sábado, 27 de janeiro de 2018

A indústria alimentar engrossa a fila da saúde

por Moriti Neto

Você já viu ou escutou falar do propagandista médico dos grandes laboratórios farmacêuticos? Saiba que as corporações de alimentos também têm um verdadeiro exército de propaganda, disfarçada ou não, na área da saúde

Você está lá, aguardando o atendimento do profissional de saúde com quem marcou consulta há tempos. Sala de espera. Quarenta, cinquenta, sessenta minutos de atraso. Impaciência. Várias olhadas no celular. Talvez, a leitura de um livro. Café. Qualquer coisa para fazer o tempo passar. O paciente que o antecedia na numeração da senha sai do consultório. Alívio: “É a minha vez”. Porém, o seu nome não é chamado. Tudo porque o médico acena ao portador de uma grande maleta cheia de caixas de remédios. É o propagandista da indústria farmacêutica, a pessoa que vai oferecer amostras grátis de medicamentos a quem já deveria ter lhe atendido bem antes. Respire fundo, vem mais chá de cadeira e não é improvável que o “doutor”, quando finalmente lhe abrir a porta, receite uma das marcas que acaba de receber como sugestão. Não faltam casos assim mundo afora. O que poucos de nós sabemos é que a indústria da alimentação adota prática semelhante. “À medida que os laboratórios farmacêuticos visitam os consultórios médicos para apresentar remédios, a indústria alimentar tem também uma agenda de apresentação de produtos”, ressalta o espanhol Juan Revenga, consultor em nutrição, que coloca a Danone como destaque entre as corporações que assim agem. “Essa empresa tem visitas no portfólio de atividades e isso está acontecendo até na saúde pública da Espanha”, afirma.

Revenga é professor da Universidade de San Jorge, na província de Saragoça, blogueiro, e autor dos livros Con las manos en la mesa (Com as mãos sobre a mesa, ainda sem edição em português) e Adelgázame, miénteme (Emagreça-me, minta-me, também sem edição em português), no qual relatou casos de médicos que recomendam o uso de certos produtos lácteos fermentados, como o Actimel, que leva um “fermento específico, exclusivo da Danone” e que serviria para regular a flora intestinal, além de “melhorar a imunidade a doenças”. Segundo ele, as recomendações não são embasadas cientificamente na maioria das vezes e a motivação não é a saúde do paciente, mas a manutenção das relações nebulosas entre  profissionais e grandes corporações de alimentos.

“Esses tipos de práticas são desagradáveis para mim e fazem parte de todas as sociedades médicas e científicas que não declaram conflito de interesse”, diz o nutricionista. Ele acredita que as megaempresas do setor buscam se apresentar como saudáveis para obter o endosso de médicos e sociedades de saúde. Em troca, além de amostras de remédios, as transnacionais oferecem viagens, patrocínios a eventos científicos e financiamento de pesquisas.

Não são poucos os casos em território espanhol de congressos ou fóruns nutricionais patrocinados por grandes marcas de alimentos. Um dos mais emblemáticos dos últimos tempos ocorreu no 36º C0ngresso da Sociedad Española de Medicina Familiar y Comunitaria (Semfyc), realizado na cidade de Corunha, em maio de 2016. Nele, um dos destaques foi o “IV Fórum de Educação em Saúde sobre Nutrição, Alimentação e Exercício Físico em Atenção Primária”, patrocinado por empresas como Danone e Herbalife Nutrition.

Médico de família em Madri e ex-vice-presidente da Sociedad Madrileña de Medicina de Familia y Comunitaria (Somamfyc), Vicente Baos concorda com muitos aspectos apresentados por Revenga. “Esses patrocínios são uma publicidade secreta, que as marcas patrocinadoras usam para apresentar opiniões a toda a comunidade profissional. São meras plataformas de propaganda. Não há nada para discutir cientificamente com uma empresa de salsicha, por exemplo”, argumenta.

Enquanto Baos e Revenga denunciam os conflitos de interesses existentes – mas não declarados – quando as entidades aceitam dinheiro das corporações e se comprometem a endossar determinados produtos financiadas por marcas de alimentos, há quem vá na contramão dessa linha crítica. Carmen Gómez Candela, médica com 25 anos de atuação como chefe da Unidade de Nutrição e Dietética Clínica do Hospital Universitário de La Paz, em Madri, justifica o apoio da indústria. “O fato é que as convenções científicas não são organizadas por empresas de alimentos; eles só contribuem com o capital para que possam ser realizadas, como acontece com as empresas farmacêuticas. Não há diferença em termos de conceito “, assegura.

A médica afirma que esse tipo de “parceria” permitiu que conhecesse de perto a evolução da indústria e serviu para esclarecê-la de que o açúcar pode ser defendido cientificamente, “na medida apropriada”. Também membro do comitê científico do Instituto de Estudos de Açúcar e Beterraba da Espanha, Carmen enfatiza: “Em quantidades moderadas, o açúcar faz parte de uma dieta saudável. Não pode ser demonizado.”

Ela deixa claro não apreciar “mensagens alarmistas” que “são lançadas por nutricionistas recém-chegados que adotam posições desse estilo”. Carmen Gómez refere-se aos profissionais que criticam a entrada da indústria alimentar no financiamento de congressos científicos, como já acontecia com a indústria farmacêutica. “Está muito na moda demonizar a comida. Todo mundo tem algo bom ou algo negativo. A chave é consumir em uma proporção correta”, destaca, claramente falando em favor da tese do balanço energético, que permite “comer de tudo na medida certa” desde que as calorias absorvidas sejam “queimadas” com o gasto calórico (atividade física) e é objeto de muitos debates, inclusive considerada “ultrapassada” e até um“mito de marketing” por pesquisadores que a veem apenas como uma maneira de a indústria alimentar, com o auxílio de alguns grupos científicos patrocinados, culpar exclusivamente o cidadão pela obesidade.

Os argumentos de Carmen não convencem Juan Revenga. Para ele, é evidente, o comprometimento de associações e profissionais de saúde com a indústria, que “aplica o dinheiro” para que pessoas criteriosamente escolhidas estejam presentes para discutir os produtos, que trazem retorno financeiro ao “investimento”, e não à saúde.

Uma prática que, na avaliação de Vicente Baos, se espalha porque as transnacionais farmacêuticas já não investem tanto dinheiro nos evento, o que motiva a procura de outros patrocinadores que tenham interesses comerciais na área da saúde. “Em outras palavras, misturar nutrição e saúde, para essas empresas, é uma pechincha”, ressalta.

Questionado sobre a viabilidade de modelos para a realização eventos de sociedades científicas livres de patrocínios da indústria, Baos não vacila. “Sim, existem. O pagamento de taxas proporcional aos rendimentos de cada inscrito e proporcional aos objetivos. Isso é educação fundamentalmente continuada. Não precisa ser cara (a inscrição) ou fazer megaeventos com milhares de pessoas, grandes mesas de café da manhã, almoço, jantar de gala, etc. Esse modelo está desatualizado. Com uma taxa razoável, você poderia fazer mais webinários , mais mini-eventos, mais reuniões locais e menos festas com decorações, danças e bandas”, conclui.

