domingo, 27 de agosto de 2017

Convite para debate público sobre PL 7920/2017

CONVITE PARA DEBATE PÚBLICO SOBRE O PROJETO DE LEI 7920/2017 QUE PROPÕE AUTORIZAR A DESTRUIÇÃO DE DOCUMENTOS ORIGINAIS APÓS A DIGITALIZAÇÃO.


 








Prezado/a associado(a) da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil)

O Conselho Nacional de Arquivos convida a esta conceituada Associação Nacional de História (ANPUH-BRASIL) para o debate público CONARQ sobre o Projeto de Lei nº 7920/2017, que propõe autorizar a destruição de documentos originais após a digitalização, bem como, alterar a lei nº 8.159 (Lei de Arquivos Brasileira), a lei nº 12.682, o código de processo penal, o código de processo civil.

O Debate Público será realizado no dia 19 de setembro próximo, das 09h às 17h, no auditório do Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro.

O Debate Público CONARQ sobre o PL 7.920/2017 será promovido com a participação de seus conselheiros, especialistas das áreas de arquivologia, sociologia, história, direito, tecnologias de informação, gestão, controle e transparência pública, entre outros.O Debate tem como proposta os seguintes objetivos:

a) ouvir especialistas, comunidade arquivística, órgãos da administração pública e organizações privadas sobre o impacto do PL 7920/2017, em matérias relacionadas à gestão de documentos, confiabilidade e autencidade dos documentos arquivísticos, preservação digital – custos e impactos a médio e longo prazo, uso das tecnologias da informação, entre outras questões;
b) coletar material fático e técnico acerca do objeto do PL para subsidiar a atuação do CONARQ;
c) estabelecer estratégias de ação em relação ao trâmite do PL 7920/2017;
d) divulgação à sociedade civil do posicionamento e providências adotados pelo CONARQ, de modo a legitimar sua atuação.
e)debater a importância das instituições arquivísticas na preservação e difusão de registros históricos

Após a realização do Debate Público, serão coletadas todas as informações e as deliberações serão reunidas em um documento que será encaminhado à Câmara dos Deputados e demais atores envolvidos com a temática do PL 7920.

O evento será aberto ao público. As vagas são limitadas. Para participar é necessário efetuar inscrição no site do CONARQ http://www.conarq.gov.br.
Maiores informações:
E-mail: conarq@arquivonacional.gov.br.
Telefones: 2179-1271 ou 2179-1293.

Solicitamos o apoio desta ANPUH-BRASIL para divulgar o Debate Público CONARQ sobre o PL 7.920/2017 em seu site institucional e facebook. O link do site do CONARQ: http://www.conarq.gov.br/index.php/divulgacao-de-eventos/600-debate-publico-sobre-o-pl-7920-2018 e o link do facebook do CONARQ é: https://www.facebook.com/ConselhoNacionaldeArquivos/

Desde já agradecemos a valiosa colaboração.

Atenciosamente,

Domícia
Coordenadora do CONARQ



Conselho Nacional de Arquivos - CONARQ

Praça da República, 173  - Centro - 20211-350

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

Tel: (21) 2179-1271 -2179-1293

Fax: (21) 2179-1293

A medicina capitalista: perdendo a batalha contra o câncer?

por Gilson Dantas
Médico norte-americano denuncia grave impasse na indústria do câncer: por que os gastos nunca foram tão colossais e o câncer está matando mais que nunca? O que está travando a pesquisa da cura do câncer?
O médico norte-americano, dr. Joseph Mercola, levanta indícios para sustentar a hipótese de que não vê perspectivas, nos marcos da estratégia convencionalmente conduzida pela oncologia, de se chegar à cura do câncer. De saída, ele chama a atenção para o fato de que, desde que o presidente norte-americano Richard Nixon, mais de quarenta anos atrás, declarou sua “guerra contra o câncer”, liberando vultosos recursos para a indústria do câncer e suas pesquisas, as mortes por câncer somente têm crescido.
A constatação do dr. Mercola: um ou outro tipo de câncer – por razões determinadas – pode ter tido alguma queda, mas, de conjunto, as mortes por câncer, nos Estados Unidos e em outros países, têm crescido astronomicamente. Segundo o dr. Mercola, em artigo de 2013 [Why medicine won´t allow câncer to be cured] temos o equivalente a 8 a 10 aviões caindo a cada dia, em termos de mortes pelo câncer. A cada ano, dois milhões de americanos são diagnosticados com câncer. E tudo isso, argumenta ele, “a despeito dos avanços tecnológicos massivos do último meio século”. E também sem que esse tipo de fato venha a se transformar em um escândalo nacional.
Uma pessoa em cada três, nos Estados Unidos, terá sido diagnosticada com câncer ao longo de sua vida – segue argumentando ele –, além de informar que não são apenas mais e mais casos que estão acontecendo e sim mais casos em relação ao mesmo número de pessoas [mais casos por cada dez pessoas, por exemplo]. Isto é, não se trata de que há mais câncer porque a população cresceu e sim que o crescimento de casos de câncer aumenta de todo ponto de vista; hoje temos uma em cada 3 pessoas tendo câncer, mas no início do século passado se tinha uma em cada vinte. Proporcionalmente há mais gente com câncer do que nunca.
A estatística por ele citada revela, como diz, um crescimento de “proporções epidêmicas”: nos anos 1940 uma em cada 16 pessoas tinha câncer, nos 1970, uma em dez, atualmente temos uma em três.
Livro recente, de Clifton Leaf, intitulado A verdade em pequenas doses: porque estamos perdendo a guerra contra o câncer – e como vencê-la [livre tradução de The truth in small doses: why we´re losing the war on cancer – and how to win it], traz gráfico sugerindo que o número de novos casos de câncer tem crescido a taxas três vezes maiores que o crescimento da população. Nesse caso, também argumenta ele, estaríamos perdendo a guerra.

Nunca se investiu tanto em pesquisa, nunca se gastou tanto em tratamento, mas também nunca houve tanto câncer, nunca foi tão caro tratar uma doença, eis a equação que o dr. Mercola expõe sem meias palavras para seguir argumentando que a chamada “indústria do câncer” é um grande negócio bem-sucedido para os capitalistas do câncer e um grande problema para quem vier a sofrer dessa doença.
Poderia ser levantada, no entanto, a pergunta: tais estatísticas não mostrariam apenas que passou a haver uma maior capacidade de diagnóstico da medicina? Ou seja:  como os diagnósticos são mais precoces ou mais refinados, então, por isso, teríamos maior número de casos?  Ele não concorda:  se fosse assim não se morreria tanto, argumenta; e acrescenta que não se pode fugir ao fato de que, sobretudo, o que temos são mais e mais mortes. E com tratamentos mais caros, mais sofisticados, sempre nos marcos da mesma estratégia [atacar o tumor: quimioterapia, radioterapia, cirurgia].
O dr. Mercola, como foi dito, também se mostra chocado pelo fato de tanta morte por câncer, tanto fracasso médico não se transformar em manchete.  Cai um avião, vira manchete, diz. Caem quase dez aviões por dia, de mortes por câncer, e paira o relativo silêncio, mais ou menos como se estivéssemos diante de uma fatalidade.
Depois de traçar esse quadro contraditório e assustador, depois de chamar a atenção para a baixíssima taxa de cura pelos métodos atuais [ele cita que “dois de cada três pacientes com câncer morrerão em cinco anos após ter recebido todo o tratamento padrão ou parte dele, isto é, da trindade, cirurgia, radioterapia e quimioterapia”]; ele vai além na denúncia: “um estudo estimou que a quimioterapia beneficia apenas um em cada 20 pacientes que a recebem”; e acrescenta: “isso não chega a ser propriamente uma surpresa quando se considera que dois dos três métodos são em si mesmos cancerígenos!”
Ao mesmo tempo ele denuncia que a estratégia de prevenção é a menor das preocupações da oncologia norte-americana. E que não se discute e nem se foca seriamente a pesquisa nos elementos ambientais e sanitários causadores ou envolvidos com a gênese do câncer, desde alimentação a toxinas ambientais e do ambiente de trabalho.
Basicamente o que se gasta em pesquisa e em tratamento segue o mesmo foco:  a surrada estratégia de atacar o tumor com radiação ionizante, quimioterápicos [tóxicos por definição] e cirurgia. Para os sintomas tudo [se tomamos o tumor como sintoma], para o terreno biológico, para o terreno ambiental, nada.
Procurando juntar as peças, o profissional levanta algumas questões que, segundo ele, poderiam estar por trás ou na base de tantas contradições em torno da abordagem convencional do câncer. A qual, no raciocínio do dr. Mercola, não conta com os elementos necessários para chegar – com tal estratégia – à cura do câncer e, por isso, estaria perdendo aquela guerra deflagrada, oficialmente há quase meio século atrás, pelo presidente Richard Nixon.
O gráfico a seguir parece reforçar essa ideia: nele se vê que as taxas de mortes por câncer não param de crescer.
[Disponível em: https://egtheory.wordpress.com/2016/01/19/cancer-books/%5D
O mesmo autor argumenta na linha de que grandes grupos financeiros ganham com as coisas como elas são na oncologia: “A epidemia de câncer é o sonho dourado para a Big Pharma e suas campanhas para silenciar outras tentativas de cura têm sido ferozes” [a este respeito, ele remete para o documentário Cancer: forbidden cures]
E insiste: “nós temos que entender que o câncer é um grande negócio. A indústria do câncer gasta praticamente nada dos seus recursos multibilionários de dólares em estratégias de efetiva prevenção, como por exemplo, guias de dieta, exercício e educação contra a obesidade. Em vez disso, concentra seu capital no tratamento do câncer, não na prevenção ou cura. Por que iriam matar a galinha dos ovos de ouro – pergunta?
Se eles podem manter a ´máquina do câncer´ bem lubrificada e seguindo em frente, certamente o farão, seguramente continuarão a ganhar lucros massivos em drogas quimioterápicas, radioterapia, procedimentos diagnóstico e cirurgias. O paciente típico de câncer gasta 50 mil dólares lutando contra a doença. Drogas quimioterápicas estão entre os tratamentos mais caros, muitas delas oscilando de entre 3 mil a 7 mil dólares por mês”.
Seu argumento é que a indústria do câncer não pode perder seus pacientes, que é funcional para ela manter o fluxo continuado de pacientes de câncer, e chama essa indústria de “monstro societário”.
Cita o dado histórico de que a indústria farmacêutica – aliada com a AMA [Associação Médica Americana] – tomou conta do sistema médico já desde o início do século passado.
Citando aquele documentário, ele argumenta: “A banca internacional controla as companhias de drogas e produtos químicos e controla o sistema educacional médico há um século. Eles dão subsídios e recursos para a AMA e as principais escolas médicas, em troca de assentos nos seus comitês [empresariais] de forma a poderem incidir sobre a política médica; inteligentemente, manejam virtualmente cada agência regulatória federal vinculada à prática da medicina”.
Ele liga essa sua constatação política ao fato de que, embora – de acordo com sua denúncia – aqueles tratamentos sejam pouco eficazes continuam recebendo rios de dinheiro e lucrando bilhões de dólares.
Também denuncia aquela indústria por lutar ferozmente para proteger seu mercado cativo: “Para proteger seu monopólio médico, qualquer tratamento natural viável sofre massiva oposição pela indústria médico-farmacêutica. As companhias de medicamentos não possuem interesse em agentes naturais que eles não possam patentear, já que eles interfeririam em seu fluxo de lucro.
Daí eles acionam – e sempre acionaram – medidas extremas para evitar que a verdade sobre tratamentos naturais eficazes [que concorreriam com a indústria] possa alcançar o grande público”. O FDA [a Anvisa norte-americana], segue argumentando o dr. Mercola, alega estar “protegendo o público, mas realmente eles estão protegendo os lucros das companhias de medicamentos”.
Como observação final, pode-se dizer que a hipótese do dr. Mercola, até pelas consequências médico-sanitárias e em termos de estratégia de pesquisa do câncer que ela implicaria, suscita uma pergunta inevitável: já não passou da hora e da oportunidade de que os problemas que ele – e não apenas ele – levanta, passem a ser tema de um amplo debate, especialmente a partir dos sindicatos e associações dos trabalhadores de saúde?
Ou por outra: o pior dos cenários diante do drama social do câncer, não será o de seguir ignorando tais argumentos, que volta e meia reaparecem no meio científico para, em seguida, serem relegados ao relativo esquecimento? E a não realização desse debate, será que não tem a ver com certa ilusão ideológica, de que é possível se chegar a uma boa medicina, eficiente e não-tóxica, nos marcos do capitalismo, do atendimento médico na condição de mercadoria, da medicina mercantil?

