quinta-feira, 31 de março de 2016

Convite para Semana de Historia

Semana de História
História &Cidades: Desafios políticos e novas retóricas urbanas

DIAS: 05, 06 e 07 de abril/2016
Dia Local Hora Atividade
Dia 05/04
Terça-feira Auditório 1
Prédio 4 08:00 às
12:00 MESA REDONDA
Permanências e mudanças em Belo Horizonte: um apelo a novas reconstruções teóricas sobre as cidades.
Prof. Dr. Aurino Jose Góis – IF/PUC
Profª Drª Alexandra do Nascimento Passos - Educação/UEMG

Dia 05/04
Terça-feira Teatro João Paulo II
Prédio 30 13:30 às 18:00 CONFERÊNCIA DE ABERTURA
A Emergência das Ruas
Prof.ª Drª Regina Helena – FAE/UFMG

Dia 06/04
Quarta -feira Auditório 1
Prédio 4 08:00 às
12:00 MESA REDONDA
As Faces do Monstro: Belo Horizonte, Modernidade e desigualdade na Cidade Planejada.
Prof. Drª Rita de Cássia Liberato - ICS/PUC Minas
Prof. Dr. Marcelo de Araújo Rehfeld Cedro – ICH/PUC Minas

Dia 06/04
Quarta-feira Teatro João Paulo II Prédio 30 13:30 às 17:00 MESA REDONDA
Lutas sociais e a cidade: o movimento operário em Belo Horizonte - História e Historiografia.
Prof.Ms.Carlos Veriano - ICH/PUC Minas
Prof. Ms.Diego Vales Deslandes

Dia 07/04
Quinta-feira Auditório 1
Prédio 4 08:00 às
12:00 PALESTRA
RMBH. Uma nova ordem espacial?
Profª Drª Luciana Andrade – ICS /PUC

Dia 07/04
Quinta-feira Auditório 1
Prédio 4 13:30 às 18:00 PALESTRA
A Construção Institucional da Desigualdade no Brasil
Profª Drª Natália Guimarães Duarte Satiro DCP / UFMG

Sugar a terra, depois deixá-la ao léu


No Estado onde ocorreu tragédia de Mariana, centenas de minas estão abandonadas, oferecendo alto risco à Saúde e Ambiente. Capital esgota a terra e retira-se irresponsavelmente. Poder público é cúmplice

Por Thiago Domenici, na Pública

Minas abandonadas e paralisadas. Centenas delas. Algumas com alto risco ambiental. O caso da Engenho D’Água, em Rio Acima (MG), expõe a negligência em relação ao fechamento das minas, também chamado de “descomissionamento”. A empresa Mundo Mineração Ltda. simplesmente abandonou a exploração em 2012. Sem tomar nenhuma atitude para mitigar os impactos sociais e ambientais do empreendimento.

Um levantamento divulgado em janeiro pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) coloca a Engenho entre as cinco minas classificadas como de risco ambiental “muito alto”. Ou seja, passíveis de causar impactos “muito expressivos” ao ambiente e à saúde humana e de potencializar “os danos da atividade e de ocorrência de acidentes”. Estão na mesma categoria a mina de ferro da Mutuca, em Nova Lima, da Vale S.A.; a mina de areia Areial Três Munhos Eireli, em Ouro Preto; a mina de diamante da Mineração São Geraldo do Barro Duro, em Diamantina; e a Mineração de Ferro Geral do Brasil (ex-extrativa Paraopeba), no município de Brumadinho.

O documento registra 400 minas abandonadas ou paralisadas, número que não se refere ao total do estado, podendo haver outras tantas centenas. Com base nesses dados, a Pública elaborou um mapa interativo onde estão indicadas as áreas definidas como de muito alta, alta, média, baixa e muito baixa vulnerabilidade ambiental. Um mosaico preocupante da situação minerária do estado, palco do rompimento da barragem de Fundão, da empresa Samarco, que pertence à Vale S.A. e à BHP Billiton, em novembro do ano passado.

Como esta matéria, de grande importância, é extensa e possui mapa interativo, que não sei se conseguiria reproduzi aqui, encaminho vocês para a continuação. Leiam e vejam aqui:

http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=289752

 

terça-feira, 29 de março de 2016

O sultão e seu golpe meio bilhão de reais

Como Eduardo Cunha, condutor do impeachment, agenciou “bancada da mala”, com 200 deputados. Detalhes pitorescos: os gastos milionários em hotéis, restaurantes, lojas de grife
Por Mauro Lopes, editor do blog Caminho para Casa

