Texto escrito por José de Souza Castro:
O
governo Temer poderia ter aprendido com o de Dilma Rousseff e evitado
essa greve de caminhoneiros, fosse mais bem informado e mais
inteligente. Idem, a esquerda e a direita, igualmente ignorantes. Isso
ficou claro para mim, após dias de indecisão, ao ler na noite de sábado artigo do último ministro da Justiça no governo petista, Eugênio Aragão.
Ambos
os governos se informaram pela Abin, que, no dizer de Aragão, deveria
ser conhecida como Abig (Agência Brasileira de Ignorância). Para
começar, por ser o único serviço secreto do mundo “cujos agentes são
recrutados por concurso público e têm seus nomes arrolados no Diário
Oficial da União”.
Quem
tem Abin, diz o ex-ministro da Justiça, não precisa da CIA para ser
engabelado. A Abin, esclarece Aragão, “não se destina à coleta
conspirativa de dados essenciais à tomada de decisões estratégicas, mas a
facilitar o serviço de conspiradores contra os interesses estratégicos
da sociedade brasileira. Afinal, não se presta nem para recortar jornais
de três semanas atrás!”.
Parêntesis:
quem precisa de uma Abin, se pode se informar pela TV Globo e pela
Globo News em tempo integral? Se a questão é ser engabelado...
O artigo de Aragão tem esse título: “A Esquerda não entende os caminhoneiros!”. Tentemos entendê-los, pois.
Há
dois tipos de transportes rodoviários de carga no Brasil, escreve
Aragão. Um oferecido por grandes empresários que faturam e pagam suas
obrigações com prazos mais largos, têm capital de giro e geralmente
diversificam seus investimentos. São capitalistas e amigos dos
golpistas.
Aqueles mesmos que, eu suspeito, fecharam o acordo com Temer para pôr fim ao locaute.
Outro
tipo de transporte é levado a efeito por pequenos fretistas que se
oferecem às indústrias e ao comércio para transportar cargas, recebendo
por viagem, assumindo os custos de sua atividade e os riscos inerentes à
precariedade de nossa infraestrutura logística. Têm que cobrir o preço
do combustível, do pedágio, entre outros, com parte da féria ganha.
“Cumprem
itinerários e prazos rígidos que lhes são impostos por contratantes e
não dispõem de flexibilidade financeira. O dinheiro que recebem é no
mais das vezes de preço fixo e gasto em boa parte no período de descanso
obrigatório e inevitável entre um frete e outro, ou no retorno sem
carga. Devem horrores às financeiras e vivem na estreita greta de sua
(in)viabilidade econômica. Longe de suas famílias, passam dias e noites
dirigindo seus caminhões, mantendo-se acordados com uso de rebites e
altas doses de cafeína, seja na forma de chimarrão ou de cafezinho
requentado em garrafa térmica”, descreve Aragão.
Esses pobres coitados, leio aqui,
fizeram em 2015 duas greves. Na primeira, em fevereiro, pediam redução
do preço do diesel e do pedágio, tabelamento do frete e mudança na
legislação. Depois de duas semanas de paralisação, arrancaram de Dilma a
Lei dos Caminhoneiros, que beneficiou mais o primeiro tipo de
transporte – o dos grandes grupos.
Em
novembro, num movimento convocado via redes sociais, pararam novamente,
mas desta vez a principal reivindicação era de se fazer o impeachment
da presidente reeleita em 2014.
Taí uma razão para que, agora, a esquerda não entenda os caminhoneiros...
Estes
também não se entendem. Não compreendem que “caminhoneiros individuais
são uma grande massa de empreendedores proletarizados numa economia de
consumo de escala que busca crescente eficiência através da negação dos
direitos dos mais vulneráveis da cadeia produtiva”, como percebe Aragão.
“Muitos foram expulsos do mercado de trabalho e acreditaram que
sobreviveriam num nicho de razoável, ainda que modesto custo-benefício.
Enganaram-se redondamente. Com o decréscimo da atividade econômica a
partir de 2014, muitos ficaram ao relento, sem frete. Não tinham margem
para assumir a desaceleração da demanda”, completa.
E avança:
“Com
a redução do frete e a disponibilidade enorme de caminhões ociosos,
empresários contratantes resolveram repassar suas perdas para o setor de
cargas individuais, mais vulnerável, e reduziram o valor da féria. Era
aceitar ou largar. Viagens antes pagas por 8 mil reais, passaram a
oferecer apenas 5 ou 6 mil, na cartelização usual da demanda de
transporte rodoviário. Só que os custos da atividade transportadora não
diminuíram. Pelo contrário. O governo, insensível para com as
necessidades do setor, liberou o preço do combustível na refinaria e na
bomba, bem como autorizou aumentos é mais aumentos do pedágio
rodoviário.”
E deu no que deu!
A
esquerda: o ministro que antecedeu Aragão na Justiça, José Eduardo
Cardozo, determinou, durante a paralisação de novembro de 2015, a
aplicação de multa de R$ 1.915,00 ao caminhoneiro que participasse de
bloqueio nas rodovias! A direita: que venham o Exército e o Bolsonaro!
(fonte: blog da Kika Castro)
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