o lado derrotado devesse ser “banido” da face da terra.
E o pós-eleições?
Há alguns anos tenho escrito sobre processos de intolerância que vêm sendo construídos e estimulados por uma grande mídia cada vez mais partidarizada e, de fato, sem compromisso verdadeiro com o processo democrático. A menos de uma semana do segundo turno da eleição para Presidência da República e para governadores de 14 estados da Federação, não é possível ignorar o nível de irracionalidade e polarização a que se chegou à disputa eleitoral.
A questão incontornável é o que será feito do ódio e de sua linguagem que vêm sendo construídos e estimulados com a participação ativa da grande mídia ao longo dos últimos muitos meses, independentemente dos resultados das urnas. Como se comportarão os oligopólios da mídia partidarizada, derrotados ou vitoriosos, depois das omissões e distorções evidentes em favor de uma das posições políticas em disputa?
Infelizmente – inclusive, levando-se em conta o comportamento da grande mídia nos estados onde haverá segundo turno também para governador – não há indícios de que a linguagem do ódio desaparecerá com a realização do segundo turno. Ao contrário.
O que é possível fazer para que se restabeleçam as condições mínimas de tolerância necessárias à convivência democrática?
A ver.
***
Venício A. Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim de Em defesa de uma opinião pública democrática – conceitos, entraves e desafios (Paulus, 2014), entre outros livros.

(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed821_o_que_sera_feito_do_odio_e_de_sua_linguagem)

A censura que vem dos aquários

Por Theófilo Rodrigues, no blog O Cafezinho:

Durante o período da ditadura civil-militar entre 1964 e 1985 a imprensa brasileira sofreu uma das épocas mais duras de censura de sua curta história. Censores nomeados pelo governo militar ocupavam permanentemente as redações prontos para dizer o que poderia e o que não poderia ser publicado naquele dia. Página infeliz de nossa história que ficou para trás. Ao menos em parte…

Com a redemocratização a imprensa brasileira conseguiu escapar dos censores militares. Mas um novo tipo de censura ainda predomina nas redações. E esse tipo de censura possui duas dimensões diferentes daquela existente no período da ditadura.

A primeira dimensão da atual censura é aquela que vem dos aquários. Para quem não sabe, no jornalismo o aquário é aquela salinha com parede de vidro onde os chefes de redação reúnem-se para definir a pauta do dia. E ai do funcionário que quiser discordar…

Um exemplo bem conhecido é o do atual jornalista da Record Rodrigo Vianna. Em 2006 Vianna recusou-se a manter a cobertura de ataque permanente a campanha de Lula feita pela Rede Globo. Foi chamado no aquário para ser demitido após suas críticas.

Mais recentemente dois casos tiveram destaque nas redes sociais. Primeiro foi Xico Sá, colunista da Folha de São Paulo que teve um artigo proibido de ser publicado por defender a candidatura de Dilma. Xico não entendeu, afinal diversos outros colunistas estavam declarando apoio a Aécio e nada lhes aconteceu.

Logo em seguida veio a notícia de que a editora de País do jornal O Globo, Fernanda Escóssia, teria sido afastada da redação por não estar criticando como deveria a Petrobras e o governo federal. A jornalista foi substituída por Luis Antonio Novais que segundo alguns blogs é uma pessoa de confiança do comando da redação para a cobertura eleitoral.

Claro, alguém poderia dizer que isso é normal. Afinal de contas a Folha de São Paulo e a Globo são empresas privadas e podem ter a linha editorial que quiserem. Só que não. Seria simples assim apenas se tivéssemos uma pluralidade e uma diversidade de jornais que garantissem uma plena liberdade de imprensa. Não é o caso. Os veículos são poucos e a informação produzida é a mesma.

Falei apenas de uma dimensão da censura. Mas ainda existe uma outra. É aquela que vem dos governos estaduais. Como todos sabem os jornais recebem financiamento através de publicidade oficial dos governos estaduais. Ocorre que a forma como se dá esse financiamento não é nada transparente. Em Minas Gerais, por exemplo, inacreditavelmente a responsável por escolher os jornais que receberiam as verbas do governo mineiro era a irmã do próprio governador, Andrea Neves.

A conclusão é simples: não haverá liberdade de imprensa no Brasil enquanto não houver transparência no financiamento público que garanta pluralidade e diversidade de informações. A liberdade de imprensa não pode ser refém de oligopólios, nem de chantagens de governos. Esse dia chegará.

