domingo, 24 de junho de 2018

‘O único preso político pós-redemocratização do Brasil’

No dia 24 de janeiro de 2014, divulgamos aqui no blog a prisão do jornalista Marco Aurélio Flores Carone, criador do "Novo Jornal", um dos poucos sites a denunciar absurdos no governo Aécio.
Naquele ano, Aécio concorria à presidência da República pelo PSDB e ainda não tinha vazado áudio dele pedindo R$ 2 milhões a empresário investigado pela Lava Jato e dizendo sua famosíssima frase: "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação". Era um favorito, e vários circulavam pelas ruas de Beagá com adesivo prestando homenagens ao tucano nos carrões.
No dia 7 de novembro daquele mesmo ano noticiamos que Carone fora solto no dia 4, apenas poucos dias após o segundo turno das eleições presidenciais que deram vitória a Dilma e que ocorreu no dia 26 de outubro.
Nem disfarçaram.
Agora, tantos anos depois, o site Viomundo traz duas informações importantes sobre o desenrolar dos inquéritos que levaram à prisão preventiva do jornalista em 2014:
1- O primeiro foi arquivado por falta de provas.
2- O segundo foi concluído, sem indiciamento de Carone, e o delegado Rodrigo Bossi de Pinho, chefe do Departamento Estadual de Fraudes da Polícia Civil de Minas Gerais, ainda pede investigações contra o promotor do caso.
Segundo o delegado, Carone "sofreu todo tipo de perseguição por denunciar os esquemas de corrupção nos governos de Minas" e "foi uma das vítimas de uma organização criminosa que operou em Minas Gerais para perseguição política", nas palavras do site Viomundo. E mais:
"O chefe do Departamento de Fraudes da Polícia Civil de Minas ainda salienta: Carone é “único, autêntico, preso político pós-redemocratização” e que seu caso deveria ser apreciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA)."
CLIQUE AQUI para ler a reportagem na íntegra, com as fotos dos documentos citados.
Aécio segue forte nos bastidores, mas foi desmoralizado para o público eleitor: foi "o primeiro a ser comido", nas palavras de Romero Jucá.
(Pra quem já esqueceu, aí vai a ilustre fala de Jucá de novo: "O primeiro a ser comido vai ser o Aécio [Neves (PSDB-MG)]. O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…".)
Mas o estrago já estava feito. A censura implementada nos anos do governo de Aécio tem efeitos até hoje. Assim como a censura da época da ditadura militar faz estrago até hoje, com tantos incautos pedindo a volta dos milicos porque naquela época "não havia corrupção, o Brasil cresceu pra caramba" etc etc. O estrago de calar jornalistas é grande. Quase tanto quanto o de fortalecer boatos, que hoje são mais conhecidos como fake news.
Nossa democracia apodrece a passos largos.
(fonte: blog da Kika Castro)