O processo de impeachment contra a presidenta Dilma é um golpe em dois sentidos: político e financeiro. Não tem qualquer traço de legalidade. Há um trem pagador de mais de R$ 500 milhões de reais (meio bilhão) que patrocina o golpe contra uma presidente eleita e contra a qual não pesa sequer uma acusação de corrupção. O trem pagador tem um maquinista, Eduardo Cunha.
Segundo documentos do Ministério Público da Confederação Suíça enviados à Procuradoria Geral da República, o esquema suíço liderado por Cunha com outros participantes movimentou R$ 411 milhões em 29 contas bancárias entre 2007 e 2014 (o valor não inclui, portanto, o ano de 2015). Isso é apenas uma fração, aquilo que foi identificado Suíça. Há ainda o dinheiro não localizado na própria Suíça e mais uma série de paraísos fiscais não mensurados neste montante (veja reportagem do Correio Braziliense sobre os documentos suíços clicando aqui).
Entrevistado pelo programa Espaço Público TV Brasil da EBC em novembro de 2015, o ex-ministro Ciro Gomes estimou que, deste volume imenso de recursos, Cunha usou R$ 350 milhões para montar seu próprio bloco parlamentar: “Eduardo Cunha roubou algo ao redor de meio bilhão de reais e deve ter distribuído uns 350 (milhões de reais) por uns 150 a 200 picaretas” – assista aqui e veja a afirmação de Ciro sobre a montagem da bancada de Cunha, a tropa de choque do impeachment, aos 8min05 da entrevista. Se as contas de Ciro estiverem corretas (e use-se o número mais modesto, 150), Cunha repassou algo como R$ 2 milhões para cada um de seus apoiadore$ apenas na “operação Suíça”.
Mas não é só. Como a planilha da Odebrecht já deixou patente, Cunha é padrinho de muitas outras doaçõe$. A planilha indica o poder de Cunha como intermediário. Tomo emprestada a formulação da jornalista Helena Sthephanowitz no blog da Helena, na Rede Brasil Atual sobre o assunto: “Eduardo Cunha aparece como beneficiário de uma doação do Grupo Odebrecht de R$ 1,1 milhão para seu partido, o PMDB. Se foi ou não devidamente registrada é outra discussão e deverá ser objeto de novas investigações. O curioso é ele aparecer como ‘padrinho’ de uma doação bem maior, de R$ 3 milhões, para o diretório nacional do PSC, atual partido do deputado Jair Bolsonaro. Cunha aparece também na planilha como ‘padrinho’ de outra doação, de R$ 900 mil, para o PR. Ou seja, só por essas indicações na planilha, em 2010 Eduardo Cunha operou como captador de R$ 5 milhões – isso apenas junto ao Grupo Odebrecht – para três partidos, justamente os que em Brasília compõem a chamada ‘bancada do Cunha’, ou seja, o grupo de parlamentares de vários estados que acompanha fielmente a liderança do atual presidente da Câmara em todas as votações.” – leia a íntegra da coluna aqui.
É impressionante. Cunha apadrinha R$ 5 milhões apenas na planilha de uma empreiteira em uma eleição. É a bancada da mala, estimada por Ciro Gomes em 150 deputados. Fiéis a Cunha até o fim – enquanto ele continuar doando, é claro. É disparadamente a maior bancada da Câmara, praticamente o dobro do maior bloco parlamentar da Casa, que conta com 87 deputados (PP, PTB, PSC e PHS).
É a tropa de choque de Cunha, majoritária na Comissão do Impeachment e capaz de tudo para impedir o prosseguimento do processo contra o “capo” na Comissão de Ética.
Mas há mais, muito mais dinheiro para comprar o impeachment de Dilma. Segundo o deputado Paulo Pereira da Silva, “tem muita gente querendo financiar esse negócio do impeachment”. Ouça aqui. É só o parlamentar interessado sinalizar que a grana aparece, segundo o deputado, conhecido como Paulinho da Força, líder do partido Solidariedade e que conhece um tipo de solidariedade que o fez réu em processo por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crimes contra o sistema financeiro e figura em mais três inquéritos – ele está na comissão do impeachment, por óbvio.
Cunha é algo como um herói, um ícone para Paulinho. Na mesma gravação em que afirmou que está chovendo e vai continuar a chover nas hortas dos deputados golpistas, ele fez questão de ressaltar que “esse negócio (isso mesmo, “negócio”) do impeachment tá indo, eu vou falar a verdade, por causa do Eduardo Cunha. O impeachment só tá acontecendo por causa do Eduardo Cunha.” Paulinho está certo. Retire-se Cunha e o processo de impeachment terá enorme dificuldade de seguir adiante, sem o devido combustível.
O cenário da Câmara dos Deputados é desolador e faz do Brasil o centro de um escândalo ao redor do mundo. O condutor do processo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é réu numa ação no Supremo por recebimento de propina e distribuiu recursos da ordem de centenas de milhões de reais; 61% dos deputados da comissão encarregada do processo receberam R$ 9 milhões de empresas investigadas na operação Lava Jato (leia aqui); 31 dos 130 integrantes da comissão (titulares e suplentes) respondem a inquérito ou ação penal no Supremo, acusados de formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes (leia aqui).
O relator da comissão do impeachment, deputado Jovair Arantes, é funcionário (ops, aliado) de Cunha. Atua no Conselho de Ética como um coronel do exército de Cunha nas manobras para paralisar o processo contra o chefe. Assumiu a relatoria do impeachment apenas depois de garantir aos golpistas que condenará Dilma – leia aqui. Jovair é um aliado de valor: teria cobrado R$ 4 milhões apenas para apoiar a recondução ao cargo do presidente da Agência Goiana de Meio Ambiente. Quem veiculou a denúncia? É até engraçado, mas foi a Veja! Isso mesmo, Veja desceu o cacete no deputado em 2012, quando considerava que isso prejudicava o governo do PT. Disse a revista na ocasião: “Num documento de 24 páginas assinado e entregue formalmente ao Ministério Público em dezembro passado, ele diz que, quando estava de saída da agência ambiental, ouviu uma proposta nada ortodoxa: Jovair, a quem caberia indicar o novo presidente do órgão, pediu 4 milhões de reais para apoiar sua recondução. ‘O deputado queria R$ 4 milhões para que o infraescrito fosse indicado para continuar na titularidade do órgão público’, escreveu”. Está tudo no link aqui, mas como Jovair agora é da famiglia dos Civita, não se sabe até quando estará no ar.
O crime contra o país acontece em clima de farra no Congresso – e numa escalada fascista sem precedentes na sociedade de nas ruas.
Farra para Cunha e os seus
E que farra. A Procuradoria Geral da República (PGR), na denúncia apresentada ao Supremo contra Cunha em 4 de março de 2016 apresentou a vida de sultão de Cunha ao país (não, ao país não, porque a Globo e suas congêneres de menor expressão preferiram silenciar sobre o que você lerá a seguir pois, afinal, o pedalinho era mais importante). A expressão “vida de sultão” foi um preciso achado da reportagem de El País sobre a denúncia da Procuradoria – leia aqui e, se quiser, clique no link logo no início da reportagem para ter acesso à íntegra da peça da PGR).
Os números são dignos de um sultão mesmo, é só ir à denúncia, ler e deixar o queixo cair:
Virada de 2012/2013 – Em nove dias, numa viagem a Miami para a passagem de ano (entre 28 de dezembro e 5 de janeiro) Cunha, mulher e filha torraram R$ 170 mil. Isso mesmo! Mais de R$ 18 mil por dia (a cada dia ele gastou mais do que o salário mensal de um parlamentar à época, de R$ 17.794,76). Em Miami, a gastança foi antológica. Tudo em nove dias (a seguir apenas alguns exemplos dos gastos): almoço e jantar em restaurantes em Miami Beach em 28 de dezembro pela bagatela de R$ 7.500; uma refeição para celebrar o início de 2013 com a família no restaurante Prime Italian, em 01 de janeiro, no valor de R$ 6 mil; outras contas de valor similar em diversos restaurantes; apenas no dia 29 de dezembro, R$ 24.520 em comprinhas na Saks e na Salvatore Ferragamo. Mas não foi suficiente. Em 2 de janeiro, mais comprinhas, agora na Giorgio Armani e Ermenegildo Zegna, duas das grifes mais requintadas do planeta, somando outros R$ 20.504. Parece mentira, não é? Mas tudo registrado nos cartões de crédito do futuro “capo” do impeachment.
2013 estava apenas começando – em fevereiro, depois do festival Miami, Cunha, que não é de ferro, foi a Nova York. O ritmo não se reduziu. Entre 9 e 12 daquele mês, a PGR flagrou gastos de R$ 36.732 entre hotel, restaurantes e as grifes preferidas de Cunha. O atual presidente da Câmara é rápido no gatilho; dia 12 de fevereiro a gastança começou cedinho em NYC e continuou à noite em Zurique, na Suíça (ah, a Suíça): entre a noite de 12 e a manhã do dia 15 de fevereiro, a conta ficou em R$ 18.716. Mas não foi tudo: na noite de 15 de fevereiro, lá estava ele sentado à mesa do Le Grand Vefour, em Paris, para uma refeição de R$ 9.984. No dia 16, pagou R$ 23.900 de hospedagem no famoso Hotel Crillon, em Paris, cidade onde chegara na véspera! Fevereiro acabara, mas em março a festa precisava continuar: no dia 25, pagou uma conta de R$ 12.288 no Hotel W. Barcelona, na cidade do mesmo nome. Não há distâncias nem limites para Cunha: em 20 de junho, lá estava ele no restaurante Russkiy Ampir, em São Petesburgo (Rússia): conta de mais de R$ 12 mil. Este foi o padrão em 2013, que se repetiu em setembro, de novo em Nova York.
Os sapatos de Cunha – o presidente da Câmara gosta de conforto para os pés. Parece que estava adivinhando que seria eleito presidente da Casa e tratou de cuidar dos pezinhos. Em setembro de 2013, em Nova York, torrou R$ 32.464 na loja de sapatos masculinos Prada Abbigliamento. Isto em apenas uma compra de sapatos. Podemos imaginar que Cunha não parou por aí, mas os documentos da PGR não alcançam outras aquisições de lotes de sapatos. Mas grifes como Zegna e Ferragamo, suas preferidas, têm linhas de calçados que não devem ter escapado ao seu interesse.
2014 – Cunha não parava – e não parou até hoje. Atravessou o Atlântico já em janeiro de 2014 para continuar a festança com o seu dinheiro em Paris. No dia 12, pagou uma conta de quase R$ 40 mil reais no Hotel Meurice, na Cidade Luz, sem contar as comprinhas de sempre. Em março, já estava em Roma, logo depois em Veneza e Florença – entre 2 e 7 daquele mês, lá se foram mais R$ 37 mil só em hotéis, algo como R$ 6.200 de diárias. Como Cunha não é de ferro, não custava nada (para ele) uma esticadinha à terrinha. Dia 8 de março lá estava o comandante das forças contra a corrupção em Cascais, porque afinal em Portugal é tudo mais barato, não é? Mais R$ 9.472 em dois dias de hospedagem no Grande Real Villa Hotel (quase uma pechincha para o deputado, que pagara diárias superiores a R$ 6 mil apenas dois dias antes na Itália!). Não, não acabou. Em abril, o sultão certamente sentiu-se em casa: mais R$ 23.708 no hotel Burj Al Arab, em Abu Dabi.
2015 – Até o início do último ano, Cunha não era ainda presidente da Câmara. A eleição, em 1 de fevereiro de 2015, não constrangeu o sultão. Lá estava ele, 15 dias depois de sua eleição, cuidando de renovar o guarda roupa em Paris. Uma conta de mais de R$ 32 mil reais na Textiles Astrum France. Hospedagem? Nada de monotonia. O Crillon, em 2013, e o Meurice, em 2014, não estavam à altura do terceiro homem na linha sucessória: era chegada a hora do Plaza Athenee! Cinco noites por R$ 63.520 (quase R$ 13 mil a diária). Era preciso mesmo celebrar, e de novo na terrinha, mais uma conta de quase R$ 6 mil reais por uma refeição no restaurante Os Arcos, em Paço D’Arcos e de novo no Grande Real Villa Hotel, em Cascais (ele gostou!): mais R$ 11.700.
A singeleza da mulher de Cunha, Cláudia – nada de listas extensas. Só os destaques. Em 2014: em Paris, em janeiro, R$ 30.828 na Chanel e mais R$ 16.736 na Charvet Place Vêndome (só os destaques, lembre-se); em Roma, em março, R$ 17.988; em Lisboa, também em março, outros R$ 14.144 na Louis Vuitton; e, claro, Dubai –R$ 15.196 na Chanel. Os destaques de 2014 (só os “high lights”!) somaram quase R$ 100 mil reais em roupas, sapatos e bolsas. Chanel é sempre Chanel: pra a grife, quase a metade, R$ 46.024. Importante mencionar duas compras de 2015 porque, afinal, o maridão estava eleito presidente da Câmara e era preciso caprichar e pensar nele; na favorita Charvet Place Vêndome com suas opções para homens e mulheres, R$ 26.148; e mais R$ 6.704 em gravatas na Hermès pra Cunha fazer bonito presidindo a Câmara. Tudo em fevereiro, um mês de compras pra família Cunha (junto com março, setembro, outubro, dezembro e janeiro compõem o semestre dourado dos cunhas anualmente).
A filhinha Danielle e suas delícias – a lista é enorme e tá cansando, começa a ficar monótono. Mas vale o registro que mocinha não deixou barato. Da extensa lista de Danielle, três que merecem realce: em janeiro de 2014, enquanto papai e mamãe passeavam na Europa, ela gastou quase R$ 21 mil na Chanel, em Nova York; mais R$ 20 mil na Neiman Marcus em Orlando, em abril do mesmo ano; e mais R$ 18.508 na Fendi em Nova York – afinal, Europa é pra velhos, não é?
Cunha gasta como um sultão. É o sonho de todos os manifestantes dos domingos na Paulista, das matilhas fascistas, dos pequenos, médios empresários e até alguns grandes empresários, dos parlamentares e jornalistas a serviço do golpe: querem todos gastar como sultões. Por isso Cunha desperta uma relação mal escondida de inveja e admiração: pois ele de verdade gasta como um sultão.
É um sultão que presta serviço ao ódio dos que desejam ser sultões como ele, mas, sobretudo, preferem a morte a ver um país em que os ricos tenham de abrir mão de parte de sua fortuna para que os pobres possam viver com dignidade. Preferem a morte a ter de abrir mão de farras como a de Cunha – ou do “direito” de sonhar com elas.
Não há solução para o escândalo da presença de Cunha à frente da Câmara no interior do próprio Congresso – sua bancada é a maior da Casa. Só há duas soluções possíveis para o caso Cunha no âmbito da democracia: as ruas ou o Judiciário.
Cunha é o que é. A imprensa faz de conta que não vê o meio bilhão do sultão e sua máquina de fazer bancada. Prefere cuidar dos pedalinhos do torneiro mecânico.
O golpe em marcha, entre centenas de milhões de reais, ódio, farra e um condutor: o sultão.

