segunda-feira, 29 de junho de 2015

Os tucanos mineiros e o roubo ao BB


Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:

Um inquérito da Divisão Especializada em Investigação de Fraudes, da Polícia Civil, que investiga o roubo de R$ 22,7 milhões de agências do Banco do Brasil em Minas Gerais por meio da empresa de transporte de valores Embraforte, em 2013, aponta uso político da Polícia Civil mineira pelo então governo do PSDB daquele estado para blindar criminosos "amigos".

O delegado Cláudio Utsch, que assumiu e concluiu o inquérito, indiciou e pediu a prisão dos donos da Embraforte, Marcos André Paes de Vilhena e seus dois filhos – Pedro Henrique Gonçalves de Vilhena e Marcos Felipe Gonçalves de Vilhena. São respectivamente irmão e sobrinhos de Renata Vilhena, chefe da Secretaria de Planejamento e Gestão, entre 2006 e 2014. Trata-se da poderosa secretária estadual do "choque de gestão" dos governos tucanos de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Ela também foi secretária adjunta de Logística e TI do Ministério do Planejamento do governo Fernando Henrique Cardoso.

"O poder de Renata esteve sempre pronto a auxiliar o irmão, e como é cediço [*], tempos atrás a Deif (Divisão Especializada em Investigação de Fraudes) fora usada para atender interesses do grupo político do qual faz parte a ex-secretária", diz o inquérito. O problema, segundo o delegado, seria interferências políticas para atrapalhar as investigações.

[*] Cediço: indiscutível, claro, notório, conhecido de todos etc. (nota da edição)

Desde que o Banco do Brasil deu queixa do roubo a investigação na Polícia Civil não andou. Só em abril deste ano o novo titular da Deif (Cláudio Utsch) assumiu o caso e concluiu a investigação, em junho.

Entre as evidências de "blindagem" dos investigados, Utsch relata o que considera manobras para atrasar a investigação, "orquestradas por meio da influência de Renata Vilhena". Uma delas teria sido tirar a investigação da Deif e levar para a Delegacia de Crimes Cibernéticos, que não tem nada a ver com as características do caso. Outra foi a retirada de peças importantes do inquérito pelo antigo delegado do caso.

A Embraforte prestou serviços de transporte de valores ao Banco do Brasil de 2006 a 2014 nas cidades mineiras de Belo Horizonte, Varginha e Passos. O Banco do Brasil descobriu uma fraude nos caixas eletrônicos abastecidos pela empresa, que colocava menos dinheiro do que declarava. Flagrados, os donos reconheceram o ocorrido mas colocam a culpa nos empregados. Estes disseram ter cumprido ordens que vinham de cima, inclusive sob coação.

O inquérito afirma que a Embraforte roubou R$ 22,7 milhões do Banco do Brasil por meio de depósitos com valores inferiores que os incluídos no sistema da empresa. O esquema foi descoberto pelo próprio banco, uma vez que as investigações pararam em algum gabinete da Polícia Civil.

Utsch pediu também o afastamento de seu antecessor nesta investigação, o delegado César Matoso, acusando-o de ter agido como um "advogado de defesa" dos Vilhena. "A autoridade policial, travestindo-se de advogado de defesa de criminosos, e em parceria com os advogados de defesa, produziu tais peças! Jamais tais oitivas poderão ser consideradas como interrogatórios de criminosos que cometeram graves crimes de colarinho branco", descreve, no inquérito.

As peças referidas são depoimentos dos investigados de forma completamente anormal e suspeita. Em vez de o escrivão taquigrafar diretamente no PCNet, sistema oficial da Polícia Civil próprio para isto, o fez num programa de edição de texto comum, como se fosse um rascunho, abrindo a possibilidade de seu conteúdo ser alterado antes de ser lavrado como o depoimento oficial. Não bastasse, o próprio delegado César Matoso fez o serviço de passar o "rascunho" para o PCNet oficial, uma atitude bastante suspeita.

A Embraforte é alvo de outro inquérito na Polícia Federal por ocorrência semelhante na Caixa Econômica Federal. Casas lotéricas deram queixa de furto de dinheiro pela empresa. Parte do dinheiro recolhido nas lotéricas pelos carros-forte não era depositada no banco de destino, apesar dos controles apontarem exatidão nas operações.

Os negócios da Embraforte não ficam apenas nos bancos públicos do Brasil. Outra denúncia contra os donos da empresa foi apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) por trabalho escravo dentro da sede da empresa. Em 2012, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego encontraram 115 empregados submetidos a jornadas extenuantes, em alguns casos com duração superior a 24 horas, e a condições degradantes de trabalho.

De certa forma, aplicavam na iniciativa privada conceitos que guardam alguma semelhança com aquilo que "choque de gestão tucano" propõe ao serviço público.
(fonte: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2015/06/os-tucanos-mineiros-e-o-roubo-ao-bb.html)

Só um idiota pode acreditar no ‘escândalo’ da UTC

por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Somos todos idiotas.
É, pelo menos, o que a grande mídia pensa.
O ridículo estardalhaço em torno das alardeadas revelações do dono da UTC ultrapassa todos os limites do descaro, da hipocrisia e da desonestidade.
Colunistas – os suspeitos de sempre –parecem fingir que acreditam nos disparates que escrevem.
Mais uma, o coro é pelo impeachment de Dilma. Dia sim, dia não, aparecem supostas novidades que levam os colunistas das empresas de mídia a gritar, histéricos, pelo fim de um governo eleito há pouco tempo com 54 milhões de votos.
O caso particular do UTC é icônico.
Todos os holofotes vão, condenatórios, para Dilma e para o PT, pelo dinheiro dado para a campanha petista.
Foram, segundo cálculos de um site ligado à Transparência Brasil, 7,5 milhões de reais.
Não é doação: é achacamento, propina, roubo.

Ninguém diz que a campanha de Aécio levou ainda mais da UTC: 8,7 milhões.
 Neste caso, não é propina, não é achaque, não é roubo. É demonstração de afeto e reconhecimento pelos dentes brancos do candidato Aécio.