Agrotóxicos seriam causa de puberdade precoce em bebês, aponta pesquisa


Meninas de um ano que desenvolveram mamas moram em comunidades cercadas de plantações no Ceará. Críticos dizem que projeto de lei dos agrotóxicos aumenta risco de intoxicações.
A reportagem é de Ana Aranha, publicada por Repórter Brasil, 18-06-2018.
A professora Antônia Lucí Silva Oliveira resistiu em reconhecer que o corpo da filha não estava normal. Aos seis meses de idade, ela começou a notar o crescimento das mamas da menina. Com 1 ano e 6 meses, quando o desenvolvimento era “avançado e inegável” aos olhos da mãe, um ultrassom diagnosticou telarca prematura, a primeira fase do desenvolvimento das mamas. “Para me acalmar, o médico disse que estava recebendo muitos casos como o dela da nossa região”, lembra Lucí.
O mesmo diagnóstico foi dado a pelo menos outras duas meninas da mesma comunidade, Tomé, que tem cerca de 2.500 habitantes, no município de Limoeiro do Norte, interior do Ceará. O povoado fica na Chapada do Apodi, onde aviões e tratores pulverizam agrotóxicos em plantações de banana, melão e outras frutas para exportação.
Além das meninas com puberdade precoce, a mesma comunidade teve ainda oito registros de fetos com má formação congênita, casos que foram relacionados à alta exposição dessas famílias aos agrotóxicos por nova pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
A relação foi feita após testes identificarem ingredientes ativos para agrotóxicos no sangue e na urina das crianças e familiares, assim como na água que chega às suas casas. Dos sete domicílios visitados, em seis a água estava contaminada. Das 17 pessoas cujo sangue e urina foram testados, 11 voltaram positivo para a presença de organoclorado, tipo de inseticida cuja exposição contínua pode gerar graves lesões à saúde humana.
“A gente já conhecia o problema na água, o teste confirmou resultados anteriores na mesma região. Mas não esperávamos resultados tão assustadores para sangue e urina”, afirma Ada Pontes Aguiar, médica responsável pela pesquisa. “Há uma série de outros fatores que também podem estar ligados a esses agravos, mas não restou dúvida de que os agrotóxicos têm relação com esses casos de má formação e puberdade precoce”, afirma Aguiar, que é professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri.
Um importante elemento que explica a contaminação é a alta exposição dos familiares aos químicos. Todos os pais das crianças com puberdade precoce ou má formação são trabalhadores rurais que entram em contato com essas substâncias na lavoura. Nas entrevistas para a pesquisa, eles descrevem “banhos de veneno”: quando estão aplicando agrotóxico no trator e o vento bate na direção contrária, fazendo o líquido cair sobre o corpo do trabalhador.
marido de Lucí foi afastado da função de pulverizador depois de ter dores de cabeça, náusea, vômito e febre. “Mesmo depois de tomar banho, seguindo todos os cuidados, a gente ainda sentia o cheiro do químico na pele dele quando transpirava”.
Além do local de trabalho, todas as famílias pesquisadas estão cotidianamente expostas aos químicos. Ao contrário da União Europeia, que proibiu pulverização em 2009, o Brasil continua aplicando agrotóxicos por avião. Em Tomé, é difícil encontrar quem nunca viu ou passou perto da rota desses aviões. Lucí, que é professora, vê o avião indo e voltando da pulverização da janela da sala de aula.
Mesmo depois da aplicação, o químico fica no ambiente. Uma das mães das crianças pesquisadas relata que a família foi dormir na casa de parentes por diversas vezes, pois não aguentavam o cheiro que o vento trazia pela noite.
“A importância dessa pesquisa é mostrar como as pessoas no campo estão altamente expostas a essas substâncias”, afirma o biólogo e epidemiologista Fernando Ferreira Carneiro, que é pesquisador da Fiocruz. “A puberdade precoce já tinha aparecido associada a agrotóxicos em estudos no exterior, sempre em regiões de grande uso”.