[FONTE – O artigo original do dr. Mercola, com mais de 1,5 milhão de visitas, está disponível em: http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2013/08/03/natural-cancer- treatment.aspx. Como fonte de seus dados estatísticos, o dr Mercola cita: https://www.cancer.org/research/cancer-facts-statistics.html ]
[O AUTOR – dr. Mercola, nascido em 1954, graduado na Universidade de Illinois e no Colégio de Medicina Osteopática de Chicago, trabalha oferecendo regularmente orientação de saúde e comercializando suplementos nutricionais através do seu site. Ele é autor, dentre outros, do livro The no-grain diet [2004] e também The dark deception [2008]. Mesmo que não tomemos o dr. Mercola como referência em termos de orientação médica – já que apoia a homeopatia e o não uso de açúcar na dieta, dentre outros problemas –, mas é perfeitamente possível levar adiante um debate a respeito das suas denúncias contra o tratamento convencional do câncer, considerando que tais denúncias se repetem a partir de outros médicos norte-americanos como o dr Nicholas Gonzalez, médico recém-falecido de New York, apenas para citar um exemplo].
[AVISO – O objetivo desta nota é puramente didático/informativo, na linha de levantar o debate; não pretende alimentar qualquer expectativa de aconselhamento médico/profissional em qualquer direção específica].
* GILSON DANTAS é graduado em Medicina pela Universidade de Brasília; Doutor em Sociologia pela UnB.

(fonte: https://espacoacademico.wordpress.com/2017/08/19/a-medicina-capitalista-perdendo-a-batalha-contra-o-cancer/)

Terrorismo. “Há causas econômicas, sociais, psicológicas, mas também religiosas”




“Dizer simplesmente que ‘o islã é paz’ ou que ‘não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda’ é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a ver”, escreve o jesuíta Jaume Flaquer, em artigo publicado por Religión Digital, 21-08-2017. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Infelizmente, sabíamos que um atentado em Barcelona poderia ocorrer. Sua grande atração turística a tornava um prato desejado demais. Las Ramblas, além disso, é um passeio que há tempo nós, barceloneses, abandonamos.

Antes de mais nada, devemos destacar que nem a religião (que dizem professar), nem a nacionalidade dos terroristas devem contribuir para estigmatizá-las. A Comunidade Islâmica da Espanha, como sempre faz quando há um atentado em nome do Islã, se apressou a condená-lo. Milhares de muçulmanos que estão entre nós vivem estes acontecimentos como o mesmo sentimento de horror que possuímos.

O uso do nome da própria religião para algo tão terrível deve criar um profundo sentimento de desolação. O Rei da Jordânia, em 2004, iniciou um processo de condenação pública do mundo islâmico contra a barbárie. O grande dirigente islâmico do Egito também quis liderar este processo em diversos congressos e declarações. Marrocos seguiu a mesma saga, ainda que não chegue aos ouvidos ocidentais.

Dito isto, é preciso que entre todos façamos uma análise profunda, mas também honesta de todas as causas que provocam o terrorismo. E temos de sublinhar o “todas”! Não só as diretas, mas também as indiretas. Há metodologias de base mais ou menos marxista (ainda que seja de maneira matizada ou evolucionista) que reduzem as causas a questões sociais, econômicas, políticas ou geoestratégicas, etc., sobre as quais se formam as ideologias, também religiosas; e há também metodologias contrárias, mais ou menos antirreligiosas (ou islamofóbicas), que reduzem as causas à própria religião.

O fenômeno terrorista é extremamente complexo, posto que não há nenhuma causa única que explique por si só este fenômeno. Há terroristas (muitos) de classe média ou média-alta, e gente extremamente rica que o financia. Muitos cursaram estudos universitários (mas isso, sim, quase sempre em carreiras técnicas ou científicas). Não é, pois, um problema de simples falta de formação. Sem dúvida, os problemas sociais, de integração ou de desenvolvimento da própria identidade potencializam o fenômeno porque geram as pessoas vulneráveis que entram nestas correntes ideológicas do terrorismo como quem entra em uma seita.

Mas, não pode se considerar como a única causa, porque os cristãos dos países de maioria islâmica vivem em situação de marginalidade (quando não de perseguição) e não geram movimentos terroristas. Muitos terroristas possuem elementos de patologias psicológicas, mas nem sempre as barbaridades são cometidas por doentes mentais. Não se pode pensar que todos os nazistas fossem doentes mentais...

É necessário abordar todas as causas. Há causas de política internacional: a invasão do Iraque e, antes, a luta contra a URSS no Afeganistão... O grupo “Estado Islâmico” ou Al-Qaeda nasceram aí. Ainda não ouvi nem Aznar e nem Bush pedir perdão por isso! O colonialismo europeu feriu também a consciência e o orgulho árabe (e de muitas outras culturas).

Há causas sociais: as enormes desigualdades econômicas, além de ser um escândalo ético são geradoras, muitas vezes, de raiva ou de desesperança. Se esta última pode levar ao suicídio, o terrorista consegue morrer, mas com sentido.

Há causas psicológicas: também vemos isto regularmente em ataques de ira em indivíduos dos Estados Unidos, que realizam carnificinas com a ajuda da facilidade de conseguir uma arma.


Mas, também (sim, também) há causas religiosas, ainda que sejam para perverter a religião. Dizer simplesmente que “o islã é paz” ou que “não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda” é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a ver. Muitos clérigos transmitem o ódio e a violência, sendo contrários a ela. Quantos imãs salafistas pregam a proibição de ter amigos cristãos e judeus!

Sem dúvida, é uma perversa interpretação de um versículo corânico, mas esta interpretação se faz a partir do islã propagado pela Arábia Saudita. A partir deste país, são escritos livros sobre jurisprudência islâmica que ditam a morte do homossexual, do apóstata e do adúltero. E estes livros são vendidos na Espanha, traduzidos ao castelhano! A Arábia Saudita e outros países do Golfo condenam o terrorismo, uma vez que eles também estão na mira do Estado Islâmico e da Al-Qaeda. Mas, seu islã os produz sem cessar.

Se se condena ao inferno judeus, cristãos e, é claro, politeístas e ateus, (e este elemento de fé não só é professado pelos salafistas, como também é extremamente comum), é possível dizer que se é completamente alheio a que uns loucos queiram antecipar esse inferno já na terra? Se Deus não consegue encontrar nenhuma pitada de bondade suficiente que mereça sua salvação, por que precisam encontrar nos seres humanos? Façamos todos uma autocrítica sincera para acabar com este mal do século XXI.

