Adital
Não se trata de não colocar paixão na reflexão de um tema que permeia toda a vida da nação e afeta cada um de nós brasileiros.
Como já dizia o poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht, tudo em
nossa vida depende da política: a comida, o transporte, a educação, a
saúde, a roupa, o calçado etc. etc. Que bom seria que em todos
os espaços, em todos os lugares, em todos os ambientes se discutisse com
muita seriedade o tema da política. Mas a questão está exatamente na
forma como discutimos. De um modo geral fazemos isso sem consciência
crítica, sem discernimento e sem nem mesmo saber do que estamos falando.
Vamos muito pelo que diz a grande mídia, envolvida e totalmente
comprometida com a elite e a burguesia brasileira, as quais querem
manter seus privilégios às custas do sacrifício da maioria da população
brasileira. Para defender os interesses dos poderosos, a grande mídia,
geralmente controlada por eles, inventa e divulga alguns "mitos” que
terminam confundindo a cabeça do eleitor desavisado, levando a acreditar
e a votar exatamente em quem ele nunca deveria crer e votar. Vejamos
agora alguns dos "mitos” inventados pela nossa mídia.
O primeiro deles é passar a impressão de que um candidato "ficha limpa” é um anjo,
alguém sem nenhum defeito, sem nenhuma mácula. Ora, isso, além de ser
falso, é irreal. Há milênios as grandes culturas e as grandes
experiências religiosas detectaram que "todo homem é mentiroso, todo
homem”. Não há, pois, candidatos genuinamente puros, totalmente
revestidos de uma lisura ímpar. Quem ainda acredita nisso é um iludido, é
um idiota que não se dá conta da realidade concreta do ser humano. Como
já diziam os grandes filósofos gregos, em cada um de nós habita pelo
menos um anjo e um demônio. Pensar que há alguém desprovido de seu lado
demoníaco é pura idiotice. O que resta fazer, então? É procurar pessoas,
candidatos equilibrados, ou seja, pessoas nas quais o lado demoníaco
não prevaleça. E como isso dá trabalho e as pessoas se recusam a fazer
como Zaratustra, o personagem de Nietsche, saindo pelas ruas com uma
tocha acesa, em pleno dia claro, à procura desses candidatos
equilibrados, terminam por aderir e votar nos que aparentam ser
totalmente anjos. Aliás, uma das artimanhas dos demônios é exatamente
criar a ilusão de que eles são anjos puríssimos. E com o marketing em
alta, isso é possível ser feito sem maiores problemas.
Um segundo "mito”, também criado intencionalmente pela mídia "golpista”, é pensar e acreditar que "todo político é igual”,
que "todos os partidos políticos são iguais”. E isso não só é falso
como é profundamente enganador. No Brasil existem partidos políticos
cujos programas estão totalmente voltados para os interesses das elites
brasileiras. O passado destes partidos, as figuras que os compõem hoje,
representam o que há de mais nojento na política brasileira. Pode-se
dizer, sem medo de errar, que esses partidos hoje são bem representados
pelo PSDB, pelo DEM e pelos partidos nanicos que gravitam em torno deles
e a eles são subservientes. Todo eleitor crítico, consciente, ciente
não vota nestes partidos. Mas há ainda bons partidos e bons políticos,
cujos programas são sérios e bem significativos para o país. Mas devido
ao assédio da mídia corrupta estes partidos e essas pessoas terminam
permanecendo na penumbra ou sendo totalmente ignorados.
Recentemente
as elites, com o apoio da mídia a elas subservientes, criaram outro
"mito”: o de que o Partido dos Trabalhadores (PT) é o único partido
corrupto do Brasil. Tiveram a ajuda de um Judiciário parcial, que usando
métodos questionados por eminentes juristas, tudo fizeram para
massacrar algumas figuras do PT. Não se defende aqui a inocência `dos
membros do PT que foram acusados e condenados. O que se questiona é o
fato de que a mídia
e o Judiciário não tenham usado da mesma severidade com outros partidos
e outros políticos. Por que, por exemplo, não puniram com o mesmo rigor
o PSDB, envolvido até o pescoço na lama da privataria tucana e no
escândalo do metrô de São Paulo, cujas empresas ligadas ao dito
escândalo continuam descaradamente patrocinando as campanhas dos
candidatos suspeitos? Por que os políticos da "Caixa de Pandora”
do Distrito Federal, pegos repartindo polpudas propinas, continuam
impunes até agora? Alguns deles inclusive concorrendo, no momento, a
cargos políticos ou obrigados a renunciar por serem "fichas sujas”, mais
porcos do que "pau de galinheiro”. Percebe-se,
então, que tudo não passou de uma armadilha, com o objetivo explícito
de desviar a atenção dos verdadeiros corruptos. O próprio Ministério
Público, por exemplo, não quis "cortar na própria carne”. Deixou impune
até agora um dos seus membros, o ex-senador Demóstenes Torres, moleque
de recado do bandido Carlinhos Cachoeira no Senado. Não se pode
acreditar na seriedade de um poder judiciário que prende "ladrões de
galinha” e deixa solto este tipo bandido de alta periculosidade para o
povo, para a nação e para o país. Este tipo de judiciário já perdeu por
completo a sua credibilidade juntos às pessoas sérias, dotadas de
cérebro pensante e que raciocinam com espírito crítico.
Por fim um outro mito: a do messianismo político, ou seja, da figura do salvador da pátria.
De repente, no cenário político, surge alguém com ideias mirabolantes,
com a história de única alternativa possível, teatralizando, como sendo a
salvação da pátria. E boa parte dos brasileiros fica encantada com o
discurso bonito, com o espetáculo teatral bem montado, e se deixa
enganar. Não percebe que se trata de alguém que não traz nenhuma
novidade concreta. Pegou carona com outros partidos, aproveitou-se do
espaço que lhe foi dado, comportou-se de maneira desleal com os seus
aliados de outrora, e, de repente, se apresenta como a grande
alternativa. Mas basta prestar atenção para se ver que, na prática, não
há nada de novo. Mesmo porque os grandes problemas da nação não se
resolvem nos palanques e com palavrórios bonitos dos programas
políticos.
Portanto,
se queremos votar bem temos que desfazer todos esses "mitos”, refletir
com seriedade, usando a razão e não apenas a emoção. Há candidatos sérios, comprometidos com o bem comum. Temos que nos dar ao trabalho de procurá-los e de encontrá-los.
Temos que recusar veementemente os "clichês” fabricados pela grande
mídia. Temos que nos reunir para conversar, deixando de lado paixões
desenfreadas, guiando-nos pela lógica, pela objetividade e pela
racionalidade. Do contrário seremos apenas marionetes e terminaremos por
votar em quem nunca deveríamos votar. Mas para fazer tudo isso temos
que agir com humildade, escutando os outros, aprendendo com os outros e
com a história e até abrindo mão de visões deturpadas, parciais, que até
então carregávamos conosco. Convém jamais esquecer de que, na prática, a
teoria é outra, especialmente na política. Quem chega com ideias
mirabolantes, com chavões ultrapassados, fazendo teatro para chamar a
atenção sobre si, prometendo resolver tudo num toque de mágica, é um
mentiroso, um falso político, um hipócrita. Este sujeito não merece a
confiança do eleitor sério e honesto.
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