domingo, 26 de agosto de 2018

Nono encontro do Caminho Novo - Convite

NONO ENCONTRO DO CAMINHO NOVO – TRÊS ILHAS – 6 a 9 setembro 18

07 setembro 2018

08:00h - Credenciamento
08:30h – Abertura e formação de mesa – Prof. Luiz Mauro Andrade da Fonseca (Barbacena)
09:00 h – Comunicação (Com.) “Discurso religioso na obra de Belmiro Braga” - Prof.a Leila Barbosa (Juiz de Fora)
09:30h – Com.  “Padre Mestre Correia de Almeida, um amigo do poeta Belmiro Braga” – Prof. Mário Celso Rios (Barbacena)

10:00h – intervalo - café

10:30h - Com. "Antônio Benedicto de Santa Bárbara, um escultor  desconhecido e sua obra na Zona da Mata Mineira" – Prof. André Colombo (Juiz de Fora)
11:00h – Com. “Toponímia histórica de Belmiro Braga e região” -  Prof.a Márcia Santos (Centro de Referência em Cartografia História da UFMG – Belo Horizonte)

12h – Almoço

14:00h – Com. “ Pesquisa em arquivos: a importância das fontes na construção do conhecimento - Prof.a Alessandra Germano (Juiz de Fora)
14:30h - Com. “A tutela jurídica dos caminhos coloniais: o caso da Variante de Bernardo Soares de Proença”– Prof. Antônio Seixas (Magé)
15:00h – Com. “Caminho Novo do Ouro: bens tombados e inventariados pelo INEPAC” – (Prof. Me. Sergio Linhares Miguel de Souza - Instituto Estadual de Patrimônio Cultural – INEPAC – RJ)
15:30h – Com. “Caminhos Pioneiros Através da Baixada Fluminense”– Prof. Guilherme Peres (IAPAC - RJ)   

16h – Café

16:30h – Com. “Caminho Novo da Estrada Real nos limites de Juiz de Fora” – Prof. Vanderlei Tomaz (Juiz de Fora)
17:00h – “Tropas, carruagens, bondes e locomotivas: caminhos que existiram entre Paraibuna e Porto das Flores  ao longo dos seculos XIX e XX." -Prof. Annibal Affonso Magalhães Silva (pesquisador, arquiteto e urbanista – Estado do Rio de Janeiro)
17:30h – “Descaminhos do Ouro” – Prof. Allain Wilham Silva e Oliveira (Depto de Geografia, UFViçosa)
18:00h – Com. “Registros do Caminho Novo para as Minas de Ouro nos Mapas Antigos” Prof. Antônio Gilberto da Costa (Centro de Referência em Cartografia História da UFMG – Belo Horizonte)

08 setembro 2018

08:30 – Passeio turístico por Belmiro Braga e região, incluindo os antigos caminhos e a fazenda Boa Esperança (visita gratuita).

12:00h – almoço

15:00h – Passeio turístico por Rio das Flores, incluindo visita (paga) à fazenda Paraíso.

Tempos de ontem, tempos de hoje. Melhores, piores, ou apenas diferentes?