Para olhar com atenção

Fotos de objetos inanimados chamam a atenção nas redes sociais espanholas, porque a mensagem é clara. O sinAzucar.org, criado e liderado pelo fotógrafo Antonio Rodrigues Estrada, formado também em Nutrição Esportiva, busca revelar o “açúcar oculto” nos alimentos ultraprocessados. A escolha dos itens registrados pelas câmeras é fundamentada por um conselho de profissionais de saúde. Somente depois disso é que os produtos são fotografados, juntamente com a quantidade de açúcar contida em camadas, exibida na forma de torrões. “Usamos a mesma linguagem visual que a indústria usa para vender os produtos. Fotografia limpa, iluminação cuidadosa, retoque atraente, impacto visual, etc”, explica Estrada.

O resultado disso, além do site, é a grande participação em eventos sobre nutrição e principalmente a mobilização que o sinAzucar tem conseguido, tanto física – em encontros, debates e palestras – como virtualmente. Acompanhando a considerável audiência do site vêm os 214 mil seguidores no Facebook e os 131 mil no Instagram.

Em 28 de dezembro passado, a iniciativa divulgou uma tabela que inclui centenas de entidades de saúde e nutrição da Espanha que receberam apoio financeiro da Coca-Cola entre 2010 e 2017, num total de 14 milhões de euros repassados pela transnacional às organizações. 

As fotos do sinAzucar estão disponíveis para serem utilizadas e divulgadas desde que recebam os créditos e não sejam alteradas. Para fins comerciais, Antonio Estrada pede que haja contato prévio.

(fonte: http://outraspalavras.net/ojoioeotrigo/2018/01/industria-alimentar-engrossa-fila-da-saude/)

Amazônia: apelo do papa é esvaziado. Peru construirá super-rodovia no coração da floresta


A rodovia de duas pistas, de 227 quilômetros de extensão, cortará o pulmão verde do mundo. Unirá Puerto Esperanza, no nordeste do Peru, e Iñapari, na fronteira com o Estado do Acre, no Brasil. Atravessará cinco parques nacionais. Mas a obra é considerada “uma prioridade de interesse nacional”.
A reportagem é de Daniele Mastrogiacomo, publicada por La Repubblica, 23-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As palavras do papa permaneceram não ouvidas. Letra morta. Enquanto Francisco, cercado pelos índios de Puerto Maldonado, na selva peruana, denunciava, alarmado, os riscos que a Amazônia corre por causa da ação devastadora dos cortadores de árvores e dos mineradores ilegais, o Parlamento aprovava em grande segredo o projeto de lei que autoriza a construção de uma superestrada que conectará o Peru e o Brasil, cortando o pulmão do mundo.
O procedimento foi publicado no Diário Oficial e está operacional. Trata-se de uma estrada de duas pistas, de 227 quilômetros de extensão, que unirá Puerto Esperanza, no nordeste do Peru, e Iñapari, na fronteira com o Estado do Acre, no Brasil. Embora atravesse cinco parques nacionais, incluindo os de Alto Purus e de Manu, nas motivações da norma, a estrada é considerada “uma prioridade de interesse nacional”.
O interesse é obviamente econômico. O Peru tenta expandir seus mercados para o lado atlântico do continente; o Brasil precisa explorar os laços asiáticos do seu vizinho. Exigências convergentes. Uma linha de conexão e de transporte rodoviário facilitaria os intercâmbios comerciais.
Passar pela Amazônia significa poupar tempo e dinheiro. O resto, os danos ambientais, a erosão de novas fatias de verde, as consequências climáticas decorrentes do desequilíbrio que vai decorrer a partir disso são fatores secundários. Trata-se de escolher.
Apoiado por uma maioria cada vez mais precária, criticado por ter concedido o indulto ao ex-ditador Alberto Fujimori em troca de oito votos que lhe evitaram o impeachment, o presidente Pedro Pablo Kuchynski cede às pressões dos lobbies industriais e da madeira, e aprova uma lei que viola os compromissos internacionais assumidos em torno da defesa do ambiente e do aquecimento global.
Mas, acima de tudo, põe em risco a sobrevivência de pelo menos cinco grandes comunidades indígenas que “vivem em isolamento voluntário”, explica Lizardo Cauper, chefe da Federação Peruana dos Povos Nativos da Amazônia (Aidesep). “O projeto”, defende o ativista, “não cria nenhuma vantagem para as populações locais. Trata-se de uma área com pessoas extremamente isoladas que são muito vulneráveis.”
As obras da superestrada atrairão milhares de garimpeiros, mineradores ilegais, traficantes e mercenários. A região é rica em árvores de mogno, madeira preciosa requisitada sobretudo na Europa.
Julia Urrunaga, diretora no Peru da Environmental Investigation Agency (EIA), uma ONG britânica comprometida com a Amazônia, lembra que 95% do desmatamento ocorre a menos de seis quilômetros da futura superestrada.
Junto com a rede das muitas rotas que serão traçadas, o caminho planejado poderia provocar o corte de 2.750 quilômetros quadrados de verde, de acordo com o mapeamento de satélite traçado pelo projeto de Monitoramento da Amazônia Andina.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/575510-amazonia-apelo-do-papa-e-esvaziado-peru-construira-super-rodovia-no-coracao-da-floresta)

