Texto escrito por José de Souza Castro:
Aposto
que nenhum assunto mereceu mais atenção no Brasil, nesta sexta-feira,
do que a demissão de Pedro Parente da presidência da Petrobras. O
coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, José Maria Rangel,
líder da última greve nas refinarias, classificou a saída de Parente
como uma vitória.
A nota da FUP,
divulgada à tarde, quando a cotação das ações da Petrobrás caía 20% na
Bovespa, não será capaz de alterar a narrativa das televisões, rádios e
jornais de que Pedro Parente caiu por suas virtudes. Para Rangel, porém,
o ex-presidente da maior estatal brasileira vai entrar para a história
como um péssimo gestor. “Aquele que fez os brasileiros ficarem sem
gasolina, sem energia elétrica, sem mantimentos. Ele não merece nem
sequer passar mais na porta da Petrobras”, disse o coordenador-geral da
FUP.
Não vou repetir o que penso de Pedro Parente. Escrevi sobre ele várias vezes neste blog.
Seus
atos e palavras falam por si. Tenho que reconhecer que é esperto. Ao
sentir que seu barco ia virar, tratou de se ajeitar. Escreveu Raquel
Landim aqui:
“Depois
de deixar a Petrobras, Pedro Parente pode ser o novo
presidente-executivo da BRF, gigante de alimentos resultado da fusão de
Sadia e Perdigão. Parente assumiu recentemente o comando do conselho de
administração da empresa no lugar do empresário Abilio Diniz, e é grande
a torcida dentro da BRF para que ele passe para a
presidência-executiva, cargo que hoje está vago.”
A
repórter especial da “Folha de S.Paulo” diz ainda que Parente vem
promovendo uma reestruturação no comando da BRF, “que atravessa
uma forte crise, após seguidos prejuízos e as acusações de fraude
da Operação Carne Fraca”.
Pois
é: a Lava Jato serviu para que Parente conseguisse uma rica boquinha na
estatal e, agora, presumivelmente, na BRF. Há algo de cínico,
parece-me, quando ele escreve em sua carta de renúncia entregue de manhã
a Temer, referindo-se à greve dos caminhoneiros e petroleiros:
“Sempre
procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de
tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a
cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas
sejam discutidas”.
Que
alternativas? Ele não esclarece. Segundo a carta, porém, são
“alternativas que o governo tem pela frente”. Será que poderá mudar a
política de preços? Ou acabar com as privatizações na Petrobras, como
querem os petroleiros?
Se
depender de Parente (e dos homens mais poderosos do planeta), nada
muda, pois a Petrobras, garantiu ele a Temer, “é hoje uma empresa com
reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores
empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como
demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória
de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de
fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando
empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de
capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me
parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras
estão lançadas”.
A
tal “conversa inicial” foi entre ele e Michel Temer, em maio de 2016,
logo que este assumiu o lugar de Dilma Rousseff. Parente, por sua vez,
entrou no lugar de Aldemir Bendine, o último presidente da estatal
nomeado no governo petista em fevereiro de 2015 e que está preso desde
julho de 2017. Portanto, preso oito meses antes de ser condenado a 11
anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, o herói da Lava Jato.
Será
que algo parecido está reservado a Pedro Parente por causa, por
exemplo, da venda a preço de banana de valiosos ativos da Petrobrás?
(Isso também não é corrupção?) Tenho minhas dúvidas a respeito. Mesmo se
o barco virar de todo, a Marinha dos Estados Unidos – sua Quarta Frota,
posicionada no Atlântico Sul logo depois da descoberta do Pré-Sal –
está aí para não deixar que pessoas como Pedro Parente, acusadas de
entreguistas das riquezas brasileiras, sejam castigadas.
E para que o que ele vendeu tão generosamente seja recuperado para os brasileiros.
A história tem demonstrado que, uma vez dos Estados Unidos, ninguém tasca!
Antes
de terminar, convém contrapor uma opinião ao que Parente faz de sua
gestão à frente da Petrobras. Recorro-me à nota da Comissão Executiva
Nacional do PT, divulgada à tarde. Ao balanço:
“Em
dois anos de governo golpista, perdemos a soberania da Petrobras sobre
as reservas do pré-sal, que estão sendo vendidas a preços irrisórios. As
sondas e plataformas voltaram a ser importadas (e com isenção de
impostos!), destruindo o que restou da nossa indústria naval. Puseram à
venda a Liquigás, que distribui gás de cozinha a preços justos, e a BR
Distribuidora. Anunciaram a venda de nossas refinarias, resultado de
mais de 50 anos de investimentos.
Sob
a direção de Parente, as refinarias brasileiras reduziram a produção em
30%, abrindo nosso imenso mercado para os estrangeiros, que ganharam
ainda uma criminosa isenção de impostos sobre importação do diesel. As
importações de óleo diesel dos Estados Unidos passaram de 41% do consumo
interno para 82%. Essa política antinacional produziu 229 aumentos dos
combustíveis em 24 meses, contra 16 reajustes em 12 anos de governos do
PT.
Parente
fez manobras contábeis e divulgou balanços mentirosos para aumentar os
lucros dos acionistas privados e desvalorizar o patrimônio da Petrobras.
A Rede Globo e os grandes jornais censuram essas denúncias que vêm
sendo feitas corajosamente pela Federação Única dos Petroleiros e seus
sindicatos. São os trabalhadores que historicamente defendem a
Petrobras.”
E
tudo isso parece fadado a continuar. No começo da noite, Temer anunciou
o nome do novo presidente, Ivan Monteiro, acrescentando: “Não haverá
qualquer interferência na política de preços da companhia. Ivan Monteiro
é a garantia de que este rumo permanece inalterado”.
Ele
era vice-presidente do Banco do Brasil quando Aldemir Bendine era
presidente. Aceitou seu convite para ser o diretor executivo da Área
Financeira e de Relacionamento com Investidores da Petrobras e foi
mantido nesse cargo por Parente. Ivan Monteiro deve manter em seus
cargos todos os diretores.
E la nave vá...
(fonte: blog da Kika Castro)
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