* Theófilo Rodrigues é cientista político, coordenador do Barão de Itararé no Rio de Janeiro e colunista no blog O Cafezinho.
(fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/10/a-censura-que-vem-dos-aquarios.html)

sábado, 18 de outubro de 2014

Violência e barbárie no governo de Aécio em Minas

Juarez Guimarães e Neemias de Souza Rodrigues (*)

Se Marina não podia mais dizer a verdade pela mudança brusca de identidade política e pela inconsistência de suas novas posições, Aécio Neves, como uma perfeita encarnação do simulacro, tem que cada vez mentir mais para evitar a derrocada de sua candidatura. Exposta como nunca foi antes ao contraditório democrático, ela está em fuga para a frente: as evidências públicas de seu falseamento e truculência estão já espalhadas por todos os lados.

Esta fuga para a frente, como a sobrerepresentação de um ator que tem que encenar uma peça cada vez mais inverossímil, alcançou o grau máximo de falseamento no programa de televisão que Aécio levou ao ar para provar que ele é o maior defensor dos direitos do trabalho e Dilma o oposto disso. O programa foi concebido como uma “conversa franca”, um “papo reto”, como disse o candidato, com um elenco das maiores representações sindicais do país (na verdade, a parte majoritária da Força Sindical, que desde sempre apoiou FHC). Oito sindicalistas fizeram perguntas e, após as respostas do candidato que lhes chamava sempre pelo nome no sentido de denotar intimidade com o mundo do trabalho, proclamavam juras de amor, fidelidade, admiração e esperança a Aécio.

Não houve perguntas de nenhum sindicalista de Minas. E é importante saber o por que. Desde 2011, fazendo a crítica a Serra que não teve o apoio de nenhuma central sindical nas eleições de 2010, o PSDB em Minas jogou o peso do governo para criar o PSDB Sindical. Fracassou completamente: “o PSDB, por sua trajetória, não tem o “DNA trabalhista”, para favorecer seu braço sindical”, afirmou o cientista político mineiro Rudá Ricci. É certo mas é mais do que isso: o PSDB tem um DNA anti-trabalhista!

Na disputa com a CUT pela direção do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos de Minas ( Sindágua), a chapa apoiada pelo PSDB saiu derrotada. Para as eleições do Sindicato Único dos trabalhadores em Educação (SindUTE) e para o Sindieletro, o PSDB nem conseguiu formar chapa de oposição. E pior: a Força sindical perdeu para a CUT/ Intersindical o seu principal sindicato em Minas, o dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga, no Vale do Aço. Luiz Carlos Miranda, ex-presidente deste sindicato e ex-presidente da Força Sindical em Minas, foi derrotado após trinta anos e está sendo processado por corrupção, formação de quadrilha, enriquecimento ilícito e desvio de dinheiro do sindicato para a sua campanha eleitoral. O procurador do Ministério Público do Trabalho, Adolfo Jacob, acusa com 542 provas documentais o ex-presidente de vender sempre para as empresas acordos coletivos e até inserir cláusulas não aprovadas na convenção coletiva.

As oito perguntas feitas já embutiam inverdades sobre os governos Lula e Dilma e as oito respostas de Aécio replicavam promessas diametralmente opostas ao que FHC fez quando presidente e ele fez quando governador. O perguntador afirma, por exemplo, que Lula e Dilma não deram reajuste nenhum a aposentados (na verdade de junho de 2000 a janeiro de 2013, os cerca de dois terços que recebem o piso de aposentadoria do INSS receberam 349 % de reajuste e os que recebem acima do piso 143, 9 %, ambos acima do IPCA calculado pelo IBGE) e Aécio responde que reajustará os aposentados acima da inflação (segundo a presidente do Sindicato dos Aposentados e Gestores Públicos, em audiência pública na Assembléia Legislativa de Minas, em dezoito anos o reajuste das aposentadorias dos servidores estaduais foi calamitoso, de 49,9 % !).

Aécio afirma que FHC segurou a inflação (na verdade, a média da inflação de 1995 a 2002 foi de 9,1 %, sendo de mais de 12 % em seu último ano), enquanto no governo Dilma a inflação voltou a crescer de forma descontrolada ( na verdade foi em média de 6,1 % e será seguramente menor ainda este ano, apesar de toda a desvalorização do real em relação ao dólar). Aécio afirma que Dilma não construiu creches para as trabalhadoras (segundo noticiou o jornal Folha de S. Paulo de 29 de setembro, construiu 5.902 creches, quase a meta plena) e ele vai construir milhares (não construiu nenhuma quando governador). E assim por diante.

Mas a maior mentira contada pelo candidato Aécio foi a de que sempre foi um homem de diálogo com os trabalhadores.

Criminalização e ditadura

Em razão da censura praticada sistematicamente pelas grandes empresas de comunicação de Minas e do país, os brasileiros, mesmo os mais bem informados, não têm notícia do grau inacreditável de truculência e barbárie praticado pelos governos tucanos.