Nunca estivemos tão perto de destruir o mundo

Hoje estamos mais perto do fim do mundo do que jamais poderíamos ter imaginado alguns anos atrás. É o que dizem os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos, que decidiram adiantar o ponteiro de minutos do Relógio do Apocalipse em meio minuto em relação à meia-noite, deixando-o às 23h58. A possibilidade da aniquilação da humanidade é tão verdadeira agora como foi em meados dos anos cinquenta, quando as superpotências EUA e URSS colocaram sobre a mesa o seu armamento termonuclear, capaz de arrasar a vida terrestre. Desde 1947, esse painel de cientistas — composto por prestigiosos especialistas, incluindo 15 vencedores do Prêmio Nobel — move os ponteiros desse relógio simbólico para alertar a humanidade dos perigos que ameaçam sua própria existência. Em 1953, como agora, o relógio foi acertado para marcar dois minutos para a meia-noite. Se chegar a marcar 0h00, seria o fim.
A reportagem é de Javier Salas, publicada por El País, 25-01-2018.
“Na discussão deste ano, os assuntos nucleares ocuparam o centro das atenções mais uma vez”, disse a presidenta do BoletimRachel Bronson, em uma conferência de imprensa realizada em Washington D.C. Em sua declaração pesou o lastro que os tuítes de Donald Trump representam para o futuro da humanidade. O painel culpa “a espiral descendente da retórica nuclear entre o presidente norte-americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-um” e adverte que Trump “deveria evitar uma retórica provocativa em relação à Coreia do Norte, reconhecendo a impossibilidade de prever suas reações”.
As relações dos EUA com a Rússia e a gestão de Trump do acordo com o Irã na questão atômica também tiveram uma influência notável. “O fracasso dos líderes mundiais em enfrentar as maiores ameaças ao futuro da humanidade é lamentável, mas esse fracasso pode ser revertido”, justificou o painel, que também apontou “a ameaça representada pelo uso indevido da tecnologia da informação” e “a vulnerabilidade das democracias à desinformação”. “O debate político agora é o que vamos fazer a respeito disso”, acrescentou Bronson.
“É difícil comparar com outras épocas. Fizemos uma declaração clara de que sentimos que o mundo está se tornando mais perigoso”, disse o físico Lawrence Krauss sobre a comparação com a outra época na qual estivemos muito perto da aniquilação. “Se você lê a declaração de 1953, há paralelos, incluindo a questão da unidade europeia”, lembrou a presidenta. Em 1991, com o fim da Guerra Fria, o relógio marcou a melhor hora, 17 minutos para a meia-noite. Mas, desde 2010 não paramos de nos aproximar da meia-noite no Doomsday Clock.
Trump deveria evitar uma retórica provocativa em relação à Coréia do Norte, reconhecendo a impossibilidade de prever suas reações”, diz o painel.
No ano passado, o painel tomou a peculiar decisão de adiantar pela primeira vez o relógio em apenas 30 segundos poucos dias depois da posse de Trump, deixando-o às 23h57min30s. “Nunca antes o Boletim tinha decidido adiantar o relógio devido às declarações de uma única pessoa. Mas quando essa pessoa é o novo presidente dos EUA, suas palavras importam”, disseram naquele momento os cientistas em relação à verborragia de Trump.
Junto com o risco de guerra nuclear, o aquecimento global foi outro fator decisivo para o painel: o ano passado foi o mais quente dos registros históricos, e isso aconteceu pelo terceiro ano consecutivo. 2015, 2016 e 2017 foram os anos mais quentes desde que existem registros e 17 dos 18 anos mais quentes foram registrados durante este século. Mais uma vez, os EUA têm um peso decisivo na decisão: “A administração Trump, em que conhecidos negacionistas da mudança climática ocupam altos cargos (...) anunciou seu plano de saída do Acordo de Paris. Em seu afã de desmantelar uma política climática e energética racional, ignorou os fatos científicos e as análises econômicas bem fundamentadas”, afirma o painel.
Os especialistas em riscos existenciais — os perigos que poderiam acabar com a humanidade — consideraram que este ano os membros do painel tiveram de enfrentar uma situação difícil. “Não acho que as pessoas de bem que criaram a metáfora do relógio pudessem prever Trump!”, brinca Phil Torres, especialista neste campo consultado pelo El País. “Estão ficando sem minutos”, disse Torres, diretor do Projeto para a Futura Prosperidade Humana, antes de tomar conhecimento da decisão do BoletimTorres pensava que deixariam o relógio sem alterações “enquanto denunciam de forma devastadora as políticas totalmente absurdas da administração Trump, juntamente com os tuítes perigosamente pueris de Trump, que o editor-chefe do Boletim qualificou recentemente como um ‘risco existencial’ para a humanidade”.
“Não acho que as pessoas de bem que criaram a metáfora do relógio pudessem prever Trump!”, brinca Phil Torres.
Boletim foi fundado por um grupo de cientistas norte-americanos envolvidos no Projeto Manhattan, que desenvolveu as primeiras armas nucleares do mundo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1947, eles lançaram a ideia do Relógio do Juízo Finalpara divulgar o perigo que as guerras nucleares representavam para a humanidade. Hoje, o Boletim é uma organização independente sem fins lucrativos dirigida por alguns dos cientistas mais eminentes do mundo, que inclui 15 prêmios Nobel em seu painel. Em sua primeira edição, os ponteiros foram colocados 7 minutos antes da meia-noite. Em 1995, 14 minutos. Em 2007, as mudanças climáticas começaram a ser consideradas entre suas preocupações em relação ao futuro da humanidade, às quais agora também se juntam fatores como a ciberguerra e o bioterrorismo.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/575605-nunca-estivemos-tao-perto-de-destruir-o-mundo)

Os 12 bilionários que poderiam ter salvado o Brasil sete vezes

(por Cristina Castro)

Em tempos de julgamento — com cartas marcadas — de Lula, algumas outras notícias importantes acabam passando batido por nós. Afinal, é nesta quarta-feira que começará a ser desenhado o resultado das eleições presidenciais deste ano, as primeiras depois que uma presidente eleita foi derrubada sem justificativa legal para tanto. As primeiras depois do golpe parlamentar que varreu Dilma do poder.