por Ricardo de Moura Faria


"A partir de 1918, os europeus, ainda desnorteados pelos rumos que a guerra havia tomado, com uma mortandade incrível, destruição imensa de cidades etc., começaram a reavaliar o período que antecedeu à Primeira Guerra Mundial, mais especificamente as três décadas anteriores. Cheios de nostalgia, a intitularam como “Belle Époque”.
Eles não se deram, ou não quiseram se dar conta, de que uma época realmente belle não iria produzir uma catástrofe como a de 1914, como argutamente notou a historiadora norte-americana Bárbara Tuchmann, em seu belo livro “A torre do orgulho”.
O mundo que emergiu da guerra era estranho, valores foram ignorados ou desprezados e, portanto, curtir o período anterior era o melhor a se fazer. O tempo dos avós e dos pais era diferente, era considerado melhor do que aquele que tinham de enfrentar.
Estou iniciando estas considerações com esse episódio, para tentar desenvolver uma ideia, a de que todas as épocas anteriores à nossa realmente eram diferentes e é assim em todos os tempos. Nós, historiadores, sabemos que sempre é uma palavra muito difícil para ser usada porque tudo se move, e nada permanece “para sempre”. Ou quase nada. As mudanças podem, talvez, não ser muito perceptíveis no momento em que estão ocorrendo, principalmente aquelas que estão relacionadas às mentalidades que, como já disse o historiador francês Lucien Febvre, se constituem dos comportamentos e formas de pensar. E essa concepção estava imbricada nas relações da Psicologia com a História.
Como já estou chegando aos 70 anos, começaria por dizer que os meus tempos de infância e adolescência (décadas de 1950 e 1960), com certeza, foram substancialmente diferentes do que vivem as crianças e adolescentes nessas primeiras décadas do século XXI. Morando numa cidade pequena do interior, os divertimentos eram na praça enorme que havia em frente à nossa casa. Ali se jogava futebol, ali se soltava papagaio. Nos quintais, o gostoso era subir em árvores bem altas para se avistar quase toda a cidade. Ou, na época das frutas, chupar jabuticaba, manga, goiaba. Crianças que, além da escola, brincavam com outras crianças. Não havia televisão, só o rádio. E a luz só existia em algumas poucas horas da noite. Dentro de casa, se podia jogar dama, ludo etc.
Um pouco mais velho, com 9, 10 anos, já se podia entrar na brincadeira dos adolescentes, quase sempre o “esconde-esconde”, que se chamava de "negro fugido". Corríamos pela cidade quase toda para procurar o "negro fujão", que tentava se esconder de um bando de crianças e adolescentes. Tudo na rua.
Eram tempos melhores ou piores do que os de hoje? As crianças, hoje, “brincam” com smartphones, com jogos eletrônicos. Não socializam como na minha época de infância. Não arrisco dizer que os tempos eram melhores ou piores. Eram diferentes, sim, bem diferentes.
Passando agora para a questão da sexualidade. Não existiam aulas de educação sexual, nem na escola, nem nas casas. Esse assunto era tabu. Claro que, na adolescência, sempre aparecia um que sabia das coisas e comentava, ao seu jeito, com os neófitos. Lembro que, cursando o Ginásio numa escola católica de Juiz de Fora, alguns padres tentavam convencer os rapazes (a escola não era mista) dos perigos da masturbação e outros – geralmente os professores de religião – faziam o maior mistério para uma "aula especial" que haveria na semana seguinte, quando iriam explicar como as crianças eram feitas. E a expectativa se frustrava quando um padre alemão, com sotaque carregadíssimo, tentava, suando, explicar como o "perrrru" entrava na mulher para produzir a nova vida. Todos os alunos vermelhos, não de vergonha, mas da tremenda vontade de rir, que só explodia mesmo na hora do recreio.
Hoje estamos vendo esse debate sem fim sobre a questão de gênero.  Já ouvi comentários que os consultórios de psicólogos e psicanalistas que atendem jovens estão repletos de casos de depressão oriundos exatamente dessa pressão para assumirem uma homossexualidade ou uma bissexualidade ou até uma transsexualidade. Pressão que, muitas vezes, surge nas escolas, e que levam garotas e garotos a terem relações homoeróticas, e que depois se acham em grande confusão mental. Acho que, inclusive, o fazem às escondidas de pais e parentes.
Ter ou não ter educação sexual nas escolas? Muitos dirão que sim, outros muitos dirão que não. E esses últimos apontam quase sempre para os tempos antigos, como se fosse possível repeti-los na atualidade. São tempos diferentes...
Pergunto: os jovens de hoje estão se reunindo para discutir política? Quando falo "os jovens", quero saber se a maioria está fazendo isso, porque uma minoria eu sei que mantém a chama acesa. Ou hoje é mais importante ficar enviando mensagens pelas redes sociais com erros gramaticais, de concordância e de conceituação absurdos, ou ainda, se reunirem para jogar videogames? Que livros eles estão lendo? Que músicas estão ouvindo? As letras dizem algo?
Mesmo sem conhecimento de pesquisas a respeito, mas observando o que jovens escrevem no Facebook ou no Twiter, sou obrigado a reconhecer que, em termos de idéias políticas ou de politização, como dizíamos na época, no meu tempo de adolescente chegando à idade adulta, final dos anos 60 e início dos 70, o grau de conhecimento e envolvimento em questões políticas era bem mais acentuado do que hoje e envolvia a quase totalidade dos estudantes.
Creio que, se eu estivesse ainda atuando no magistério, poderia ter uma ideia melhor sobre isso, mas considero que a multidão de jovens nas ruas pedindo intervenção militar denota que eles ignoram completamente a realidade brasileira. Não por acaso – me permitam fazer essa colocação aqui – quando lancei meu livro "O Amor nos tempos do AI-5" na Bienal de São Paulo, um jovem de seus 18, 19 anos veio até mim querendo saber se o que eu escrevia era ficção científica, pois entendia que AI-5 significava Artificial Intelligence nível 5. Pode parecer engraçado, mas é trágico!
O meu ensino médio, que na época passou a se intitular Ensino de Segundo Grau, foi feito de 1966 a 1968. E nós tínhamos, no Colégio de Aplicação da UFMG, o curso Clássico e o Científico, o primeiro voltado para os estudantes que se dirigiam à área de Ciências Humanas. Foi o que cursei e tínhamos Filosofia, História, Português (com redação toda semana, temas livres), Latim, Inglês, Francês, Geografia. Lembro dos debates acerca do imperialismo americano, sobre a Primavera de Praga, sobre a Guerra do Vietnã. Três amigos e eu estudávamos antes das aulas noturnas na pensão onde um deles residia e ali tínhamos debates políticos. Também nos encontrávamos aos sábados na Camponesa, onde se comia um pão de queijo especial, tomava-se uma cerveja bem gelada e víamos que não apenas nós, mas todos os estudantes colegiais e universitários que lá frequentavam, que discutiam política o tempo todo. Recordo bem o que nós conversamos depois que aquele deputado Márcio Moreira Alves fez um discurso que os militares não acharam graça nenhuma e pressionaram o Costa e Silva. Nós saímos da nossa reunião no sábado, convictos de que a situação iria engrossar nos dias seguintes. E deu no AI-5.
Nós estudávamos História, Filosofia... e tínhamos condições de analisar a conjuntura em que vivíamos... Hoje se quer reduzir a carga horária de História e eliminar a Filosofia dos currículos... Tempos diferentes, sem dúvida!
Uma questão política da mais alta relevância: a luta da mulher pela igualdade de direitos. Só quero dizer que fico pensando o que as feministas dos anos 60 que lutaram bravamente para fugir da dominação machista, e brigaram, e lutaram e conseguiram tanto, o que elas pensariam se vivas estivessem, ao saber que no Brasil mulheres se autodenominam de frutas (melancia, pera, morango, melão, jaca e sei lá mais o quê) e postam fotos seminuas ou nuas, como se estivessem se oferecendo para serem comidas por machos famintos.
Eu concluo dizendo que, realmente, no meu tempo – que é um tempo recente – as coisas eram diferentes..."
Será que eram melhores ou piores? O que você acha?
(fonte: https://kikacastro.com.br/2018/08/20/tempos-diferentes/)