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/570909-terrorismo-ha-causas-economicas-sociais-psicologicas-mas-tambem-religiosas)

Em carta aberta à ONU, cientistas em todo o mundo pedem mais ações para parar ‘robôs assassinos’


Cientistas e líderes tecnológicos de todo o mundo pediram na segunda-feira (21), na Conferência Conjunta Internacional sobre Inteligência Artificial, realizada em Melbourne, na Austrália, que o desenvolvimento de armas usando inteligência artificial fosse interrompido pois “uma vez que esta caixa de Pandora for aberta, será difícil de fechar.”
A informação é da Agência Xinhua, publicada por Agência Brasil, 23-08-2017.

Numa carta aberta às Nações Unidas (ONU), os cientistas e líderes empresariais presentes ao evento pediram a proibição do uso de armas autônomas letais ou “robôs assassinos”, assim como armas químicas e biológicas no campo de batalha.
A Conferência Conjunta Internacional sobre Inteligência Artificial (IA), que teve sua primeira edição em 1969, reuniu nesta edição especialistas de renome internacional, como Toby Walsh, professor de IA na Universidade de New South Wales (Austrália), o empresário Elon Musk, da Tesla e SpaceX, e o executivo James Chow, da Ubtech, empresa de robótica baseada na China.

Preocupação global

Assinado por muitas das principais mentes relacionadas à IA do mundo, a carta foi encabeçada por Walsh, que recentemente disse à Xinhua que está preocupado com o que ele sente ser uma “corrida armamentista” que ocorre em torno do mundo.
“Estou muito preocupado com o impacto que a autonomia (robótica) terá nos campos de batalha. Há uma corrida de armamentos desse tipo acontecendo hoje, que você pode ver no Exército dos EUA, nas Forças Armadas do Reino Unido, no Exército russo, é basicamente uma corrida armamentista, Acabaremos em um mundo muito perigoso e desestabilizado se nos permitirmos lutar a guerra com esses tipos de armas,” alertou Walsh.
O professor da Universidade de New South Wales e seus coordenadores estão pedindo que as Nações Unidas intercedam e proíbam armas autônomas. Ele disse que já houve algum movimento positivo da ONU nesse sentido, esperando que esta carta estimule ainda mais ações.
Uma das maiores preocupações dos líderes tecnológicos é que um Estado desonesto, ou regime tirânico, seja capaz de usar essas armas para reprimir sua população. “É certamente uma preocupação que eu tenho, de estes robôs autônomos de guerra serem utilizados para submeter uma nação inteira, e será muito mais fácil do que costumava ser,” disse Walsh.
O problema com a tecnologia autônoma é, de acordo com Walsh, o fato de que possui um duplo uso, o que significa que exatamente os mesmos processos que são realizados por criações artificiais benéficas também são usados nos armamentos inteligentes.
Walsh disse que, embora seja importante que continuemos a desenvolver essa tecnologia, já que os benefícios para toda a humanidade serão aparentemente infinitos, os controles e os equilíbrios devem ser acordados para garantir que a segurança das pessoas em todo o mundo seja considerada primordial.



(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/570970-em-carta-aberta-a-onu-cientistas-em-todo-o-mundo-pedem-mais-acoes-para-parar-robos-assassinos)

Estudo indica que o aquecimento dos oceanos, pelas mudanças climáticas, deve reduzir o tamanho dos peixes


Espera-se que os peixes encolham em tamanho, de 20 a 30 por cento, se a temperatura do oceano continuar a subir devido a mudanças climáticas.
A reportagem é publicada por University of British Columbia, traduzido e editado por Henrique Cortez, e reproduzido por EcoDebate, 24-08-2017.


Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica fornece uma explicação mais profunda porque, com as mudanças climáticas e o aquecimento das águas, os peixes devem diminuir em tamanho.
“Os peixes, como animais de sangue frio, não podem regular suas próprias temperaturas corporais. Quando as águas ficam mais quentes, seu metabolismo acelera e eles precisam de mais oxigênio para sustentar suas funções corporais ”, disse William Cheung, coautor do estudo, professor associado do Institute for the Ocean and Fisheries e diretor de ciência da Nippon Foundation - Programa do Núcleo da UNIBA. “Há um ponto em que as brânquias não podem fornecer oxigênio suficiente para um corpo maior, então o peixe simplesmente para de crescer”.
Daniel Pauly, principal autor do estudo e pesquisador principal do Sea Around Us, no Instituto para o Oceano e as Pescas, explica que, à medida que o peixe cresce até a idade adulta, sua demanda por oxigênio aumenta porque a massa corporal dele se torna maior. No entanto, a área superficial das brânquias – onde o oxigênio é obtido – não cresce ao mesmo ritmo que o resto do corpo. Ele chama este conjunto de princípios, que explica por que os peixes devem encolher, de “teoria da limitação de oxigênio branquial”.
Por exemplo, um peixe como o bacalhau aumenta seu peso em 100 por cento, suas brânquias só crescem em 80 por cento ou menos. Quando entendido no contexto da mudança climática, esta regra biológica reforça a predição de que o peixe diminuirá e será ainda menor do que o avaliado em estudos anteriores.
As águas mais quentes aumentam a necessidade de oxigênio do peixe, mas a mudança climática resultará em menos oxigênio nos oceanos. Isso significa que as brânquias têm menos oxigênio para fornecer a um corpo que já cresce mais rápido do que elas. Os pesquisadores dizem que isso obriga o peixe a parar de crescer em um tamanho menor para poder atender às suas necessidades com pouco oxigênio disponível para eles.
Algumas espécies podem ser mais afetadas por essa combinação de fatores. O atum, que se movimenta rapidamente e requer mais energia e oxigênio, pode encolher ainda mais quando as temperaturas aumentam.
Peixes comerciais de tamanho menor do que agora terão um impacto na produção pesqueira, bem como a interação entre organismos nos ecossistemas.
O estudo de Pauly e Cheung “Sound physiological knowledge and principles in modeling shrinking fishes under climate change” foi publicado na Global Change Biology doi: 10.1111 / gcb.13831.

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/570999-estudo-indica-que-o-aquecimento-dos-oceanos-pelas-mudancas-climaticas-deve-reduzir-o-tamanho-dos-peixes)