Como eu disse, acho que este julgamento está com as cartas marcadas, então me sinto desanimada para escrever a respeito. Amanhã, quem sabe, comento o resultado óbvio.
Mas retomando minha linha de raciocínio da primeira frase deste post, algumas notícias importantes, que não deveriam passar batido, acabaram não recebendo o destaque e repercussão necessários. É o caso desta: “Aumento de bilionários em 2017 poderia acabar com a extrema pobreza por 7 vezes“.
São tantos números absurdos, a desigualdade de renda está tão desigual, especialmente no Brasil, que a gente fica meio sem palavras. Recomendo a leitura na íntegra desta matéria da Agência Brasil e também da versão da Folha, mas abaixo destaco meus trechos surrealistas favoritos:
  • De toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% ficaram concentrados nas mãos dos que estão na faixa de 1% mais rica, enquanto a metade mais pobre – o equivalente a 3,7 bilhões de pessoas – não ficou com nada.
  • Houve um aumento histórico no número de bilionários no ano passado: um a mais a cada dois dias. Esse aumento seria suficiente para acabar sete vezes com a pobreza extrema no planeta.
  • Atualmente há 2.043 bilionários no mundo. A concentração de riqueza também reflete a disparidade de gênero, pois a cada dez bilionários nove são homens.
  • O Brasil ganhou 12 bilionários a mais no período, passando de 31 para 43.
  • O patrimônio dos bilionários brasileiros alcançou R$ 549 bilhões no ano passado, um crescimento de 13% em relação a 2016. Por outro lado, os 50% mais pobres tiveram a sua fatia na renda nacional reduzida de 2,7% para 2%.
  • Um brasileiro que ganha um salário mínimo precisaria trabalhar 19 anos para ganhar o mesmo que recebe em um mês uma pessoa enquadrada entre o 0,1% mais rico.
  • No Brasil, as alíquotas de imposto sobre herança chegam no máximo a 8%, quando no Reino Unido, por exemplo, podem atingir 40%.
  • Os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos (sobre bens e serviços), e os 10% mais ricos gastam 21%.
  • Cinco bilionários brasileiros concentram o equivalente à metade da população do país.
  • De novo: “O país ganhou 12 novos bilionários em 2017. Hoje, eles somam 43 ultrarricos. Cinco deles têm riqueza igual à da metade da população brasileira. O país foi apontado por diversos estudos como um dos mais desiguais do mundo.”
Ah sim, quer saber quem são esses bilionários brasileiros? Aí está a lista da Forbes de 2017:
1. Jorge Paulo Lemann – US$ 29,2 bilhões (AB/Inbev)
2. Joseph Safra – US$ 20,5 bilhões (Banco Safra)
3. Marcel Telles – US$ 14,8 bilhões (AB/Inbev)
4. Carlos Alberto Sicupira – US$ 12,5 bilhões (AB/Inbev)
5. Eduardo Saverin – US$ 7,9 bilhões (Facebook)
6. Ermirio Pereira de Moraes – US$ 3,9 bilhões (Votorantim)
7. Maria Helena Moraes Scripilliti – US$ 3,9 bilhões (Votorantim)
8. José Roberto Marinho – US$ 3,8 bilhões (Grupo Globo)
9. Roberto Irineu Marinho – US$ 3,8 bilhões (Grupo Globo)
10. João Roberto Marinho – US$ 3,7 bilhões (Grupo Globo)
11. Abilio Diniz – US$ 3,3 bilhões (BRF/Carrefour)
12. Walter Faria – US$ 3,3 bilhões (Grupo Petrópolis)
13. Jorge Moll Filho – US$ 3,2 bilhões (Rede D’Or)
14. Fernando Roberto Moreira Salles – US$ 3,2 bilhões (Itaú Unibanco)
15. João Moreira Salles – US$ 3,2 bilhões (Itaú Unibanco)
16. Pedro Moreira Salles – US$ 3,2 bilhões (Itaú Unibanco)
17. Walther Moreira Salles – US$ 3,2 bilhões(Itaú Unibanco)
18. Rossana Camargo de Arruda Botelho – US$ 3,1 bilhão (Camargo Corrêa)
19. Renata de Camargo Nascimento – US$ 1,9 bilhão (Camargo Corrêa)
20. Regina de Camargo Pires Oliveira Dias – US$ 3,1 bilhão (Camargo Corrêa)
21. Aloysio de Andrade Faria – US$ 2,4 bilhões bilhão (Banco Alfa)
22. José Luís Cutrale – US$ 2,2 bilhões (Cutrale)
23. Alexandre Grendene Bartelle – US$ 2 bilhões (Grendene)
24. Alfredo Egydio Arruda Villela Filho – US$ 1,9 bilhão (Itaú Unibanco)
25. Júlio Bozano – US$ 1,8 bilhão (Grupo Bozano)
26. Dulce Pugliese de Godoy Bueno – US$ 1,8 bilhão (Amil)
27. André Esteves – US$ 1,8 bilhão (BTG Pactual)
28. Carlos Sanchez – US$ 1,8 bilhão (EMS)
29. Ana Lucia de Mattos Barretto Villela – US$ 1,7 bilhão (Itaú Unibanco)
30. Jayme Garfinkel – US$ 1,5 bilhão (Porto Seguro)
31. Liu Ming Chung – US$ 1,5 bilhão – (Nine Dragons)
32. Ana Maria Marcondes Penido Sant’Anna – US$ 1,5 bilhão (CCR)
33. José Isaac Peres – US$ 1,5 bilhão (Multiplan)
34. João Alves de Queiróz Filho – US$ 1,4 bilhão (Hypermarcas)
35. Rubens Ometto Silveira Mello -US$ 1,4 bilhão (Cosan)
36. Lírio Parisotto – US$ 1,4 bilhão (Videolar-Innova)
37. Lina Maria Aguiar – US$ 1,3 bilhão (Bradesco)
38. Maurizio Billi – US$ 1,3 bilhão (Eurofarma)
39. Nevaldo Rocha – US$ 1,3 bilhão (Riachuelo)
40. Antonio Luiz Seabra – US$ 1,3 bilhão (Natura)
41. Miguel Krigsner – US$ 1,2 bilhão (Grupo O Boticário)
42. Lia Maria Aguiar – US$ 1,1 bilhão (Bradesco)
43. Daisy Iguel – US$ 1,1 bilhão (Grupo Ultra)
Durante o governo Lula, este que está para ser julgado em segunda instância, conseguimos sair do Mapa da Fome, tiramos muitas crianças das ruas com o Bolsa Família e reduzimos a pobreza no Brasil. Mas nem toda a política social promovida nos primeiros anos do governo federal petista conseguiram acabar com essa desigualdade de renda histórica, só piorada nos últimos três anos (até porque os banqueiros e ricaços também foram muito beneficiados no período). E agora é que esse problema não será resolvido tão cedo.
Ah, sim: e estamos caminhando para retomar o posto no Mapa da Fome…
(fonte: https://kikacastro.com.br/2018/01/24/bilionarios-desigualdade/#more-14965)

Huxley e o Regresso ao admirável mundo novo



Antônio de Paiva Moura