Nova lei pode piorar intoxicações

Intoxicações como as que ocorrem na Chapada do Apodi podem se agravar caso se aprove o Projeto de Lei 6.299, afirma Carneiro, que coordena o Observatório de Saúde das Populações do Campo, ligado à Universidade de Brasília. “As mudanças do PL vão facilitar o uso de agrotóxicos no Brasil, quando essas comunidades rurais já estão expostas à tripla carga de exposição: no trabalho, ambiental e a alimentar”.
Proposto em 2002 pelo então senador e hoje ministro da agricultura Blairo Maggi, o projeto sofreu forte resistência quando nova proposta foi apresentada esse ano. Foram mais de 20 manifestações da comunidade científica, entre elas o Instituto Nacional do Câncer, a Fiocruz e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Depois das reações, o relator Luiz Nishimori (PR-PR) submeteu novo texto com alterações. Segundo a sua assessoria parlamentar, o deputado procurou contemplar as críticas que foram feitas ao PL. Entre os pontos em que o deputado cedeu, está a nomenclatura. Ao invés de “defensivos agrícolas”, o substitutivo propõe agora o termo “pesticidas” no lugar de “agrotóxicos”.
Mas não houve alterações em um dos pontos mais sensíveis para casos como o das crianças da Chapada do Apodi. A proposta é permitir uma avaliação de risco para autorizar o uso controlado dos agrotóxicos mais perigosos.
A lei brasileira hoje é parecida com a da União Europeia, ela proíbe aprovação de novos agrotóxicos que sejam cancerígenos ou causem desregulação endócrina, entre outros perigos à saúde humana. O novo projeto proíbe substâncias de “risco inaceitável”, sem especificar quais seriam eles, e fixa um método de controle que passa pela avaliação de risco.
Segundo esse sistema, as substâncias são autorizadas desde que a quantidade utilizada nos alimentos fique dentro de um limite considerado seguro para o consumo. “Esse método pressupõe que o agrotóxico será aplicado dentro das condições perfeitas, com o trabalhador protegido por um uniforme que mais parece uma roupa de astronauta”, afirma Carneiro. “Mas todo mundo sabe que essa não é a realidade do campo no Brasil, e a pesquisa [sobre as crianças da Chapada do Apodi] confirma isso”.
Entre os químicos citados pelos pais das crianças pesquisadas está o acefato, ingrediente que provoca desregulação endócrina, que por sua vez pode ser a causa da puberdade precoce. Proibido na União Europeia desde 2003, foi o sexto ingrediente ativo mais utilizado no Brasil em 2016: 24 mil toneladas vendidas em todos os estados.
Outro químico citado pelos entrevistados é o mais vendido no Brasil, com 185 mil toneladas em 2016, o glifosato. Devido a novas evidências científicas internacionais que indicam que este agrotóxico é capaz de causar câncer, há um intenso debate na União Europeia sobre a proibição do químico. Alguns países já começaram a limitar o consumo, com a meta de criar alternativas.
“Observamos o movimento de restringir cada vez mais os produtos perigosos na União Europeia, nos preocupa que nos Brasil vemos o movimento oposto”, afirma Carla Bueno, engenheira agrônoma e integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos. “Ao invés de fortalecer a proteção, a gente está discutindo abrir os registros, facilitar a entrada de produtos perigosos”.

Informação e medo

Na comunidade de Tomé, são poucas as perspectivas de melhora. “A gente não tem a quem recorrer. Mas, mesmo sem saber o que fazer, que pelo menos a gente tenha o conhecimento”, diz Lucí, que agora acompanha as pesquisas realizadas na região pela Universidade Federal do Ceará, dentro do grupo Tramas, que realiza diversas pesquisas sobre a questão dos agrotóxicos na região.
O movimento da comunidade contra os agrotóxicos cresceu desde que uma importante liderança local foi assassinada. José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, foi executado com 17 tiros em abril de 2010. O crime ocorreu um mês depois da aprovação de uma lei municipal em Limoeiro do Norte que proibia a pulverização aérea de agrotóxicos, mudança pela qual o líder comunitário pressionou.
Entre os réus denunciados pelo Ministério Público Estadual estão empresários do setor de cultivo de frutas da região. A denúncia foi acolhida pela Justiça Estadual, que indicou o tribunal do júri, mas a defesa recorreu e o caso ainda não foi julgado. O caso mobiliza movimentos nacionais e internacionais e foi retratado no documentário Doce Veneno.
Um mês depois da morte de José Maria, a Câmara Municipal revogou a lei que proibia a pulverização na cidade. Hoje, entre as crianças com puberdade precoce, está a neta do líder comunitário. A filha de José MariaMarcia Xavier, acompanha com preocupação o desenvolvimento da saúde da sua filha, hoje com 5 anos. “Eu não tenho dúvidas de que o problemas dela vêm dos agrotóxicos” afirma. “Todo mundo aqui sabe dos problemas que eles geram, mas não têm o que fazer para se proteger”.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/580084-agrotoxicos-seriam-causa-de-puberdade-precoce-em-bebes-aponta-pesquisa)

Educação inclusiva na Revista Espaço Acadêmico

Caros(as) leitores(as),

Revista Espaço Acadêmico acaba de publicar o número mais recente em

Convidamos a navegar no sumário da revista para acessar os artigos e itens de interesse.