Algumas perguntas sobre o PNLD

por Flávio Sarandy

Por que o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) submete os livros didáticos à avaliação das instituições de ensino superior se o livro é destinado à educação básica? Por quê, se serão os professores da educação básica que deverão escolher os seus livros didáticos? Se aos olhos do MEC os docentes da Educação Básica não têm a competência para a avaliação dos livros, não deveriam ter de escolher entre os “livros aprovados” e, por outro lado, se se admite terem eles a competência para escolher, por que não participam da avaliação, em paridade de condições com especialistas acadêmicos, gestores dos sistemas de ensino, mães, pais, alunas e alunos? Não deveriam todos os interessados ter a oportunidade, por direito e competência num sentido muito além da competência institucionalizada, de dizer o livro que almejam e de avaliar os livros que têm sido produzidos? Como política pública de relevância nacional, o PNLD poderia ganhar em eficácia e eficiência se estruturado a partir de um marco regulatório que definisse, inclusive, os parâmetros de qualidade de um livro didático, a partir de ampla, inclusiva, participativa e paritária decisão de todos os interessados ou afetados pelo livro didático.
O marco regulatório para o setor deveria considerar ao menos três dimensões: qualidade pedagógica, científica e editorial do livro didático; transparência e normatização do processo de escolha; integração consistente com uma política para o mercado editorial, considerada a maximização da equanimidade nas condições de oferta, acesso e preço. Pode-se alegar que a primeira dimensão abordada já está prevista na política do livro didático. Não é bem assim. A fixação da qualidade do livro didático não está fixada num marco regulatório permanente – ainda que sujeito a mudanças, construída por processo coletivo inclusivo, em que se leve em conta a experiência acumulada de todos os sujeitos afetos, de editores e pesquisadores acadêmicos aos docentes e discentes da escola básica. A lacuna, no caso, é a inexistência de uma política participativa de avaliação, o que poderia elevar o seu grau de accountability e a sua efetividade. O ideal seria que todos os sujeitos interessados participassem do Programa e da construção de seu marco regulatório a partir de sua concepção e não somente no momento da avaliação dos livros inscritos. Algo similar se poderia dizer da segunda dimensão: o processo de escolha está fracamente institucionalizado, desde que os procedimentos burocráticos previstos, a despeito de sua normatização legal e gestão por sistema informatizado federal, peca no que diz respeito ao acesso à informação. Uma política pública, ainda mais em se tratando de avaliação, não prescinde (ou não deveria prescindir) de ser acompanhada de um processo massivo de informação e treinamento para o próprio processo. Se ao professor não está garantido o conhecimento necessário sobre o processo de escolha do livro didático, dado que sequer ele tem acento na avaliação dos livros inscritos no programa, o trabalho reduz-se à lógica mercadológica da publicidade editorial. Por outro lado, a terceira dimensão sugere a integração da política de gestão do PNLD às demais políticas da área educacional (um exemplo seria a construção de parâmetros de qualidade do livro didático relacionados à BNCC), assim como sua integração com políticas de barateamento dos custos industriais do livro no Brasil. Por exemplo, envolver “a ponta do mercado”, as livrarias, no processo distributivo, com rubrica própria no Orçamento da pasta educacional, em nível ministerial, talvez contribuísse para diluir custos relacionados à distribuição dos livros diretamente pelas editoras, além de permitir que outros agentes econômicos concorressem no processo e não somente as corporações de grande capital. Outras medidas de interesse também poderiam ser avaliadas, como a exigência de percentual de capital nacional das corporações envolvidas, fixação de parâmetros para a divulgação das obras, centralizadas por gestão ministerial, em convênio com as secretarias estaduais de educação e tendo como operadores as livrarias, fixação de parâmetros e princípios para a publicidade do livro didático, emprego de material reciclável na produção gráfica etc.
Por que o PNLD, como política pública incide exclusivamente sobre a avaliação e não a distribuição? Ora, a avaliação dos livros didáticos é objeto relevante de política pública nacional, porém, tem sua eficácia social comprometida quando, na distribuição dos livros didáticos obtém vantagem a grande editora (que no caso brasileiro é cada vez mais controlada por capital estrangeiro). O MEC deveria compreender que se a distribuição não é acordada com escolas, agentes do mercado, professoras e professores, gestores dos sistemas de ensino e alunas e alunos, e controlada por regras de imparcialidade, publicidade e transparência, entra em ação a lógica da guerra de mercado, em que chegam às escolas somente os livros de editoras com capital suficiente para investir em publicidade, distribuidores nacionais (os “divulgadores”) e ações promocionais. O que isso tem a ver com a tão festejada qualidade do livro didático, segundo o MEC? Um mistério. A distribuição do livro didático deveria ser tratada como ponto crítico dessa política pública, justamente por tratar-se do momento do processo em que a disputa do interesse comercial compromete as bases e os princípios do programa. Todo o trabalho – limitado, por estar restrito aos profissionais das instituições de ensino superior, é comprometido quando, no processo de divulgação e distribuição, abandona-se à coordenação do processo à esfera regional ou estadual, e permite-se que a escolha do livro por parte do docente da educação básica seja influenciada por ações de marketing. Permitir que as secretarias estaduais de ensino gestem o processo de escolha do livro didático significa, na prática, o Ministério da Educação abandonar a condução objetiva da educação pública aos espaços de maior influência das corporações empresariais e de outros interesses privatistas no setor. É recorrente e gritante a alegação de docentes da falta de informação suficiente do processo previsto no PNLD (e aqui nem estamos considerando alunos e famílias), assim como tem sido constante as alegações de práticas abusivas no processo de divulgação e promoção das obras. Tudo isto poderia ser bem equacionado por uma revisão do processo de gestão, do tipo de convênio firmado entre a União e os Estados e Municípios e pela criação de um marco regulatório para o setor.
Não seria questão de justiça política, equidade, fair play comercial e elevação da qualidade das produções didáticas o MEC promover, com a participação incisiva do docente da educação básica, a criação de um marco regulatório para o setor? Pelo qual editoras, autores, gestores, livreiros, professoras, professores, mães, pais, alunas e alunos pudessem se pautar em decisões curriculares e didáticas consistentes? Afinal, a cada edição do PNLD há alterações no desenho do edital, ainda que mínimas, nos critérios de avaliação, nas exigências formais etc., de modo que as editoras e os autores necessitam de um grande esforço para ajustarem as suas obras, dedicando muito tempo em procedimentos burocráticos – para atender o edital! – e menos tempo do que poderiam para evoluir os seus livros. Do mesmo modo, docentes frequentemente tem de alterar os seus percursos didáticos a fim de adaptarem-se às novas obras aprovadas.
Sem contar que a avaliação do PNLD, sendo avaliação cega que garante maior transparência (princípio constitucional) ao processo avaliativo, por vezes, se apresenta cega num outro sentido, pois que a universidade não é espaço homogêneo e os campos científicos e disciplinares não cultivam critérios exatos e consensuais no que tange à didática de suas disciplinas. Disso decore que bons livros didáticos, ao olhar dos docentes da Educação Básica, são reprovados sob a visão do especialista da universidade, por vezes até pelo comportamento exclusivamente burocrático do avaliador ante a ausência de uma legenda numa imagem! Um completo non sense, mas já ocorreu em avaliação do tipo aqui considerado.
Caso exemplar para a disciplina Sociologia é a reprovação do livro Sociologia para o Ensino Médio, dos professores Nelson Dacio Tomazi e Marco Antônio Rossi. Os argumentos utilizados na justificativa da reprovação indicam desconhecimento da obra reprovada e pouca compreensão sobre o sentido do ensino da disciplina no Ensino Médio. Isso apenas tem lugar, ao meu ver, porque se atribui ao pesquisador da universidade uma autoridade inconteste, na mesma medida em que se exclui a escola do processo. Outro exemplo é a preocupação externada quanto a nova seção “Aprendendo com jogos”, do livro Sociologia para Jovens do Século XXI, de Luiz Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa. O alerta diz respeito à inexistência de computadores em muitas escolas e às dificuldades em se fazer uso de jogos em sala de aula. Entretanto, mais uma vez os avaliadores ou os colegas que elaboraram o Guia do Livro Didático (pois que o processo é bastante burocrático e os textos resultantes da avaliação podem passar por muitas mãos, revisões e reescritas) denotaram desconhecimento parcial do texto que avaliaram, pois que a proposta elaborada na seção é de uso e aplicação pedagógica da experiência de jogo, não de sua utilização em sala de aula. Em muitos casos, as propostas de atividades apresentadas dispensam o uso de recursos computacionais em sala de aula. A preocupação externada fica ainda mais destoante quando se atenta para o fato de que ao menos 1/3 das propostas elaboradas não aplicam jogos digitais! Ainda mais grave é um avaliador aparentar desconhecer as necessárias mediações, finalidades e limitações do ensino de qualquer disciplina científica em âmbito escolar. Veja-se, novamente, o caso da preocupação com as propostas de aprendizagem a partir da experiência com jogos (com qualquer jogo, em suporte digital ou físico, como jogos de cartas, por exemplo): ao afirmar a inexistência de salas de informática nas escolas o alerta assume uma visão de escolaridade restrita ao espaço escolar e supõe que os jovens não jogariam por não acessarem computadores nas escolas. No entanto, eles jogam! Tais distorções quanto à natureza do ensino na educação básica apenas são possíveis devido à excessiva burocratização do processo avaliativo e a sua restrição ao especialista do campo científico acadêmico.
Por que, dado tratar-se de política pública, o PNLD não está integrado às demais dimensões do setor educacional? Senão, vejamos: não é exigido para os sistemas particulares (algo incompreensível, por modo de dizer), não envolve as livrarias no processo de compra e distribuição dos livros (o que poderia contribuir para o seu barateamento se a distribuição ficasse sob a responsabilidade de livrarias, com rubrica orçamentária da pasta da educação, o que reduziria os custos das editoras e permitiria que outros agentes econômicos ingressassem num mercado altamente concentrado) e não estabelece ponte direta entre Ministério e escolas (onde a direção da unidade escolar deve inserir a escolha do docente, quando os próprios docentes deveriam proceder ao registro do livro selecionado). Ao incluir as secretarias estaduais de ensino, o processo abre espaço para todo o tipo de manipulação e ingerência indevida, senão ilegal, sobre o processo de escolha. Exatamente porque transfere uma política de Estado para a esfera da política regional ou local. Uma política pública que tem por finalidade uma única dimensão de algo complexo não é eficaz para além da retórica. O livro didático não se reduz a sua qualidade pedagógica intrínseca, por assim dizer, mas é objeto complexo inserido em estrutura de relações econômicas, culturais, semióticas, políticas, legais e pedagógicas diversas. O PNLD deveria integrar mais preocupações que a qualidade técnica do livro sob o olhar de especialistas acadêmicos.
Por que somos aturdidos em todas as edições do PNLD com recorrentes alegações de que algumas secretarias de educação nos estados antecipam o período de escolha do livro didático sem que nenhuma ação de apuração ou controle seja esboçada pelo Ministério da Educação? Chegou-se a dizer que secretarias de educação orientam os professores que preencham a lápis a ficha de seleção do livro didático? Acaso isso seria a propósito de “corrigir” a escolha do livro segundo a conveniência da secretaria? Por quê? Seria para facilitar a logística de distribuição dos livros? Mas fica a dúvida: se a distribuição tem origem no MEC, que adquire os livros por meio de contratos de compra em quantidades compatíveis com as informações preenchidas em sistema online pelas direções das unidades escolares (por sua vez definidas pelas escolhas autônomas dos professores, que deliberam coletivamente por disciplina), e passa pelas editoras, que devem providenciar a impressão gráfica e o envio dos livros, restando às secretarias a (difícil?) tarefa de entregar os livros em cada escola sob sua jurisdição, ou melhor, a gestão, supervisão e coordenação do processo de distribuição (dado que são as editoras que têm de entregar os livros na quantidade especificada no contrato com o MEC), o que efetivamente gera problemas de logística, a escolha por parte dos docentes de livros distintos para as diferentes escolas ou a gestão administrativa das secretarias?
Porque a escolha de livros diferentes para contextos e propostas pedagógicas escolares distintas nada tem a ver com a operação de distribuição dos livros. O problema da distribuição é questão administrativa do órgão gestor, que tem a obrigação de respeitar a especificidade dos contextos escolares e a prerrogativa de autonomia docente sobre o livro mais adequado ao perfil de suas alunas e de seus alunos. Se admitirmos o argumento da facilidade de distribuição se somente um livro for adotado, então deveríamos esperar dificuldades do próprio Ministério da Educação no controle sobre diferentes obras e consequentes contratos com diferentes editoras. Melhor seria a escolha do livro único ser definida em nível ministerial e o contrato, celebrado com uma única editora para todo o território nacional! Algo, naturalmente, absurdo. Ocorre que nada disso se justifica. Sobretudo, pelo violento desrespeito à autonomia de professoras e de professores.
Por fim, porém não menos importante: por que o MEC anunciou alteração na política de avaliação do PNLD, em direção a um modelo ainda menos transparente e nada participativo? A notícia sugere que a avaliação será por equipe composta nem por edital público nem por concurso, mas por “escolha do Ministério”. Sobre isso, creio que este texto já fornece elementos suficientes para o debate.
Essas são questões que julgo graves e que mereceriam de todos mais do que a repetição pura e simples do lugar comum da importância do PNLD. Aos que festejam acriticamente o programa recordo que porque o PNLD é de grande importância mereceria de nós um olhar mais discreto e crítico sob a intenção de garantir-se que seus objetivos acumulem eficácia e eficiência, seja em termos de resultados pedagógicos seja em termos de resultados de sua gestão como política pública.

