domingo, 9 de junho de 2013

Ora, direis, ouvir psicólogas...

Quando vejo certas coisas ou leio, não consigo deixar de pensar nos meus 20 anos, quando, ainda universitário, acompanhava pelos jornais e pela televisão a luta das mulheres pela sua emancipação. As aguerridas mulheres dos anos 60 e 70 que lutaram e conseguiram ampliar a gama de direitos, mas que legaram às outras gerações a tarefa de continuar lutando, pois quando se fala de igualdade de gênero ainda há muito o que conquistar.
E quando entramos no novo milênio, temos pela frente as mulheres rãs, as mulheres frutas (se oferecendo para serem devoradas?) e eis que me chega este artigo da Folha de São Paulo dando conta de uma "psicóloga" dá cursos para "ensinar às mulheres como conquistar um bom partido".
É por essas e por outras que fico pensando se não teria sido melhor o mundo ter acabado em dezembro de 2012...


Mulheres aprendem a 'desmunhecar' em curso para 'atrair partidão'

MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma manhã cinza de sábado em São Paulo é um convite à preguiça, a um livro e àquela esticada na cama.
Mas só pode se dar a esse luxo quem não quiser se tornar "magnética" para conquistar um partidão, promessa do treinamento intensivo oferecido pela agência de relacionamentos Eclipse Love.
Dezenove mulheres a R$ 1.000 por cabecinha estavam lá, em uma sala da avenida Paulista, diante de um "powerpoint" que anunciava mudar suas vidas. Eram secretárias, arquitetas e psicólogas com idades entre 30 e 60 anos.
A criadora do programa, a psicóloga Eliete Amélia de Medeiros, 47, há 15 anos trabalha unindo casais e há dois abriu uma agência. Ela diz ser a primeira "heart hunter" (caçadora de corações) e chega a cobrar R$ 12 mil pelos seus serviços, que, segundo afirma, têm êxito de até 70%. Atualmente, diz, 2.500 pessoas contam com seu auxílio para ter sorte no amor.
SUTIÃ DA DISCÓRDIA
Na abertura do curso, Eliete explica que, como a Lua, as mulheres têm fases e é preciso respeitá-las. Pelo menos uma vez por mês, a mulher deve tomar um banho mais demorado e tirar um dia para apenas ingerir líquidos, cuidados que, avisa, se perderam com o tempo.

Após esse breve prólogo, dá-se início a um capítulo sobre etiqueta. Na tela está uma imagem de um sutiã em chamas. A professora diz: "Não foi nossa culpa que elas fizeram isso, mas precisamos resgatar a feminilidade e a tolerância se quisermos relacionamentos duradouros".
Nessa aula, as mulheres aprendem que não devem falar com o garçom durante um jantar romântico; que homens reparam se a pedicure está em dia e que é proibido comer muito em um primeiro encontro.
Para a psicóloga Ana Letícia Pereira, 30, o capítulo foi bastante proveitoso. Ela acredita que perdeu um partidão por ter feito um pedido diretamente para o garçom durante um jantar. "Demonstrei ser independente demais."
O que se fala à mesa também é importante: nada de tagarelar sobre trabalho. "Deixe esse assunto para eles, que já se sentem muito inferiorizados", ensina.
Um dos slides mostra que 50% das pessoas não querem parceiros acima do peso. A própria Eliete costuma rejeitar gordos em sua agência. "Sou carinhosa e assertiva, digo que se ela emagrecer aumentará seu leque de oportunidades", explica. Mas há gordos magnéticos, não?, a reportagem pergunta. "Não é o que dizem as pesquisas."
Depois de um breve curso de maquiagem --porque cara lavada é sinal de desleixo--, Eliete volta com um guia prático do magnestismo. Todas as participantes estão com caneta em punho.
A primeira regra é a pontualidade. "Qual o problema em deixar um pretendente com uma Mercedes esperando na porta da sua casa por 15 minutos?" "Todos", responde a plateia. São Paulo é uma cidade perigosa, além de ser sinal de falta de respeito, segundo as participantes.
Outro item elementar é o salto alto. "Sei que rasteirinhas e sapatilhas estão na moda, mas para atrair devemos usar salto", diz Eliete. Ela mesma não descansou um segundo do seu salto 12.
FORÇA NO REQUEBRADO
As magnéticas são maleáveis, "batem cabelo" (jogo de cabeça para os lados), quebram os pulsos (sim, desmunhecar) e movem os quadris enquanto conversam.
Quem quer relacionamentos duradouros não deve transar na primeira noite, e o homem é quem paga o primeiro jantar. Mas a magnética também pode ser ousada e ligar no dia seguinte para agradecer o passeio, diz a professora, que informa estar há um ano e meio com um novo amor, após o divórcio.
Por volta das 15h acontece o segundo momento leve do curso, com dicas de como se vestir. Lembra a regra do salto? Então, ela vale também para praia ou piscina. "Como você não usa sapato nessas ocasiões, deve andar na ponta dos pés. Além de chamar atenção e olhares, gordurinhas e celulites ficam disfarçadas", afirma Eliete. Nesse instante, ela demonstra como deve é esse andar. As alunas a seguem com o pescoço.
Para finalizar, a mestra pede que as mulheres fechem os olhos: vai começar uma técnica de relaxamento que, de quebra, promete aumentar a (estava faltando esta palavra) autoestima. Elas têm de visualizar uma "cena positiva" com o homem dos sonhos e guardar esse retrato. Depois, devem pensar numa pessoa muito especial, alguém que amem acima de tudo. Nessa hora, Eliete toca o ombro de cada uma, sinal para que abram os olhos. Um espelho está diante delas. Algumas não resistem e choram.
A bancária Milena Jorge, 35, do interior de São Paulo, foi uma. Depois de 14 anos de namoro, três de casamento e um bebê de um ano, descobriu a traição do marido em uma mensagem no celular.
Há cinco meses separada, resolveu acelerar a volta por cima. O caminho mais breve foi a agência e o curso.
"Sou caseira, não conseguiria me expor nas baladas. Tenho filho, por isso preciso de alguém que faça a primeira triagem. Vai que me deparo com um ladrão?" Se o curso fez diferença na vida dela? Absolutamente.
Naquele mesmo sábado, ela foi a um "happy hour" promovido pela agência. Conheceu um rapaz e colocou seu magnetismo à prova. Ela não era o perfil que o cara buscava --ele queria mulher sem filhos. Mas o rapaz não resistiu. No próximo fim de semana, Milena receberá o pretendente em sua cidade.
Eliete programa a versão do curso para homens no próximo semestre, com dicas de culinária, dança e enologia.

Um comentário:

  1. Um cheiro de picaretagem, discriminação (gordos), deixar o homem falar sobre trabalho no jantar ("que já se sentem muito inferiorizados").
    Que horror: "bater cabelo"(aqueles movimentos de cabeça para lá e pra cá) , desmunhecar e mover os quadris quando conversam...
    Mulheres que aceitam isso para si mesmas querem ser o que não são. e realmente falta o SENTIMENTO e não a palavra: autoestima

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