MPF questiona prorrogação de contratos de concessão de cinco ferrovias


MPF questiona prorrogação de contratos de concessão de cinco ferrovias
17/08/2018 - Estadão
O Ministério Público Federal (MPF) ingressou nesta semana com uma ação de inconstitucionalidade contra a prorrogação dos contratos de concessão de cinco malhas de ferrovias já em operação. A ação questiona medida provisória que foi convertida em lei no ano passado, reduzindo exigências e abrindo caminho para a prorrogação. O governo diz que vai manter os preparativos para assinatura dos contratos, apesar do pedido do MPF de suspensão imediata.
“Há um pedido do Ministério Público, mas não tem nada decidido”, disse ao Estado o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mario Rodrigues. “A agência vai continuar a fazer o seu papel e vamos aprovar a Rumo.”
A prorrogação do contrato da Rumo Malha Paulista, com 1.989 km de linhas no interior de São Paulo, é a primeira de uma fila de cinco concessionárias que ganharão mais tempo à frente dos negócios, em troca de investimentos. As outras são: Estrada de Ferro Carajás, Estrada de Ferro Vitória a Minas, Ferrovia Centro-Atlântica e a MRS Logística. Juntas, elas prometem investir mais pelo menos R$ 32 bilhões.
Além disso, a Rumo aceitou pagar ao governo R$ 1,3 bilhão pela renovação do contrato. O dinheiro já tem destino: a construção de uma nova ferrovia em Mato Grosso, ligando Água Boa até uma conexão com a Ferrovia Norte-Sul em Campinorte (GO). Com essa obra, os grãos produzidos no Centro-Oeste conseguem chegar de trem até o Porto de Itaqui (MA), barateando o custo do transporte.

Concessionárias não fizeram investimentos prometidos nos anos 90

O problema é que, até agora, as concessionárias não fizeram os investimentos prometidos nos contratos de concessão assinados nos anos 90, segundo petição assinada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ela cita relatório da ANTT sobre a Rumo Malha Paulista, que aponta a falta de quase R$ 1 bilhão em obras e serviços. A agência reguladora já abriu 147 processos administrativos contra a concessionária.
A prorrogação é prevista nos atuais contratos. Mas sob uma condição: que os serviços tenham sido prestados de maneira adequada durante todo o prazo. O MPF alega que os contratos têm “vasto histórico de descumprimento de cláusulas contratuais, de dilapidação de patrimônio público e de flagrante desrespeito ao interesse público.”
A Lei 13.448/17, que reduziu as exigências para a prorrogação, determina que a análise sobre a prestação do “serviço adequado” ficou restrita ao cumprimento das metas de produção e segurança, em pelo menos três dos últimos cinco anos de execução contratual.
A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que ainda não foi notificada da ação. Enquanto isso, os trabalhos para as prorrogações seguem seu curso. O próximo passo previsto é a ANTT entregar, no TCU, os estudos econômicos referentes à prorrogação do contrato da Rumo. Essa medida vem sendo construída desde 2015. “Para mim, como técnico, como gestor, é uma decepção”, disse Rodrigues. “Porque nós temos contratos que ainda têm mais sete a dez anos de duração, mas são totalmente ineficientes.” Com a renovação, acrescentou, os investimentos seriam retomados.

