Texto escrito por José de Souza Castro:
O ano de 2017 acabou sem deixar saudades para a maioria dos brasileiros que começam a sentir os efeitos perniciosos das mudanças na legislação trabalhista, enquanto permanecem como que atordoados diante do que pode acontecer com a Previdência Social e com o destino de nossas riquezas naturais cobiçadas por governos e empresas estrangeiras. Se algo de bom surgiu, foi o início de uma reação à ditadura do Judiciário que se manifesta principalmente pela ação da Lava Jato, de pseudo combate à corrupção.
Para 2018, as forças do retrocesso se organizam para continuar o ataque à “Constituição Cidadã” de 1988 de forma a eliminar o que ainda resta de proteção social. E para derrotar mais uma vez a população nas urnas, começando pelo alijamento, com a inestimável ajuda do Judiciário, do candidato preferido nas pesquisas eleitorais, Luiz Inácio Lula da Silva.
As perspectivas são ruins para a silenciosa maioria dos brasileiros. Se nada mudar nos próximos meses, cairão no vazio as advertências, entre outras, da Frente Brasil Popular – que afirma representar 85 entidades de movimentos sindicais, sociais e populares –sobre a importância de o eleitor escolher bem os candidatos à Presidência da República, à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.
Enquanto essas entidades se manifestam, o sentimento é de algum alívio para os que, em 2018, ainda vão poder contar, para sua miserável sobrevivência, com um salário mínimo. Mesmo que ele tenha sofrido, a partir de 1º de janeiro, o menor reajuste desde 1995. Ano em que o salário mínimo no Brasil valia pouco mais de 70 dólares e o neoliberalismo a Fernando Henrique Cardoso prosperava. Um avanço interrompido brevemente com a eleição de Lula em 2002. Um presidente que, no entanto, se viu obrigado a fazer imensas concessões aos donos do dinheiro no Brasil e no exterior.
A volta plena do liberalismo, após a derrubada de Dilma Rousseff, que tentou resistir, terá a força de um tsunami. Em 1995, ainda havia algum respeito aos direitos políticos e civis, à presunção de inocência e ao devido processo legal. Perdido esse respeito, desde o processo de impeachment da presidente petista, fomos caminhando para a ditadura do Judiciário, ao livre arbítrio dos juízes.
Mas comecei o artigo dizendo da esperança que resta na reação a essa ditadura. Para quem acompanhou a história brasileira nos anos 1960, é uma esperança tênue. Naquele tempo também houve reação aos Atos Institucionais da ditadura que serviram, no entanto, para fortalecê-la mediante o aumento da brutalidade contra os que reagiam à ilegalidade.
Janio de Freitas, o mais importante colunista político da “Folha de S. Paulo”, saiu-se neste domingo, último dia de 2017, com um artigo curioso. Trecho:
“A crítica de que o Judiciário não recebeu as atenções da Lava Jato cresceu desde que o poder político do Estado do Rio se tornou alvo. Pois agora, um dos mais graúdos e mais conhecedores dos subterrâneos do seu meio, preso sem esperar complacências, revelou a amigos a disposição de abrir a cortina do Judiciário. Iniciativa que criaria na Lava Jato uma etapa diferente de tudo o que houve até aqui. A sensibilidade do Judiciário é muito maior que a dos demais poderes, não sendo necessário grande número de acusações para irradiar uma crise. Além disso, cada figura atingida, com veracidade ou não, como é do método da Lava Jato, em princípio desfruta das condições materiais para mover seus interesses em tribunais, quer dizer, é sempre alguém de notoriedade. O que inclui Brasília. Ainda no Judiciário, o confronto envolvendo o juiz Glaucenir Oliveira, de Campos (RJ), e naturalmente Gilmar Mendes, transborda esquisitices. Esse juiz, dado a incidentes, fixado em demolir Anthony e Rosinha Garotinho, surgiu nas redes em uma gravação de acusações gravíssimas e insultos muito fortes ao ministro. No que disse de mais barato, o ex-governador pagou a Gilmar pelo habeas-corpus para tirá-lo da prisão. “Uma mala grande”, diz Oliveira ter ouvido de “gente de dentro”. Versão mais do inverossímil, tanto pelo pagador como pelo recebedor.”
Convenhamos, uma reação tímida, explicável para quem, aos 85 anos de idade, conhece bem o jornal no qual trabalha desde 1980. Bem diferente dos textos desabridos de Carlos Heitor Cony no “Correio da Manhã”, logo após o golpe de 1964. Cony experimentou por um tempo as agruras da prisão e o jornal acabou fechado e sua proprietária, Niomar Moniz Sodré Bittencourt, exilada.
Hoje, aos 91 anos, Cony é também colunista da “Folha”. Seu artigo deste domingo é um bom exemplo do que a experiência e a velhice podem fazer com um excelente escritor. Tornou-se um Papai Noel. Desiludido sim, mas Papai Noel: um dos mais prósperos símbolos do capitalismo mercador das crenças alheias. (nota do blog: Cony faleceu dia 6 de janeiro)
(fonte: https://kikacastro.com.br/2018/01/01/feliz-2018-feliz/#more-14872)
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