            Na década de 1960 Huxley, autor de Admirável mundo novo, publicado em 1932, começou a fazer uma avaliação do que vinha ocorrendo no mundo com as consequências de uma série de ditaduras ocorridas antes e depois da Segunda Guerra Mundial. O autor considera que os dois maiores perigos para a humanidade são a superpopulação e a super-organização. A superpopulação concorre para o aumento da pobreza e revoltas dos excluídos. Para controlar as massas excluídas as classes superiores lançam mão de força física, força armada e tecnologia para controle da mente humana. Huxley mostra como as técnicas de persuasão e de controle são empregadas nas ditaduras e nas democracias contemporâneas. A liberdade do indivíduo e seus padrões são ameaçados por uma imensa indústria de comunicação.
            Pela leitura de “Regresso ao admirável mundo novo” percebe-se que o autor é dono de uma alta intelectualidade e arguto conhecimento científico aliado à sua experiência de vida. Daí a observação de que ninguém dispõe de tempo para conhecer tudo. Cada um só pode conhecer um pouco de cada coisa. Por isso adverte que os estudiosos dos destinos da humanidade devem aprender a simplificar sem falsear ou ocultar a verdade. Se considerarmos que o livro trata só da questão da liberdade humana, ele não é tão resumido assim. Freud e Sartre observaram com propriedade que o homem, ao contrário dos animais irracionais, libertou-se da natureza, mas criou normas de comportamento e busca do ideal de ordem na sociedade.
            Tanto no primeiro como no segundo livro, Huxley aborda o desejo e a repugnância da ordem estabelecida. Para sociólogos como Carl Mannheim a ordem na sociedade humana é estabelecida e sustentada por um conjunto de crenças por ele chamadas de ideologia. Mas Huxley vai pelo approach cultural. Para ele a ordem na sociedade é necessária porque a liberdade só surge e tem sentido dentro de uma comunidade auto-regulamentada de indivíduos que colaboram livremente. Mesmo que indispensável, a ordem pode ser fatal. A organização em excesso transforma em autômatos homens e mulheres; reprime o espírito criador e elimina própria possibilidade de liberdade. O ideal é o meio termo. Nem o laissez-faire de Adam Smith de ontem,  nem o atual de Margaret Thatcher e muito menos as ditaduras. Os meios de comunicação estão concentrados na elite do poder. A indústria da comunicação só age no sentido de divertir, distrair o povo. O esclarecimento e a busca da razão é que permitem uma vida livre e democrática. Só uma pessoa dotada de consciência consegue viver em liberdade. Somente os que estão constantemente cultivando a razão e a inteligência podem alimentar a esperança de se governar a si próprio.
            Para Huxley a grande ameaça à sustentação da democracia é o avanço tecnológico que proporciona o aumento da concentração de riqueza e o poder de seus detentores. Passado meio século do falecimento de Huxley, Richard Freeman, professor da Universidade Harvard, em 2017, fez minucioso estudo sobre os efeitos do avanço da inteligência artificial sobre a economia, educação e mercado de trabalho. Para ele os robôs proporcionam acumulação de riqueza a seus proprietários. O emprego da máquina na produção de bens e prestação de serviços vem aumentando progressivamente a taxa de desemprego. Os parcos empregos que restam não são mais bem remunerados como eram antes.
            Nas primeiras décadas do século XXI houve uma notável transferência de poder das instituições representativas da sociedade para a esfera econômica. Na América Latina, nas últimas décadas do século XX houve o restabelecimento do regime democrático. As novas constituições se dispuseram a proteger as classes subalternas e buscar o desenvolvimento social. Mas essa situação durou cerca de três décadas, até que a classe empresarial promoveu o desmanche do corpo legislado que amparava o desenvolvimento humano. No Brasil a chamada operação lava-jato colocou a nu a  intenção do empresariado em subornar autoridades constituídas na busca de aumento de seus privilégios.
            Huxley aborda com propriedade as formas de persuasão sobre os indivíduos no sentido de torná-los passivos, ordeiros e bons consumidores, isto é, consumidores compulsivos, eleitores enganados, cidadãos alienados. Nas ditaduras prevalecem os meios de torturas físicas e psicológicas. Nas democracias exploram o subconsciente. A psiquiatria moderna chama isso de “projeção subliminal” que está associada à distração das massas. Na antiguidade clássica o circo desempenhou essa função; na Idade Média a religião ocupava todo o tempo livre das pessoas e na atualidade, a televisão, a mídia eletrônica e mega shows internacionais. Os comunicadores sociais estudam a psicologia das massas e sabem como gerar as condições psicológicas apropriadas à persuasão subconsciente. Basta lembrar alguns exemplos de emprego de projeção no subconsciente nas campanhas publicitárias. A coca cola aparece sempre associada a belas paisagens geladas induzindo a idéia de refrigeração. Papai Noel, que é uma criação da coca cola, deslizando em trenó sobre gelo, induz à ideia de prodigalidade e generosidade.  Em 2016, na campanha eleitoral para prefeitos, os candidatos vitoriosos de São Paulo e de Belo Horizonte, aproveitaram a aversão dos brasileiros aos atuais políticos e se afirmaram como não sendo políticos. Por isso, e por nenhum outro motivo, ganharam a preferência do público. É exatamente isso que Huxley chama de persuasão do subconsciente, pois para pessoas esclarecidas, João Dória e Alexandre Kalil não podem negar que são políticos.