(fonte: http://outraspalavras.net/brasil/o-sultao-e-seu-golpe-meio-bilhao-de-reais/)

Novidades do Café Historia


domingo, 27 de março de 2016

A natureza está em crise.

Para quem não acredita que temos problemas climáticos, que se transbordam em aumento do nível dos oceanos, essas fotos dão uma boa medida. Todas são do mesmo local, em épocas distintas. 
Trata-se da localização da barraca do Faria, situada na Praia de Pitinga, em Arraial da Ajuda. Vejam a extensão da faixa de areia em 2006, observem que em 2007 já começava a ter problemas e agora, semana passada, simplesmente a barraca teve de fechar porque o mar engoliu-a quase por inteiro. É uma resposta aos céticos? 

2006 - foto RMF

2008 - Foto RMF















2016... fotos RMF



 

sexta-feira, 25 de março de 2016

E se outra Guerra Mundial tiver começado?

Gigantes nucleares, EUA atacam Rússia e China – por enquanto no terreno da propaganda e mentiras. Tudo pode mudar bruscamente à primeira ordem errada, ao primeiro míssil
Por John Pilger

Estou filmando nas Ilhas Marshall, que ficam ao norte da Austrália, no meio do Oceano Pacífico. Toda vez que digo a alguém por onde andei, perguntam, “Onde é isso?” Se dou uma pista referindo-me a “Bikini”, perguntam: “Você quer dizer o maiô?”

Poucos parecem saber que o maiô tipo biquíni foi chamado assim em referência às explosões nucleares que destruíram a Ilha Bikini. Sessenta e seis dispositivos nucleares foram detonados pelos Estados Unidos nas Ilhas Marshall entre 1946 e 1958 – o equivalente a 1,6 bombas de Hiroshima a cada dia, durante doze anos.
Bikini está hoje em silêncio, contaminada e com mutações. Palmeiras crescem numa estranha formação de grade. Nada se move. Não há pássaros. As lápides no cemitério velho ainda contêm radiação. Meus sapatos acusaram “inseguro” num medidor Geiger.
De pé na praia, observei o verde-esmeralda do Pacífico cair num vasto buraco negro. É a cratera deixada pela bomba de hidrogênio que chamaram de “Bravo”. A explosão envenenou as pessoas e o meio ambiente ao longo de centenas de quilômetros, talvez para sempre.
Em minha viagem de volta, parei no aeroporto de Honolulu e uma revista norte-americana denominada Women’s Health (“Saúde da Mulher”) me chamou a atenção. Na capa havia uma mulher sorridente, vestida com um biquíni, com a chamada: “Você também pode ter um corpo de biquíni.” Alguns dias antes, nas Ilhas Marshall, eu havia entrevistado mulheres que tinham “corpos de biquíni” muito diferentes; haviam sofrido câncer da tireóide e outros tipos de câncer que podem matar.
Ao contrário da mulher sorridente da revista, todas estavam empobrecidas: vítimas e cobaias de uma superpotência voraz que é hoje mais perigosa do que nunca.
Falo dessa experiência como um alerta e para interromper uma distração que vem consumindo tantos de nós. O fundador da propaganda moderna, Edward Bernays, descreveu esse fenômeno como “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões” das sociedades democráticas. Ele a chamava de “governo invisível”.
Quantas pessoas estão conscientes de que uma guerra mundial começou? No momento, é uma guerra de propaganda, de mentiras e distração, mas isso pode mudar instantaneamente à primeira ordem errada, ao primeiro míssil.
Em 2009, o president Obama esteve diante de uma multidão entusiasmada no centro de Praga, coração da Europa. Ele prometeu tornar “o mundo livre de armas nucleares”. A audiência aplaudiu e muitas pessoas choraram. Uma torrente de banalidades circulou pela mídia. Obama foi em seguida escolhido para o Prêmio Nobel da Paz.
Era tudo falso. Ele estava mentindo.
O governo Obama fabricou mais armas nucleares, mais ogivas nucleares, mais mísseis portadores de armas nucleares, mais fábricas nucleares. Os gastos com ogivas nucleares sozinhos aumentaram mais sob Obama do que sob qualquer outro presidente norte-americano. O custo, em trinta anos, é de mais de US $ 1 trilhão.
Há planos para construir uma mini bomba nuclear. É conhecida como o B61 Modelo 12. Nunca houve nada como isso. O general James Cartwright, um ex-vice-presidente do Estado-Maior Conjunto disse: “Ao reduzi-la, [tornamos o uso dessa arma nuclear] mais imaginável.”
Nos últimos dezoito meses, o maior deslocamento de forças militares desde a Segunda Guerra Mundial está acontecendo – liderado pelos Estados Unidos – ao longo da fronteira oeste da Rússia. Desde que Hitler invadiu a União Soviética, nunca a Rússia foi tão pressionada por tal demonstração de presença militar.
A Ucrânia – antes parte da União Soviética – tornou-se um parque temático da CIA. Tendo orquestrado um golpe em Kiev, Washington efetivamente controla um regime que é vizinho e hostil à Rússia: um regime, podre com nazistas, literalmente. Parlamentares destacados da Ucrânia são descendentes políticos dos notórios grupos OUN e UPA, fascistas. Enaltecem Hitler abertamente e pedem a perseguição e expulsão da minoria de língua russa. Isso raramente é notícia no Ocidente; ou, quando aparece, vem com sentido invertido, para suprimir a verdade.
Na Letônia, Lituânia e Estônia – vizinhas da Rússia – os militares norte-americanos estão posicionando tropas de combate, tanques, armamento pesado. Essa provocação extrema contra o segundo poder nuclear do mundo é assistida em silêncio pelo Ocidente.
O que torna a perspectiva de uma guerra nuclear ainda mais perigosa é uma campanha paralela contra a China. Dificilmente se passa um dia sem que a China não seja elevada ao status de “ameaça”. De acordo com o almirante Harry Harris, comandante das forças norte-americans no Pacifico, a China está “levantando um grande muro de areia no Sul do Mar da China”.
Ele se refere à construção, pela China, de pistas de pouso nas Ilhas Spratly, que são objeto de disputa com as Filipinas – uma disputa não prioritária até que Washington pressionou e subornou o governo de Manila e o Pentágono lançou uma campanha de propaganda denominada “liberdade de navegação”.
O que isso significa, de fato? Significa liberdade para os navios de guerra norte-americanos patrulharem e dominarem as águas costeiras da China. Tente imaginar a reação dos Estados Unidos se navios de guerra fizessem o mesmo no litoral da Califórnia.

Fiz um filme chamado The War You Don’t See (A Guerra que você não vê), no qual entrevistei importantes jornalistas nos Estados Unidos e Reino Unido: repórteres como Dan Rather da CBS, Rageh Omar da BBC, David Rose do Observer.
Todos disseram que, se os jornalistas e as emissoras de TV tivessem feito seu trabalho e questionado a propaganda de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa; se as mentiras e George W. Bush e Tony Blair não tivessem sido amplificadas e ecoadas por jornalistas, a invasão do Iraque em 2003 poderia não ter acontecido. Centenas de milhares de homens, mulheres e crianças estariam vivas hoje.
A propaganda que está cimentando o caminho para uma guerra contra a Rússia e/ou China não é diferente, em princípio. Que eu saiba, nenhum jornalista “convencional” no Ocidente – o equivalente a Dan Rather, digamos – questiona por que a China está construindo pistas de pouso no Sul do Mar da China.
A resposta deve ser o óbvio ululante. Os Estados Unidos estão cercando a China com uma rede de bases, com mísseis balísticos, grupos de combate, bombardeiros nucleares armados.