Pesquisadores alertam que conservar a Amazônia é questão ambiental, social e econômica

Amazônia é única. É a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta controla seu clima interno, impactando o mundo todo.
A reportagem é de Maria Fernanda Ziegler, publicada por Agência FAPESP, 22- 08-2018
Com sua biodiversidade ímpar, a Amazônia possibilita a manutenção de serviços ecossistêmicos e limpa a atmosfera do planeta. Porém, para que haja um desenvolvimento social sustentável na região, é necessária uma forte base científica capaz de subsidiar políticas públicas que atendam questões relacionadas à população, biodiversidade, meio ambiente e economia.
É o que destacaram participantes no workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, realizado no dia 16 de agosto de 2018, em Manaus, pela FAPESP em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e com o Brazil Institute do Wilson Center, emWashington.
“É preciso ver a Amazônia a partir de vários aspectos diferentes. Ela não é um jardim botânico, pois não tem um funcionamento ou um impacto linear, e é chave para as mudanças climáticas globais”, disse Paulo Artaxo, professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.
O funcionamento biológico da Floresta Amazônica regula o clima sobre a região. “Afloresta controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e sensível, o vapor d’água e os núcleos de condensação de nuvem que vão intensificar o ciclo hidrológico. E isso só é possível se houver uma extensão muito grande de floresta. Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade”, disse Artaxo, organizador do workshop, à Agência FAPESP.
Um exemplo do impacto da floresta está na sua capacidade de armazenar carbonoda atmosfera, questão fundamental para as mudanças climáticas.
“Mas a capacidade da Floresta Amazônica em armazenar carbono e, de certa forma, limpar a atmosfera, está diminuindo. Há três décadas, era relativamente mais intensa que hoje. O problema é se a floresta passar a emitir mais dióxido de carbono que absorver, o que agravaria as mudanças climáticas. O que acontece com a Amazônia interfere no mundo inteiro”, disse Luiz Antonio Martinelli, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.
De acordo com Martinelli, a hipótese principal para a diminuição de estocagem de carbono tem relação com os eventos extremos, como a seca, que estão mais frequentes e intensos. Isso ocasiona a mortalidade das árvores e a consequente perda em estocar carbono.
“Talvez já estejamos vendo o efeito das mudanças climáticas na Amazônia. E um interfere no outro, ou seja, o evento extremo degrada mais a floresta, degradando a floresta ela emite mais CO2 e aumenta a intensidade e frequência dos eventos extremos”, disse Martinelli.

Serviços ecossistêmicos

Fora o evidente impacto ambiental das mudanças climáticas, há ainda consequências sociais e econômicas.
Secas como as que tivemos em 2005 e 2010 provocaram um impacto social enorme. Municípios ficaram completamente isolados, sem água e alimentos, pois os rios são o transporte na região. Já as cheias extremas deslocam populações da beira de Manaus, por exemplo”, disse Artaxo.
Modelos climáticos têm previsto aumento significativo dos eventos extremos nas próximas décadas.
“O Brasil precisa ter um plano de adaptação para a Amazônia. O aumento da temperatura na região foi da ordem de 1,6 °C, enquanto a média no Brasil foi de 1,3 °C e a mundial de 1,1°C [desde o fim do século 19]. Então, a Amazônia, por estar em uma região tropical, por receber muita radiação solar, é uma região sensível ao aumento da temperatura e à redução da precipitação. Dá para imaginar o impacto socioeconômico de um dia de verão em Manaus com temperatura média aumentada em até 5 ºC. É o que pode acontecer no futuro”, disse Artaxo.
Um ponto a ser investigado é o dos diversos serviços ecossistêmicos da floresta, como o processamento de vapor d’água e a absorção de uma quantidade enorme de CO2da atmosfera.
“O valor dos serviços ecossistêmicos que a Floresta Amazônica realiza equivale a US$ 14 trilhões. Atualmente, o preço da tonelada de CO2 no mercado internacional está em torno de US$ 100, e a Amazônia absorve uma quantidade gigantesca desse gás. Isso vale muito”, disse Artaxo.
Mas existe uma lista maior de serviços ecossistêmicos, como, por exemplo, o vapor d’água – essencial para a agricultura. Durante as apresentações no workshop, foi destacada a dependência da agricultura de todo o sul do Brasil e dos estados de Mato Grosso e Goiás pelo vapor d’ água processado pela Amazônia.
“Essa floresta é valorizada, é valorizável. Mas o seu modo de exploração atual, baseado em grandes projetos agropecuários, não beneficia necessariamente a população da região”, disse Artaxo.
Outro ponto destacado foi o crescimento nos últimos cinco anos do índice de desmatamento, que vinha decaindo consideravelmente nos últimos 30 anos.
“Não ter essa floresta em um cenário futuro de aquecimento significa não ter um ativo econômico que terá muita importância para prevenir grandes prejuízos no futuro. Fora isso, se o Brasil quer ter uma meta além dos 7% da produção mundial [do agronegócio], é bom valorizar a conservação. Pois sem esse sistema gigante de irrigação, não será possível atingir essa meta. É uma questão econômica”, disse Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam).