HUXLEY, Aldous. Regresso ao Admirável Mundo Novo. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.

Manual para acabar com um Brasil brasileiro, em 15 passos

Texto escrito por José de Souza Castro:
O jornalista Mauro Santayana se aventura no atrativo mercado das obras de autoajuda com o texto “Como manter uma colônia ou eliminar um concorrente” publicado eu seu blog. Em menos de 1.500 palavras, ele dá uma receita, em 15 passos, para o êxito da empreitada. Sim, a mesma empreitada que vem destruindo rapidamente o Brasil, em benefício do grande capital internacional capitaneado pelos Estados Unidos com a inestimável ajuda de uma minoria de brasileiros, com destaque para Michel Temer e seu bando.
Um texto tão conciso, escrito por um experiente jornalista, dispensa um resumo. Então, transcrevo-o na íntegra:
1 – Comece por cortar a sua possibilidade de financiamento, apoiando a criação de leis que impeçam o seu endividamento, mesmo que ele tenha uma das menores dívidas públicas entre as 10 maiores economias do mundo e centenas de bilhões de dólares em reservas internacionais, que você esteja devendo muito mais do que ele com relação ao PIB, e que ele seja o seu quarto maior credor individual externo.
2 – Apoie, por meio de uma mídia comprada cooptada ideologicamente e também de entrevistas de “analistas” do “mercado”, estudos e “relatórios” de “consultorias de investimento” controladas a partir de seu país e da pressão de agências de classificação de risco, às quais você não daria a menor bola, um discurso austericida, privatista e antiestatal para a economia do seu concorrente.
3 – Com isso, você poderá retirar das mãos dele empresas e negócios que possam servir de instrumento para o seu desenvolvimento econômico e social, inviabilizar o seu controle sobre o orçamento público, e eliminar a sua liberdade de investimento em ações estratégicas que possam assegurar um mínimo de independência e soberania em médio e longo prazo.
Companhias estatais são perigosas e devem ser eliminadas, adquiridas ou controladas indiretamente.
Elas podem ser usadas por governos nacionalistas e desenvolvimentistas (que você considera naturalmente hostis) para fortalecer seus próprios povos e países contra os seus interesses.
4 – Aproveite o discurso austericida do governo fantoche local para destruir o seu maior banco de fomento à exportação e ao desenvolvimento, aumentando suas taxas de juro e obrigando-o a devolver ao Tesouro, antecipadamente, centenas de bilhões em dívidas que poderiam ser pagas, como estava estabelecido antes, em 30 anos, impedindo que ele possa irrigar com crédito a sua economia e apoiar o capital nacional, com a desculpa de diminuir – simbólica e imperceptivelmente – a dívida pública.
5 – Estrangule a capacidade de ação internacional de seu adversário, eliminando, pela diminuição da oferta de financiamento, o corte de investimentos e a colocação sob suspeita de ações de desenvolvimento em terceiros países, qualquer veleidade de influência global ou regional.
Com isso, você poderá minar a força e a permanência de seu concorrente em acordos e instituições que possam ameaçar a sua própria hegemonia e posição como potência global, como o é o caso, por exemplo, da UNASUL, do Conselho de Defesa da América do Sul, do BRICS ou da Organização Mundial do Comércio.
6 – Induza, politicamente, as forças que lhe são simpáticas a paralisar, judicialmente – no lugar de exigir que se finalizem as obras, serviços e produtos em andamento – todos os projetos, ações e programas que puderem ser interrompidos e sucateados, provocando a eliminação de milhões de empregos diretos e indiretos e a quebra de milhares de acionistas, investidores, fornecedores, destruindo a engenharia, a capacidade produtiva, a pesquisa tecnológica, a infraestrutura e a defesa do país que você quer enfraquecer, gerando um prejuízo de dezenas, centenas de bilhões de dólares em navios, refinarias, oleodutos, plataformas de petróleo, sistemas de irrigação, submarinos, mísseis, tanques, aviões, rifles de assalto, cuja produção será interrompida, desacelerada ou inviabilizada, com a limitação, por lei, de recursos para investimentos, além de sucessivos bloqueios e ações e processos judiciais.
7- Faça a sua justiça impor, implacavelmente, indenizações a grandes empresas locais, para compensar acionistas residentes em seu território.
Se as ações caírem, quem as comprou deve ser bilionariamente compensado, com base em estórias da carochinha montadas com a cumplicidade de “relatórios” “produzidos” por empresas de “auditoria” oriundas do seu próprio país-matriz, mesmo aquelas conhecidas por terem estado envolvidas com numerosos escândalos e irregularidades.
Afinal, no trato com suas colônias, o capitalismo de bolsa, tipicamente de risco, não pode assumir nada mais, nada menos, do que risco zero.
8 – Concomitantemente, faça com que a abjeta turma de sabujos – alguns oriundos de bancos particulares – que está no governo, sabote bancos públicos que não estão dando prejuízo, fechando centenas de agências e demitindo milhares de funcionários, para diminuir a qualidade e a oferta de seus serviços, tornando as empresas nativas e o próprio governo cada vez mais dependentes de instituições bancárias – que objetivam primeiramente o lucro e cobram juros mais altos – privadas e internacionais.
9 – Levante suspeitas, com a ajuda de parte da imprensa e da mídia locais, sobre programas e empresas relacionadas à área de defesa, como no caso do enriquecimento de urânio, da construção de submarinos, também nucleares, e do desenvolvimento conjunto com outros países – que não são o seu – de caças-bombardeios.
Abra no território do seu pseudo concorrente escritórios de forças “policiais” e de “justiça” do seu país, para oferecer ações conjuntas de “cooperação” com as forças policiais e judiciais locais.
Você pode fazer isso tranquilamente – oferecendo até mesmo financiamento de “programas” conjuntos – passando por cima do Ministério das Relações Exteriores ou do Ministério da Justiça, por exemplo, porque pelo menos parte das forças policiais e judiciais do seu concorrente não sabem como funciona o jogo geopolítico nem tem o menor respeito pelo sistema político e as instituições vigentes, que são constantemente erodidas pelo arcabouço midiático e acadêmico – no caso de universidades particulares – já cooptados, ao longo de anos, por você mesmo.
Seduza, “treine” e premie, com espelhinhos e miçangas – leia-se homenagens, plaquinhas, diplomas, prêmios em dinheiro e palestras pagas – trazendo para “cursos”, encontros e seminários, em seu território, com a desculpa de “juntar forças” no combate ao crime e ao “terrorismo” e defender e valorizar a “democracia”, jornalistas, juízes, procuradores, membros da Suprema Corte, “economistas”, policiais e potenciais “lideranças” do país-alvo, mesmo que a sua própria nação não seja um exemplo de democracia e esteja no momento sendo governada por um palhaço maluco, racista e protofascista com aspirações totalitárias.
10 – Arranje uma bandeira hipócrita e “moralmente” inatacável, como a de um suposto e relativo, dirigido, combate à corrupção e à impunidade, e destrua as instituições políticas, a governabilidade e as maiores empresas do seu concorrente, aplicando-lhes multas bilionárias, não para recuperar recursos supostamente desviados, mas da forma mais punitiva e miserável, com base em critérios etéreos, distorcíveis e subjetivos, como o de “danos morais coletivos”, por exemplo.
11 – Corte o crédito e arrebente com a credibilidade das empresas locais e o seu valor de mercado, arrastando, com a cumplicidade de uma imprensa irresponsável e apátrida, seus nomes e marcas na lama, tanto no mercado interno quanto no internacional, fazendo com que os jornais, emissoras de TV e de rádio “cubram” implacável e exaustivamente cada etapa de sua agonia, dentro e fora do país, para explorar ao máximo o potencial de destruição de sua reputação junto à opinião pública nacional e estrangeira.
12 – Dificulte, pelo caos instalado nas instituições, que lutam entre si em uma demoníaca fogueira das vaidades por mais poder e visibilidade, e pela prerrogativa de fechar acordos de leniência, o retorno à operação de empresas afastadas do mercado.
Prenda seus principais técnicos e executivos – incluídos cientistas envolvidos com programas de defesa – forçando-os a fazer delações sem provas, destruindo a sua capacidade de gestão, negociação financeira, de competição, em suma, no âmbito empresarial público e privado.
13 – Colha o butim resultante de sua bem sucedida estratégia de destruição da economia de seu concorrente, adquirindo, com a cumplicidade do governo local – que jamais teve mandato popular para isso – fabulosas reservas de petróleo e dezenas de empresas, entre elas uma das maiores companhias de energia elétrica do mundo, ou até mesmo uma Casa da Moeda, a preço de banana e na bacia das almas.
14 – Impeça a qualquer preço o retorno ao poder das forças minimamente nacionalistas e desenvolvimentistas que você conseguiu derrubar com um golpe branco, há algum tempo atrás, jogando contra elas a opinião pública, depois de sabotar seus governos por meio de simpatizantes, com pautas-bomba no Congresso e manifestações insufladas e financiadas de fora do tipo que você já utilizou com sucesso em outros lugares, em ações coordenadas de enfraquecimento e destruição da estrutura nacional local, como no caso do famigerado, quase apocalíptico, esquema da “Primavera Árabe” ou a tomada do poder na Ucrânia por governos de inspiração nazista.
15 – Finalmente, faça tudo, inclusive no plano jurídico, para que se entregue a sua colônia a um governo que seja implacável contra seus inimigos locais e dócil aos seus desejos e interesses, a ser comandado de preferência por alguém que já tenha batido continência para a sua bandeira ou gritado com entusiasmo o nome de seu país publicamente.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2018/01/22/manual-para-acabar-com-brasil/#more-14957)