O arco letal estende-se da Austrália às ilhas do Pacífico, às Marianas e às Marshalls e Guam; até as Filipinas, Tailândia, Okinawa, Coreia; e cruza a Eurásia até o Afeganistão e a Índia. Os Estados Unidos penduraram uma corda no pescoço da China. Isso não é notícia. Silêncio na mídia; guerra midiática.
Em 2015, em segredo absoluto, os Estados Unidos e a Austrália armaram o maior exercício militar ar-mar único da história recente, conhecido como Sabre Talismã. Seu objetivo era ensaiar um plano de batalha ar-mar, bloqueando rotas marítimas, como o Estreito de Málaca e o Estreito Lombok, que poderia cortar o acesso da China ao petróleo, gás e outras matérias primas vitais do Oriente Médio e da África.
No circo conhecido como campanha presidencial norte-americana, Donald Trump está sendo apresentado como um lunático, um fascista. Ele é odioso, com certeza; mas ele é também uma figura odiada pela mídia. Isso por si só deveria despertar nosso ceticismo.
A visão de Trump sobre migração é grotesca, mas não mais grotesca do que a de David Cameron. O Grande Deportador dos EUA não é Trump, mas o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama.
De acordo com um destacado comentarista liberal, Trump está “liberando as forças sombrias da violência” nos Estados Unidos. Liberando-as? Este é o país onde as crianças atiram em suas mães e a polícia trava uma guerra assassina contra negros. Este é o país que atacou e tentou derrubar mais de cinquenta governos, muitos deles democracias, e bombardeou desde a Ásia até o Oriente Médio, causando a morte e a expropriação de milhões de pessoas.
Nenhum país pode igualar tal recorde de violência sistêmica. A maioria das guerras norte-americanas (quase todas contra países indefesos) foram lançadas não por presidentes republicanos, mas por democratas liberais: Truman, Kennedy, Johnson, Carter, Clinton Obama.
Em 1947, uma série de diretivas do Conselho de Segurança Nacional descrevia o objetivo primordial da política externa norte-americana como “um mundo substancialmente feito à sua própria imagem [dos Estados Unidos]”. A ideologia era o americanismo messiânico. Éramos todos americanos. Ou não. Os hereges deviam ser convertidos, subvertidos, subornados, difamados ou esmagados.
Donald Trump é um sintoma disso, mas é também um dissidente. Ele diz que a invasão do Iraque foi um crime; ele não quer começar uma guerra com a Rússia e a China. O perigo para nós não é Trump, mas Hillary Clinton. Ela não é dissidente. Ela corporifica a resiliência e a violência de um sistema cujo famoso “excepcionalismo” é totalitário com uma face liberal ocasional.
À medida em que o dia da eleição presidencial se aproximar, Hillary será saudada como a primeira presidente mulher, independentemente de seus crimes e mentiras – assim como Barack Obama foi elogiado como o primeiro presidente negro e os liberais engoliram seu absurdo sobre “esperança”. E a baba continua.
Descrito por Owen Jones, colunista do Guardian, como “engraçado, charmoso, com um charme que supera praticamente todos os outros políticos,” Obama enviou outro dia drones para abater 150 pessoas na Somália. De acordo com o New York Times, ele mata as pessoas geralmente às terças-feiras, quando lhe é entregue uma lista de candidatos à morte por drones. Tão cool.
Na campanha presidencial de 2008, Hillary Clinton ameaçou “destruir totalmente” o Irã com armas nucleares. Como secretária de Estado de Obama, ela participou na derrubada do governo democrático de Honduras. Sua contribuição para a destruição da Líbia em 2011 foi quase alegre. Quando o líder líbio, coronel Kaddafi, foi publicamente sodomizado com uma faca – um assassinato possibilitado pela logística norte-americana – Clinton exultou com sua morte: “Nós viemos, nós vimos, ele morreu.”
Um dos mais próximos aliados de Clinton é Madeleine Albright, ex-secretária de Estado, que criticou as jovens por não apoiar “Hillary”. Essa é a mesma Madeleine Albright que celebrou infamemente na TV a morte de meio milhão de crianças iraquianas como “compensadora”.
Entre os maiores apoiadores de Hillary, estão o lobby de Israel e as fábricas de armamentos que atiçam a violência no Oriente Médio. Ela e seu marido receberam uma fortuna de Wall Street. E, além disso, ela está para ser proclamada a candidata mulher, a que supostamente livra o país do mal Trump, o demônio oficial. Entre seus apoiadores, estão feministas notáveis: as seguidoras de Gloria Steinem nos Estados Unidos e de Anne Summers na Austrália.
Uma geração atrás, um culto pós-moderno agora conhecido como “política de identidade” impediu que muita gente inteligente e de mente liberal examinasse as causas e indivíduos que apoiavam – tais como a falsificação de Obama e Clinton; tais como o movimento Syriza na Grécia, falsamente progressista, que traiu o povo desse país e aliou-se com os seus inimigos.
O autocentramento, uma espécie e “eu-zismo” tornou-se o novo zeitgeist nas sociedades ocidentais privilegiadas e assinalou o fim dos grandes movimentos coletivos contra a guerra, a injustiça social, a desigualdade, o racismo e o sexismo.
Hoje, o longo sono pode ter chegado ao fim. Os jovens estão se mexendo novamente. Gradualmente. Os milhares no Reino Unido que apoiaram Jeremy Corbyn como líder trabalhista fazem parte desse despertar – como aqueles que se reuniram para apoiar o senador Bernie Sanders.
No Reino Unido, semana passada, o mais próximo aliado de Jeremy Corbyn, John McDonnell, comprometeu um governo trabalhista a pagar as dívidas dos bancos de pirataria e, na verdade, manter a chamada austeridade.
Nos Estados Unidos, Bernie Sanders prometeu apoiar Clinton se ou quando ela for escolhida candidata. Além disso, ele votou pelo uso de violência contra países quando considerar que é “certo”. Diz que Obama fez um “grande trabalho”.
O que aconteceu com a grande tradição de ação popular direta, desatrelada dos partidos? Onde estão a coragem, imaginação e compromisso necessários para começar a longa jornada para um mundo melhor, mais justo e pacífico? Onde estão os dissidentes nas artes, cinema, teatro, literatura?
Onde estão aqueles que vão quebrar o silêncio? Ou estamos esperando até que o primeiro míssil nuclear seja disparado?

*
Este texto é uma versão editada de uma fala de John Pilger na Universidade de Sidney, sob o título Uma Guerra Mundial Começou. 

(fonte: http://outraspalavras.net/capa/e-se-outra-guerra-mundial-tiver-comecado/)

quinta-feira, 24 de março de 2016

A Europa paga por seus governantes

Haverá luto e lágrimas, após atentados brutais em Bruxelas. Mas quem se lembrará do papel jogado pelos países europeus, nas guerras que alimentam o ISIS?
Por Patrick Cockburn | Tradução: Vinícius Gomes Melo

A captura, [na semana passada,] de Salah Abdeslam, que as autoridades acreditavam ter sido o último planejador do massacres de Paris que sobrevivia, significa que a mídia está, novamente, focando sua atenção na ameaça de ataques terroristas praticados pelo Estado Islâmico (ISIS). Pergunta-se como o homem mais procurado da Europa foi capaz de enganar a polícia por tanto tempo, apesar de ele continuar vivendo em sua casa no distrito de Molenbeek, em Bruxelas. Os canais de televisão e os jornais levantam questões sobre as chances de o ISIS realizar uma nova atrocidade com o objetivo de dominar os noticiários, mostrando que seus combatentes ainda estão soltos por aí. [Esta hipótese concretizou-se ontem, na capital da Bélgica, com três explosões que mataram 34 pessoas e feriram mais de 120].

A repercussão dos eventos em Bruxelas está de acordo com a que ocorreu após os ataques de janeiro (Charlie Hebdo) e novembro em Paris, e dos assassinatos nas praias da Tunísia, todos perpetrados pelo ISIS no ano passado. Durante vários dias, há uma cobertura vasta: a imprensa utiliza seu tempo e espaço muito além do que seria necessário para relatar e desenvolver a história. Porém, o foco de sua cobertura muda, de maneira abrupta, para qualquer outra coisa, como se o ISIS se tornasse notícia de ontem. O movimento é tratado como se tivesse deixado de existir, ou então perdido sua capacidade de afetar nossas vidas.

Na verdade, não que o ISIS tenha deixado de matar pessoas em grande escala desde a carnificina em Paris, no último 13 de novembro. Ele só não o fazia na Europa. Estive em Bagdá em 28 de fevereiro, quando dois homens-bomba do Estado Islâmico, utilizando motocicletas, explodiram-se em um mercado de celulares a céu aberto, matando 73 pessoas e ferindo mais de cem, em Sadr City. No mesmo dia, dezenas de combatentes do ISIS montados em pick-ups com armamento pesado instalado na traseira, atacaram postos avançados da polícia e do exército em Abu Ghraib, lar da famosa prisão, no subúrbio da capital iraquiana. Antes, ocorrera um ataque inicial liderado por pelo menos quatro homens-bombas, um deles lançando seu veículo carregado de explosivos contra um quartel militar. O tiroteio durou várias horas, ao redor de um silo de grãos em chamas.

Fora dali, o mundo quase não se deu conta desses acontecimentos sangrentos, pois eles parecem fazer parte da ordem natural de como funcionam as coisas no Iraque e na Síria. Mas o número total de iraquianos mortos por esses dois ataques – e ainda um outro duplo ataque suicida em uma mesquita xiita no distrito de Shuala, apenas quatro dias antes – é quase o mesmo número dos que morreram em Paris nas mãos do ISIS, no final do ano passado.

Na mente dos cidadãos do “Velho Continente”, nunca existiu uma conexão entre as guerras no Iraque e na Síria e os ataques terroristas contra europeus. Isso acontece, em parte, por Bagdá e Damasco serem lugares exóticos e perigosos, onde as imagens de pós-bombardeio, desde a invasão dos EUA em 2003, parecem ser a norma. Mas existe uma razão ainda mais pérfida para os europeus não serem capaz de conectar a ameaça a sua própria segurança com as guerras no Oriente Médio. Separar os dois fatos serve aos interesses dos líderes políticos no Ocidente, pois isso impede que a opinião pública enxergue que suas políticas desastrosas no Iraque, Afeganistão, Líbia, entre outros, criaram as condições para o surgimento do ISIS e gangues terroristas, tais quais aquela a que Salah Abdeslam pertenceu.


A profusão de lutos oficiais que geralmente vêm após essas atrocidades, como a marcha de 40 governantes mundiais pelas ruas de Paris, após os ataques ao Charlie Hebdo, ajuda a neutralizar qualquer pensamento de que os erros políticos destes mesmos líderes possam ter, de certa maneira, alguma responsabilidade pelos atentados. Manifestações de ruas são normalmente lideradas por gente sem poder, que quer protestar e desafiar algum tipo de autoridade. Mas nesse caso, servem apenas como show de publicidade, com o objetivo de desviar a atenção sobre a própria incapacidade dos governantes em agir para acabar com as guerras no Oriente Médio – onde tiveram participação ativa para provocá-las.