E eles querem que a sociedade acredite nesse tipo de embuste.
A mídia presta mais um enorme desserviço ao Brasil com essa manipulação grosseira e farisaica.
Você foge do real problema: o financiamento privado de campanhas, a forma como a plutocracia tomou de assalto a democracia.
É um problema mundial, e não apenas brasileiro. Dezenas de países já trataram de evitar que doações de grandes empresas desvirtuem a voz rouca das ruas e das urnas.
No Brasil, a mídia não trata desse assunto, em conluio com políticos atrasados e guiados pelo dinheiro, porque se beneficia da situação.
Nem o mais rematado crédulo compra a história de que as doações empresariais são desinteressadas.
A conta vem depois do resultado, na forma de obras ou leis que beneficiam os doadores.
Veja os projetos de Eduardo Cunha, para ficar num caso clássico, e depois observe as companhias que o têm patrocinado.
Em alguma publicação, li até uma lição de moral na forma como o PT teria abordado o dono da UTC para pedir dinheiro para a campanha de Dilma.
A abordagem não teria sido “elegante”.
Imagina-se que quando o PSDB solicita dinheiro seja coisa de lorde inglês, pelo que pude entender: ninguém fala em dinheiro, ninguém toca em dinheiro. É como uma reunião social, entre amigos, em que o dinheiro é a última coisa que importa.
Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.
Outro crime jornalístico que é cometido é dar como verdadeiras quaisquer coisas ditas nas delações, como se elas estivessem acima de suspeita.
Quer dizer, esse tratamento só vale contra o PT. Quando se trata dos amigos da mídia, aí sim entram as ressalvas. Há que investigar, provar etc – coisas que absolutamente não valem para o PT.
Que a imprensa, movida pelo interesse de seus donos, aja assim, até que você pode entender.
O que não dá para aceitar é que a justiça faça a mesma coisa, e com ela a Polícia Federal.
Porque aí você subverte, por completo, o conceito de justiça, e retrocede aos tempos de João VI no Brasil.
Sua mulher, a rainha Carlota Joaquina, mandou matar uma rival no amor.
Dom João pediu investigação rigorosa.
Quando chegaram a ele os resultados do trabalho, com Carlota Joaquina comprovadamente culpada da morte, ele refletiu, refletiu – e queimou os documentos que a incriminavam.
Aquela era a justiça, e esta nossa não é muito diferente quando se trata da plutocracia.

Reforma política






Antônio de Paiva Moura

            No final do regime militar o governo tratou de prevenir contra o desmoronamento da democracia liberal capitalista. Tratou de evitar reformas estruturais, políticas, sociais e econômicas depois da chamada abertura política. No final da década de 1970 o ministro da agricultura, Alysson Paulinelli, encontrou-se com o prefeito municipal de Diamantina, João Antunes de Oliveira. O ministro recomendou ao prefeito fazer um empréstimo ao BEMG, Banco do Estado de Minas Gerais, para financiar campanha de candidatos de partidos que apoiavam o governo (ARENA, PDS e PFL). João Antunes respondeu a Paulineli que não iria fazer tal coisa, porque depois da campanha, não teria como pagar o empréstimo. Paulinelli disse a João Antunes que não teria que pagar nada ao banco, pois era um financiamento de campanha com nome de empréstimo, tomado de um banco público. O prefeito disse ao ministro que aquilo era uma prática imoral e que ele jamais o faria. O ministro contra-argumentou dizendo que tudo que se fizesse para impedir que as alas contrárias ao regime militar chegassem ao poder, seria válido. Na verdade, aqueles partidos já se encontravam em declínio, exatamente por serem contra as políticas sociais. Mais tarde, para privatizar o BEMG, Eduardo Azeredo, com recursos públicos, quitou todas essas dívidas contraídas por seus correligionários. 

            Apesar da Constituição de 1988 ter avançado nas garantias sociais, o sistema político não foi alterado.  Prevalece o pluripartidarismo com grande número de pequenos partidos. O financiamento dos pequenos partidos de forma mista (público e privado) permite a prática do caixa dois. Essa prática ilegal não se limita a financiamento de campanha, mas a um posterior e contínuo entesouramento de facções políticas. 

            Nenhum partido político tem vida duradoura. Os partidos comprem um papel histórico e morrem. Em seus lugares surgem outros mais atualizados e mais coerentes. “Tudo que é sólido dissolve no ar”. Tudo se transforma: é a lei da dialética. Da luta dos contrários surge uma nova situação. Os grandes partidos que se encontram atuantes no cenário político brasileiro, surgiram da luta entre os apoiadores e os contrários ao regime militar. As manifestações de rua caracterizadas de 15 de março de 2015, caracterizadas com “terceiro turno”, trouxeram à tona, as cicatrizes das lutas da década de 1980. O declínio de ARENA, PDS e PFL foi em consequência de suas posições contrárias aos direitos trabalhistas, preconceitos contra as classes subalternas; contra os marginalizados do sistema econômico; contra a pobreza e contra as minorias raciais. Agora, os espectros desses preconceitos rondam o poder judiciário, o poder legislativo e a mídia conservadora brasileira.

            O projeto de reforma política em tramitação no congresso tem duas faces: A primeira é a proposta de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, com base no financiamento privado de campanha e voto facultativo. A outra face é a proposta da coalizão pela reforma democrática, com base em financiamento público e voto em lista. A proposta de Eduardo Cunha representa o interesse da continuidade na formação das bancadas no Legislativo e na ocupação dos altos cargos no Executivo. A proposta da coalizão representa o desejo de afastar a plutocracia do poder e diminuir o poder dos partidos, valorizando a democracia direta e o controle social. 

            A lógica da governabilidade a qualquer custo obriga os governantes a pagarem um custo político brutal. A situação se torna insustentável quando os partidos voltados para as classes subalternas vencem as eleições ao Poder Executivo. Acabam perdendo sua identidade construída quando na oposição, como é o caso do PT. O desgaste e a deterioração do PT redundam em uma perda da cultura política do país. Mas o cântico de réquiem entoado pela nova TFP (Tradição Família e Propriedade) ao PT é impróprio e inoportuno. Mesmo que o partido deixe o Poder Executivo, a história de seus feitos não será apagada.

domingo, 28 de junho de 2015

Tribunal de Contas de Minas paga diárias para conselheiro estudar no exterior

Se até o vetusto e conservador Estado de Minas critica, imagina o que rola no TCE...



O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais aprovou, no dia 10 de setembro do ano passado, a resolução 14/2015 que estabelece o pagamento de diárias para os conselheiros que quiserem fazer cursos no Brasil e no exterior. Os valores são polpudos. Para cursos no país, eles têm direito a receber, além da remuneração mensal, no valor de R$ 26,5 mil, diárias livres – sem a necessidade de apresentação de notas de despesas – no valor de R$ 600. Para viagens internacionais, o valor salta para US$ 400 ou R$1.240, segundo cotação dessa quarta-feira (24). Em março, o Estado de Minas revelou, em reportagem exclusiva, que os conselheiros receberam, entre salários, benefícios conquistados judicialmente e penduricalhos, mais de R$ 150 mil em janeiro.