(fonte: https://espacoacademico.wordpress.com/2017/08/23/algumas-perguntas-sobre-o-pnld/)

Privatização da Eletrobrás: a hora do espanto

Texto escrito por José de Souza Castro:

Ao pesquisar para escrever este artigo no dia em que brasileiros lembram que há 63 anos Getúlio Vargas se suicidou esperando que, com esse gesto, poderia ajudar o Brasil a cair na real e tornar-se finalmente um país independe, encontrei uma reportagem informando que o senador Aécio Neves se encontrou com o presidente Temer, no dia 15 de agosto, para salvar a Cemig de perder metade de seu parque gerador.
“Nós sabemos que, em razão de uma iniciativa desastrada e irresponsável da presidente Dilma em 2012, a Cemig vê hoje a possibilidade de perder 50% de seu parque gerador de energia porque as hidrelétricas de Jaguara, de São Simão, e Miranda estão com leilão marcado para o mês que vem”, disse. “O que nós estamos buscando é uma alternativa, que permita ao governo receber — mesmo que não integralmente — uma parcela daquilo que seria previsto num eventual leilão”, completou o ex-governador de Minas, pelo que li.
A Cemig está quebrada, conforme seu presidente, Bernardo Alvarenga, em entrevista feita no final de junho à Rádio Itatiaia. Quer vender a Light e outras subsidiárias para pagar uma dívida de R$ 16 bilhões. O presidente estima que, entre este ano e o ano que vem, a empresa tenha que pagar R$ 9 bilhões.
Culpa da Dilma? Ou culpa de Aécio e seu substituto no governo de Minas, Antonio Anastasia, que resolveu, em dezembro de 2012, não renovar antecipadamente os contratos de concessão das hidrelétricas de São Simão, Salto Grande e Volta Grande, porque faziam oposição à presidente da República?


Aécio era governador e Anastasia seu vice, quando o governo de Minas decidiu vender, sem licitação, parcela importante do capital da Cemig à Andrade Gutierrez e, com esse grupo, embarcar na construção da Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira. E comprar a Light…
Uma história que veio a propósito do anúncio da venda da Eletrobrás. E que remete ao Brasil pobre do início do século 20 e que tentou, com Getúlio Vargas, sair da pobreza via exploração do petróleo e da eletricidade. Um sonho que vai se desfazendo com Michel Temer – aquele com quem Aécio se encontrou, num abraço de afogados nas águas da Lava Jato.
Li AQUI que o segundo governo Vargas (década de 1950) “buscou estabelecer novas bases financeiras e institucionais para o desenvolvimento do setor elétrico, apresentando ao Congresso Nacional os projetos do Fundo Federal de Eletrificação (FFE), do Imposto Único sobre Energia Elétrica (IUEE) e da Eletrobrás. Os projetos do FFE e do IUEE foram convertidos em lei em agosto de 1954, uma semana depois do suicídio do presidente. O projeto da Eletrobrás seria aprovado apenas em 1961, com diversas modificações de seu texto original, considerado excessivamente centralizador. Antes da constituição da empresa holding federal, o Fundo Federal de Eletrificação foi administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), fundado em 1952. O projeto do Plano Nacional de Eletrificação, também proposto por Vargas, não teve a mesma sorte dos anteriores, sendo arquivado pelo Congresso. O plano previa a duplicação da capacidade instalada de energia elétrica do país até 1965, contemplando diversas obras iniciadas ou programadas por concessionárias privadas e públicas, como a Cemig.”
A Cemig foi fundada em maio de 1952 pelo governador Juscelino Kubitschek. Cresceu muito desde então, passou a ter suas ações negociadas nas bolsas de Nova York e Madri, foi sendo privatizada aos pedaços e agora, revela seu presidente, está quebrada.
A Eletrobrás, nascida quase dez anos depois, teve uma trajetória parecida. Tem hoje 37 hidrelétricas, 114 termoelétricas, duas usinas nucleares, 69 eólicas e uma solar próprias ou em sociedade, que respondem por 31% da geração de energia elétrica do Brasil.
Li muito a respeito desse projeto de Temer nos últimos dias. Poderia citar vários autores, mas fico com Arnaldo Mourthé, em artigo publicado aqui. A privatização da Eletrobrás, diz Mourthé, pode nos esclarecer sobre os desmandos e a traição do governo, que “age de forma desavergonhada contra o Brasil e seu povo”. Prossegue:
“Comecemos pelos valores financeiros em jogo. A venda da Eletrobrás produziria uma arrecadação de R$ 20 bilhões. Comparemos esse valor com o que os governos brasileiros gastaram nos últimos anos em despesas questionáveis.
A Copa do Mundo, em 2014, custou R$ 26 bilhões aos cofres públicos. A Olimpíada, de 2016, custou ao todo R$ 38,26 bilhões, dos quais R$ 14 bilhões públicos. Em 2013 houve subsídios do governo federal à indústria automobilística de R$ 19,31 bilhões, o dobro do que foi investido no transporte público. Nem vamos falar nas vendas de licenças de exploração de petróleo, que todos conhecem, nem do fatiamento da Petrobras, para enfraquecê-la e depois privatizá-la totalmente.”

Vou parar por aqui, para não chorar. Não sem antes, porém, indicar a leitura dessa entrevista na Carta Capital em que um professor da USP, Ildo Sauer, especialista em energia, diz que recebe “sem espanto e sem alegria” os planos do governo Temer para a venda da estatal.
Sem espanto, talvez, porque Sauer conhece bem a história da dominação do Brasil e o caráter de Michel Temer e seus aliados, como Aécio Neves. Como, porém, não se espantar?

(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/08/25/privatizacao-eletrobras/)

sábado, 19 de agosto de 2017

Por que cortar a Bolsa Família é produzir genocídio

Texto escrito por José de Souza Castro:


“Espero que as pessoas de bem saibam que cortar a Bolsa Família das pessoas extremamente pobres do Brasil poderá produzir um verdadeiro genocídio, porque em sua grande maioria, em especial nos sertões, estes brasileiros poderão morrer de fome e das doenças derivadas da subnutrição”.
É o que diz Walquiria Domingues Leão Rego, professora de Teoria Social no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e coautora do livro “Vozes do Bolsa Família – Autonomia, Dinheiro e Cidadania” publicado em 2013 pela Editora da Unesp. O artigo pode ser lido AQUI.
Segundo Walquiria, o programa foi sendo aperfeiçoado ao longo dos anos, com a criação de programas transversais, como Brasil Carinhoso e Brasil Nutriz, que trouxeram benefícios muito grandes à saúde das crianças. “Por tudo isto, o programa Bolsa Família recebeu inúmeros prêmios internacionais, inclusive da própria ONU”, diz a autora. “Os cortes já feitos ao programa pelo governo ilegítimo de Michel Temer tiveram como justificativa correção de desvios, o que representa uma grande mentira”, acrescenta.
Para a autora, não se justifica cortar os recursos destas pessoas, a não ser para “responder à sanha preconceituosa e mal informada da classe média paneleira. Na verdade, tornar ainda mais garantido o saque a nação para ampliar os lucros de rentistas de todos os naipes”, completa.
Darcy Ribeiro, lembra a autora, nos alertou que a elite brasileira é escravocrata e desenvolveu durante séculos uma insensibilidade social pouco vista no mundo. “Sua crueldade com os pobres e desvalidos não tem limites”, diz Walquiria. “Pensa apenas em rapinar o país e usufruir de sua rapinagem lá fora”.
Pior, com a ajuda da imprensa, que manipula principalmente a classe média:
“Sua profunda ignorância das causas da pobreza a faz seguir e andar como embriagada pelo ódio aos pobres, vitaminada pela televisão e pelas revistas de baixo nível, compondo um conjunto sinistro de iniquidade moral e política. E a grande mídia, sem nenhuma grandeza, todos os dias zomba, insulta o povo brasileiro, com suas mentiras sistemáticas, com seu jornalismo manipulativo que omite a informação dos fatos para propagandear sua tosca visão de mundo. Temos propaganda e não jornalismo. O resultado disto sobre os consumidores desta pobreza intelectual é a perpetuação da desinformação em todas as classes sociais, impera uma espessa e profunda incultura que torna a classe média, por exemplo, incapaz de raciocinar e a conduz ao abraço de morte com as soluções antidemocráticas no que esta tem de mais grotesco”.
Segundo a autora, o governo está economizando no programa Bolsa Família, que gasta 0,5 do orçamento nacional, “para garantir recursos da nação para ricos banqueiros e rentistas, o que é apresentado pelos analistas financeiros, colunistas cativos de jornais e televisões como fenômeno natural, inevitável da vida social”. Prossegue Walquiria:
“A naturalização da rapinagem conforma talvez o fetiche mais enevoado da contemporaneidade brasileira. A operação dívida pública expropria dos brasileiros mais de 40 por cento do orçamento da União. Isto sim drena recursos da nação. (Lazzarato, M. Governing by Debt.) Os juros pagos altíssimos, a maior taxa do mundo, favorecem, com este privilégio a apropriação do orçamento nacional por pouco mais de 70 mil famílias bilionárias. Este grupo derruba governos, impõe sua agenda política e social sem nenhum pudor democrático, pois não respeita, como se viu, o voto popular.”
O rentismo constitui hoje o centro do poder efetivo, define Walquiria. “Por esta razão, não se vê nenhum protesto aos cortes do programa Bolsa Família, pois cortam a carne dos sem voz pública, dos invisíveis. Nenhuma solidariedade com o destino de seus concidadãos”, conclui a autora.
Alguns dados respaldam esse raciocínio. Só no mês passado, 543 mil pessoas foram retiradas do programa Bolsa Família, para economizar R$ 100 milhões por mês. Desde que Temer assumiu o governo, foram 1,2 milhão de excluídos. Vale assistir a essa reportagem da TVT.
De que vale essa economia diante do que o governo gasta para pagar os juros da dívida pública, que têm aumentado muito desde que Dilma Rousseff sofreu o impeachment em maio do ano passado? Em 2015, a dívida estava em R$ 2,793 trilhões, passou para R$ 3,11 trilhões no fim de 2016 e deve chegar em dezembro próximo a R$ 3,65 trilhões. A dívida em relação ao Produto Interno Bruto, que era de 76% no final do governo de Fernando Henrique Cardoso e de 62% no fim do governo Lula, voltou para 76% em 2016, mais da metade do qual já sob o governo Temer. E deve chegar a 81% no fim deste ano. Com todos esses cortes e com a disparada da dívida, pode ir a 92% em 2021. Só perdendo, então, para 1989, no governo FHC, quando houve a maxidesvalorização do real e a dívida chegou a 100% do PIB.
Vamos agora à evolução dos juros pagos pelo governo sobre essa dívida. Em 2012, R$ 207 bilhões; em 2013, R$ 218 bilhões; em 2014, R$ 243 bilhões; em 2015, R$ 367 bilhões; e em 2016, R$ 330 bilhões. Mais aqui.
Neste ano, por enquanto, não se sabe a quantas andam. A imprensa pouco se interessa pelo assunto. Por exemplo, nessa notícia do G1, de julho, informa-se apenas: “Ao mesmo tempo, as despesas do governo com o pagamento de juros, que totalizaram R$ 34,36 bilhões no mês passado, também impulsionaram a dívida pública”.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aprecia esse desinteresse da imprensa. Com dupla cidadania, brasileira e americana, ele foi por 12 anos presidente do BankBoston, quando esse banco dos Estados Unidos aparecia como o segundo maior credor do Brasil. Depois de se aposentar, foi convidado a presidir o Banco Central do Brasil no governo Lula, ficando no cargo entre 2003 e 2011. Nos quatro anos seguintes, até ser chamado por Michel Temer para ser ministro da Fazenda, ele foi presidente do Conselho de Administração da J&F Investimentos, do grupo de Joesley Batista, dono também da Friboi.
Definitivamente, alguém que não precisa do programa Bolsa Família para sobreviver nesses tempos de desemprego alto.