Um aspecto estranho nestes conflitos é que os líderes ocidentais nunca tiveram qualquer prejuízo político por seus papéis em iniciar ou executar políticas que fizeram eclodir a violência. O ISIS é um poder em ascensão na Líbia, algo que nunca teria acontecido se o primeiro-ministro britânico David Cameron e o presidente francês Nicolas Sarkozy não tivessem ajudado a destruir o Estado líbio ao destituir o Kaddafi em 2011. A Al Qaeda está se expandindo no Iêmen, onde os líderes ocidentais deram passe livre para a Arábia Saudita lançar uma campanha de bombardeio que destruiu o país.

Após o massacre em Paris, no ano passado, houve uma torrente de solidariedade à França e quase nenhuma crítica às políticas francesas na Síria e na Líbia – exatamente as que favoreceram o ISIS e outros movimentos salafistas-jihadistas desde 2011.

Vale a pena citar o que disse Fabrice Balanche, cartógrafo francês e especialista na Síria que trabalha agora para o Instituto de Washington para Política no Oriente Médio, sobre visão equivocada na França – apesar de esta também se aplicar a outros países. Respondendo a Aron Lund, do Centro Carneggie de Doação para a Paz Internacional, ele escreveu: “Para a imprensa, a guerra síria só pode ser vista como continuação das revoluções na Tunísia e no Egito, à época em que a Primavera Árabe despertava entusiasmo. Os jornalistas não compreenderam, ou não quiseram compreender, as sutilezas sectárias na Síria. Fui censurado por diversas vezes [ao tentar explicá-las]”.

“Os intelectuais sírios na oposição, muitos deles exilados por décadas, tinham um discurso similar ao da oposição iraquiana durante a invasão dos EUA, em 2003. Alguns deles confundiram, de maneira idealista, suas próprias esperanças em uma sociedade não-sectária com a realidade. Ms outros – como a Irmandade Muçulmana – tentaram ofuscar essa realidade a fim de ganharem o apoio de países ocidentais.”
“Em 2011-12, sofremos uma espécie de McCarthismo intelectual na questão síria: se você dissesse que Assad não iria cair em três meses, suspeitavam que estivesse sendo pago pelo regime sírio. E quando o ministro das Relações Exteriores da França tomou o lado da oposição síria, tornou-se de mal gosto contradizer seus comunicados oficiais”.

Ao tomar o lado das oposições na Síria e na Líbia, além de destruir ambos os países, a França e o Reino Unido abriram a porta para o Estado Islâmico. Deveriam também ser considerados culpados pela ascensão do ISIS e pelo terrorismo na Europa. Ao se recusarem a admitir isso, ou ao menos aprender com seus erros, os europeus ocidentais fizeram muito pouco para ajudar no “fim das hostilidades” na Síria. Surpreendentemente bem sucedido, ele é uma conquista quase apenas dos EUA e da Rússia.

A França e o Reino Unido mantiveram-se próximos da Arábia Saudita e das monarquias absolutas do Golfo Pérsico, em relação à política externa para com a Síria. Perguntei o porquê a um ex-diplomata envolvido nas negociações. Ele respondeu seco: “Dinheiro. Eles queriam os contratos com os sauditas”. Após a captura de Salah Abdeslam, há uma certa discussão sobre as falhas da segurança que permitiram que ele evitasse a prisão por tanto tempo. Mas isso é pouco relevante: os ataques terroristas irão continuar enquanto o ISIS tiver poder. Novamente, uma cobertura midiática caolha está permitindo que os governos ocidentais deixem de serem responsabilizados por uma falha ainda pior de segurança: suas políticas desastrosas.

(fonte: http://outraspalavras.net/capa/a-europa-pena-por-seus-governantes/)

Lançamento do livro "Os Ingleses" -


Quem puder ir, não deixe de comparecer!!!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Convite para Simpósio em Ouro Preto

O I Simpósio Acontecimento, Narrativas e Temporalidades será um evento de cunho nacional que ocorrerá entre 26 e 28 de abril de 2016. Reunindo pesquisadores das áreas de Comunicação, Jornalismo e História, tem como objetivo discutir os desdobramentos destes temas na contemporaneidade.

Nessa data, será realizada também a I Jornada de Pesquisa do PPGCOM da UFOP, com apresentação das pesquisas desenvolvidas pelos mestrandos do Programa.

As inscrições serão abertas no dia 4 de abril, e o evento é livre para alunos, técnicos e professores de quaisquer instituições de ensino superior.

Não deixe de curtir e acompanhar nossa página oficial no Facebook, onde serão postadas notícias e outras informações sobre o evento. No caso de quaisquer dúvidas, basta entrar em contato através do endereço contato@narrativas.org.

O evento é organizado pelo Grupo de Pesquisa JorNal (Jornalismo, Narrativas e Práticas Comunicacionais) e promovido pelo CNPq, UFOP, ICSA e o PPGCOM/UFOP, com apoio da Verbalize Empresa Júnior.

Mais informações aqui: http://narrativas.org/simposio/ 

O fim da picada


“Iludem-se aqueles que acham que a Operação Lava-Jato vai livrar o país da corrupção”, escreve Mauro Santayana, jornalista, em artigo publicado no Jornal do Brasil, 17-03-2016.

Eis o artigo.

Se não falham os estudiosos, a expressão “o fim da picada”, deriva da situação em que se encontra, de repente, o sujeito que vinha seguindo uma trilha, no meio da floresta, e, subitamente, se vê perdido, quando essa trilha, ou “picada”, aberta à medida que se corta, ou se “pica” o mato à frente, termina abruptamente, obrigando o viajante a seguir às cegas, ou a voltar para um distante, e muitas vezes, inalcançável, ponto de partida.

O grampo contra a Presidente da República, com sua imediata divulgação, para uma empresa de comunicação escolhida para escancarar seu conteúdo ao país, operado por um juiz de primeira instância, depois da desnecessária e arbitrária condução coercitiva e do pedido de prisão de um ex-presidente da República, devido a uma acusação de falsidade ideológica – em um  país em que bandidos com dezenas de milhões de dólares em contas na Suíça, procurados pela Interpol e condenados à prisão em outros países circulam, soltos,  tranquilamente - representa isso.

O fim da picada de uma Nação em que as instituições se recusam a funcionar, e estão, virtualmente, sob o sequestro de meia dúzia de malucos concursados - apoiados corporativamente por toda uma geração de funcionários de carreira de Estado comprometidos ideologicamente, com a razoável exceção de organizações como a associação de Juízes para a Democracia - que atuam como ponta de lança de uma plutocracia estatal, que, embalada por uma imprensa parcial e irresponsável, pretende tutelar a República, colocando-se acima dos poderes constituídos.

Perguntado o que achava do pedido de prisão do Ministério Público de São Paulo, há poucos dias, o líder do PSDB na Câmara Alta, o senador Cássio Cunha Lima, disse que não via motivos para tanto e recomendou cautela neste momento.

Agradece-se a sua coragem e bom-senso – Cássio Cunha Lima foi violentamente atacado por isso pela malta radical fascista nos portais e redes sociais – mas agora é tarde.

A oposição deveria ter pensado nisso quando ainda não ocupava – tão hipócrita e injustamente quanto outros acusados - as manchetes da coluna de delações “premiadas”, e abandonou o calendário político normal para fazer política nos tribunais, por meio da criminalização da atividade, entregando o país a um grupo de procuradores e a um juiz de primeira instância que age - como se viu  pelo vazamento imediato do grampo do Palácio do Planalto - como um fio desencapado, não se importando – assim como os procuradores que o cercam ou nele se inspiram - em incendiar o país para dizer que é ele quem está no comando, independente da atitude da Presidente da Republica de trocar o Ministro da Justiça, ou nomear para a Casa Civil um ex-presidente da República, ou da preocupação de alguns ministros e ministras do STF – pelo menos aqueles que parecem ter conservado um mínimo de dignidade e de razão neste momento.

Iludem-se aqueles que acham que a Operação Lava-Jato vai livrar o país da corrupção.

Os resultados políticos da Operação Mani Pulliti – a operação Mãos Limpas, à qual o Juiz Sérgio Moro se refere a todo instante como seu farol e fonte de “inspiração”, foram a condução de Berlusconi, um bufão pseudo fascista ao poder na Itália, por 12 anos eivados de escândalos, seguida da entrega do submundo do Estado a uma máfia comandada por ex-terroristas de extrema-direita, responsáveis por mega-escândalos como o da Máfia Capitale, que envolve desvios e comissões em obras públicas em Roma, da ordem de bilhões de euros, cujo julgamento começou no último mês de novembro.

Da mesma forma, iludem-se, também, aqueles que acham que, com a queda do governo, por meio de impeachment, ou de manobra no TSE ou no TCU, ou de uma Guerra Civil, que se desenha como cada vez mais provável, o Brasil irá voltar à normalidade.

A verdadeira batalha, neste momento e a perder de vista – e há uma grande proporção de parvos que ainda não entenderam isso – não é entre o governo e a oposição, mas entre o poder político, alcançado por meio do voto soberano da população, e a burocracia estatal, principalmente aquela que tem a possibilidade – pela natureza de seu cargo -  de pressionar, coagir, chantagear, a seu bel-prazer, a Presidência da República, o Congresso e o grande empresariado.

Em palestra recente, para empresários – quando, com suas multas e sanções, ele está arrebentando com metade do capitalismo brasileiro – o Juiz Sérgio Moro afirmou que a operação Lava-Jato não tem consequências econômicas.

Sua Excelência poderia explicar isso ao BTG, cujas ações diminuíram pela metade seu valor, quebrando milhares de acionistas, ou que perdeu quase 20 de reais em ativos desde a prisão de André Esteves.

Ou à Mendes Júnior que teve de demitir metade dos seus funcionários e está entrando em recuperação judicial esta semana.

Ou, ainda, aos 128.000 trabalhadores terceirizados da Petrobras que perderam o emprego no ano passado.