Entre os agraciados com esses vencimentos elevados no fim do ano está o atual vice-presidente do TCE-MG, Claúdio Couto Terrão, que na época recebeu R$ 101 mil. Ele foi um dos primeiros integrantes da corte contemplados pela resolução que estabeleceu a autorização para cursos no exterior com direito a pagamento de diárias. Terrão foi autorizado no dia 1º de setembro a se ausentar do Brasil para estudar em Lisboa pelo período de quase um ano (de 26/9/2014 a 15/09/2015).

Nove dias depois, os mesmos conselheiros editaram a resolução que estabeleceu o pagamento das diárias para cursos no exterior, mas só publicou no fim do mês, no Diário Oficial de Minas Gerais, a autorização para o conselheiro se ausentar para fazer o curso. O texto da autorização é enxuto e não informa se ele tem direito a diárias durante todo esse período. Caso esteja sendo pago o benefício por cada dia de permanência no exterior, Terrão estaria recebendo cerca de R$ 37 mil por mês só com as diárias.

Procurado pela reportagem, o TCE-MG informou apenas que as diárias são previstas na resolução, que Terrão foi autorizado pela corte a se ausentar e que as “despesas com pessoal estão disponíveis no Portal do TCE-MG na internet”. No entanto, no portal não há detalhamento de diárias na folha de pessoal. No portal da Transparência do governo de Minas, Terrão recebeu em outubro R$ 14.709,44 em diárias para a “fiscalização da execução de recursos públicos”. Neste ano, não apareceram gastos. O TCE-MG não informou se o conselheiro terá direito a diárias durante esse quase um ano de afastamento, quanto já foi pago e se elas são quitadas integralmente ou mensalmente. Também não respondeu se a resolução alcança outros servidores, já que o texto é dúbio e não deixa claro se vale somente para conselheiros e conselheiros substitutos. Em página recém criada na rede social Facebook, Terrão afirma estudar “Direitos fundamentais” na Universidade de Lisboa.

(fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/06/25/interna_politica,661475/fortuna-em-diaria-do-tce.shtml?ref=yfp)

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Entidades da advocacia dizem que Moro pune quem pensa diferente dele

Conjur

O Instituto de Defesa do Direito de Defesa, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e o Movimento de Defesa da Advocacia declararam nesta quinta-feira (25/6) que o juiz federal Sérgio Fernando Moro usa a prisão preventiva “para penalizar a livre manifestação de pensamento divergente do seu”.

As entidades divulgaram nota com críticas a uma decisão proferida na última quarta (24/6), quando o juiz decidiu manter atrás das grades Alexandrino de Salles Alencar, apontado por delatores da “lava jato” como operador de um esquema criminoso que fraudaria contratos da Petrobras. Ele atuaria representando a petroquímica Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht.

Em seu despacho, Moro disse que a Odebrecht publicou comunicados em veículos de comunicação para “confundir” a opinião pública. O texto “apenas reforça a convicção deste juízo acerca da necessidade, infelizmente, da prisão preventiva”, pois a empreiteira “não tem qualquer intenção de reconhecer a sua responsabilidade pelos fatos, o que seria um passo necessário para afastar o risco de reiteração das práticas criminosas”, escreveu o juiz.

Para o IDDD, o IBCCRIM e o MDA, “causa perplexidade que, em pleno caminhar das investigações, o juiz que ainda deverá sentenciar os investigados já se mostre convencido de uma versão, e, pior, tome como afrontosa qualquer manifestação cujo conteúdo contrarie sua convicção”. “Triste do país que precisa lançar mão de ataques tão violentos ao Estado de Direito para combater males que historicamente nos assolam, como a corrupção”, dizem as entidades.

Leia a íntegra da nota:

O Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCRIM e o Movimento de Defesa da Advocacia – MDA vêm a público repudiar a decisão da Justiça Federal do Paraná desta quarta-feira que decretou prisão preventiva de investigado com fundamento em comunicado feito à imprensa no qual a empresa onde ele trabalhava oferece sua versão dos fatos.

Na decisão, o juiz expressamente afirma que o comunicado “apenas reforça a convicção deste Juízo acerca da necessidade, infelizmente, da prisão preventiva pois a Odebrecht, com todos os seus amplos e bilionários recursos e com equivalente responsabilidade política e social, não tem qualquer intenção de reconhecer a sua responsabilidade pelos fatos”.

Causa perplexidade que, em pleno caminhar das investigações, o juiz que ainda deverá sentenciar os investigados já se mostre convencido de uma versão, e, pior, tome como afrontosa qualquer manifestação cujo conteúdo contrarie sua convicção.

Não satisfeito, ainda usa métodos coercitivos, como a prisão, para penalizar a livre manifestação de pensamento divergente do seu.

Parece importante lembrar as palavras do ministro Celso de Mello, de que “o juiz há de ser um estranho ao conflito” (STF, HC 95009, Órgão Pleno), sobretudo quando a causa ainda se encontra em plena fase investigatória.

Triste do país que precisa lançar mão de ataques tão violentos ao Estado de Direito para combater males que historicamente nos assolam, como a corrupção.
(fonte: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Entidades-da-advocacia-dizem-que-Moro-pune-quem-pensa-diferente-dele/4/33837)