Um fato inusitado ocorreu em abril de 2012 quando da tentativa frustrada por decisão do juiz do Trabalho de Betim, Mauro césar Silva, da Nova Central sindical (NCST) e do PSDB promoverem um racha da base do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região. A rua onde seria tomada a decisão sobre a criação de um novo sindicato pela PSDB Sindical foi bloqueada por duas viaturas e trinta homens fortemente armados que obrigavam até os moradores a se identificarem ao entrar e saír de suas casas. Os quarteirões próximos foram fechados por viaturas, motos e cavalos. Só entrava quem apresentava aos policiais uma fita amarela. A assembléia acabou por ser declarada inválida e a criação do novo sindicato ilegal pelo juiz.

Os dirigentes do maior sindicato operário de Minas – o histórico e combativo Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem – fazem campanha salarial nas portas de fábricas com a presença permanente, hostil e agressiva da PM de Minas. Como afirmou Carlos Magno de Freitas, vice-presidente da CUT/ MG, durante uma grande manifestação contra demissões e acidentes de trabalho na Arcellor Mittal, cercada por trinta viaturas da PM, “a empresa se apropria da estrutura de segurança do Estado para reprimir os trabalhadores e isolar o sindicato”. De fato, em particular nas empresas do ramo automobilístico vinculado à Fiat, coronéis da reserva da PM prestam serviços e fazem a ponte permanente. No dia 11 de maio deste ano, ao realizarem uma greve legal, os trabalhadores da auto-peças Aethra viram o presidente do Sindicato Geraldo Valgas, Carlos Juvêncio Alves Júnior e a diretora Tânia Maria da Costa serem agredidos pelo sargento Nunes, pelo sargento Perdigão e pelo cabo José Roberto do 19 Batalhão da PM de Minas. A diretora do Sindicato, ao procurar se antepor à agressão dos militares ao motorista do sindicato, foi derrubada e teve que ser atendida no Pronto-Socorro do Hospital JK.

No quinto dia de greve dos eletricitários, o coronel Amílcar, um dos militares reformados contratados da Cemig para vigilância e repressão, agrediu o diretor do Sindicato, Jefferson Silva, após rasgar faixas do Sindieletro. Logo em seguida, dez viaturas da PM cercaram o local.

Mas a maior repressão que mobilizou todo o aparato do governo de Minas – da Polícia Militar à Polícia Civil, de promotores ao TRE, da propaganda oficial à censura imposta na mídia mineira – se desencadeou nestes anos sobre as lideranças dos professores da rede pública do estado. Esta categoria protagonizou a greve mais importante realizada em Minas nas últimas décadas, em prol de um piso salarial e denunciando o não cumprimento do investimento mínimo em educação definido pela Constituição, ganhando a batalha da opinião pública. A presidente do Sindi-Ute, Beatriz Cerqueira, tornou-se presidente da CUT e a liderança sindical mais expressiva dos mineiros.

Nestas eleições, acionado pelo PSDB que o controla de fato, o TRE proibiu a continuidade da campanha pública dos educadores em prol dos direitos públicos da educação. Até a página do sindicato na internet foi censurada! As lideranças do Sindi-Ute respondem hoje a 22 processos, a presidente pessoalmente a mais quatro e são caçadas como criminosos por dizerem publicamente a verdade. Enquanto isso, o TCE, também controlado pelos tucanos, retirou do ar os documentos que provam a veracidade da denúncia dos professores de que o governo não investe o mínimo constitucional exigido para educação e para a saúde!

“Manda torar todo mundo!”

Ao incentivar a precarização dos vínculos do trabalho, Fernando Henrique Cardoso argumentava que esta era a saída para vencer o desemprego, citando o presidente conservador da França, Jacques Chirac. E saiu exatamente de Minas, através do economista Paulo Paiva, o Ministro do Trabalho de seu primeiro mandato, encarregado de aprovar leis neste sentido. Quando presidiu a Câmara dos Deputados, Aécio Neves conseguiu aprovar o projeto de FHC que alterava o artigo 618 da CLT e deixava vulneráveis os direitos dos trabalhadores, entre eles 13 salário e férias. Antes de ser aprovado pelo senado, seu encaminhamento para aprovação final foi desativado por Lula já eleito presidente. Foi na década de noventa, exatamente no ano de 1996, durante os anos FHC, que o trabalho informal – os assalariados sem carteira e os trabalhadores por conta própria não formalizados – inverteu a sua curva de queda histórica, aumentando e chegando a 50,8 % em 2000. Isto significa que a maioria dos brasileiros ocupados não tinha o direito à jornada de 44 horas, às férias remuneradas, ao fim de semana de descanso remunerado, ao direito ao FGTS, ao auxílio-doença, ao 13 salário e ao 1/3 adicional de férias.