Ou às famílias dos 60.000 trabalhadores da Odebrecht, que também foram demitidos, ou aos funcionários restantes que aguardam o efeito da multa de 7 bilhões de reais – mais de 15 vezes o lucro do Grupo em 2014 – que se pretende impor “civilmente” à companhia.

Ou aos funcionários da Odebrecht que estão envolvidos com projetos de extrema importância para a defesa nacional, como a construção de nossos submarinos convencionais e atômicos e nosso míssil ar-ar A-Darter, concebido para armar nosso futuros caças Gripen NG-BR, que terão de ser interrompidos caso essa multa venha a ser cobrada.   

Ou, ainda, aos “analistas” entre os quais é consenso que a Operação Lava Jato foi responsável por 2%, ou mais de 50%, da queda do PIB - de 3,8% - no ultimo ano.

Na mesma ocasião, o Sr. Sérgio Moro - como se fôssemos ingênuos de acreditar que juízes não têm suas próprias opiniões, ideologia e idiossincrasias políticas – afirmou não ter “partido”.

Ora, ele tem, sim, o seu partido.

E ele se chama PSM, o Partido do Sérgio Moro.
  
Um “partido” em que não cabem os interesses do país, nem os do governo, nem os da oposição, a não ser que eles se coloquem sob a sua tutela.

Assim como não dá para acreditar, com sua relativamente longa experiência, depois dos episódios de Maringá e do Banestado, que ele esteja agindo como age por ter sido picado pelo messianismo que distrai e embala a alma de outros “salvadores da pátria” da Operação Lava-Jato.

O que - seguindo a lógica do raciocínio - só pode nos levar a pensar que ele está fazendo o que faz porque talvez pretenda meter-se a comandar o país diretamente – achando, quem sabe, que as Forças Armadas vão permitir que venha a adentrar o Palácio do Planalto carregado por manifestantes convocados pelo Whats UP, em uma alegre noite de buzinaço,  como um moderno Salazar ou Mussolini – ou quando eventualmente se cansar, lá pela milésima-primeira fase da Operação Lava-Jato - de exercitar seu ego e – até agora - seu incontestável poder de manter o país em suspense, paralisado política e economicamente, independentemente do ocupante de turno – quem grampeia um presidente grampeia qualquer presidente - que estiver sentado na principal poltrona do Palácio do Planalto.

A alternativa a essa República da “Destrói a Jato”, de um país mergulhado permanentemente na chantagem, na manipulação, no caos e na paralisia, é alguém ter coragem, nos órgãos de controle e fiscalização, de enfrentar o falso “clamor”, pretensamente “popular”, de um senso comum ditado pela ignorância e a mediocridade, e pendurar o guizo no pescoço do gato – ou desse tigre (de papel) -  impondo ao mito construído em torno dessa operação, e aos seus “filhotes”, o império da Lei e o respeito ao Estado de Direito e à Constituição Federal.

Mas para isso falta peito e consciência de História a quem pode fazê-lo.

E sobra – talvez pelo medo das tampas de  panela dos vizinhos - hesitação e covardia.

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/552761-o-fim-da-picada)

terça-feira, 22 de março de 2016

Manifestação Pública da ANPUH sobre a Base Nacional Comum Curricular


Manifestação Pública da ANPUH sobre a Base Nacional Comum Curricular


 








Nascida como Associação de Professores de História, em 1961, a ANPUH ampliou consideravelmente o número de seus integrantes ao longo das últimas décadas, incorporando profissionais atuantes em todos os níveis do ensino, o que reitera sua compreensão acerca da relação intrínseca entre ensino e pesquisa na atividade profissional do historiador. A ANPUH tem sido fiel a este princípio, cumprindo, aliás, disposições estatutárias, entre as quais a que visa garantir "a proteção, o aperfeiçoamento, o fomento, o estímulo e o desenvolvimento do ensino de História em seus diversos níveis", além da permanente "defesa do livre exercício dos profissionais de História".

Por ser coerente e fiel a esses princípios, a ANPUH liderou, a partir dos anos 1970, a luta contra os Estudos Sociais e, na primeira metade dos anos 1980, foi protagonista do projeto "Diagnóstico e Avaliação dos Cursos de História", instituído pelo Ministério da Educação (MEC). Em sua trajetória, a Associação sempre debateu os rumos da educação brasileira, dedicando especial atenção ao lugar reservado à História nos currículos escolares. As definições de parâmetros e diretrizes curriculares foram acompanhadas de perto pela entidade, especialmente nos novos debates sobre reformas da educação básica.

Em agosto de 2015, a ANPUH foi convidada pelo MEC, junto com outras associações científicas, a participar de reunião em Belo Horizonte na qual foi apresentada a ideia central da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O evento contou com a presença do Secretário de Educação Básica, Manoel Palácios, e de assessores envolvidos na elaboração da mencionada proposta. O texto da BNCC ainda não estava concluído e nenhum conteúdo foi apresentado para discussão. Na sequência, na data prevista pelo MEC, foi apresentada, oficialmente, a primeira versão da BNCC. As diferentes áreas de conhecimento foram contemplas, exceto a da História, pois foi considerada problemática pelo próprio Ministério. Dias depois, o conteúdo de História foi divulgado, suscitando criticas e reações na academia e nos mais diversos meios de comunicação.

Nesses debates, multiplicaram-se as referências às fragilidades da proposta curricular da História. As seções regionais da ANPUH passaram então a promover discussões sobre o componente curricular da área de História que, a despeito de eventuais elogios, recebeu, sobretudo, críticas relacionadas aos fundamentos que embasaram a concepção de História na Proposta da BNCC. Em dezembro de 2015, a direção nacional da ANPUH decidiu, em reunião de seu Conselho Consultivo encaminhar à Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC as seguintes reivindicações: 1) alteração do calendário proposto com ampliação do prazo final para envio de sugestões relativas à revisão da primeira versão do documento; 2) ampliação da equipe de História, com a inclusão de especialistas da área que se dispunham a colaborar na revisão da Proposta.

Dois encaminhamentos foram feitos pela ANPUH:

1) a Vice-Presidente da Associação, Profa. Lucilia Neves Delgado, prontificou-se a protocolar, junto ao MEC, pedido de audiência com o Secretário Nacional de Educação Básica, para: a) propor a colaboração de representantes da ANPUH, junto à comissão nomeada pelo MEC; b) solicitar a ampliação do prazo para a finalização do documento de modo a garantir uma discussão sobre seu conteúdo;

2) a ANPUH, com o envolvimento de suas Seções nos Estados, programou e estimulou o amplo debate em torno da Proposta do MEC, tendo agendado Seminário, a ser realizado na sua sede, nos dias 29/2 e 1/3 de 2016, com o objetivo de elaborar um documento que expressasse sua posição. Texto a ser divulgado no seu site e encaminhado à SEB/MEC.

Em 6 de janeiro de 2016, o Secretário de Educação Básica recebeu em audiência a Presidente e a Vice-Presidente da Associação Nacional de História, as quais se fizeram acompanhar de outros membros da Diretoria. Na reunião, foram apresentadas as demandas sistematizadas pela entidade. Desse encontrou, resultou o seguinte encaminhamento: indicação de quatro representantes da ANPUH para atuarem como mediadores em reuniões com a Comissão do MEC.

Nessa mesma audiência, os representantes da ANPUH foram informados de que não havia qualquer possibilidade de ampliação do prazo para envio de sugestões à SEB. Dessa forma, continuou, prevalecendo o prazo previamente estabelecido, considerado pela Associação como insuficiente para a discussão da proposta.

Nos dias 17 e 18/2 foi realizada reunião entre representantes da ANPUH e a Comissão da SEB/MEC, em Brasília. Dela resultou uma carta de intenções na qual foram registrados alguns dos fundamentos básicos que deveriam ser observados na elaboração da segunda versão do documento. Na oportunidade, os representantes da ANPUH propuseram que a reunião da Comissão da SEB programada para os dias 22 e 24/2, em Belo Horizonte, para finalizar a revisão da primeira versão da proposta, fosse adiada para data posterior ao Seminário da Associação, agendado para 29/2 e 1/3 com objetivo de sistematizar as propostas da ANPUH para a revisão da BNCC. Lamentavelmente, porém, o pedido não foi acolhido pela Comissão do MEC.

Nos dias 29/2 e 1/3, o seminário para avaliação do conteúdo de História da BNCC foi realizado em São Paulo. Precedido de reuniões em diferentes regionais da ANPUH teve como resultado o presente documento que analisa o conteúdo de História da BNCC.

É importante destacar que a ANPUH apoia a construção de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que não seja prescritiva e subordinada a metas relacionadas ao fluxo escolar, ao controle vertical do trabalho docente e à obtenção de resultados em testes como o Exame Nacional do Ensino Médio.

Quanto a área de História, o exame atento da proposta suscita dúvidas quanto à forma de implementação do currículo que se seguirá à aprovação da BNCC e, também, com relação aos seus desdobramentos quanto à formação de professores. Partindo do pressuposto de que os responsáveis pela definição dos currículos escolares parecem não considerar as diferentes condições de sua aplicabilidade e os interesses mercadológicos em jogo na política que os define, cabe a seguinte indagação: uma vez implementada a proposta, estará garantida a autonomia dos docentes na escolha de conteúdos que compõem o currículo de forma a evitar o seu atrelamento aos exames censitários padronizados? Mais: percebe-se que a proposta da BNCC desconsiderou as inúmeras experiências desenvolvidas no país no âmbito do Programa de Iniciação à Docência, as quais revelam a riqueza dos currículos construídos no diálogo entre docentes, estudantes e pesquisadores, a envolver escolas e universidades.