Mau exemplo

A importância de conservar a biodiversidade também foi debatida no workshop. Para Maria Teresa Piedade, pesquisadora do Inpa, é preciso criar um desenvolvimento sustentável que seja compatível com a biodiversidade e não o contrário. “A biodiversidade está aqui muito antes da nossa vinda e da região se tornar a última fronteira de acesso a bens e produtos”, disse.
Piedade orienta estudos de impacto na hidrelétrica de Balbina, obra da década de 1980 no município de Presidente Figueiredo (AM) e que tem desdobramentos até hoje.
“A hidrelétrica de Balbina tem sido apontada há tempos como um péssimo exemplo de sustentabilidade. Ela deslocou populações tradicionais indígenas, gerou massiva mortalidade de peixes e vários outros problemas. Fora isso, tem baixa eficiência”, disse à Agência FAPESP.
“Houve um achatamento da variação de secas e cheias do rio. Estamos verificando a ocorrência de mortalidade em massa de árvores das porções mais baixas e a entrada de espécies de terra firme nas porções mais altas, anteriormente colonizadas por árvores das áreas úmidas. Isso altera a biodiversidade local, a composição florística e o banco de sementes para peixes que utilizam os rios da região para se alimentar”, disse Piedade.
O workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia” terá continuação no dia 24 de setembro, no Wilson Center, nos Estados Unidos.
No evento, a intenção também será debater que o entendimento físico, químico e biológico da Amazônia auxilia na compreensão de suas fragilidades e resiliências, e que é preciso olhar para as dimensões sociais e econômicas da região de maneira integrada.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/582065-pesquisadores-alertam-que-conservar-a-amazonia-e-questao-ambiental-social-e-economica)

Sem previdência pública, Chile tem suicídio recorde entre idosos com mais de 80 anos

Entre tantos casos, ganhou notoriedade recentemente o do casal Jorge Olivares Castro (84) e Elsa Ayala Castro (89) que, após 55 anos, decidiu “partir juntos” para “não seguir molestando mais”. (…)  Sem qualquer perspectiva, Jorge e Elsa decidiram abreviar suas vidas com dois disparos.
Matéria publicada originalmente no portal ‘Hora do Povo’ por Leonardo Severo
Apontada como modelo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a privatização da Previdência Social chilena, promovida pelo general Augusto Pinochet na década de 1980, continua vigente e cobrando um preço cada vez mais elevado. O colapso do sistema tem ganhado maior visibilidade nos últimos dias à medida que o arrocho no valor das pensões e aposentadorias se reflete no aumento do número de suicídios.
De acordo com o Estudo Estatísticas Vitais, do Ministério de Saúde e do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entre 2010 e 2015, 936 adultos maiores de 70 anos tiraram sua própria vida no período. O levantamento aponta que os maiores de 80 anos apresentam as maiores taxas de suicídio – 17,7 por cada 100 mil habitantes – seguido pelos segmentos de 70 a 79 anos, com uma taxa de 15,4, contra uma taxa média nacional de 10,2. Conforme o Centro de Estudos de Velhice e Envelhecimento, são índices mórbidos, que crescem ano e ano, e refletem a “mais alta taxa de homicídios da América Latina”.
Uma das autoras da pesquisa ministerial, Ana Paula Vieira, acadêmica de Gerontologia da Universidade Católica e presidenta da Fundação Míranos, avalia que muitos dos casos visam simplesmente acabar com o sofrimento causado, “por não encontrar os recursos para lidar com o que está passando em sua vida”.
O fato é que à medida que a idade avança e os recursos para o acompanhamento e o tratamento médico vão sendo reduzidos pela própria irracionalidade do projeto neoliberal de capitalização da Seguridade, os idosos passam a se sentir cada vez mais como um fardo para os seus familiares e entes queridos.

JORGE E ELSA

Entre tantos casos, ganhou notoriedade recentemente o do casal Jorge Olivares Castro (84) e Elsa Ayala Castro (89) que, após 55 anos, decidiu “partir juntos” para “não seguir molestando mais”. A evolução do câncer de Elsa, conjugada a uma primeira etapa de demência senil, faria com que tivesse de ser internada numa casa de repouso. O marido calculou que poderiam pagar, mas somente se somassem ambas as aposentadorias e vendessem a casa. Sem qualquer perspectiva, Jorge e Elsa decidiram abreviar suas vidas com dois disparos.
Infelizmente, diz a psicogeriatra Daniela González, “enfermidades que geram uma impossibilidade de serem enfrentadas economicamente acabam colocando o tema do suicídio como uma saída honrosa”.
Como ficou comprovado, o desmantelamento do Estado serviu tão somente para beneficiar as corporações privadas que assaltaram o sistema público de pensões e aposentadorias chileno sob o pretexto que era deficitário, (até nisso os ladrões e a grande mídia tupiniquins demonstram a mais completa falta de criatividade), por outro de capitalização administrado pelo “mercado”. A “justificativa” era de que assim seria resolvido o problema fiscal e se abririam as portas ao crescimento econômico. Assim, foram montadas as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP), instituições financeiras privadas encarregadas de administrar os fundos e poupanças de pensões. O rendimento destes fundos, com base nas flutuações do “mercado”, determina a quantidade de dinheiro que cada pessoa acumulará quando chegar o momento da aposentadoria.
Desta forma, com a capitalização para fins de aposentadoria integralmente bancada pelo trabalhador, milhões de pessoas foram obrigadas a entregar 10% de seus salários a arapucas especulativas, sem haver nenhuma contribuição dos empregadores, nem do Estado. “Houve crises financeiras nas que perdemos todas as economias depositadas ao longo da vida, porque ficamos sujeitos aos vaivéns do mercado”, explicou Carolina Espinoza, dirigente da Confederação de Funcionários de Saúde Municipal (Confusam) e porta-voz da Coordenação “No Más AFP”..