(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/08/17/corte-bolsa-familia-genocidio/#more-14256)

O que acontece quando os fanáticos e ignorantes saem da internet para as ruas

Todo mundo já está há dias comentando sobre o que houve em Charlottesville, inclusive o discurso posterior de Trump, criticado até por seus pares republicanos. Todo mundo está de olho na “alt-right” (direita alternativa) dos Estados Unidos, no retorno do KKK, na força que grupelhos neonazistas vêm ganhando desde que Trump assumiu o poder por lá. Todo mundo fica assustado quando vê um vídeo tão completo e corajoso como este produzido pela “Vice”, que já teve 3 milhões de visualizações em três dias.

O que eu quero acrescentar a isso é que este não é um problema restrito aos Estados Unidos. E não me refiro apenas a ódio racial, como o que ocorre lá, mas a ódio de classe, como ocorre por cá, no Brasil. É isso o que acontece quando radicais, fanáticos e ignorantes saem dos antros obscuros da internet, com seus memes e comentários irracionais, e partem pras ruas.
Quanto tempo levará para isso acontecer no Brasil? No Brasil que tem um sujeito como Bolsonaro disparando em pesquisas eleitorais com base em discurso parecido com o elegeu Trump nos EUA (baseado em mentiras, ou, como preferem alguns, na pós-verdade)?
[A pós-verdade é tanta que, no Brasil, já tem gente dizendo que o protesto autointitulado “Unir a Direita”, que resultou em três mortos e diversos feridos nos Estados Unidos, era um movimento com origem na esquerda.]
Eu espero que nunca aconteça nada tão absurdamente apavorante assim no Brasil, neste Brasil que já tem pessoas defendendo abertamente a volta da ditadura militar e tem até um presidenciável homenageando um sujeito reconhecido pela Justiça brasileira como torturador. A lógica desse pessoal, infelizmente, se parece muito com a do extremista de direita entrevistado pela repórter da “Vice” que disse, com todas as letras, que o criminoso que atropelou aqueles manifestantes na rua agiu de forma “mais que justificada”.



Os motivos e origens históricas dos discursos são diferentes, mas a lógica, ah, a lógica, ela é igualzinha. É ela que diz que torturar e matar é justificável (“mais que justificável”) se atender aos meus interesses, se estiver do meu lado. Eles se esquecem que – brancos ou negros, ricos ou pobres – no fim das contas somos todos apenas humanos.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/08/18/charlottesville-vice/#more-14259)

As mudanças climáticas estão alterando o padrão de chuvas no Brasil, particularmente no Sudeste

São Paulo deverá ter mais chuva nos próximos anos, indica pesquisa
A reportagem é de Peter Moon, publicado por Agência FAPESP, 16-08-2017.
As mudanças climáticas estão alterando o padrão de chuvas no Brasil, particularmente no Sudeste. É o que indica uma nova pesquisa que aponta um aumento médio tanto no volume de água quanto na média de dias em que chove no Estado de São Paulo. O trabalho foi feito com mais de 70 anos de dados meteorológicos.
No Rio de Janeiro e no Espírito Santo, a estimativa é de redução no volume médio da precipitação para os próximos anos, mas com concentração em menos dias e ocorrência de mais eventos extremos. Ou seja, deverá chover menos, mas com chuva mais intensa e tempestades mais frequentes.
As conclusões estão em artigo publicado no International Journal of Climatology.
“Um modo interessante de entender as mudanças climáticas é pensar em um clima com esteroides anabolizantes. Estamos vendo em todo o mundo o aumento da frequência de eventos extremos. O intuito de nossa pesquisa foi tentar entender como isso está ocorrendo no Sudeste brasileiro, a região mais populosa do país”, disse Leila Maria Vespoli de Carvalho, professora associada no Departamento de Geografia da University of California em Santa Barbara, uma das autoras da pesquisa.
Outra autora, Marcia Zilli, doutoranda no mesmo departamento, sob orientação de Carvalho, explica que a pesquisa partiu da reunião e análise dos dados meteorológicos da região Sudeste provenientes de duas fontes: a Divisão de Ciências Físicas do Earth System Research Laboratory, no Colorado, e as 36 estações meteorológicas individuais no Sudeste brasileiro operadas por diferentes agências brasileiras, com dados disponibilizados pela Agência Nacional de Águas.
“Embora a grande maioria dos dados obtidos esteja circunscrita a um período de mais de 70 anos, compreendido entre 1938 e 2012, várias estações meteorológicas têm registros mais antigos, das décadas de 1910 e 1920. De uma estação meteorológica na cidade de São Paulo, conseguimos dados desde 1888”, disse Zilli.
Participaram do estudo Brant Liebmann, da National Oceanic and Atmospheric Administration, e Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora titular no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo. Assunção foi a orientadora de doutoramento de Carvalho. O trabalho contou com apoio da FAPESP.
Os pesquisadores focalizaram o período de maior precipitação no Sudeste brasileiro, que vai de outubro a março. Ao longo da amostragem, verificaram a quantidade de dias sem chuva, a quantidade de dias com chuvas fracas (menos de 5 milímetros) e a quantidade de dias com chuvas intensas ou extremas, e tempestades.
“A manipulação estatística do conjunto dos dados serviu para estabelecer quais foram os padrões do regime de chuvas na região Sudeste verificados até o momento e, a partir disso, projetar as tendências para o futuro”, disse Zilli.
Observou-se que as precipitações estão diminuindo na parte norte da região Sudeste, sobre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, e aumentando no Sul. E a tendência é que esse padrão continue nos próximos anos.
“Essas tendências estão se tornando mais dramáticas. Isso vai ficar mais frequente e pior. Onde chove muito vai chover mais. Onde há seca vai ficar mais seco. O governo e a população precisam entender o que está acontecendo com o clima para planejar e melhor se adaptar às mudanças”, disse Carvalho.
Silva Dias destaca que a concentração da chuva em menos dias no Rio de Janeiro é um indicador de tendência à aridez, mas não o único. “O manejo do solo, sua cobertura vegetal, enfim, fatores associados ao equilíbrio do ecossistema são igualmente importantes. Eles também são uma forma possível de impacto na alteração do regime das chuvas”, disse.