OBJETIVOS

Uma crítica constante nos pareceres apresentados pelas Seções Regionais da ANPUH é a de que os objetivos do documento apresentam formulação genérica, válida para qualquer componente das Ciências Humanas (p.237 e 239). Considerando que uma disciplina específica só se justifica pela importância de seus objetivos de formação, de domínio de conceitos fundamentais e de métodos de produção do conhecimento sobre o lugar do indivíduo na sociedade contemporânea, os objetivos elencados para a área na BNCC mostram-se insuficientes e muitas vezes se confundem com conteúdos.

Registre-se que a BNCC indica um amplo conjunto de objetivos, organizados por ano da escolarização. No entanto, eles são numerosos, repetitivos, pouco precisos e, às vezes, com redação confusa, o que indica a necessidade de cuidadosa revisão do texto. Verifica-se, ainda, que, atrelam-se aos objetivos a definição de conteúdos de ensino e conceitos, fatos e sujeitos históricos, sem que sejam explicitados os critérios de seleção e de organização que presidiram tais escolhas. Além disso, surgiram dúvidas quanto à exequibilidade dos objetivos de aprendizagem em relação ao ano escolar a que se destinam. Tal problema pode resultar no comprometimento da proposta de progressão da aprendizagem.

CIDADANIA

Outra questão que suscita críticas vincula-se a um dos objetivos principais explicitados na BNCC, qual seja, a relação do ensino de História com a formação política da cidadania. Mesmo considerando a relevância do objetivo, cabe lembrar que a formação para o exercício da cidadania não se confunde com a formação cívica, baseada no conhecimento e no respeito aos símbolos nacionais ou mesmo aos poderes instituídos. A compreensão de deveres e direitos do cidadão resulta da formação mais ampla, que inclui o respeito pelo outro, que engloba as diferenças sociais, políticas, ideológicas, culturais, religiosas, além das diferenças regionais, nacionais, étnicas, raciais, de gênero e das opções relacionadas à sexualidade.

A formação política da cidadania também está relacionada à questão da identidade nacional. Neste caso, espera-se que o ensino de História ultrapasse os limites do nacional, considerando que uma perspectiva crítica sobre identidades contribui para a integração de formas diversas de convivência. No que se refere ao tema da formação da cidadania a partir do ensino de História, foram relegadas questões fundamentais, como respeito às minorias étnicas, diversidade de gênero, diferenças culturais, políticas, ideológicas, sociais, regionais. Também nesse aspecto, determinados conceitos carecem de historicidade. No quarto ano do Ensino Fundamental, por exemplo, antes mesmo de serem apresentadas quaisquer noções sobre direitos sociais, as crianças aprenderão que "as relações de consumo são regulamentadas pela legislação, por meio de estudo de documentos como o Código de Defesa do Consumidor, identificando mudanças e permanências nessas relações ao longo do tempo" (CHHI4FOA044). Como, em momento algum, o tema do consumo aparece relacionado à História do Capitalismo, o estudante não dispõe de elementos para compreender o significado de uma sociedade que se baseia no consumo de mercadorias e tampouco conseguirá desenvolver uma perspectiva crítica em relação aos elementos que produzem o consumismo.

A questão da cidadania, tal como aparece formulada no documento, corre o risco de ser compreendida como algo natural e particularizada através de um personagem: "o cidadão brasileiro". O documento acaba por apresentar uma proposta prescritiva, e não política, em relação à cidadania. Na formulação desse objetivo caberia propor a reflexão sobre o significado amplo de cidadania relacionado à política, à formação de identidades (não apenas a nacional), à alteridade, a parâmetros éticos historicamente construídos, ou seja, questões que vão muito além do respeito às leis, regras e valores. Ainda no que se refere à formação do cidadão como uma das metas do ensino de História, registre-se que a discussão sobre a questão de "gênero", muito importante, mas ausente nos objetivos da Proposta, contribuiria para um debate frutífero sobre a cidadania no mundo contemporâneo.

ENSINO DE HISTÓRIA

Uma das lacunas centrais da Proposta refere-se à ausência da discussão apropriada sobre o papel do ensino de História na formação intelectual do aluno, a qual resulta de um conhecimento histórico produzido por pesquisas realizadas por historiadores e pesquisadores de áreas afins. Ora, ter acesso ao conhecimento do resultado dessas investigações científicas é fundamental para a formação crítica dos alunos, tanto em relação à história ensinada nas escolas quanto às suas histórias de vida. Os dois tipos de aprendizado, ainda que específicos, se interligam. É por meio desse aprendizado mais amplo que o estudante pode apreender as categorias de tempo histórico em suas diferentes temporalidades, ritmos e durações, além de também desenvolver capacidade analítica sobre diferentes formas de construção dos discursos e das representações sobre o passado.

CONCEITOS

Todavia, o aspecto considerado mais problemático do documento é o que concerne à fundamentação da interpretação dos acontecimentos a partir de conceitos históricos, sabidamente ponto central da aprendizagem no ensino de História. Conceitos ou noções como "mundos", "comunidades", "representações", entre muitos outros, são mencionados sem levar em conta a necessidade de historicizá-los. A forma de apresentação e de apropriação de conceitos históricos pode indicar, ainda, certa fragilidade de sintonia da BNCC com os debates historiográficos contemporâneos, os quais, em âmbito nacional e internacional, resultaram em revisão crítica de inúmeros conceitos.

Estão presentes no texto da BNCC várias noções de história que, expressando versões tradicionais ou canônicas da historiografia, já foram amplamente questionadas pelas revisões historiográficas produzidas nas últimas décadas. Alguns exemplos podem ser mencionados: "Ciclos econômicos", "Formação de Estados Oligárquicos na América Latina" ("porfirismo", "coronelismo", "caudilhismo"), "República Velha", "Golpe de 1930", "Revolução Constitucionalista de 1932". Na mesma direção, também pode ser verificada a naturalização de categorias como progresso, desenvolvimento, terceiro mundo, dependência, entre outras.

TEMPORALIDADE

No que se refere à temporalidade, há referências (no 6ª. ano) ao estudo dos tempos e processos históricos, os quais, contudo, não estão relacionados a acontecimentos. Além disso, verifica-se a supressão de noções correlatas ao conceito de tempo histórico, a exemplo de "diacronia", "sincronia", "processo", "permanências", "mudanças", "rupturas", além de certa despreocupação com a cronologia. Atribuir pouca importância à temporalidade numa Proposta de Ensino de História soa incompreensível, pois o tempo é categoria que confere identidade ao conhecimento histórico, indissociável do "oficio do historiador". De igual modo, a Proposta passa ao largo da narrativa histórica, outro elemento essencial ao trabalho do historiador.

EUROCENTRISMO

Relativamente aos conteúdos, a Proposta enfatiza a crítica à perspectiva eurocêntrica. Eis uma critica bastante oportuna, chancelada pela produção do conhecimento histórico das últimas décadas, em larga medida voltada para o distanciamento em relação aos centros hegemônicos de poder. A base teórica dessa perspectiva está ancorada em estudos que privilegiam a diversidade, a pluralidade e a diferença cultural. Nesse sentido, a preocupação com o estudo das populações africanas, afrodescendentes e indígenas, presente na BNCC, é salutar por contribuir para a desconstrução de estereótipos e classificações arbitrárias de natureza diversa e por permitir o deslocamento do olhar da História para novos aspectos que contribuem para a crítica ao eurocêntrico, a partir de uma perspectiva que privilegia o polissêmico e o policêntrico.

No entanto, embora a BNCC tenha o mérito de questionar a concepção eurocêntrica da História, a formulação da proposta ressente-se de solidez argumentativa. Ao olvidar conteúdos históricos fundamentais para a compreensão da diversidade das sociedades, dos povos, das nações e de culturas, a critica ao eurocentrismo é prejudicada pela escassez de bases históricas. A fragilidade argumentativa também se evidencia nas referências à História do Brasil e à História da África. Nos dois casos, toma-se como marco inicial dessas histórias a chegada dos portugueses, que promoveram a "Conquista" e a "Colonização" desses territórios. O uso do termo "Conquista" revela, por certo, uma narrativa eurocêntrica que a BNCC se propôs a superar.

HISTÓRIA ANTIGA E MEDIEVAL

A ausência de referências à História Antiga e à História Medieval foi considerada lacuna inaceitável da Proposta e, não por outra razão, mereceu inúmeras criticas. Não há justificativa plausível para a omissão da História de povos da Antiguidade de diferentes partes do mundo que legaram um patrimônio material e imaterial reverenciado até os dias atuais. O mesmo deve ser dito em relação à História Medieval, tão imprescindível para se compreender modos de vida, ideias e valores que lhe são próprios e para refletir sobre processos de mudanças que ocorreram entre a Antiguidade e a Modernidade. Ao acompanhar e analisar o significado dessas transformações históricas, muitos aspectos, inclusive, poderiam ser explorados para a fundamentação da critica ao eurocentrismo.

A referência a sociedades que ficaram à margem da proposta da BNCC contribuiria para a reflexão sobre deslocamentos populacionais entre continentes e também sobre a circulação de mercadorias, ideias e culturas. Em suma, culturas produzidas nas Américas, na África, na Ásia, na Europa e na Oceania em diferentes épocas, a partir de uma perspectiva conectada, permitiria ao estudante a refletir sobre o significado das identidades e das alteridades. A reduzida representação das sociedades que se desenvolveram em outros tempos e espaços limita o contato do estudante com experiências bem distintas das que vive ou tem conhecimento nos tempos atuais. Dessa forma, restringe-se a possibilidade de contribuir para a ampliação das visões de mundo e para a percepção de processos múltiplos de transformação da História marcados por mudanças e permanências que ocorreram em temporalidades distintas, ou seja, de longa, média e curta duração.

