por Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky
Será que a questão da virgindade feminina “já era”?
Para
muitos pode parecer um problema superado, mas não é bem assim: inúmeras
garotas ainda sentem angústia com a perda da virgindade ou a comemoram –
de um modo ou de outro, não há indiferença. Entre amigos, nas redes
sociais, na TV, nas escolas, no cinema, nos consultórios médicos, nas
famílias o assunto continua vivo. Saber se uma celebridade é ou não
virgem ou com quem e como um personagem de romance juvenil vai transar
pela primeira vez é tema para várias horas de conversa. Muitos homens
ainda hoje valorizam o fato de ser “o primeiro”. Teve gente que até
leiloou sua virgindade pela internet e ganhou dinheiro com isso. Há
mulheres que procuram clínicas médicas para reconstituir cirurgicamente
seu hímen, tentando com isso se valorizar mais perante o sexo oposto. E
há também os adeptos do movimento de norte-americano No sex que
promove a abstinência sexual. Em muitos grupos, de diferentes convicções
religiosas, conservar a virgindade até o casamento é algo fundamental,
capaz de criar uma divisão bem nítida entre as mulheres que são ou não
aceitas pela comunidade. Como lembra a historiadora Yvonne Knibiehler,
em seu livro História da virgindade,
isso continua importantíssimo entre os muçulmanos fundamentalistas. São
eles que fizeram aumentar (até na França) a demanda pelo “certificado
de virgindade”, assinado por um médico para ser exibido aos parentes.
Alguns pais até prendem o documento no vestido da noiva para que todos
possam vê-lo no dia do casamento.
Claro
que o conceito, a percepção e a importância da virgindade, têm
historicidade, mudam ao longo da História. Na Antiguidade, entre os
judeus, a virgindade, ou seja, a “pureza” das jovens solteiras
preservadas do ato sexual até o casamento era uma garantia para o marido
de que o filho que nasceria de sua mulher seria legítimo. Assegurar a
autenticidade da filiação dessa maneira também era algo fundamental para
os gregos e os romanos que acreditavam que as filhas dos cidadãos
pertenciam ao pai a quem cabia oferecê-las como esposas para quem bem
entendessem. Essas crenças reforçavam a dominação masculina nessas
sociedades patriarcais e nas outras que surgiram depois, como, por
exemplo, os muçulmanos para os quais, alem da questão do controle das
mulheres e da descendência, a satisfação sexual masculina máxima seria a
obtida no defloramento de uma virgem. Desde os primeiros tempos da
difusão dessa crença, ser “o primeiro” é tão importante para eles que o
paraíso de Alá coloca belas jovens virgens à disposição do crente.
O
cristianismo, que bebeu nas fontes judaicas e clássicas, trouxe,
contudo, uma novidade: a valorização moral e espiritual da castidade
como um dos caminhos para a santidade. Isso permitiu a muitas mulheres optarem por
se manter virgem para viver sua vida independentemente de marido e
filhos; para elas, escolher entrar para um convento e ser “esposa de
Cristo” podia significar maior autonomia e oportunidade de estudar. Além
disso, durante a Idade Média e a Era Moderna, ser “donzela” dava certo
poder; se Joana D’Arc não tivesse se apresentado na corte como virgem,
dificilmente teria sido tão ouvida e respeitada. Com tantos significados
e tanta importância atribuída à virgindade, violar uma virgem passou a
provocar maior excitação entre os homens, como se fosse uma prova de
virilidade. Como deflorar uma moça significava desonrar toda a sua
família, o pai e os irmãos da jovem procuravam vingar-se do agressor; a
vítima não contava, era um assunto de honra entre homens. Só muito mais
tarde na História, o estupro seria condenado por sua violência contra a
pessoa e as jovens agredidas passaram a ter leis para protegê-las.
A
virgindade começou a perder importância social na época do iluminismo,
mas o processo foi longo. Em pleno século XX havia uma dupla moral
sexual, que permitia aos homens ter muitas experiências sexuais enquanto
que as mulheres “de bem” deviam se manter castas e puras. Esses valores
perduram até hoje em regiões e mentes atrasadas. Contudo, conforme as
mulheres foram tendo mais acesso à educação, aos ganhos econômicos e aos
métodos anticoncepcionais, passaram a reivindicar e obter maior
igualdade de gênero. Com isso, a liberdade sexual aumentou e o prestígio
do hímen diminuiu. Porém, como alerta Knibiehler em seu livro
imperdível, nem tudo são flores: aí estão as doenças, a gravidez
indesejada, a maternidade irresponsável. O desafio atual é resolver os
problemas sem ameaçar as conquistas obtidas duramente pelas mulheres.
Por Jaime Pinsky – historiador, professor titular da Unicamp, diretor da Editora Contexto, autor de Por que gostamos de história, entre outros livros – e Carla Bassanezi Pinsky – historiadora com doutorado em Ciências Sociais (Família e Gênero) pela Unicamp e co-autora de diversos livros, entre eles Nova História das Mulheres no Brasil.
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segunda-feira, 4 de abril de 2016
A virgindade perdeu a importância?
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A saída para uma vida sexual responsável é a prevenção de DST's e gravidez por meio do uso de preservativos. Se o homem se recusar a usar a camisinha, a mulher pode usar aquela adaptada para a sua anatomia e mandar o pretendente para "o diabo que o carregue". Para tanto, é importante a família investir na educação sexual e na auto estima de suas filhas. Mulher com auto estima elevada e auto suficiente não aceita ou se submete homens de "qualidade duvidosa". A maior alternativa está na educação das meninas, focando em responsabilidade e auto estima.
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