Padrão de extremos

Segundo os pesquisadores, as alterações no regime de chuvas observadas para a região Sudeste estão inseridas em um contexto maior, pois um dos sinais mais robustos das mudanças climáticas no Brasil é justamente o secamento no Norte e no Nordeste e o umedecimento no Sul e no Sudeste.
Muito embora os dados analisados no trabalho terminem em 2012 – portanto não incluindo o período da seca do verão de 2014/2015 –, “ao se acrescentar os dados mais recentes o que se verifica é que a tendência se mantém inalterada. A seca de 2014/2015 foi um ponto fora da curva”, disse Zilli.
Silva Dias ressalta que a seca entre 2014 e 2015 faz parte de um padrão global de extremos. “Ao mesmo tempo que em São Paulo tivemos seca, aconteceram inundações extremas na região Norte do Brasil. Pontos fora da curva, para mais e para menos, seguindo essa tendência, devem aparecer com maior frequência nos próximos anos do que no passado”, disse.
“Os efeitos sobre a cidade de São Paulo já estão sendo sentidos com grande intensidade. Os extremos estão ficando cada vez mais intensos. As ilhas de calor em uma cidade do tamanho de São Paulo criam condições para a formação de tempestades. A proximidade do oceano Atlântico ajuda a formação dessas tempestades com o fornecimento de vapor d’água”, disse a professora do IAG.

Nota:

O artigo A comprehensive analysis of trends in extreme precipitation over southeastern coast of Brazil (doi: 10.1002/joc.4840), de Marcia T. Zilli, Leila M. V. Carvalho, Brant Liebmann, Maria A. Silva Dias, pode ser lido em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/joc.4840/abstract

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/570727-as-mudancas-climaticas-estao-alterando-o-padrao-de-chuvas-no-brasil-particularmente-no-sudeste)

As tecnologias da revolução 4.0 e a interação humana. Ganhamos em eficiência, mas perdemos como espécie

Em artigo publicado em agosto pela MIT Technology Review[1], o músico e escritor nova-iorquino David Byrne, autor do livro “How Music Works” escreve algo muito interessante sobre a tecnologia envolvida na denominada Revolução 4.0. Ele afirma que o desenvolvimento tecnológico e a inovação recente, durante a última década, têm uma agenda não pronunciada: a de criar a possibilidade de um mundo com menos interação humana. E longe de ser apenas um “bug” desta tecnologia, ele aponta isso como uma característica dela.
A tecnologia de que estamos falando não reivindica ou reconhece que a eliminação da necessidade de lidar diretamente com os humanos é seu principal objetivo, mas é este o resultado de um número surpreendente de casos, afirma Byrne. A julgar pela evidência, essa conclusão parece incontornável. A maioria das notícias tecnológicas é sobre algoritmos, inteligência artifical, robôs e carros auto-dirigidos, todos os quais se encaixam nesse padrão. Não estou dizendo que tais desenvolvimentos não sejam eficientes e convenientes. Este não é um julgamento. Estou simplesmente percebendo um padrão, afirma ele[2].
Mais ainda, para Byrne, neste desenvolvimento tecnológico a interação humana é muitas vezes percebida, desde a mentalidade de um engenheiro, vista como complicada, imperfeita, ineficaz e lenta. Então, sobram motivos para eliminá-la ao máximo, para tirar a parte humana do caminho. E o problema é que quando se tem tanto poder sobre o resto do mundo, como o setor de tecnologia tem sobre as pessoas, muitas delas que talvez não compartilhem dessa visão de mundo, existe o risco de um estranho e incômodo desequilíbrio.
Mas quais são os efeitos de menor interação? Ele aponta que para nós, como sociedade, menos contato e interação - interação real - parece levar a menos tolerância e compreensão da diferença, além de mais inveja e antagonismo. Como já foi evidenciado recentemente, as mídias sociais realmente aumentam as divisões, ampliando os efeitos de eco e nos permitindo viver em bolhas cognitivas. Somos alimentados com o que já gostamos ou com os amigos semelhantes (ou, mais provavelmente, o que alguém nos pagou para ver em um anúncio que imita conteúdo). Desta forma, nós realmente nos tornamos menos conectados - exceto para aqueles em nosso grupo. As redes sociais também são uma fonte de infelicidade. Byrne cita estudo realizado no início deste ano por dois cientistas sociais, Holly Shakya na UC San Diego e Nicholas Christakis em Yale, mostrando que quanto mais as pessoas usam o Facebook, pior se sentem sobre suas vidas. Embora essas tecnologias afirmem nos conectar, o efeito certamente não desejado é que eles também nos separam e nos deixam tristes e invejosos.
“Não estou dizendo que muitas dessas ferramentas, aplicativos e outras tecnologias não são extremamente convenientes, inteligentes e eficientes. Eu uso muitos delas sozinho. Mas, em certo sentido, elas são contrárias a quem somos como seres humanos. Nós evoluímos como criaturas sociais, e nossa capacidade de cooperação é um dos grandes fatores de sobrevivência. A interação social e a cooperação, do tipo que nos torna quem somos, é algo que nossas ferramentas podem aumentar, mas não substituir”, afirma Byrne. Afirma ainda, que quando a interação se torna uma coisa estranha e desconhecida, então teremos mudado quem e o que somos como espécie. Colocamos em risco, por exemplo, a democracia. A menor interação, mesmo a interação casual, significa que se pode viver em uma bolha tribal - e sabemos onde isso leva.
É possível que uma menor interação humana possa nos salvar? Segundo ele, os seres humanos são caprichosos, erráticos, emocionais, irracionais e tendenciosos no que às vezes parecem formas contraproducentes. Muitas vezes parece que nossa natureza rápida e egoísta será a nossa queda. É necessária a perfeição da racionalidade. Ou seja há, ao que parece, muitas razões pelas quais tirar os seres humanos da equação em muitos aspectos da vida pode ser uma coisa muito boa. Porém, Antonio Damasio, neurocientista na UCLA, escreveu sobre um paciente que ele chamou de Elliot, que teve um dano no lobo frontal que o deixou sem emoção. Em todos os outros aspectos, ele era bem inteligente, saudável, mas emocionalmente ele era Spock. Elliot não pôde tomar decisões. Damasio concluiu que, embora pensemos que a tomada de decisão é racional e maquinista, são nossas emoções que nos permitem realmente decidir.
Com os seres humanos sendo um tanto imprevisíveis (bem, até que um algoritmo remova completamente essa ilusão), obtemos o benefício de surpresas, acidentes felizes e conexões e intuições inesperadas. A interação, a cooperação e a colaboração com outros multiplica essas oportunidades. Somos uma espécie social. Em seu livro Sapiens, Harari afirma que isso é o que nos permitiu ser tão bem-sucedidos. Ele também afirma que essa cooperação foi muitas vezes facilitada pela capacidade de acreditar em "ficções", como nações, dinheiro, religiões e instituições jurídicas. As máquinas não acreditam em ficções - ou ainda não.
Byrne termina com um autoquestionamento: “Estou me perguntando o que nos resta quando há cada vez menos interações humanas. Remova os seres humanos da equação e somos menos completos como pessoas e como sociedade. Nós não existimos como indivíduos isolados. Nós, como indivíduos, somos habitantes de redes; somos relacionamentos. É assim que prosperamos e prosperaremos”.
Notas:

[1]. Artigo completo disponível aqui. A síntese e edição é de Lucas Henrique da Luz, colaborador do IHU.
[2]. Exemplos de tecnologias de consumo que resultam em uma menor interação humana, citadas por Byrne:
a) pedidos on-line e entrega a domicílio, que são extremamente convenientes, como Amazon, FreshDirect, Instacart, etc. Não apenas cortaram interações nas livrarias e nas linhas de pagamento; Eles eliminaram toda a interação humana dessas transações, excluindo as recomendações on-line (muitas vezes pagas para que tal livro, objeto, serviço seja recomendado).

b) Música digital: downloads e transmissão - não há nenhuma loja física, é claro, então não há nenhum funcionário com quem conversar, que entenda de música e discuta com você. Alguns serviços oferecem recomendações algorítmicas. Além disso, outros algoritmos mostram o que seus amigos gostam e você nem precisa falar com eles para saber. E lá se vai uma função social da música, talvez.
c) Veículos sem motoristas: existem grandes vantagens para a eliminação de seres humanos aqui - teoricamente, as máquinas devem dirigir com mais segurança do que os seres humanos, então pode haver menos acidentes e mortes. As desvantagens incluem perda de emprego maciça. Mas esse é outro assunto. O que estou vendo aqui é o padrão consistente "eliminando o humano", eliminando a interação. E mesmo quando tem um motorista, o sistema da a rota, o trajeto e se você não quiser nem mesmo falar com o “driver”, não será necessário. E, o pagamento, é feito via aplicativo, sem interação também.

d) Pagamento automatizado: compras de mercado, comidas em restaurante, roupas em lojas, etc. É escolher, pedir, consumir e pagar, tudo automaticamente, sem necessidade de contato com alguém. A Amazon vem testando lojas - até lojas de supermercado - com compras automatizadas. Eles são chamadas de Amazon Go. A idéia é que os sensores saberão o que você pegou. Você pode simplesmente sair com as compras que serão cobradas na sua conta, sem qualquer contato humano.

e) Força de robô: as fábricas cada vez mais têm cada vez menos trabalhadores humanos, o que significa que não há personalidades para lidar, sem agitação para horas extras e sem doenças. O uso de robôs evita a necessidade de um empregador pensar em saúde, segurança social, impostos e benefícios de desemprego do trabalhador.

f) Assistentes pessoais: com reconhecimento de fala melhorado, cada vez mais pode conversar com uma máquina como Google Home ou Amazon Echo em vez de uma pessoa.

g) Jogos de vídeo (e realidade virtual): sim, alguns jogos online são interativos. Mas a maioria é jogada em uma sala por uma pessoa colocada no jogo. A interação é virtual.

h) MOOCS: educação on-line sem interação direta com professores.

i) Mídias "sociais": esta é uma interação social que não é realmente social. Enquanto o Facebook e outros freqüentemente afirmam oferecer conexão, e oferecem a aparência dele, o fato é que muitas mídias sociais são uma simulação de conexão real.

