Aécio Neves se revela, finalmente, quase por inteiro.
Conquistou
os mineiros por ter algo de Tancredo, algo de JK. Lula lhe emprestou a
tranquilidade para governar oito anos sem oposição em seu Estado. No
primeiro ano, foi austero. A partir daí, marketing pesado, programas
federais renomeados (como Fome Zero e programas do Ministério do
Desenvolvimento Agrário/MDA que se tornaram” Minas Sem Fome”). O acordo
com Lula rendeu dividendos para o lulismo, sendo os mais visíveis os
comitês Lulécio e Dilmasia.
Os
petistas mais afoitos passaram a linha divisória e apressadamente
selaram acordo eleitoral que se cristalizou na candidatura quase biônica
de Marcio Lacerda. Aécio chegou a propor que Fernando Pimentel
assumisse a direção da Agência de Desenvolvimento Metropolitano, logo
bombardeada por seus aliados aecistas na Assembleia Legislativa.
A
imprensa mineira decidiu não investigar. Raramente se viu tanta
docilidade no Brasil democrático. Enfim, tivemos aqui em Minas Gerais
nossos engavetadores.
Não adiantou a direção do Sindute publicar a Radiografia da Educação (http://nucleopiratininga.org.br/sindute-mg-lanca-edicao-especial-sobre-a-situacao-da-educacao-no-estado/
) revelando o descaso com as escolas estaduais mineiras. Não adiantou
divulgar os baixos índices de cobertura dos programas sociais dos
governos aecistas. Não adiantaram denúncias sobre obras e disputas
palacianas envolvendo a construção da sede administrativa. Nada era
levado em consideração, numa cortina de ferro que lembrava a censura do
mundo soviético. A liberdade de empresa falou mais alto. Foucault se
desdobrou para fundamentar sua tese que a pior das censuras é a
autocensura. Minas Gerais foi prova viva da correção desta proposição.
Aécio
construiu seu nome como gestor a partir de dois pilares, em especial: o
comando político dos territórios mineiros por Danilo de Castro e o
controle da ação governamental pelas mãos de Antonio Anastasia. Danilo
foi a volta da República Velha, da tradição sem grandes inspirações. Um
pastiche do coronelismo. Anastasia foi inventivo, redefiniu os contornos
da proposta britânica da Nova Gestão Pública. Anastasia, sim, inovou e
contribuiu para o debate sobre novos princípios da ação estatal. Algo
com um pé no thatcherismo e outro na socialdemocracia. Não importa. Num
país tão pobre de inovações em gestão pública, o então secretário de
Planejamento oxigenou o debate de uma nota só.
Aécio
já revelava tropeços políticos nas eleições municipais. Em 2008, perdeu
várias cidades-polo mineiras para o PT. Com efeito, o Sul e Sudoeste de
Minas Gerais, a partir de 2008, tornou-se a mesorregião do país com
maior número de governantes do PT. Mas a imprensa mineira continuou
calada. Não se arriscava a compreender mudanças, tendências, escorregões
do poder. Em 2012, procurou reagir. Mas o PSDB perdeu prefeituras e o
PT, seu maior adversário, cresceu ainda mais no Sul e na Zona da Mata
mineira.
Em
2010, logo após a vitória de Dilma Rousseff, Lula avaliou que chegava a
hora de por um ponto final na aliança com o mineiro. Aécio havia
cumprido a tarefa de dividir o PSDB. Lula, na ânsia de poder, avaliou
que era viável fazer com o PSDB o que havia feito com o DEM e, assim,
interditar ainda mais os caminhos das oposições. Antes, chegou a
promover dois convites para o neto de Tancredo ingressar no PSB e no
PMDB. O PMDB insistiu muito. Em novembro de 2008 já enviava um convite
para sua filiação (ver http://noticias.r7.com/brasil/noticias/veja-a-cronologia-da-pre-candidatura-de-aecio-neves-20091217.html ).
A
derrota para José Serra, quando da tentativa de ser o candidato tucano
às eleições presidenciais, foi outra demonstração de dificuldades do
líder mineiro. É verdade que, em terras mineiras, a entrada de Aécio no
jogo sempre alterava o curso das eleições. Foi assim com Eliseu Resende,
em 2006. Foi assim com Itamar Franco e com Anastasia, em 2010. Em 2006 e
2010, os candidatos aecistas começaram a campanha com baixos índices de
intenção de voto mas, com a entrada de Aécio em suas campanhas,
saltaram para conquistar os cargos que pleiteavam. O fato é que o
movimento errático da liderança aecista, ganhando eleições majoritárias e
perdendo nas municipais ou na disputa nacional com outros tucanos,
indicava algum descompasso, uma arritmia política.
Até
que resolveu dar um salto maior. De promessa, foi se revelando um
blefe. Sei que esta frase é áspera. Lembro-me de ter dito o mesmo para
um candidato a governador e da sua reação visceral. Mas, em política,
Conselheiro Acácio, assim como na obra de Eça de Queirós, é sinônimo de
mediocridade.
Talvez,
isto que falte ao senador Aécio Neves. Alguém que seja mais áspero e
que não adultere a foto da realidade. Blindar tem seu significado na
disputa política. Mas, político blindado o tempo todo anestesia seus
instintos e inteligência para o jogo, para a improvisação. A blindagem
tem o mesmo efeito que a aplicação de botox no rosto: todos sabem que
foi utilizado, mas ninguém diz para não ofender. Botox revela,
justamente, o que o usuário quer esconder. O rei fica nu.
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