Abro o espaço do Blog de hoje para um artigo do nosso colaborador prof. Antônio de Paiva Moura.
Desigualdade
Os
rebeldes de hoje têm causa, mas não conhecem suas raízes.
O jornalista francês
Serge Halimi (2013) analisa com bastante profundidade a situação sócio-política
do mundo contemporâneo e as dificuldades de proposições novas no sentido de
traçar diretrizes positivas.
Há no Ocidente uma
ideologia de cunho liberal de que o peso das diferenças sociais era aliviado
pela crença de que a mobilidade social no sistema capitalista contrariava as
desigualdades de nascimentos. Para que alguns mal nascidos possam atingir
escalas ou camadas sociais maior que de sua família de origem, é necessário
trabalhar duro, dando o melhor de si; acreditando que os ricos conseguiram suas
fortunas segundo as regras do jogo. O mito da mobilidade social deu lugar ao
terror do rebaixamento, com as novas concepções e ações do liberalismo.
As grandes escolas ou
universidades estão cada vez mais fechadas para as categorias populares. O
custo da formação universitária desde a graduação até os níveis mais altos de
mestrado e doutorado é altíssimo. Só os mais ricos conseguem manter os filhos
com dedicação exclusiva nas melhores universidades. O que sobra em um lugar é
que está faltando em outro. A família norte-americana Walton, dona do Walmat
detém uma fortuna correspondente a um milhão cento e cinqüenta mil vezes maior
que a riqueza média norte-americana. Esse disparate e esse abismo de diferença
se verificam em quase todos os países do mundo.
O tão almejado e tão
reclamado crescimento econômico, em quase todos os países só tem beneficiado os
mais ricos.. Nos EUA, apenas 1% da população se beneficia do crescimento
econômico.
É ai que Halimi formula
a seguinte questão: Qual é a melhor forma de dizer que os ricos imprimem
fortemente sua marca no Estado e no sistema político? Eles votam com mais
freqüência; financiam mais que outros as campanhas eleitorais e o mais
importante, exercem uma pressão contínua sobre os eleitos e os governantes. Em
face desse poder político, o crescimento da desigualdade se deve, em grande
parte, ao nível baixo da tributação do capital. Os ricos mantêm lobby
permanente no Congresso, no Judiciário e no poder Executivo.
Em 2012 o prêmio Nobel
de Economia, o americano Joseph Stiglitz publicou o livro intitulado “O preço
da desigualdade”, tendo tido para tal obra, a colaboração do economista
italiano Mauro Gallegati. Nessa obra afirma que a classe de 1% mais rica do
mundo não é muito afeita ao consumo. Mesmo que o fosse não contribuiria com o
desenvolvimento industrial e com o PIB. Somente uma classe média bem-sucedida e
favorecida pela distribuição de renda tende a consumir todos ou quase todos os
seus recursos, sustentando o PIB do próprio país e a economia de modo geral. O
enunciado científico de Stiglitz e Gallegati é o seguinte: Quando o 1% mais rico da população concentra 25% da renda a bomba
atômica econômica explode, isto é, o capitalismo entra em crise. Eles
demonstram que isso aconteceu em 1929, 1998 e de 2003 a 2008. A descoberta de
Stiglitz e Gallegati demonstra que a desigualdade corrói o PIB até matá-lo, não
só por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema de concentração é
ineficiente. Este foi o maior ataque teórico e científico ao Neoliberalismo. (BERNABUCCI,
2013).
Referências
BERNABUCCI, Cláudio. O estopim da crise: concentração de renda.
Carta Capital. São Paulo, n. 752, 12 jun. 2013.
HALIMI, Serge. Desigualdade, democracia e soberania. Le
Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 70, mai. 2013.
Belo Horizonte, 22 de
maio de 2013.
Antonio de Paiva Moura
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