domingo, 21 de janeiro de 2018

​Facebook e seu novo algoritmo: rumo à distopia total

Por que o novo algoritmo converte a rede social mais poderosa do mundo em algo que combina a vigilância total, de George Orwell, com o anestesiamento permanente, de Aldous Huxley?
Por Chris Taylor, no Mashable | Tradução: Gabriel Simões, de nosso Círculo de Tradutores Voluntários
Ao se construir uma distopia, é bem difícil deixá-la aos moldes tanto de Orwell quanto de Huxley ao mesmo tempo. Mas, com as mudanças recentemente anunciadas no feed de notícias do Facebook, Mark Zuckerberg parece ter realizado esta façanha.
Os mundos assustadores de George Orwell (1984) e Aldous Huxley (Admirável mundo novo) são, de muitas maneiras, opostos simétricos. Um trata de um Estado de vigilância que controla o que as pessoas conhecem da história ao literalmente reescrever os jornais. O outro, trata do controle de seus cidadãos ao fazê-los usar uma droga dissociativa chamada soma.
Em seu esforço de “melhorar” o Facebook, Zuckerberg agora tenta ambas as táticas. Ele está reduzindo o acesso dos usuários às notícias reais — no século XX, chamávamos isso de censura — ao passo que aumenta a probabilidade de você visualizar apenas as notícias terrivelmente falsas postadas por aquele seu tio maluco. Porque, oras, conteúdo postado pela família lhe faz feliz, e apenas queremos que você seja feliz, certo?
O algoritmo, como já sabemos, nos vigia tão de perto quanto o Big Brother jamais foi capaz. Cada amizade, cada curtida, o tempo que você gasta lendo alguma coisa, se você interage com ela — tudo isso vai para a sua ficha permanente. (Ao menos com as teletelas, Orwell disse, se sabia que eles não estavam vigiando todo o tempo.)
O fato de que o Facebook vai simplesmente nos mostrar menos notícias já o torna mais eficiente que o Estado totalitário descrito por Orwell. Os líderes do Partido no Ministério da Verdade devem estar se lamentando: fazer com que bilhões de pessoas vejam notícias através das mídias sociais e depois simplesmente eliminar esse tipo de conteúdo? Sem reescrever o The Times, sem necessidade de qualquer buraco de memória, apenas fazer com que as notícias desapareçam dos meios digitais? Como não pensamos nisso?
Um breve lembrete da importância disto. Em agosto de 2017, de acordo com o Pew Research Center, 67% dos estadunidenses acessaram notícias nas mídias sociais — um aumento de 5% em relação ao ano anterior. No Facebook, 68% dos usuários acessaram notícias a partir do feed. Pela primeira vez na pesquisa Pew, a maioria dos norte-americanos com mais de 50 anos passou a acessar notícias a partir das mídias sociais.
Tornar-se a maior fonte de informações e depois simplesmente sumir com as notícias não é apenas uma escandalosa recusa de responsabilidade cívica. É também parte do manual da distopia.
Uma parte frequentemente esquecida e descaracterizada do clássico de Orwell: a vasta maioria da sociedade da Oceânia, os Proles, não recebia quaisquer notícias, nem mesmo falsas. Eles eram mantidos em estado de felicidade através de uma dieta constante de canções ruins e histórias lúgubres. O Facebook agora superou o Partido: os feeds serão igualmente repletos de porcarias, conteúdos rasos, mas os Proles serão seus produtores. E o Facebook ainda ganha dinheiro com isso!
Admirável novo feed de notícias
“O mundo infinitamente amável, muito colorido e aconchegante do soma. Que gentis, que bonitos e deliciosamente alegres todos estavam!” — Aldous Huxley, Admirável mundo novo
Substitua “soma” por “mídia social” e você verá por que Huxley foi ainda mais profético do que nós acreditamos.
O soma, droga fictícia, o tornou sociável. Ela o fez sentir-se conectado aos amigos e estranhos próximos — de modo extremamente falso. Ela o levou ao que os personagens do livro repetidamente descrevem como um “feriado perfeito”.
O Facebook que Zuckerberg agora parece projetar fará o mesmo. As pessoas mostram o melhor de si no Facebook; elas postam fotos cuidadosamente escolhidas de suas férias “perfeitas”. E agora elas poderão fazer isso sem a intromissão daquelas notícias nojentas.
“A pesquisa mostra que quando usamos as mídias sociais para entrar em contato com as pessoas que gostamos, isto pode ser bom para o nosso bem-estar,” escreveu Zuckerberg. Ele esqueceu de mencionar a pesquisa que mostra que o Facebook, na verdade, nos deprime quando vemos fotos das férias ou dos bebês perfeitos de outras pessoas.
Não importa o quanto você goste da pessoa em questão, o Facebook impele à comparação — o que, por sua vez, leva à ansiedade de status. Nós podemos postar “parabéns” nos comentários, o que o algoritmo conta como uma grande vitória. Grandes pontos por envolvimento! Mas o que nós estamos realmente pensando ou sentindo frente a estas coloridas fotos — o despertar repentino da nossa inveja, nossa autoaversão, nossa depressão — permanece escondido do olho-que-tudo-vê do Facebook.
E assim como num experimento sórdido, contudo, nós insistimos nisso. Deixe o soma do Facebook ajudar a nos aniquilar e nos deixar levar pelo feriado perfeito dos outros — que gentis, que bonitos e deliciosamente alegres eles são.
Agora, Zuckerberg quer que fiquemos naquele estado mental sem a terrível intrusão da “experiência passiva” — palavras que ele usa para se referir ao que acontece quando você está lendo ou assistindo algo que o faça pensar e refletir, em vez de simplesmente digitar “parabéns!”
O pior de tudo é que Zuck acha que está sendo nobre. Ele realmente acha que está “fazendo a coisa certa.” Ele quer que seus filhos pequenos olhem para trás um dia e digam que o Facebook salvou o mundo.
Talvez eles o façam. Pois todos que consomem conteúdo no Facebook, com as empresas de mídia que buscam a verdade retiradas do feed de notícias e falidas, não sobrará ninguém para apontar o despropósito de toda esta falsa conexão. A próxima geração de Zuckerbergs pode muito bem viver em infinitos feriados soma.
Parabéns, Mark!
(fonte: https://outraspalavras.net/comunicacao-2/facebook-e-seu-novo-algoritmo-a-distopia-total/)

Anpuh contra a destruição do CPDOC/FGV


CONTRA A DESTRUIÇÃO DO CPDOC/FGV:
PELA READMISSÃO DE LUCIANA HEYMANN E DULCE PANDOLFI

Em um espaço de menos de duas semanas, a direção do CPDOC (Escola de Ciências Sociais da FGV) demitiu duas das professoras mais conhecidas e identificadas com a instituição: Luciana Heymann e Dulce Pandolfi.

Numa conjuntura de extrema dificuldade das instituições de ensino e pesquisa devido à política anti-intelectual do governo federal e de governos estaduais como o do Rio de Janeiro, política disfarçada de pretensa austeridade, vemos um centro de pesquisa ser destruído por decisão de sua chefia. Enquanto faculdades particulares se aproveitam da “reforma” trabalhista para demitir milhares de professores, um renomado centro de pesquisa sobre a memória nacional, da Fundação Getúlio Vargas, destrói deliberadamente a sua  própria memória. As consequências nefastas dessa decisão em muito superam supostos benefícios financeiros de dimensões mesquinhas.

Luciana trabalhava no CPDOC desde 1986, tendo ocupado diversas funções na Coordenação de Documentação e, mais recentemente, coordenou a pós-graduação, liderando um processo que culminou na recente subida de nota do Programa na CAPES. Insatisfeita com os rumos do CPDOC, Luciana havia sido aprovada em concurso público para a FIOCRUZ. Enquanto aguardava ser convocada, continuava dedicando-se com o mesmo afinco de sempre às suas atividades, estando escalada para ministrar disciplina no primeiro semestre de 2018.

Já Dulce, ao longo de seus 40 anos de CPDOC, contribuiu de forma decisiva para diversos projetos que consagraram o nome e o prestígio da instituição. Em 2013 Dulce havia sido demitida pela Direção do CPDOC, o que desencadeou uma mobilização de mais de duas mil pessoas, que assinaram uma carta de solidariedade à professora, auxiliando na reversão da demissão. Este documento, que pode ser acessado em http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=P2013N43949 , deixa claro o reconhecimento público ao trabalho desenvolvido por Dulce, no país e fora dele, de acadêmicos em diversos estágios de suas carreiras, assim como de profissionais de fora da academia.

A justificativa apresentada para essas demissões sumárias, pelo gerente da Secretaria de Recursos Humanos da FGV, foi o cenário econômico geral e a dificuldade de equilibrar o orçamento do CPDOC. Apesar de serem fatores de conhecimento público, a comunidade acadêmica questiona a necessidade das demissões e a maneira como foram conduzidas, com o silêncio total da Direção.

O menosprezo pela memória da instituição vem sendo praticada desde pelo menos 2012 quando foi implementada uma política de dispensa de docentes e pesquisadores ao completarem 65 anos, privando o CPDOC (quando nas universidades públicas a compulsória passou de 70 para 75 anos) da presença daquelas que o construíram ao longo de seus mais de 40 anos de existência. O corte da convivência destes docentes com as novas gerações é um dano irreparável que faz obstáculo à transmissão prática da memória no ensino e na pesquisa documental e fragiliza as novas gerações diante das idiossincrasias da Direção. 

Os abaixo- assinados, professores, colegas e alunos de diversas instituições acadêmicas, bem como cidadãos e cidadãs que reconhecem a importância do CPDOC/FGV dirigem-se ao presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal pleiteando a imediata reversão das demissões.

A ANPUH-Brasil assina este documento e recomenda a todos os associados  e associadas que façam o mesmo.

Assinar em:
http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR104100

A ANPUH-Brasil assina este documento e recomenda a todos os associados  e associadas que façam o mesmo.


 

EXPEDIENTE

Informativo Eletrônico da ANPUH
Expediente: Francivaldo Alves Nunes (editor) e Pablo Serrano (secretário)
Todos os direitos reservados. www.anpuh.org
Fale conosco: secretaria@anpuh.org

sábado, 20 de janeiro de 2018

Vaza novo relatório do IPCC: apenas redução drástica na emissão de gases pode salvar o Acordo de Paris


Estimativa é que a temperatura ultrapasse 1,5° Celsius antes de 2040, relataram os cientistas, o que significa um aumento da frequência de extremos de frio e calor, de secas e inundações e um risco maior de conflitos.