Cabe ainda chamar a atenção para outro problema: ao privilegiar o período histórico que deu início à colonização, o século XVI, o documento, reforça uma perspectiva que naturaliza a sociedade moderna capitalista. Ao atribuir à colonização e ao colonizador europeu o marco inicial, tanto da História do Brasil como a da África, o texto opera exclusões injustificáveis que impedem a compreensão das realidades históricas muito anteriores à chegada do colonizador e, neste caso, mantêm a Europa em lugar central nesse processo, fragilizando a crítica ao eurocentrismo.

HISTÓRIA INDIGENA E HISTÓRIA DA ÁFRICA

Não se pode deixar de reconhecer o mérito da BNCC ao introduzir a História indígena e a História da África no currículo dos ensinos fundamental e médio. O documento contempla, de forma geral, as temáticas relativas às culturas afro-brasileiras e indígena, em conformidade à legislação (Leis 10.639/03 e 11.645/08). Todavia, é preocupante a ausência de qualquer referência aos povos indígenas, afro-brasileiros e africanos nos objetivos dos anos iniciais. Além disso, a inserção dos estudos sobre esses povos ocorre basicamente na perspectiva de suas contribuições para a formação do povo brasileiro, ainda que envolvida em processos de conflitos, disputas e negociações dentro da lógica da escravidão. A identificação dos povos indígenas e africanos como brasileiros é problemática porque não leva em conta o fato de que tais povos vinham construindo suas histórias muito antes da configuração de uma História do Brasil como nação. Não há dúvida quanto a importância do estudo dessas histórias, pois permite ao aluno compreender as alteridades presentes na formação da sociedade brasileira. O reconhecimento do "outro" (no caso, o indígena e o africano) é fundamental porque dele depende a desconstrução da imagem de uma nação europeia e colonizadora nos trópicos.

Embora haja menção a objetivos relacionados à temática indígena, eles reduzem a compreensão dos fenômenos históricos a episódios específicos e isolados no tempo e no espaço. Dessa forma, resta ao professor limitar-se à abordagem das relações entre europeus e os diferentes povos indígenas, tal como aparece, por exemplo, no objetivo de aprendizagem CHHI8FOA108, que propõe: Compreender as relações entre europeus e povos indígenas no Brasil como construções do tempo, permeadas por conflitos, disputas e negociações, por meio do estudo da Pacificação do Rio de Janeiro."

No caso de História da África, os historiadores especialistas na área chamam atenção para o fato de que os estudos já realizados sobre esse Continente contribuem para desfazer estereótipos e classificações arbitrárias comuns quando se associa a África unicamente à escravidão, por exemplo. Como a proposta da BNCC, não faz qualquer menção às sociedades africanas anteriores ao século XVI, as histórias africanas continuam sendo percebidas como mero apêndice da História europeia.

No que se refere especificamente à História da escravidão no Brasil, o documento não leva em conta os estudos que renovaram a compreensão desse fenômeno a partir de novas abordagens e introdução de novas temáticas. Esses estudos, mostram, por exemplo, formas de resistência muito mais abrangentes do que as revoltas dos quilombos e também pesquisam as importantes contribuições da cultura africana à cultura brasileira.

CONTEMPORANEIDADE

As referências temporais e espaciais que organizam o ensino da história não contribuem para a ruptura com uma visão da história acrítica. Para que o estudante possa entender as relações sociais vigentes até os dias de hoje, é imprescindível que ele compreenda o processo histórico através do qual as sociedades contemporâneas se constituíram, como foram se organizando suas características básicas e as contradições que se explicitaram ao longo do tempo. Para tanto, caberia à Proposta contemplar os elementos conformadores da contemporaneidade vinculados ao desenvolvimento do capitalismo e, neste caso, o estudo da Revolução Industrial torna-se imprescindível, bem como o das Revoluções Inglesa e Francesa.

A rigor, em seus duzentos componentes não há uma só referência às características econômicas e sociais vigentes nos últimos três séculos. Os termos capitalismo, capital e burguesia estão inteiramente ausentes da proposta, abolindo do estudo de História conceitos fundamentais para a compreensão da contemporaneidade. O conhecimento de teorias criticas e movimentos de contestação às relações econômicas e sociais produzidas pelo capitalismo, permitiria que o estudante refletisse sobre as contradições inerentes ao processo histórico que, por sua vez, explicam o advento das Revoluções Comunistas do século XX. Ainda assim, paradoxalmente, os componentes de História encontram espaço para mencionar o stalinismo, em referência generalizante a "processos históricos tais como o fascismo, o nazismo e o stalinismo" (CHHI3MOA052), e ainda à Glasnost e à Perestroika (CHHI3MOA050) – fenômenos inteiramente incompreensíveis sem referência à Revolução Russa. O mesmo se pode dizer com relação à proposta de estudo da Revolução Cultural na China sem que tenha sido mencionada, anteriormente, a Revolução Chinesa.

A História Contemporânea é pensada a partir da subordinação aos seus "nexos" e "vínculos" com a História brasileira, o que produz graves distorções, inviabilizando a compreensão da dinâmica própria de seus processos Por exemplo, a Revolução Francesa – cuja importância para a conformação do mundo contemporâneo é indiscutível – é estudada exclusivamente para identificar "os nexos entre os processos de Independência [na América] e as transformações ocorridas na Europa" (CHHI8FOA111) e para reconhecer "as incorporações do pensamento liberal no Brasil" (CHHI8FOA114). Para o 9º ano, propõe-se "Compreender o século XX como um momento de reordenação e reformulação das relações de trabalho, em função das transformações na economia mundial" (CHHI9FOA130). Na ausência de referências às mudanças ocorridas no sistema capitalista ao longo dos dois últimos séculos, que resultaram na globalização, as "transformações na economia mundial" aparecem como sujeitos de si mesmas, sem articulação com uma totalidade capaz de permitir uma compreensão mais ampla da contemporaneidade.

HISTÓRIA DO BRASIL e HISTÓRIA DA AMÉRICA

No que se refere à História do Brasil como eixo central da BNCC, a justificativa dessa escolha carece de argumentos mais sólidos, de modo a se evitar que seja interpretada como proposta meramente nacionalista. Seria oportuno ter esclarecido que o próprio nome História do Brasil tem uma história que começa bem antes da chegada do colonizador, sendo anterior mesmo à formação de uma nacionalidade, algo que se consolida a partir da construção do Estado/nação.

A Proposta de História apresentada na BNCC não privilegia a interconexão entre diferentes histórias. Por exemplo: a interconexão entre a História da América e dos ameríndios, da África e dos afro-americanos seria muito oportuna porque permitiria explorar as múltiplas conexões entre esses processos históricos e, ao mesmo tempo demonstrar que, tanto a História do Brasil, como a de outros países da América e os da África, não são apêndices da História da Europa.

Com relação à importância das histórias conectadas, cabe lembrar que a historiografia atual passou a se preocupar com as conexões e com os processos de circulação entre pessoas, ideias, culturas numa perspectiva transnacional, a partir da configuração de um mundo globalizado e interconectado no qual se inserem nossos estudantes.

SUGESTÕES

Após leitura atenta e muita discussão em torno do documento, representantes da ANPUH que participaram dos debates, sugerem que, no processo de revisão da BNCC sejam levadas em conta as seguintes observações:

a) a redação do documento não prima pela clareza, tanto no que se refere à exposição dos objetivos, como na argumentação sobre as escolhas de conteúdos correspondentes a eles; cabe, portanto, uma revisão do texto;

b) detectamos problemas na formulação e utilização de conceitos. Sugerimos que eles sejam revistos levando em conta as revisões historiográficas das últimas décadas;

c) avaliamos que existem problemas de concatenação dos objetivos de aprendizagem ao longo dos anos escolares;

d) consideramos que a ausência de problematização e reflexão crítica em relação ao conhecimento histórico fragiliza a proposta na sua totalidade. Tal questão deveria ser levada em conta pelos revisores do texto porque essas ausências sugerem uma concepção de história bastante questionável;

e) cabe observar que a falta de transparência com relação aos critérios de escolha dos membros da equipe encarregada da produção do documento e a ausência de diálogo com representantes das associações, grupos de trabalho (GTs), coordenadores de projetos relacionados a temas de história abordados no documento explicam, em parte, os problemas detectados em relação à primeira versão do documento. Há, portanto, uma expectativa de que sejam abertos canais de comunicação entre representantes da equipe e a comunidade dos historiadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reafirmamos que os problemas apontados neste documento visam, unicamente, colaborar para o aprimoramento da Proposta. Temos consciência da dificuldade a ser enfrentada na elaboração de uma base de ensino que se destina a todas as unidades da federação e a escolas de perfil heterogêneo. Temos também clareza de que a implementação da BNCC será inócua se não vier acompanhada de uma política educacional mais ampla, voltada para a formação e atuação dos profissionais da área, e da adoção de medidas concretas para a melhoria das condições da educação pública no país.

AGRADECIMENTOS

A Diretoria da ANPUH Nacional agradece, imensamente, a colaboração de inúmeros colegas, de representantes das Seções Regionais, de coordenadores de GTs de História. Todos os que nos enviaram pareceres e os que participaram da reunião na qual foi discutida a Proposta contribuíram, efetivamente, para a elaboração deste documento. Um agradecimento especial cabe aos colegas que se dispuseram a participar da reunião no MEC, dedicando dois dias de trabalho intenso, unicamente com o objetivo de colaborar para o aprimoramento do Ensino de História destinado aos estudantes dos ciclos Fundamental e Médio.

São Paulo, 10 de março de 2016

DIRETORIA NACIONAL DA ANPUH


 

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