Agradecemos seu interesse em nosso trabalho,
Antonio Ozaí da Silva
UEM, Maringá
Fone 44 - 3011-4288

Revista Espaço Acadêmico
v. 18, n. 205 (2018): Revista Espaço Acadêmico, n. 205, junho de 2018

Sumário

Dossiê: Educação inclusiva (Orgs.: Dra. Annie Gomes Redig e Dra. Flávia Barbosa da Silva Dutra)
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Dossiê: Inclusão escolar de pessoas com deficiência (01-02)
Flávia Barbosa da Silva Dutra, Annie Gomes Redig

Estratégias pedagógicas para ensino-aprendizagem de estudantes com necessidades educacionais especiais (03-11)
Amanda Carlou

O Plano Educacional Individualizado e o estudante com deficiência intelectual: estratégia para inclusão (12-22)
Cristina Angélica Aquino de Carvalho Mascaro

Concepções docentes sobre a avaliação escolar para alunos com deficiência (23-34)
Suzanli Estef

Aprendizagem e alfabetização de alunos com cegueira (3541)
Elizabeth Canejo

Comunicação alternativa para alunos com dificuldades severas na fala (42-51)
Carolina Rizzotto Schirmer

A inclusão de alunos com deficiência no curso de Pedagogia oferecido pelo consórcio CEDERJ/UERJ (52-61)
Annie Gomes Redig, Flávia Barbosa da Silva Dutra

educação & tecnologia
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Abordagem de ensino e as novas tecnologias de informação: uma aproximação da realidade do aluno (62-75)
Leandro Ortunes, Francisco Alencar de Sousa

filosofia política
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A democracia líquida brasileira e a luta da esquerda (76-87)
Renato Nunes Bittencourt

literatura
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O pacto fáustico e a presença do Diabo em O Mandarim (88-95)
Anderson Vitorino Pinheiro, Josye Gonçalves Ferreira

A última encarnação do Fausto: teatro modernista brasileiro em diálogo com os cânones europeus (96-105)
Guilherme Copati, Lorena Alves Gorito

políticas públicas
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A agenda político-ambiental no Brasil (106-115)
Fabio Fonseca Figueiredo

sociologia política
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O déficit de capital social e a questão dos indígenas em Dourados (MS) (116-126)
Fabio Anibal Goiris

resenhas & livros
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ZAD de Notre-Dame-des-Landes: uma história de auto-organização, autoeducação, autogestão e de resistência popular (127-130)


Cláudio Rodrigues da Silva

Coca-Cola experimenta o gosto amargo da greve dos caminhoneiros

Com meus agradecimentos ao jornalista José de Castro, pela referência ao meu blog!