 MULTINACIONAIS

Atualmente, das seis AFPs que atuam no Chile, cinco são controladas por empresas financeiras multinacionais: Principal Financial Group (EUA); Prudential Financial (EUA); MetLife (EUA); BTG Pactual (Brasil) e Grupo Sura (Colômbia), que administram fundos de 10 milhões de filiados. No total, são mais de US$ 170  bilhões aplicados no mercado de capitais especulativos, nas bolsas de Londres e Frankfurt, para serem repassados sob a forma de empréstimos usurários aos próprios trabalhadores.
O resultado prático deste mecanismo, assinala a Fundação Sol, entidade que estuda as condições de trabalho no país, é que a pensão média recebida por 90% dos aposentados chilenos é de pouco mais de 60% do salário mínimo, cada vez mais insuficiente para os gastos de um idoso.
“Como sociedade não podemos permitir que pessoas que construíram com tanto esforço este país estejam passando seus últimos anos na tristeza”, declarou o doutor José Aravena, diretor da Sociedade de Geriatria e Gerontologia do Chile, para quem os suicídios deveriam fazer “soar o alerta para a reflexão sobre como se está envelhecendo no país”. “Para ninguém é justo viver os últimos anos de sua vida sentindo-se triste ou com vontade de não seguir vivendo”, acrescentou, apontando a “dependência e a depressão” entre os principais fatores do suicídio em idosos.
(fonte: https://portalplena.com/news/sem-previdencia-publica-chile-tem-suicidio-recorde-entre-idosos-com-mais-de-80-anos/) 

Poluição do ar reduz a expectativa de vida global em mais de um ano



poluição do ar encurta a vida humana em mais de um ano, segundo um novo estudo de uma equipe de engenheiros ambientais e pesquisadores de saúde pública. Melhor qualidade do ar pode levar a uma extensão significativa da expectativa de vida em todo o mundo.
A reportagem é de Johnny Holden, membro da Cockrell School of Engineering, publicada por University of Texas at Austin e reproduzida por EcoDebate, 23-08-2018. A tradução e a edição são de Henrique Cortez.
Painel superior a: Como a poluição do ar encurta a expectativa de vida humana em todo o mundo. Painel inferior b: Ganhos na expectativa de vida que poderiam ser alcançados por meio das diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a qualidade do ar em todo o mundo.
Esta é a primeira vez que os dados sobre poluição do ar e tempo de vida foram estudados em conjunto, a fim de examinar as variações globais em como elas afetam a expectativa de vida total.
Os pesquisadores analisaram a poluição do ar ao ar livre a partir de material particulado (PM) menor que 2,5 mícrons. Essas partículas finas podem penetrar profundamente nos pulmões, e o PM 2.5 respiratório está associado ao aumento do risco de ataques cardíacos, derrames, doenças respiratórias e câncer. PM 2,5 poluição vem de usinas de energia, carros e caminhões, incêndios, agricultura e emissões industriais.
Liderado por Joshua Apte na Escola Cockrell de Engenharia da Universidade do Texas, em Austin, a equipe usou dados do Estudo Global da Carga de Doençaspara medir a exposição à poluição do ar do PM 2.5 e suas conseqüências em 185 países. Eles então quantificaram o impacto nacional na expectativa de vida para cada país individualmente e em escala global.
Os resultados foram publicados em 22 de agosto na Environmental Science & Technology Letters.
“O fato de que a poluição de partículas finas é um grande assassino global já é bem conhecido”, disse Apte, professor assistente no Departamento de Engenharia Civil,Arquitetônica e Ambiental da Escola Cockrell e no Departamento de Saúde da População da Faculdade de Medicina da Dell. “E todos nós nos importamos com quanto tempo vivemos. Aqui, fomos capazes de identificar sistematicamente como apoluição do ar também encurta substancialmente vidas em todo o mundo. O que descobrimos é que a poluição do ar tem um efeito muito grande na sobrevivência – em média, cerca de um ano globalmente ”.
No contexto de outros fenômenos significativos que afetam negativamente as taxas de sobrevivência humanaApte disse que este é um grande número.
“Por exemplo, é consideravelmente maior do que o benefício na sobrevivência que poderíamos ver se encontrássemos cura para o câncer de pulmão e mama juntos”, disse ele. “Em países como a Índia e a China, o benefício para os idosos de melhorar a qualidade do ar seria especialmente grande. Em grande parte da Ásia, se a poluição do ar fosse removida como um risco de morte, as pessoas de 60 anos teriam uma chance de 15% a 20% maior de viver até os 85 anos ou mais ”.
Apte acredita que essa descoberta é especialmente importante para o contexto que ela oferece.
“Uma contagem de corpos que diz que 90.000 americanos ou 1,1 milhão de indianos morrem por ano devido à poluição do ar é grande, mas sem rosto”, disse ele. “Dizer que, em média, uma população vive um ano a menos do que teria de outra forma – isso é algo que se relaciona”.
O estudo foi financiado pelo Centro para Soluções de Ar, Clima e Energia, uma colaboração interdisciplinar de pesquisa apoiada pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Apte foi acompanhado neste estudo por colegas da University of British Columbia, do Imperial College London, da Brigham Young University e do Health Effects Institute.
Referência:
Ambient PM2.5 Reduces Global and Regional Life Expectancy
Joshua S. Apte, Michael Brauer, Aaron J. Cohen, Majid Ezzati, and C. Arden Pope, III
Environmental Science & Technology Letters Article ASAP
DOI: 10.1021/acs.estlett.8b00360
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/582102-poluicao-do-ar-reduz-a-expectativa-de-vida-global-em-mais-de-um-ano-segundo-estudo)