MPF acusa desvios de R$ 14 bilhões na saúde em Minas


Texto escrito por José de Souza Castro:
O Ministério Público Federal (MPF) em Minas informou nesta quinta-feira, 25 de junho, que entrou na Justiça com ação civil pública contra o Estado por descumprimento da Emenda Constitucional 29/2000 que tornou obrigatória a aplicação de no mínimo 12% do orçamento estadual em ações e serviços de saúde pública. O descumprimento teria ocorrido entre 2003, primeiro ano do governo Aécio Neves (PSDB), e 2012, segundo ano de Antonio Anastasia (PSDB), e o montante não aplicado ultrapassaria R$ 14 bilhões, em valores de hoje.
Não é a primeira vez que se fala em desvios de recursos da saúde em Minas. E nem a primeira ação contra isso. Em dezembro de 2010, o Ministério Público Estadual entrou com ação de improbidade administrativa contra o governador Aécio Neves e a contadora geral do Estado, Maria da Conceição Barros Rezende. O MPE alegou fraude contábil, ao incluir na prestação de contas investimento de R$ 3,5 bilhões em saúde, entre 2003 e 2008, que teria sido feito pela Copasa. Segundo a promotora de Justiça de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, tal investimento não foi feito e, mesmo que fosse, não poderia ser classificado como aplicação em saúde.
Aécio Neves entrou com recurso para extinguir o processo. Alegou que o MPE não teria competência para entrar com a ação, pois apenas o Procurador Geral do Estado poderia propor ações contra o governo estadual.
Em abril de 2012, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidiu que o MPE podia sim, pois Aécio não era mais governador – ele havia se desincompatibilizado no dia 31 de março de 2010 para ser candidato ao Senado, sendo substituído pelo vice, Antonio Anastasia. Além disso, os desembargadores reconheceram que a denúncia era correta, pois existiam indicativos suficientes de desacato à exigência constitucional de investimento de 12% em saúde.
Devido à decisão do Tribunal, o processo continuou tramitando na 5ª Vara de Fazenda, onde, em 29 de janeiro de 2014, o juiz Adriano de Mesquita Carneiro extinguiu o processo. Na época, Aécio era provável candidato tucano à Presidência da República. Em junho, seu nome foi confirmado pelo diretório do PSDB. Antes de se decidir pela extinção, Mesquita Carneiro intimou o procurador-geral de Justiça, Carlos Bittencourt, a se manifestar, e este desistiu da ação.
Também não é a primeira vez que o Ministério Público Federal em Minas entra com ação contra o governo mineiro por desobediência à Emenda Constitucional 29/2000. Em dezembro de 2003, o MPF recomendou ao governador Aécio Neves a inclusão, na proposta orçamentária para o ano seguinte, de recursos necessários para cumprimento do mínimo constitucional, “até porque já haviam sido incluídas na rubrica do SUS despesas sem nenhuma relação com a saúde, como pagamento de precatórios, sentenças judiciais, encargos previdenciários, gastos com Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, etc.”, como se lê na nota divulgada ontem pelo Ministério Público Federal à imprensa. Entre 2000 e 2002, não foram aplicados mais de R$ 665 milhões, acrescentou o texto.
A recomendação foi ignorada pelo governo de Minas. Por isso, em março de 2004, o MPF entrou com ação civil pública pedindo a suspensão do repasse dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), conforme o artigo 160 da Constituição. Em agosto de 2007, a Justiça Federal acatou os argumentos do MPF e bloqueou o repasse de R$ 376 milhões por descumprimento da obrigação de aplicação do mínimo constitucional. A sentença ressaltava que nenhuma despesa pode ser considerada como destinada a ações e serviços públicos de saúde, se não apresentar os atributos de universalidade, igualdade e integralidade. Mas no mês seguinte, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região concedeu efeito suspensivo à sentença, em caráter liminar, e liberou o repasse a Minas. Desde então, o mérito do recurso espera julgamento.
Espera-se que a nova ação civil pública do MPF encontre no Judiciário uma via mais desimpedida. Na imprensa mineira, foi o que se viu nesta quinta-feira nos portais de três jornais diários da capital. No portal de O Tempo, a notícia teve 1.603 palavras, em 138 linhas. No do Estado de Minas foram 314 palavras e 27 linhas. E no Hoje em Dia, 463 palavras e 33 linhas, mas, ao contrário dos outros dois, sem presença maior na sua página inicial.
Nada que se compare ao espaço dado, em todos eles, quando o processo contra Aécio Neves foi extinto pelo juiz Mesquita Carneiro, no primeiro mês de um ano eleitoral, após criteriosa desistência do procurador-geral Carlos Bittencourt. O suficiente, porém, suponho, para que se pincelasse no rosto de Josely um leve sorriso à Mona Lisa.
(fonte: blog da KikaCastro)

Para velhos jornais, crime de sonegação não é notícia



Por que a mídia dá tão pouco destaque à Operação Zelotes, que flagrou fraudes fiscais de mega-empresas? Que interesses levam editores, em certos casos, a não cobrar Judiciário?
Por Luís Humberto Rocha Carrijo, editor do Rapport Comunica

O escândalo do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais — Carf –, que pode superar 19 bilhões de reais, recebe uma cobertura muito acanhada da imprensa brasileira, apesar de sua magnitude e implicações de toda ordem. Dentro do ponto de vista jornalístico, não há nada que justifique um tratamento tão desinteressado e desatento por parte das redações. Ao contrário, os vultosos desvios de recursos da Receita, com a participação de personagens graúdos do PIB nacional (bancos e empresas, boa parte, grandes anunciantes), fundamentam os princípios do que é notícia, pelo menos em veículos que praticam jornalismo em sua mais ampla definição — corajoso e isento, dedicado a informar a população.

Inúmeros fatos novos, que merecem uma investigação jornalística profunda, recebem, ao contrário, coberturas episódicas. A imprensa ignora que há o risco de a investigação não chegar a um resultado efetivo. Em operações de caráter semelhante, essa fase já teria resultado em prisões preventivas, por exemplo. A mídia ignora também a inexplicável morosidade do Poder Judiciário, que não autoriza medidas invasivas, a fim de levantar provas contra a corrupção. Dentro dos critérios puramente jornalísticos e de interesse da sociedade, o que diferem os escândalos de corrupção envolvendo políticos, como a Operação Lava Jato, daqueles que atingem apenas empresas, como a Operação Zelotes?

A literatura de comunicação de massa é pródiga em episódios que mostram a imprensa interferindo até em resultados judiciais. Do outro lado da moeda, outros atores atuam com a intenção de esvaziar o “buzz” dos eventos. Há casos de a administração pública agir privando as redações de conteúdo sobre fatos, até levá-los ao esquecimento com a inanição de dados e novidades. No Brasil, é a ausência deliberada de notícias sobre certos temas, como sobre crimes tributários, que leva à inação da Justiça e à consequente impunidade dos envolvidos. Como não é incomodado pela imprensa, o Judiciário continua pouco comovido com o bilionário prejuízo causado por grandes empresas aos cofres públicos. A imprensa, com essa atitude, torna-se cúmplice e comete uma fraude contra sua audiência, tomando empresado a frase do proeminente jornalista Peter Oborne sobre a postura do Daily Telegraph em relação à cobertura noticiosa do Swissleaks.

Enquanto na Suécia os jornais colocam a ética até mesmo acima das leis, no Brasil seus pares usam seu poder seletivo para cobrir fatos conforme interesses políticos e financeiros. A imprensa brasileira, nesse sentido, continua primitiva e longe dos ideais do que seja uma mídia livre e imparcial. O grave é que os veículos passam ao público a percepção de que são fiscais da sociedade, preocupados com o bem-estar e a lisura. Um ato sofisticado de cinismo.

As redes sociais ainda estão longe de ter a força e a influência para mobilizar a sociedade em torno de assuntos áridos. A ação conjunta e contínua de veículos alternativos e blogs de contestação mostra-se, por enquanto, incapaz de provocar uma reação popular e em rede em condições de mudar o estado das coisas. A população reage na medida proporcional em que é vítima direta, aguda, constante, objetiva e simplificada da opressão e da carência. As pessoas, no Brasil, pobres de educação política e leitura, não conseguem fazer conexões tão distantes e complexas.Ou seja, se não está na grande imprensa, é como se não existisse.