Texto escrito por José de Souza Castro:
Ricardo Faria, historiador mineiro, autor de livros didáticos de História e do romance “O amor nos tempos do AI-5”, entre outros livros, é também blogueiro e vem-se destacando, em seu blog, na defesa do meio ambiente. Alguns artigos daqui foram republicados em seu blog, mas não é sobre isso que pretendo escrever e sim sobre os malefícios da Coca-Cola, inclusive para o meio ambiente na vizinhança de Belo Horizonte.
No último domingo, o blog deu com destaque reportagem da BBC News sobre o derretimento acelerado da Antártida, que está perdendo 200 bilhões de toneladas de gelo por ano. Nos últimos 25 anos, o continente perdeu 2,7 trilhões de toneladas de gelo. Não vai demorar tanto tempo para que o mundo conheça a dimensão dessa tragédia ambiental.
Até aí, porém, não se pode culpar a Coca-Cola, que não se opõe a um refrigerante bem gelado. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo da tragédia que se está registrando em Minas, provocada por uma fábrica da Coca-Cola em Itabirito, cujo funcionamento foi autorizado no governo Antonio Anastasia, do PSDB.
Conforme a reportagem, que pode ser lida aqui, o biólogo Francisco Mourão, da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA) , afirma que, desde a instalação dos poços artesianos para abastecer a fábrica da Coca-Cola, estão secando as nascentes dos rios Paraopeba e das Velhas, responsáveis por quase toda a água consumida em Belo Horizonte.
Segundo Mourão, a fábrica põe em risco também o rico ecossistema do monumento natural da Serra da Moeda. Ao contrário do que afirma a empresa, que diz que esta é “a maior fábrica verde do sistema Coca-Cola do mundo”.
Ela foi inaugurada em junho de 2015, com incentivo do governo de Minas, representado por desconto no pagamento do ICMS. Teriam sido investidos 258 milhões de dólares. A área construída é de 65 mil metros quadrados, num terreno cinco vezes maior. E a promessa de gerar 600 empregos diretos e 3 mil indiretos e de produzir 2,1 bilhões de litros por ano, podendo duplicar a capacidade no futuro.
Claro, se houver água.
Não descobri qual o valor do incentivo oferecido pelo governo para que a Coca-Cola pudesse transferir sua velha fábrica de Belo Horizonte para Itabirito. Segredo de Estado – ou vergonha.
Em vez de reduzir impostos para fabricantes de refrigerantes, dever-se-ia (obrigado, Temer), aumentá-los. É um grupo mexicano (Femsa), maior distribuidor da Coca-Cola no Brasil, que está à frente da fábrica em Itabirito. Pois bem, desde 2014, encontra-se em vigor no México uma sobretaxa de 10% sobre bebidas açucaradas, num esforço para diminuir o problema da obesidade. Em dois anos, a venda dos refrigerantes caiu 14% no México.
O Brasil enfrenta uma epidemia de sobrepeso. Uma de cada três crianças é obesa. Entre adolescentes, um em cada quatro. E cerca de 60% dos adultos estão acima do peso. A população brasileira é mais obesa que a média mundial.
Não surpreendentemente, no Brasil são oferecidas isenções fiscais, tanto na produção como na comercialização dos refrigerantes. As empresas teriam deixado de recolher aos cofres públicos cerca de 7 bilhões de reais por ano. Valor equivale a cerca de dois Programas de Alimentação Escolar que atende anualmente 40 milhões de estudantes.
Se o governo Temer resistir às pressões, isso pode mudar. Em seguida à greve dos caminhoneiros, ele publicou no dia 30 de maio decreto que reduz incentivos fiscais para parcela da cadeia produtiva de refrigerantes. O governo concedia redução de 20% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos concentrados produzidos na Zona Franca de Manaus. Para elevar sua arrecadação, exigida a partir da greve, o incentivo baixou para 4%. Os maiores prejudicados são a Coca-Cola e a Ambev. Mas elas continuam contando com incentivos de ICMS, PIS-Cofins e Imposto de Renda.
E não para aí. Conforme denúncia publicada pelo blog do Ricardo Faria, quanto maior o valor da nota fiscal emitida, maior o crédito a que se tem direito na etapa seguinte – um incentivo ao superfaturamento. O concentrado da Coca-Cola, quando vendido ao mercado externo, custa em torno de R$ 70. Quando repassado a empresas no Brasil, chega a valer até R$ 470.
Não é a primeira vez que o governo brasileiro tenta enfrentar o setor representado pela ABIR (Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas) que se apressou a declarar-se surpresa com o decreto de Temer. Ao reagir a medida parecida no governo Lula, em 2008, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos maiores engarrafadores de Coca-Cola do Brasil, conseguiu anular o decreto.
Se não conseguir agora, será graças à greve dos caminhoneiros e ao exemplo de quase 40 governos ao redor do mundo que já adotaram tributação especial sobre esses produtos, para combater a obesidade.
(fonte: blog da Kika Castro)

Nova lei na China pode deixar 111 milhões de toneladas de "lixo" plástico sem destino