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/570796-as-tecnologias-da-revolucao-4-0-e-a-interacao-humana-ganhamos-em-eficiencia-mas-perdemos-como-especie)

Bloqueio ao Catar e os protagonismos da Arábia Saudita e Estados Unidos

Elcineia Castro

No dia 05 de junho, a CNN noticiou que a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito haviam cortado laços diplomáticos com o Estado do Catar, alegando que esse país  estaria dando suporte ao terrorismo e contribuindo para a instabilidade na região.
O Estado do Catar é uma monarquia tradicional governada por um emir, título equivalente a um príncipe, atualmente Tamim bin Hamad al-Thani, e está. Assim como a maior parte dos Estados na região, o Catar foi protetorado da Grã-Bretanha de 1916 até 1971, quando se tornou independente. Entre 1973 e 1978, como nos principais países árabes produtores de petróleo, o Catar aumentou consideravelmente sua produção de petróleo. No entanto, tal produção é bastante modesta se comparada aos vizinhos do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, por exemplo. Além disso, o Catar, ao lado da Rússia e Irã, é um dos maiores produtores de gás natural do mundo. Essa combinação de gás e petróleo permite que o Estado catariano tenha uma das maiores rendas per capita do mundo. Além disso, o Catar sempre agiu de forma isolada no âmbito regional e internacional, estabelecendo suas parcerias e projetos, independentes do posicionamento de seu líder regional, a Arábia Saudita.
O estopim dos conflitos que deu origem às sanções começou com uma suposta gravação em que o emir teria afirmado que o Irã é uma potência regional e que sua posição deveria ser levada em consideração no Oriente Médio. De acordo com os Emirados Árabes Unidos, esta fala foi rastreada durante uma call entre líderes e diplomatas do Catar. A Arábia Saudita foi o primeiro país a se manifestar , já que é reconhecidamente rival do Irã. A monarquia saudita alega que o bloqueio ao Catar foi necessário, pois o Irã apoia o terrorismo internacional. De acordo com o jornal Washington Post (16-07-2017), as gravações partiram de e-mail vazados da conta particular do embaixador dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos, Youself al-Otaiba. O Catar alega  que os Emirados Árabes plantaram a notícia falsa, que a fala do emir foi fabricada e que o portal e conta do Twitter da agência de notícias do país também tinham sido alvo de ataques cibernéticos realizados por desconhecidos. Mesmo que o Catar tenha negado a veracidade da fala do emir, assim que a notícia se espalhou entre os países do Golfo, houve uma grande revolta entre líderes e ministros destes países, culminando na decisão da Arábia Saudita e seus aliados em romper relações com o país.
Até o presente momento, o bloqueio dos países árabes ao Estado do Catar já dura mais de 60 dias. Assim que o bloqueio aéreo, marítimo e terrestre tomou forma, a Arábia Saudita apresentou, no dia 22 de junho, uma proposta ao Estado do Catar com 13 pontos que deveriam ser cumpridos e adequados à legislação interna do país, sendo que um dos pontos exigia o rompimento das relações entre Catar e Irã e também o fechamento da rede de comunicação Al-Jazeera. Dias depois, o governo do Catar emitiu uma nota negativa aos 13 pontos, alegando que tem o direito de conduzir sua política externa como lhe apraz e de forma autônoma. No ano de 2014, inclusive, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos já tinham retirado seus embaixadores de Doha em função da aproximação com o Irã. Mas agora as medidas tomaram outras proporções, considerando que no Catar a água é escassa e a produção agrícola é mínima, e Arábia Saudita é o principal fornecedor de água e comida para o país. E em função do bloqueio, o governo saudita simplesmente parou de fornecer água e comida ao Catar, todavia vale lembrar que o Irã tem enviado aviões com água e comida diariamente ao Catar a fim de evitar que o país enfrente qualquer tipo de escassez.
Posteriormente, mais países árabes aderiram ao boicote de diversas formas: Mauritânia, as Ilhas Maldivas e Ilha Maurício anunciaram a ruptura dos laços diplomáticos com o governo do Catar, Jordânia e o Djibuti, por sua vez, baixaram o nível das suas missões diplomáticas no Qatar, enquanto o Senegal, o Níger e o Chade retiraram seus embaixadores do país.  A Arábia Saudita exerce grande influência política sobre esses países, por conta da dependência financeira e religiosa estabelecida.  Mas, ao mesmo tempo, países importantes da comunidade internacional como Estados Unidos, Turquia, Rússia, China, Inglaterra, Alemanha e Índia pedem que a frente árabe, liderada pela Arábia Saudita alivie as sanções impostas ao Catar e procurem resolver suas diferenças através do diálogo, já que os mesmos também são grandes parceiros comerciais do país bloqueado.
Do outro lado, temos os Estados Unidos, que tem participado ativamente na região do Golfo, especialmente com o presidente Donald Trump. No dia seguinte ao bloqueio, no início de junho, o presidente norte-americano declarou-se favorável a iniciativa da Arábia Saudita e seus aliados, pois reconhecia que as justificativas de apoio ao terrorismo, financiamento da Irmandade Muçulmana e apoio ao Irã eram pertinentes. Em seguida, o Departamento de Estado emitiu um parecer tentando contornar a situação, afirmando que os países árabes deveriam aliviar as sanções. Já o Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a decisão dos países árabes sobre o Catar pode ter um efeito positivo na luta contra o terrorismo. Vale destacar que, no dia 21 de maio, o presidente Donald Trump fez sua emblemática visita à Arábia Saudita; dando ênfase à questão da segurança, combate ao terrorismo e propondo o isolamento dos outros países árabes ao Irã. E durante a reunião com os líderes do Conselho do Golfo Pérsico, nesta mesma visita, foi adotada uma frente anti-iraniana.

No entanto, as ações dizem mais do que as confusas declarações do presidente Donald Trump ou as ações do Departamento de Defesa tentando contorná-las. Apesar das declarações favoráveis ao boicote, no dia 15 de junho, foi selado um acordo bilionário, referente à venda de caças norte-americanos para o Catar. Na sequência, a Marinha dos Estados Unidos fez diversas operações navais com a Marinha do Catar, em território catariano, já que  lá está a maior base militar norte-americana na região (base aérea e central de comando para operações militares). No dia 11 de julho, foi assinado um memorando de entendimento sobre o Combate ao Financiamento do Terrorismo entre Estados Unidos e Catar. Tais ações confirmam o compromisso dos Estados Unidos com seu aliado militar. O maior interesse norte-americano no Oriente Médio atualmente é extinguir o Estado Islâmico, enquanto a nova frente árabe liderada pela Arábia Saudita estaria preocupada com o Irã e a Irmandade Muçulmana – que ameaçam a hegemonia regional saudita.
O grande inimigo regional dos países do Golfo Pérsico é o Irã. Desde a Revolução Iraniana de 1979, o Irã e a Arábia Saudita se tornaram referência de suas respectivas correntes islâmicas, xiita e sunita. E até hoje os dois países estão empenhados numa disputa político-religiosa pelo domínio geopolítico na região. Logo, a expansão xiita na região, pode se traduzir em poder e influência política sobre os Estados sunitas, que são liderados pela Arábia Saudita. O Catar e o Irã se tornaram aliados, não só para convergir seus interesses energéticos (gás natural), mas também como uma negação à liderança regional da Arábia Saudita, apesar de parecer uma contradição, já que ambos são Estados sunitas, aliados dos Estados Unidos e integram o Conselho de Cooperação do Golfo(CCG).
Essa nova coalização no Oriente Médio liderada pela Arábia Saudita, inspirada e incentivada pelo presidente Donald Trump, durante sua recente visita à Arábia Saudita se traduz nos interesses dos Estados Unidos em posicionar-se nos bastidores como líder dos países sunitas do Oriente Médio. A aparente ambiguidade do presidente Donald Trump, em apoiar o bloqueio e ao mesmo tempo estabelecer novas parcerias com o governo do Catar, demonstra que existem duas causas a serem defendidas fortemente pelo Estado norte-americano: primeiramente, liderar os países que integram o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) através de seu parceiro e líder na região, a Arábia Saudita, formando a frente regional sunita, visando o controle geopolítico da região. E ao mesmo tempo, garantir que os interesses econômicos norte-americanos, representados nos acordos bilionários sobre a venda de armas e caças aos países árabes também estejam devidamente protegidos. Contudo, o presidente Donald Trump, que é imprevisível e costuma criar situações de conflito, parece ter sofrido algum tipo de amnésia quando expressou no Twitter apoio ao boicote feito ao Catar, sobre a alegação de combate ao extremismo e financiamento do terrorismo, ignorando que naquele exato momento, grandes parcerias com o Catar estavam sendo renovadas com o governo norte-americano. Enquanto a Arábia Saudita, se sente ameaçada por  seu rival se relacionar de forma tão próxima com seu vizinho Catar.  A crise entre as monarquias e repúblicas sunitas só demonstra o quanto o discurso de Trump durante sua visita à Arábia Saudita, tornou-se estratégico aos ouvidos dos líderes presentes, especialmente no que se refere à luta contra o terrorismo e a completa adoção do espírito anti-iraniano, mas muito mais como uma justificativa para impedir o avanço do Irã na região, do que pela realidade dos fatos. Exceto pelo Catar, que desde sua independência sempre preferiu caminhar de forma autônoma à monarquia Saud para não se transformar naquilo que mais abomina: ser uma colônia da Arábia Saudita.

(fonte: http://outraspalavras.net/terraemtranse/2017/08/11/bloqueio-ao-catar-e-os-protagonismos-da-arabia-saudita-e-estados-unidos/)