domingo, 19 de agosto de 2018

Ursal e os primórdios das fake news


por Cristina Moreno de Castro
Foi em 2001 que a professora universitária aposentada Maria Lucia Victor Barbosa cunhou o termo "Ursal". Uma invenção, em tom de ironia, dentro de um artigo crítico a um discurso do Lula sobre a Alca – esta sim, uma sigla existente.
O artigo foi publicado originalmente num blog, reproduzido em outros, até entrar num telefone-sem-fio: aquela brincadeira em que um vai falando uma frase no ouvido do outro até chegar ao último, que invariavelmente escutou uma coisa totalmente diferente da original.
Pois bem, acontece que, no meio desse telefone-sem-fio, havia Olavo de Carvalho. O astrólogo que virou guru da direita ultraconservadora do país, resolveu tratar a piada de Maria Lucia como se fosse um fato, em artigo para o "Diário do Comércio". Esse embrião das fake news (que hoje explodem com muito mais facilidade, graças ao advento do WhatsApp) foi revelado em reportagem da "Folha de S.Paulo" nesta segunda-feira (13).
Hoje, se você der uma busca pelo termo "Ursal" no Google, aparecem mais de um milhão de resultados. Muitos são devaneios dos seguidores de Olavo, do MBL, Bolsonaro e afins. Outras citações chegaram como enxurrada desde o debate presidencial da Band, em que o candidato Cabo Daciolo pagou aquele mico de citar a piada como se fosse verdade verdadeira, em pergunta dirigida a Ciro Gomes.
Tão ridículo que virou meme, e você já deve ter visto pelo menos um destes por aí, em suas redes sociais:
(fonte: blog da Kika Castro)
É triste que um sujeito como este, que transforma piada em verdade, seja o guru de candidatos com risco real de vencer um eleição presidencial.
Ou, como disse o leitor Eduardo de Lima em seus comentários na matéria da Folha:
Esse artigo mostra bem a "seriedade" criteriológica dessa extrema direita atual. Qualquer um que escute Olavo ou seus seguidores ralhando do alto de suas "cátedras" faceboquianas ou youtubeanas não tarda a perceber que não passam de um bando de malucos. Seria de rir se não estivessem influenciando diretamente dois candidatos à presidência. A epidemia é séria. (...)
Filósofos gregos ensinaram no Areópago, Jesus ensinou no Templo de Jerusalém, Paulo ensinou no Areópago, papas ensinaram em basílicas, teólogos e filósofos ensinaram em universidades, e Olavo ensinou no Orkut e Facebook. Atualmente vemos o resultado.

Composto do Agente Laranja começa a contaminar o Mato Grosso

Produtores de soja e milho transgênicos na Bacia do Juruena substituem glifosato pelo herbicida 2,4-D, que deve ter seu uso quintuplicado nos próximos anos.
A reportagem é de  Igor Carvalho, publicada por De Olho nos Ruralistas, 14-08-2018.