Investigadores calcularam o impacto da proibição de importação de resíduos de plásticodestinado à reciclagem na China que entrou em vigor em Janeiro de 2018. Até 2030, esta porta fechada deixa 111 milhões de toneladas de plástico sem destino.
A reportagem é de Andrea Cunha Freitas, publicada por Público, 20-06-2018.
problema do plástico já era suficientemente preocupante sem uma porta fechada na China que recebia muito do desperdício produzido noutros países. Em Janeiro de 2018 entrou em vigor a proibição de importação de “lixo” plástico não-industrial. Agora, uma equipa de cientistas da Universidade da Geórgia, nos EUA, fez as contas ao impacto desta nova lei na China e concluiu que, até 2030, há 111 milhões de toneladas de plástico sem destino. O artigo publicado na revista Science Advances deixa um aviso aos governantes: é urgente pensar em programas de reciclagem domésticos mais robustos e repensar o uso do plástico.
A “lixeira” mundial do plástico fechou portas e as consequências vão começar a sentir-se em muitos países. “Embora a reciclagem seja muitas vezes apontada como a solução para a produção em grande escala de resíduos plásticos, mais de metade do lixo plástico destinado à reciclagem é exportado de países ricos para outras nações, com a Chinahistoricamente ficar com a maior fatia”, refere o comunicado da Universidade de Geórgia sobre o estudo com o título “A proibição das importações chinesas e o seu impacto no mercado global do comércio de resíduos de plástico”. Neste artigo, os investigadores constatam que “as importações anuais globais e as exportações de resíduos plásticos dispararam em 1993, crescendo cerca de 800% até 2016”. De acordo com o registo que começa em 1992 deste circuito, a China terá recebido cerca de 106 milhões de toneladas de resíduos plásticos, o que representa quase metade das importações de resíduos plásticos do mundo. “A China e Hong Kong importaram mais de 72% de todos os resíduos plásticos, mas a maior parte do lixo que entra em Hong Kong - cerca de 63% - é exportada para a China”, acrescenta o comunicado de imprensa, que adianta ainda que os países com mais rendimentos da EuropaÁsia e Américas “respondem por mais de 85% de todas as exportações globais de resíduos plásticos”. Globalmente, a União Europeia é o maior exportador de “lixo” plástico.
"Sabemos de estudos anteriores que apenas 9% de todos os plásticos já produzidos foram reciclados, e a maioria deles acaba em aterros sanitários ou em ambientes naturais", refere Jenna Jambeck, investigadora na Universidade da Geórgia e uma das autoras do artigo. "Cerca de 111 milhões de toneladas de resíduos plásticos vão ficar sem destino por causa da proibição de importação até 2030, por isso teremos que desenvolver programas de reciclagem mais robustos internamente e repensar o uso e o design de produtos de plástico se quisermos lidar com este desperdício de forma responsável ".
Sobre esta medida da China, os investigadores explicam que o negócio de resíduos de plástico foi lucrativo enquanto conseguiam usar ou revender o produto reciclado. No entanto, acrescenta Amy Brooks, principal autora do estudo, “muito do plástico que a China recebeu nos últimos anos foi de má qualidade, e tornou-se difícil obter lucro”. Além disso, atualmente a China produz mais resíduos plásticos no mercado interno e por isso não precisa depender de outros países. Para os exportadores, havia aqui um bom negócio porque “as baratas taxas de processamento na China faziam com que o envio de lixo para o exterior fosse mais barato do que o transporte interno destes materiais por caminhão ou comboio”.
"É difícil prever o que acontecerá com os resíduos plásticos que antes eram destinados às instalações de processamento chinesas", conclui Jenna Jambeck, acrescentando: "Alguns podem ser desviados para outros países, mas a maioria destes países não tem sequer infra-estruturas para gerir os seus próprios resíduos quanto mais os resíduos produzidos pelo resto do mundo". Até para a China a situação começou a ficar difícil de gerir com o rápido crescimento econômico que produziu demasiado “lixo” plástico. Sem porto de chegada, o melhor mesmo é reduzir a carga no ponto de partida. Ou seja, mudar o atual sistema, pensar em novas estratégias de reciclagem de plástico e diminuir de forma substancial e rápida a produção de plástico.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/580133-nova-lei-na-china-pode-deixar-111-milhoes-de-toneladas-de-lixo-plastico-sem-destino)