Por também serem “invisíveis” para a imprensa, sofrem do descaso público as parcelas mais vulneráveis da sociedade, que saem às ruas em movimentos reivindicatórios por acesso aos bens sociais. Mas como as mobilizações se dão na periferia, longe dos olhos da classe média e da elite, elas são ignoradas pela imprensa, deixando o Estado em situação confortável para manter seu desprezo pelas camadas populares.
(fonte: http://outraspalavras.net/destaques/para-os-velhos-jornais-crime-de-sonegacao-nao-e-noticia/)

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A Câmara legisla sobre minhas “partes”? Não? Então, parem de encher o saco…

por Fernando Brito

Francamente, esta audiência na Câmara para discutir se existe “ex-gay” é uma dos espetáculos mais ridículos que o Brasil apresenta ao mundo.
Não tenho notícia que, em qualquer ponto da Terra um parlamento esteja discutindo esta questão. Talvez lá no Isis, enquanto estão discutindo a quem degolam, mas lá não tem parlamento…
O que é que suas excelências têm a ver com o que cada um faz, deixa de fazer, torna a fazer, desiste de fazer ou teima em fazer com suas “partes pudendas”?
Nem eu nem você pagamos os deputados para dizerem quem dá o que a quem.
Não existe nenhuma outra questão em relação às orientações (ou opções, como querem os conservadores) sexuais que se liguem ao interesse coletivo que não o respeito, a não-discriminação e a proteção legal e estatal a quem for vítima de violência ou de preconceito.
Se alguns pastores querem “salvar a alma” de gays e lésbicas da danação, estejam à vontade, desde que as pessoas queiram. Mas façam como pastores, não como deputados, porque o legislador a todos obriga com suas leis, e não há obrigação possível na sexualidade alheia.
Não concordo em muitas coisas, como concordo, com o Jean Willys porque ele é gay, mas porque penso semelhante nestas questões. Nem discordo do Bolsonaro por suas propaladas convicções de “macho”, mas porque ele é um sujeito reacionário e truculento.
Até porque ninguém vai interferir com as minhas ou as suas “partes”.
E não perturbar o muito – embora não tudo – o que vínhamos avançando em matéria de convivência e  respeito.
O que se tem de dizer, sempre, é que ninguém pode ser discriminado, maltratado, agredido ou até morto, como ocorre, por ser gay, hetero, mulher,  negro, branco, candomblecista, mórmon, budista  ou lá o que for. Não pode ser porque é um ser humano, essencialmente igual a mim ou a você.
Homofobia, como toda fobia, essa tem cura pela razão, não pela provocação.
No mais, lembro de um imbecil que, nos tempos de faculdade, resolveu fazer gracinha com o “Barbosinha”, um colega gay de outra turma. Colocou no mural da escola uma provocação que envolvia “robalos”. Barbosinha nem discutiu. Na primeira reunião pública em que o dito cujo foi, deu-lhe um murro caprichado – daqueles de um só – na cara diante de todo mundo.
Que me perdoem os “politicamente corretos”, mas bons tempos aqueles em o nariz que se metia nas intimidades alheias levava um corretivo destes.
Até porque ninguém vai interferir com as minhas ou as suas “partes”.
E não perturbar o muito – embora não tudo – o que vínhamos avançando em matéria de convivência e  respeito.
O que se tem de dizer, sempre, é que ninguém pode ser discriminado, maltratado, agredido ou até morto, como ocorre, por ser gay, hetero, mulher,  negro, branco, candomblecista, mórmon, budista  ou lá o que for. Não pode ser porque é um ser humano, essencialmente igual a mim ou a você.
Homofobia, como toda fobia, essa tem cura pela razão, não pela provocação.
No mais, lembro de um imbecil que, nos tempos de faculdade, resolveu fazer gracinha com o “Barbosinha”, um colega gay de outra turma. Colocou no mural da escola uma provocação que envolvia “robalos”. Barbosinha nem discutiu. Na primeira reunião pública em que o dito cujo foi, deu-lhe um murro caprichado – daqueles de um só – na cara diante de todo mundo.
Que me perdoem os “politicamente corretos”, mas bons tempos aqueles em o nariz que se metia nas intimidades alheias levava um corretivo destes.

(fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=27786)

Colunista da Folha desmonta farsa de Moro


Leia trecho da coluna de Ricardo Melo, publicada hoje na Folha: (nota: hoje se refere ao dia 21)



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Mandar prender alguém por causa de uma licitação que ainda sequer aconteceu? E depois a ditadura é na Venezuela…
Imagine se o Estado venezuelano começasse a prender os grandes empresários do país usando os mesmos argumentos de Sergio Moro?
O país seria invadido pelos EUA, com aval da ONU.
***

Melo também desmascara a farsa das “pedaladas fiscais”.
Afinal, o TCU quer punir Dilma por algo que todos os presidentes anteriores fizeram, e que apenas “se acentuou” porque os programas sociais aumentaram? Quer punir Dilma por ter ajudado os pobres?



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(fonte: http://www.ocafezinho.com/2015/06/22/colunista-da-folha-desmonta-farsa-de-moro/)

França diz que espionagem americana de três presidentes é “inaceitável”



O governo francês considerou nesta quarta-feira (24/06) “inaceitável” a revelação de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) espionou os últimos três presidentes da França. O chanceler Laurent Fabius convocou o embaixador americano em Paris, Jane Hartley, para discutir o assunto.
Documentos divulgados na terça-feira (23/06) pelo WikiLeaks mostram que Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o atual presidente, François Hollande, foram alvos de grampos da agência entre 2006 e 2012. Diplomatas e chefes de gabinete próximos aos três chefes de Estado também foram espionados.
Um alto funcionário francês da agência de inteligência nacional será enviado a Washington para discutir o assunto com as autoridades americanas. Em nota, Hollande afirmou que não vai tolerar qualquer ato que ameace a segurança e a proteção dos interesses franceses.
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“As autoridades americanas firmaram compromissos”, diz, em referência às promessas da Casa Branca feitas em 2013 de não espionar governantes franceses. “Eles [os compromissos] precisam ser lembrados e estritamente respeitados.”
O comunicado do Palácio do Eliseu foi divulgado depois de uma reunião emergencial entre ministros e comandantes das Forças Armadas da França nesta quarta-feira.
“É difícil entender ou imaginar o que motiva um aliado a espionar outros aliados que sempre tomam as mesmas posições estratégicas em assuntos internacionais”, afirmou o porta-voz do governo francês, Stéphane Le Foll. “Essa ação não é aceitável nem compreensível.”
Claude Gueant, ex-chefe de gabinete de Nicolas Sarkozy, apontado no relatório como um dos alvos da NSA, afirmou que houve uma grave quebra de confiança. “Considerando a relação muito próxima que temos com os EUA e o fato de que somos aliados extremamente fiéis, me sinto como se a confiança tivesse sido quebrada”, afirmou.
A Casa Branca se pronunciou ainda na noite de terça-feira e negou que os EUA tenham espionado Hollande. “Não temos e nem vamos ter como alvo as comunicações do presidente Hollande”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Ned Price.
Ele não negou, porém, que o país não tenha espionado outros líderes franceses no passado. Os relatórios da NSA, classificados como “top secret“, trazem o conteúdo de cinco interceptações de comunicações envolvendo os três presidentes franceses.
Entre os documentos vazados está uma conversa interceptada pela NSA em março de 2010 entre o embaixador da França nos Estados Unidos e um assessor do então presidente Sarkozy. Eles comentam a tentativa frustrada dos franceses de chegar a um acordo de não espionagem com Washington.

(fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/franca-diz-que-espionagem-americana-de-tres-presidentes-e-inaceitavel/)

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A geopolítica do Departamento de Justiça dos EUA

Por Andre Araújo

Tenho alergia a imodéstia e exibicionismo, mas fui aqui desafiado por um comentarista como "ignorante do que se passa nos Estados Unidos". Minha ligação com esse país é profunda. Minha mãe estudou toda sua infância e juventude nos EUA, voltou a São Paulo, onde nasceu e não falava português. Tenho cinco primos irmãos americanos natos, tenho sobrinhos americanos, cunhado americano.  Eu, recém nascido, fui alimentado com leite em pó do governo americano, meus pais foram dos primeiros brasileiros a organizar a Rubber Reserve Company em Manaus, autarquia do governo americano para comprar borracha, a companhia tinha um supermercado abastecido diariamente por voos de Miami, em Manaus nessa época o abastecimento era bem precário e o supermerado dos funcionários era a salvação. Muito depois fui executivo e CEO de multinacional americana nos anos 70 e de lá para cá trabalho praticamente só com americanos, governo, partido e empresas. Portanto conheço um pouco os EUA, especialmente seu governo e instituições.

Os EUA tem instituições muito sólidas, é um país que obedece regras. Mas há um outro aspecto. Os EUA tem PROFUNDA noção de interesse nacional. Esses, quando necessário, se sobrepõe às regras e aos princípios. A celébre frase de Roosevelt sobre Anastasio Somoza, ditador da Nicarágua:"Esse é um filha da puta (literal) mas é o NOSSO filha da puta" revela esse sentimento.

Na América Latina, os EUA patrocinaram ditadores execráveis como Somoza, Rafael Trujillo, François Duvalier, Gerardo Machado (Cuba), Fulgencio Baptista (Cuba), Juan Vicente Gomez e Marcos Pérez Jiménez (Venezuela), Rojas Pinilla (Colombia), Manuel Odria (Peru), Rios Montt (Guatemala), Carlos Castillo Armas (Guatemala), Manuel Noriega (Panamá), fizeram sempre com base no interesse nacional americano. Por esse mesmo interesse apoiaram Saddam Hussein,  Hosni Mubarak, a dinastia Ibn Saud, Ferdinand Marcos (Filipinas), Ngo Diem (Vietnam), Generalíssimo Chiang Kai Shek, o maior corrupto do Século XX, na China.

Eu fico pasmo na questão da Lava Jato em se descartar a QUESTÃO POLÍTICA ao recorrer ao Departamento de Justiça dos EUA para investigar a Petrobras e agora investigar a Odebrechtcomo se o D of J fosse a Santa Sé impoluta (nem essa é) a operar com absoluta neutralidade em uma questão tão próxima ao interesse americano. Comentaristas aqui acham isso normal. Eu acho uma aberração. Os EUA, e eu não os censuro por isso, não seriam uma potência mundial se fossem bonzinhos. NÃO SÃO. Ao entregar de bandeja PETROBRAS e ODEBRECHT para eles investigarem, estamos abrindo mão de capital estratégico nacional."Ah, mas temos acordos de cooperação entre os Ministerios Públicos". E daí? Os acordos são para serem usados quando interessa ao Brasil, nesse caso não interessa. Com base nesse "Acordo de Cooperação" o Departamento de Justiça pediu ao Brasil para investigar a Chevron? Claro que não. Esses acordos foram pensados para combate ao crime de tráfico, terrorismo, contrabando, a idéia não é perseguir empresas, os EUA nunca pediram ao Brasil para investigar uma empresa americana.

Lá não tem Santelmos mas aqui parece é o que não falta.

fonte:  http://jornalggn.com.br/noticia/a-geopolitica-do-departamento-de-justica-dos-eua

terça-feira, 23 de junho de 2015

Educar imparcialmente, um desejo intolerante




Medo da política nas escolas, expresso no programa “Roda Viva” e num projeto de lei, não tem a ver com parcialidade, mas com temor a opiniões divergentes
Por Diogo Quirim

O programa Roda Viva, apresentado pela TV Cultura em 8 de junho, entrevistou o atual Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Próximo ao fim do programa, João Gabriel de Lima, diretor de redação da revista Época, após traçar críticas à crescente radicalização e polarização na política brasileira, perguntou: “Por que PT e PSDB mantêm o debate público em um nível tão baixo?”. Ainda: “O que a educação pode fazer para ensinar o convívio dos contrários?”.
O ministro, prontamente, respondeu que, para melhorar o debate político, deve-se considerar democracia e educação como termos equivalentes, em que é necessária uma formação para o respeito do outro. Augusto Nunes, o apresentador do programa, por sua vez, lançou uma questão polêmica: “O ensino de história não estimula essa radicalização [política]?”. Deixo a pergunta em suspenso.
* * *
A resposta de Janine Ribeiro foi bastante razoável, afirmando ser a falta de educação e de formação os principais elementos estimulantes da radicalização, embora seja possível encontrar, em nível universitário, pessoas mal-educadas em todos os sentidos do termo, incapazes de respeitar as diferenças. No entanto, permito-me retornar a um momento anterior da entrevista.
No segundo bloco, a socióloga Maria Helena Castro indagou o ministro sobre a visão do ministério da Educação acerca de uma nova base curricular nacional, especialmente no Ensino Médio. Em sua resposta, o ministro sublinhou a existência de diferentes contextos nas variadas disciplinas, opondo a matemática à história. Afirmou o ministro que, para a matemática, existe grande facilidade na determinação de uma base curricular comum, abordando tópicos consagrados como geometria e equações de segundo grau.
Para disciplinas como a história, no entanto, essa facilidade seria ilusória. Relembrando seus tempos de “ginásio”, contou que o currículo de história dividia-se pelos três anos por temáticas, como História do Brasil, História da América e História do Mundo, o que considerou equivocado. Além disso, lembrou-se de uma tradição no ensino de história de não se chegar até o tempo presente, pois este é um tempo de grandes conflitos políticos. Isso me leva a alguns questionamentos. Por que é mais fácil estabelecer uma base curricular comum para a matemática do que para a história? Qual o receio em abordar os “conflitos políticos” do tempo presente? Não existiriam, também, conflitos políticos na matemática, assim como na história?