Após reinado absoluto do glifosato na agricultura nacional, as pragas criaram resistência e seguem agindo nas lavouras. Por conta disso, fazendeiros do Mato Grossoiniciaram a migração de agrotóxico e estão utilizando o herbicida 2,4-D em plantações de soja e milho, realidade constatada nos municípios de  Campo Novo do ParecisSapezal e Campos de Júlio, na Bacia do Juruena, oeste do estado, por uma pesquisa do Núcleo de Estudos Ambientais e de Saúde do Trabalhador (Neast), vinculado ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
O herbicida era o principal composto do Agente Laranja – arma química de destruição em massa utilizada pelos EUA na guerra do Vietnã. Cancerígeno, é um desregulador endócrino que afeta a produção de hormônios. É proibido na DinamarcaSuéciaNoruega, em quatro estados canadenses, várias províncias da África do Sul e em diversos municípios de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, como aponta um parecer técnico – sobre riscos à saúde humana e animal – enviado para o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em 2014.
Entre os sintomas pelo contato com o agrotóxico estão: perda de apetite, irritação da pele exposta, vômitos, enjoo, dores torácicas e abdominais, irritação do trato gastrointestinal, contração e fraqueza muscular, confusão mental, convulsões e coma. Mesmo assim, variedades de soja e milho transgênicos resistentes ao 2,4-D foram liberados pelo governo em 2015.
Com o financiamento e colaboração do Ministério Público do Trabalho do Mato Grosso, o estudo “Processo sócio-sanitário-ambiental da poluição por agrotóxicos na bacia dos Rios Juruena, Tapajós e Amazonas em Mato Grosso, Brasil” foi publicado em março de 2018. Ele projeta um aumento de no mínimo cinco vezes na pulverização por 2,4-D ao se verificar o uso atual de glisofato.
Além do 2,4-D, está sendo usado na região o inseticida benzoato de emamectina, que combate a lagarta Helicoverpa armigera. O produto tinha sido proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2003, por causa de sua forte ação neurotóxica, mas uma manobra da bancada ruralista criou uma lei para conceder autorização emergencial a determinados produtos em 2013. Quatro dias depois o inseticida estava livre para ser comprado.
Os pesquisadores Luã Kramer de OliveiraWanderlei PignatiMarta Gislene PignattiLucimara Beserra e Luís Henrique da Costa Leão observam que, nesse processo agroquímico dependente, a utilização de agrotóxicos pelas fazendas contamina a lavoura, o ambiente, os trabalhadores rurais e a população do entorno.
Nos três municípios mato-grossenses analisados vivem 61 mil pessoas. Na região há três Terras Indígenas demarcadas: Utiariti, da etnia Paresí; Tirecatinga, da etnia Nambkiwara; e Enawenê-Nawê, da etnia Enaenê-Nawê.

CONCENTRAÇÃO DE TERRAS E AGROTÓXICOS

Os pesquisadores adotaram uma metodologia inovadora ao fazer uma relação direta entre a expansão do agronegócio de larga escala e o uso de agrotóxicos – que costuma ser estudado de forma isolada em relação ao modelo econômico.
O estudo revela que, no estado do Mato Grosso, 6,4% do território estão nas mãos de 76,8 mil propriedades rurais de até 100 hectares. O preocupante é que 78% do estado são ocupados por apenas 8,7 mil propriedades rurais que possuem extensão territorial acima de 1.000 hectares.
Os pesquisadores colocaram uma lupa sobre os municípios analisados e constataram que, em Campo Novo do Parecis, 69 propriedades acima de 2.500 hectares são responsáveis por 74,4% da área do município. As 48 propriedades de Sapezal que possuem mais de 2.500 hectares respondem por 90% da região. Na cidade de Campos de Júlio, 74% das terras estão concentradas em 31 propriedades com mais de 2.500 hectares.
Assim, é possível identificar um nível de agrotóxicos na região que chega a 350 a 600 litros por habitante, sendo que 45% dessa composição é do herbicida glifosato, utilizado nas plantações de soja transgênica.
Em 2014, em Campo Novo de Parecis, foram utilizados 2,13 milhões de litros do herbicida. Na cidade de Sapezal, foram 2,12 milhão de litros. Em Campos de Júlio, são 1,08 milhão de litros pulverizados nas lavouras.
“Essa realidade rural oligárquica no Brasil e no Mato Grosso advém do processo intensificado a partir da década de 1970, com a inserção de maior peso do capital internacional no campo”, contextualizam os pesquisadores. Eles dizem que esse processo vem reproduzindo um modelo não sustentável de desenvolvimento, por meio de uma produção agrícola mecanizada “químico-dependente”. Essa produção – pecuária, extração de madeira e de minério, entre outras formas de exploração da natureza e do trabalho – é voltada para a exportação.
As culturas de solo que prevalecem no Mato Grosso são soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. As duas primeiras são predominantes nas cidades estudadas na pesquisa. Dados do IBGE, apresentados no estudo, mostram que, em 2016, o estado utilizou 13,4 milhões de hectares para plantações. Essa quantidade representa 19,2% do total de área plantada no País e dá a dimensão da relevância do estado para o agronegócio.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/581817-composto-do-agente-laranja-comeca-a-contaminar-o-mato-grosso)