Mais de 60% dos brasileiros desperdiçam alimento em bom estado, diz pesquisa

Motivos variam desde a falta de planejamento até ignorar comida que está na geladeira; confira dicas para mudar esse hábito.
A reportagem é de Ludimila Honorato, publicada por O Estado de S. Paulo, 21-06-2018.
desperdício de alimentos é uma realidade, mas geralmente é feito sem consciência da gravidade desse hábito. Sim, hábito, porque segundo uma pesquisa feita pela Edelmana pedido da Unilever, 49% dos brasileiros jogam comida fora diariamente. Se analisarmos semanalmente, o número sobe para 61%, e o cenário torna-se mais crítico: esses alimentos estão em perfeito estado, ainda próprios para consumo.
"Vivemos em uma cultura de desperdício. A gente é leviano com muita coisa, não só com comida", afirma Luciana Quintão, presidente da ONG Banco de Alimentos, que cita ainda o desperdício de água e energia como exemplos de maus hábitos do brasileiro.
"Tem gente que desperdiça por não conhecer ou porque não procura saber. Existe uma zona de conforto que as pessoas precisam mudar. Tudo isso: hábito repetitivo, falta de conhecimento, um não querer saber, vira uma coisa cultural", avalia.
Embora esse comportamento seja diário, as pessoas não estão cientes dele. Segundo a pesquisa, apenas 23% dos brasileiros admitem desperdiçar comida quando perguntados diretamente. Os outros 77% afirmam que raramente ou nunca jogam alimentos no lixo. Mas, quando são questionados nos detalhes, como a frequência e a quantidade de alimentos jogados fora, a realidade é outra.
Para a coordenadora estadual do Mesa Brasil Sesc São PauloLuciana Gonçalves, a ideia antiga de que o Brasil é um País com recursos abundantes faz com que as pessoas achem que nunca vai faltar comida. "É um traço da população. Eu gosto da relação que já ouvi de que nunca vivemos uma guerra. Nossa realidade é que uns têm o que comer e outros não. A gente não sabe o que é não ter o que comer depois de amanhã. Isso reforça o hábito de que nossa mesa sempre tem de ser farta, abundante", analisa.
O desperdício, segundo ela, independe das condições socioeconômicas das famílias - mas acontece em escalas distintas. De acordo com a pesquisa, feita com duas mil pessoas dos Estados Unidos, mil do Brasil e mil da Argentina, os americanos desperdiçam diária e semanalmente mais do que brasileiros e argentinos. Uma hipótese para o fato, segundo as fontes ouvidas pelo E+, é de que, quanto maior o nível socioeconômico, maior é o desperdício e menor a importância que se dá a ele.
Por que desperdiçam? Um dos motivos que levam as pessoas ao desperdício é a cegueira da geladeira. O termo traduz o hábito de, ao abrir a geladeira, não ver 'nada de bom' para comer - embora haja alguns itens ali - ou ignorar os alimentos disponíveis. Às vezes, a pessoa não sabe o que fazer com eles, como combiná-los e acaba descartando-os ou comprando mais produtos.
Outros fatores apontados pela pesquisa são: comprar mais do que o necessário, aproveitar ofertas, comprar algo novo para experimentar (que depois não gosta e joga fora), não saber armazenar corretamente, ter menos confiança em suas habilidades na cozinha e não comer tudo o que foi preparado.
No geral, 72% dos que responderam a pesquisa sentem culpa quando jogam comida fora(sendo mais prevalente no Brasil, com 80%) e 69% se sentem mal pelo dinheiro que é gasto com a comida que foi para o lixo (taxa maior nos EUA, com 74%).
Itens variados disponíveis na geladeira podem ser combinados em uma nova receita. O site do Mesa Brasil disponibiliza uma lista de receitas de acordo com o ingrediente escolhido pelo internauta.
Autoconsciência. O desperdício de comida é um problema que pode começar a ser resolvido dentro de casa, mas poucas pessoas se responsabilizam por isso. A pesquisa indica que brasileiros e americanos culpam mais os restaurantes e lojas de comida do que eles mesmos. Na Argentina, a situação é levemente inversa.