* * *
Talvez Marcel van Hattem, deputado estadual pelo PP-RS, pensasse algo em comum com a pergunta de Augusto Nunes sobre o estímulo do ensino de história para a radicalização política ao protocolar o projeto de lei nº 190/2015. Inspirado na ONG Escola Sem Partido, tal projeto visa proibir aquilo que ele chama de “doutrinação política e ideológica” no sistema de ensino estadual. Um trecho que enfatizo é o Art. 3º, inciso IV. Este propõe ao professor que, no exercício de sua função, “ao tratar de questões políticas, sócio-culturais [sic] e econômicas, apresentará aos alunos, de forma científica e imparcial, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”.
Sem analisar cuidadosamente o projeto, repleto de equívocos, gostaria de me deter na “forma científica e imparcial” de tratar questões políticas, socioculturais e econômicas.
Viver é parcial. Nossos atos são uma escolha entre muitas possíveis. Somos constituídos de experiências individuais que não são compartilhadas por mais ninguém. Somos uma trama de cultura, nação, língua, convicções, emoções, memórias, opiniões, entre inumeráveis outras particularidades, situadas em um momento no tempo e no espaço, das quais não nos despojamos completamente ao fazer ciência e ao ensinar. O que não significa que não possamos ter, sobre elas, certa consciência e senso crítico. Imparcial, desta forma, geralmente significa um posicionamento particular sobre algo disfarçado de verdade inquestionável, esterilizado da contaminação da política e da subjetividade.
* * *
Por que o projeto de lei apenas salienta a necessidade de uma apresentação “científica e imparcial” das questões políticas, socioculturais e econômicas? Por que não há necessidade de tal constrangimento nas questões matemáticas? Talvez exista aqui alguma conexão com a opinião de Janine Ribeiro de que estabelecer uma base curricular comum para a matemática é fácil e para a história é complexo.
Acredito que para ambas as disciplinas é complexo.
Supor que o ensino de história pode estimular a radicalização política é ressaltar que a história é parcial e sujeita a desviar do científico com certa facilidade, como se houvesse uma ciência neutra dos assuntos políticos. A matemática, por sua vez, é tida como a mais imparcial e científica das disciplinas, por isso estabelecer a sua base curricular seria tão simples.
Ou não. E se o modo como construímos a base curricular da matemática também for parcial? E se retirássemos um pouco do espaço dedicado à geometria analítica e abríssemos as janelas entre a matemática e a filosofia, discutindo com o pitagorismo a ideia de que a realidade é inteligível através da matemática? E se nos demorássemos um pouco menos na trigonometria e mesclássemos história e matemática, através de estudos quantitativos de história demográfica e econômica? E se, em uma aula de matemática, discutíssemos privacidade, números primos, criptografia e segurança digital? Ou ensinássemos as vastas contribuições dos matemáticos muçulmanos, que incrustaram nosso vocabulário com algarismo, algoritmo, álgebra… Isso não seria interessante ao tratar da islamofobia?
* * *
O currículo da matemática parece imparcial se tentarmos cortar todos os seus laços com a política e com as outras disciplinas. Mas essa matemática, protegida numa redoma contra os perigos políticos, históricos e filosóficos, contra a invasão inconveniente das outras disciplinas, não é imparcial; esse currículo já é uma escolha. Uma escolha que prejudica tanto a matemática quanto a história. Defender a imparcialidade política nas escolas é, por um lado, privar os alunos do direito à educação para o exercício da cidadania através do debate democrático e, por outro, ressaltar um currículo monodisciplinar, obsoleto, desinteressante e que não corresponde aos intuitos de ultrapassar as fronteiras das áreas do conhecimento para formar um estudante criativo e protagonista de sua própria trajetória.
Quando Augusto Nunes indaga se o ensino de história estimula a radicalização política, me pergunto o motivo de ele ter escolhido, entre as disciplinas, justamente a história. Provavelmente porque sua base curricular comum seja bastante difícil de estabelecer. Não mais do que a matemática. Levantar a questão de como queremos ver a história nas escolas já é admitir o diálogo, a divergência e a inexistência de um ponto de neutralidade. O mesmo vale para a matemática. Sobre como eu gostaria de ver os currículos da história ou da matemática, eu não sei dizer, mas certamente mais vezes juntos em suas parcialidades.
O medo da política nas escolas expresso pela pergunta de Augusto Nunes e por van Hattem não é o medo da parcialidade, é o medo da opinião divergente. Como o debate democrático pode ser aprimorado, como o convívio com as diferenças pode ser ensinado, se querem suspender a política da educação? O ensino da intolerância estimula a radicalização política.

(fonte: http://outraspalavras.net/destaques/educar-imparcialmente-um-desejo-dos-intolerantes/)

Agrotóxicos: hora de acordar para enfrentar o pesadelo

por Jacy Afonso

Não bastassem as contaminações por efluentes gasosos de todos os tipos, poluentes persistentes impostos por processos industriais, pelo escapamento de veículos, pelo desmatamento e demais fontes poluidoras, os agrotóxicos se somam ao peso no prato de cada dia do trabalhador e da trabalhadora.

No Brasil, os números impressionam. Dados da Anvisa do ano de 2013 apontam que 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos. Entre 2007 e 2014, as intoxicações por esses venenos, notificadas e registradas pelo DATASUS do Ministério da Saúde, foram 34.147, e há que se considerar ainda o significativo montante das subnotificações.
 
Em que pesem os avanços de iniciativas como o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), que tem como objetivos a diminuição do uso e a transição para modelos alternativos como a agroecologia e a produção orgânica, estamos diante de retrocessos quanto à liberação de princípios ativos já banidos em todo o mundo, mas permitidos aqui, a partir da flexibilização na legislação. Isso trará impactos irreversíveis para as populações.
 