Em 2013, após dez anos de governo Lula e Dilma, o porcentual de empregados com carteira de trabalho atingiu o seu recorde histórico de 65,2 % do total de empregados (sem contar trabalhadores domésticos). O trabalho informal, que atingia principalmente os jovens de 16 a 24 anos, já havia sido reduzido de 62,1 % para 46,9 %.

A precarização do trabalho conduz inevitavelmente à sua degradação. Em um país como o Brasil, no qual largas parcelas da população enfrentam ainda carências básicas, a degradação leva a situações típicas de barbárie, inclusive de trabalho escravo.

É por isso que é gravíssimo o que aconteceu nestes anos de governos tucanos. Em 27 de janeiro de 2004, Antero Manica, o chamado “Rei do Feijão”, por ser um dos maiores plantadores de feijão do país, ordenou, segundo acusação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, que logo descobriu e documentou fartamente o crime, o assassinato de três fiscais do Ministério do Trabalho Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage, Erastótenes de Almeida Gonçalves e do motorista Aílton Pereira de Oliveira. Atraídos para um local deserto por uma denúncia anônima de trabalho escravo, eles foram cercados e atirados na cabeça. Segundo delação premiada do cerealista Hugo Alves Pimenta, Antero Manica teria falado “para torar todo mundo”, inconformado por receber uma alta multa por praticar trabalho escravo e ter sido o responsável pela morte de um jovem de 17 anos, morto em um silo em condições de risco.

Pois bem, Antero Manica, já acusado e processado pelo Ministério Público, resolveu se candidatar a prefeito de Unaí pelo partido do governador do estado, Aécio Neves. Foi eleito e reeleito pelo PSDB, adiando ao máximo seu julgamento e sempre fazendo recursos para instâncias superiores.

O caso se torna mais grave quando se sabe que Aécio Neves, ao contrário das candidatas Marina e Dilma, se recusou a firmar publicamente o compromisso com as propostas de erradicação do trabalho escravo apresentadas pela Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

Na verdade, é pior do que isso. Neste ano, após quinze anos de tramitação no Senado, foi aprovado a chamada PEC do Trabalho Escravo (PEC 57ª/199) , que destina territórios onde forem flagrados a prática de trabalho escravo para fins de reforma agrária ou para a construção de habitação popular. Segundo o artigo 149 do Código Penal, o trabalho escravo é definido como sendo o trabalho forçado, o servido por dívida, o exercido em condições degradantes e jornadas exaustivas. Os interesses do grande agro-negócio temem uma legislação que abra uma fronteira para reforma agrária. E, em seu nome, o senador do PSDB Aloysio Nunes, candidato a vice-presidente na chapada de Aécio, apresentou uma emenda para definir melhor o que seriam as tais “condições degradantes”, na prática travando o andamento da emenda.

Mas o caso é ainda mais grave: de acordo com o coordenador da campanha contra o trabalho escravo, frei Xavier Plassat, da CPT e premiado em 2008 pela ONG internacional Free the Slaves, Minas liderou em 2014 os casos de trabalho escravo e de trabalhadores libertados destas condições, no campo e na construção civil. E tem uma componente ainda mais grave: fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do trabalho multaram um tio de Aécio em outubro de 2009, dono da Fazenda Izabel, por abrigar 39 cortadores de cana em condições de trabalho escravo. Sim, é o mesmo tio do candidato à presidente, que possuía a chave do
hoje famoso aeroporto construído pelo governo de Minas e de uso particular na cidade de Cláudio.

Os trabalhadores de Minas já deram, em sua maioria, um não a Aécio. E à frente deles, esteve por todos estes anos esta grande lutadora, hoje perseguida e escandalosamente processada pelos poderes ligados a Aécio, Beatriz Cerqueira, presidente da CUT mineira. É ela quem nos diz: “Ninguém cala o SindiUTE. Nossa história começou na ditadura militar, há 35 anos atrás e nada nunca nos calou. O governador do estado não é dono de Minas e vamos continuar lutando”.

Este artigo é dedicado a ela.

(*) Juarez Guimarães é professor de Ciência Política da UFMG e Neemias de Souza Rodrigues é Secretário de Comunicação da CUT-MG 

(fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Violencia-e-barbarie-no-governo-de-Aecio-em-Minas/4/32024)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Imagens do por do sol na sexta feira, 290º dia do ano

Da minha varanda ainda é possível se ver belas imagens do sol e da lua...








(todas as fotos são de minha autoria)