Segundo a presidente da ONG Banco de Alimentos, uma mudança agora pode impactar as futuras gerações e só acontecerá por meio de "conscientização, autoeducação e de tomar para si a responsabilidade da construção do mundo a sua volta".
Ela considera ainda que a grade curricular das escolas deveria incluir esse tipo de ensinamento. "Primeiro, promover o desenvolvimento integral desse ser humano. Depois, como lidar com a sociedade, qual seu papel nela, promover cuidados e desenvolver nos jovens o ideal de servir, no bom sentido", diz.
Luciana Gonçalves, do Mesa Brasil, percebe mudanças individuais. Criado em São Paulo em 1994 e, desde 2003, presente em todo o País, o programa conta com grandes doadores - como supermercados, centrais de abastecimento e restaurantes - para fornecer alimentos que seriam descartados, mas ainda em bom estado, para instituições sociais. O processo envolve conversas com os funcionários dessas empresas.
"A gente explica o que pode ser doado, em que estado o alimento tem de estar e mostra para onde ele vai. A pessoa que antes separava tudo no estabelecimento percebe o tanto de alimento bom que jogava no lixo. Quando a gente ressignifica a importância do alimento, [a pessoa] passa a agir diferente", diz.
Como mudar? Ao perceber que a cegueira da geladeira é um problema - seja por jogar comida fora ou gastar dinheiro 'à toa' -, há desejo de mudança. No Brasil, 71% dos que reconhecem o desperdício afirmam que sempre vão tentar combatê-lo.
Confira algumas ações que podem servir como dicas para consumir alimentos de forma mais consciente:
-> ver o que há na geladeira antes de ir às compras, assim é possível saber o que tem e o que precisa;
-> planejar o que comprar para não o fazer em excesso;
-> ver receitas para usar o que há na geladeira;
-> congelar comida que está perto de ficar ruim;
-> controlar o que é usado na semana ou no mês e o que está faltando;
-> comprar ingredientes específicos para fazer receitas específicas;
-> na geladeira, colocar os alimentos que vão vencer primeiro na frente para serem usados logo;
-> doar alimentos que não serão mais usados;
-> apenas ir às compras depois de usar todos os alimentos da geladeira.
Luciana Quintão e Luciana Gonçalves complementam com mais dicas práticas para o dia a dia:
-> não fazer compras com fome, isso impede que se compre por impulso;
-> ao ver uma promoção, considere se o produto é mesmo necessário;
-> aproveite todas as partes do alimento, inclusive cascas, talos e sementes. No site do Mesa Brasil, é possível encontrar receitas que levam em conta esse aproveitamento;
-> transforme alimentos em preparos (tomates muito maduros em molho que pode ser congelado);
-> na hora do preparo, cuidado com a forma de descascar para aproveitar todo o alimento;
-> no restaurante, coloque no prato aquilo que você tem certeza que vai comer. Não deixe comida ou, se possível, leve o restante para casa.
Conheça mais sobre o Mesa Brasil, a ONG Banco de Alimentos e outros projetos que têm o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos na galeria abaixo:

Criado pelo Sesc em 1994 em São Paulo e, desde 2003, presente em todo o País, o programa recolhe alimentos que não têm valor comercial, mas estão próprios para consumo, e levam para instituições sociais que precisam deles para complementar as refeições que já servem. Pessoas físicas também podem doar: basta entrar em contato e ver se um dos carros de coleta está na rota da residência. Se não estiver, o programa indica uma instituição para que a pessoa leve ao local. Nas unidades do Sesc, há cursos e oficinas voltados para o consumo consciente e saudável dos alimentos. (Foto: Facebook.com/mesabrasilsescsp)

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/580190-mais-de-60-dos-brasileiros-desperdicam-alimento-em-bom-estado-diz-pesquisa)