Somam-se a isso os impactos do uso dos agrotóxicos nos trabalhadores e trabalhadoras e que atingem toda a cadeia produtiva, começando na indústria química, tanto na produção quanto no envase, no transporte, no manuseio no comércio, na aplicação no campo, no consumo dos alimentos pela população.
 
A saúde desses trabalhadores é comprometida no exercício do trabalho, pelo uso abusivo de venenos, e tem as suas defesas nocauteadas dia a dia, numa luta com um adversário oculto e silencioso que quando se revela, em geral, é tarde demais.

E nos locais de trabalho, como são pensados e selecionados os ingredientes que são a base da alimentação dos trabalhadores nos refeitórios das empresas, em sua maioria terceirizadas? Qual o nível de decisão, participação e monitoramento que os trabalhadores efetivamente têm nesses processos?

 Na cadeia produtiva do agronegócio, é grande a vulnerabilidade dos trabalhadores, em sua absoluta maioria temporários, que são submetidos a baixíssimos salários, condições de trabalho exaustivas e, muitas vezes, condições de escravidão, tendo seus documentos retidos e ficando impossibilitados sequer de retornar às suas cidades de origem.

 São visíveis os impactos no meio ambiente, as enxurradas de venenos que encharcam as lavouras diariamente. São comuns a falta de descarte correto, os derramamentos acidentais, a contaminação das águas, a intoxicação e morte de animais por terra, ar e mar, além das populações que sobrevivem da natureza e que veem sua fonte de subsistência comprometida, quando não condenada, para privilégio de poucos.

 Essas são questões que devem ser aprofundadas e que requerem acompanhamento nas mesas de negociação, conselhos, comissões correlatas e demais espaços de enfrentamento ao tema. Pautar o assunto internamente e de forma mais contundente nos sindicatos, federações e confederações, propondo caminhos e soluções, são iniciativas essenciais para avançarmos na defesa de direitos sociais e para impedirmos retrocessos.

Cabe ainda atentar para os instrumentos jurídicos como os Princípios da Precaução, estratégia adotada em Convenções e Acordos Internacionais, dos quais o Brasil é signatário, como o Protocolo de Montreal sobre gases, a Convenção de Cartagena sobre biotecnologias e os Princípios como o da Substituição de Processos e Produtos Perigosos por outros de menor risco. Exercer o direito de saber e de se recusar ao trabalho quando em condição de risco são conquistas, frutos da luta dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo químico, que aprimoram legislações e asseguram seu cumprimento por parte das empresas.

 A ação sindical exige conhecimento dos processos, estratégia para o enfrentamento aos riscos, exigência de que o poder público fiscalize, inspecione, notifique e preste contas aos trabalhadores e à população. E inclui também a exigência de que se determine a substituição de equipamentos e tecnologias que tragam risco por outras que preservem a integridade física e protejam a saúde humana e o meio ambiente.
 
O debate, por sua importância, não poderia deixar de estar também no cinema. O documentário intitulado O Veneno está na Mesa, do cineasta brasileiro Silvio Tendler, já tem uma segunda versão. Além de questionar o monopólio das empresas produtoras de agrotóxicos e fertilizantes e os interesses econômicos desse setor, o filme mostra ainda experiências viáveis de produção agroecológica, respeito aos trabalhadores do campo e ao meio ambiente e alerta sobre o direito a viver sem venenos. Afinal, outro mundo é, sim, possível.
(fonte: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Agrotoxicos-hora-de-acordar-para-enfrentar-o-pesadelo/3/33800)

Governo do Equador denuncia “conspiração” para desestabilizar o país

por Cristina Fontenele

El presidente de Ecuador, Rafael Correa, anunció el retiro temporal de dos proyectos de ley actualmente en debate en la Asamblea Nacional. El proyecto de ley de la Redistribución de la Riqueza (conocida como Ley de la Herencia) y el proyecto sobre las ganancias extras (Plus Valía) han generado polémica y fuerte oposición de grupos de extrema derecha. Correa convoca al país a "un gran debate nacional” sobre este asunto y pide estado de alerta a quienes lo apoyan frente a los intentos de desestabilizar al gobierno.
Con la cercanía de la visita del Papa al país, prevista para los días 5 a 8 de julio, el gobierno retiró los proyectos de ley con el propósito de calmar los ánimos y evitar que grupos de oposición "provoquen más violencia”, como ha ocurrido en recientes manifestaciones en Quito.

Según el mandatario, los proyectos de ley buscan democratizar la propiedad, la tierra, reducir las desigualdades y evitar la evasión fiscal, lo que afecta principalmente a las clases altas de la sociedad. En declaraciones, Correa ha defendido que no se puede evitar la "Revolución Ciudadana”, y se refirió a la oposición como "gente insensata, irresponsable”, que busca violencia. Él reafirma su disposición para el diálogo con "gente de buena fe”.

En un pronunciamiento por televisión, el último 15 de junio, el presidente afirmó que "los pobres son pobres porque existe una sociedad tremendamente injusta, que produce y reproduce profundas desigualdades de oportunidades desde el comienzo de la vida”. Correa destacó la prepotencia de ciertos empresarios, que se consideran "los redentores del país” y recuerda que, después de la crisis económica de 1999, el país fue "salvado” no por los ricos, sino por los pobres y migrantes, con "sudor y sacrificio”.
Correa denunció este sábado 20 de junio, la existencia de una conspiración en contra de su gobierno, con apoyo internacional. Según él, "venezolanos reaccionarios” opositores del presidente Nicolás Maduro se han infiltrado en Ecuador para generar miedo y crear agitación social. Correa hizo un llamado a la población para denunciar a esas personas y enviarlas fuera del país, "de vuelta a Miami”.

Para el secretario general de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur), Ernesto Samper, no se permitirá que actos violentos convocados por la oligarquía y por los políticos de extrema derecha creen pánico y un clima desestabilizador en el país, como por ejemplo las últimas manifestaciones del 13 de junio, en Quito.
El presidente venezolano, Nicolás Maduro, también convoca a la Comunidad de Estados Latinoamericanos y del Caribe (Celac) a defender el gobierno de Correa y se solidariza con el pueblo ecuatoriano. "Llegó la hora de activar toda la solidaridad con el pueblo de Ecuador y con el presidente Rafael Correa”, declaró Maduro en la apertura de la programación cultural de la Casa Tito Salas, en el Estado de Miranda, Venezuela.

La Conferencia Episcopal Ecuatoriana (CEE) expresó en un comunicado que el diálogo es el único camino posible para encontrar "soluciones justas y razonables”. Y espera que la visita del Papa a Ecuador traiga "un mensaje de paz, unidad y esperanza, necesarias parta construir una sociedad más justa y solidaria”.

(fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&cod=85470&lang=PT)