A reportagem é publicada por Observatório do Clima, 12-01-2018.
aquecimento global deve ultrapassar em duas décadas o limite mais ambicioso estabelecido pelo acordo climático de Paris, a menos que os governos reduzam drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, revela um rascunho do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre a estabilização do aquecimento global a 1,5ºC. O relatório foi obtido pela agência de notícias Reuters. O IPCC publicou uma nota sobre o vazamento, alertando que modificações substanciais podem ocorrer até a divulgação da versão final do documento, em outubro. Membros do painel confirmaram o conteúdo ao OC.
De acordo com o documento, enviado nesta semana para comentários de revisores, será preciso implementar um nível de transformação sem precedentes na área produtiva caso a humanidade se proponha a evitar as transformações radicais causadas pelas mudanças climáticas. Significa cortar os combustíveis fósseis a níveis nunca antes imaginados, estimular fortemente o uso de energia renovável e substituir boa parte dos processos produtivos da indústria e da agricultura. Segundo o relatório, as temperaturas devem subir 1,5°C até 2040.
Segundo a Reuters, o relatório ainda estimou que a humanidade poderia emitir apenas 580 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa para ter mais de 50% de chance de limitar o aquecimento a 1,5° C. Evitar que a temperatura ultrapasse o limite do Acordo de Paris, afirmam os cientistas, significa limitar os extremos de frio e calor, secas e inundações, migração de pessoas e riscos de conflito. Mesmo assim, com mais 1,5° é provável que boa parte dos recifes de corais não sobrevivam.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/575201-vaza-novo-relatorio-do-ipcc-apenas-reducao-drastica-na-emissao-de-gases-pode-salvar-o-acordo-de-paris)

Agricultores não associam uso inadequado de agrotóxicos ao seu estado de saúde

A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates com 130 agricultores de Imigrante - RS.

O texto é de Nicole Morás, da Univates, publicado por Revista Brasileira de Ciências Ambientais, reproduzido por EcoDebate, 15-01-2018. 

Apesar de conhecerem os problemas que os agrotóxicos podem gerar ao meio ambiente e à sua saúde, os agricultores não relacionam o uso inadequado dos agrotóxicos ao seu estado de saúde. Esse foi o resultado de uma pesquisa desenvolvida pela diplomada em Ciências Biológicas Mônia Wahlbrink, sob orientação da doutora Claudete Rempel, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e ao PPG em Sistemas Ambientais Sustentáveis(PPGSAS) da Univates, realizada com 130 agricultores do município de Imigrante, no Rio Grande do Sul.

Os dados foram obtidos a partir da resposta dos participantes a um questionário que abordava temáticas como o perfil do trabalhador, a utilização de agrotóxicos, a saúde, a segurança e a higiene do trabalhador. Os dados coletados apontaram que 93,8% dos respondentes eram homens e a maioria dos entrevistados possui Ensino Fundamental incompleto.

A maioria declarou que começou a trabalhar ainda na infância na propriedade, em média aos 12 anos de idade. Grande parte dos agricultores de Imigrante (89,2%) disse ter conhecimento sobre os riscos que o uso de agrotóxicos pode ocasionar e nenhum afirmou comer ou fumar durante a aplicação dos agrotóxicos.

Entre os entrevistados, 73,3% relataram ter sentido ao menos um sintoma de intoxicação por pesticida nos últimos seis meses, sendo o mais citado a dor de cabeça (70,2%), seguido por cansaço (52,1%) e dor no corpo (46,0%). Dos 73,3% que mencionaram ter sentido ao menos um dos sintomas, 17 agricultores (18,1%) acreditam que esses podem ter alguma relação com o uso de agrotóxicos.

Quando questionados se ao longo da vida já haviam sentido algum mal-estar por ter usado agrotóxicos, 54 agricultores (41,5%) responderam que sim, sendo a dor de cabeça novamente o sintoma de intoxicação mais citado (55,6%), seguido por enjoo (48,1%) e fraqueza (11,1%).

Dentre todos os agricultores participantes da pesquisa em Imigrante, 118 (90,8%) utilizam algum tipo de equipamento de proteção individual (EPI) no momento da aplicação do agrotóxico, enquanto 12 (9,2%) não utilizam nenhum tipo de EPI. Destes que utilizam EPIs, 95,0% usam botas, 93,3% usam roupa longa (calça e camisa de manga longa) e apenas 1,7% utiliza viseira.

De acordo com Mônia, de maneira geral, os resultados obtidos mostram que existe um quadro de exposição humana e ambiental aos agrotóxicos. “Grande parte dos agricultores afirma conhecer os riscos que essa exposição pode ocasionar, porém é notável o uso parcial dos EPIs, bem como a não leitura e a falta de compreensão do rótulo e da bula dos agrotóxicos pela maioria dos agricultores”, analisa ela, acrescentando que foi observado que quase metade dos entrevistados já sentiu algum sintoma de intoxicação.

O descarte inadequado das embalagens também é uma preocupação constante em relação à atividade agrícola, pois contribui para a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, podendo expor parte da população aos efeitos desses compostos.

A orientadora da pesquisa, professora Claudete, destaca que os dados mostram que os estudos de percepção de riscos são importantes instrumentos para a gestão ambientale o controle dos riscos associados ao uso de agrotóxicos no trabalho rural. “Percebe-se a importância da implementação de políticas públicas que incentivem a prática agrícola mais sustentável e que reduzam a vulnerabilidade a que os agricultores e o meio ambiente estão expostos”, explica ela. Claudete afirma ainda que é necessário também incentivar o enfoque agroecológico e o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis, “o que contribui para a manutenção da capacidade produtiva e a diminuição dos efeitos negativos que os agrotóxicos causam à saúde humana e ao meio ambiente”, finaliza ela.

O estudo foi publicado na Revista Brasileira de Ciências Ambientais(RBCIAMB), disponível aqui.


Dados do gráfico

Perfil dos respondentes
Total de respondentes: 130
Homens 93,8%
Mulheres 6,2%
Escolaridade: Ensino Fundamental incompleto 83,1%
Relação de trabalho: Proprietário 85,4%
Idade média 54,7 anos
Média de idade com a qual começou na atividade rural 12,0 anos
Tempo médio de utilização de agrotóxico (em anos) 18,1 anos

Principais sintomas reportados
73,3% relatam ter sentido ao menos um dos sintomas nos últimos seis meses
Sintomas mais citados foram dor de cabeça (70,2%), seguido por cansaço (52,1%) e dor no corpo (46%)

Mal estar
54 agricultores (41,5%) responderam já ter sentido mal estar após uso de agrotóxicos.
Dor de cabeça foi novamente o sintoma de intoxicação mais citado (55,6%), seguido por enjoo (48,1%) e fraqueza (11,1%).

Uso de Equipamento de Proteção Individual
118 (90,8%) utilizam algum tipo de EPI
12 (9,2%) não utilizam nenhum tipo de EPI

EPI’s mais utilizados
95,0% usam botas;
93,3% usam roupa longa
1,7% utilizam viseira

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/575241-agricultores-nao-associam-uso-inadequado-de-agrotoxicos-ao-seu-estado-de-saude)