Do blog do Rodrigo Vianna e que já está sendo republicado por outros, como o DoLaDoDeLá, de onde tirei para tentar alcançar mais leitores.
Posted: 30 Jun 2013 06:36 AM PDT
por Rodrigo Vianna
Ninguém acha que é possível dirigir o Brasil como se fosse um grêmio estudantil ou uma associação de moradores.
Quem dirige o país, no Executivo, não pode tudo. Há que se respeitar a famosa “correlação de forças”. Isso é evidente.
Mas
é evidente também que aqueles que ocupam o centro do governo (ainda
mais se representam forças que historicamente lutaram por mudanças
estruturais do Brasil) têm a obrigação de lutar para que a correlação de
forças se altere e permita mais e mais reformas.
O
governo Dilma, nesse sentido, é um equívoco completo. Concentrada em
derrubar os juros e enfrentar os setores financeiros (associados ao
monopólio midiático e à classe média tradicional, esses setores compõem o
principal núcleo opositor ao governo petista), Dilma abriu mão de
qualquer mexida na Comunicação. Abriu mão de disputar hegemonia e de
lutar para mudar a correlação de forças. Nessa e em outras áreas.
A
“Ley de Medios” foi enterrada. Bernardo (amigo das teles) e Helena
(amigona da Globo) mandaram recados: tudo deve ficar como está na área
da Comunicação. Dilma começou o governo preparando omeletes na Ana Maria
Braga. Foi ao convescote da família Frias (dona da Folha) e ainda
lançou a frase brilhante: “controle da Comunicação só se for o controle
remoto”.
Agora,
está aí o resultado. A velha mídia transformou as manifestações de rua
(que eram contra aumento de ônibus e contra a violência policial) numa
grande “festa cívica” cujo alvo era (e é) Dilma. A pesquisa DataFolha
(por mais que desconfiemos do instituto da família Frias) é a
demonstração de que a mídia quebrou os ovos e prepara-se pra transformar
o governo Dilma num omelete: bom/ótimo recuaram de 57% para 30%.
Sinto-me
à vontade para falar porque comentei nesse mesmo tom quando Dilma
tinha 70% ou 80% de popularidade. Naquele tempo, trancada no palácio com
marqueteiros e ministros medrosos, Dilma acreditou (?!) que tudo era
uma questão de “gestão técnica”.
Aqui trecho do que escrevi em setembro de 2012, em “A Ilusão de um acordo com a mídia”:
A turma que cuida da Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da Globo e da Abril, a outra quer garantir empregos na Globo e Abril quando terminar o mandato.Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista está ressabiada. A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará mais fácil derrotar Dilma logo à frente.A presidente, pessimamente aconselhada na área de Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.
O primeiro texto sobre a escolha “centrista” de Dilma escrevi em fevereiro de 2011, logo que o governo começou. PT rumo ao centro e oposição na UTI:
Dilma capturou a simpatia (real? duradoura?) de setores da mídia que estiveram fechados com Serra durante a campanha. Faz o mesmo em relação à política internacional (menos “terceiro-mundista” do que Lula, como comemora a “Folha” em editorial nessa sexta-feira). E já há sinais de que o governo pode abandonar a proximidade estratégica que mantinha com movimentos como o MST.
As
Rebeliões de Junho – ainda sem um desfecho claro – colocam Dilma e esse
PT dominado pelo pragmatismo numa encruzilhada. Os tempos dos acertos
de bastidor acabaram. A era dos Vacareza e Bernardos já era. Agora,
é guerra aberta. E a disputa está nas ruas.
Sob
a batuta da velha mídia, que pauta ruas e redes dominadas pela classe
média, o Plebiscito da Dilma pode levar à vitória de bandeiras que
interessam aos conservadores: voto distrital e rejeição do financiamento
público de campanha. Podem apostar: Globo, Veja e classe média vão
berrar nas telas e nas ruas que voto em lista e financiamento público
são chavismo!
Dilma fará o que? Vai preparar um omelete com Ana Maria? Vai mandar o Bernardo falar na Veja?
Helena
e Bernardo são os condutores de uma política que inundou com dinheiro
público a empresa de comunicação que é acusada de sonegação milionária.
Mesma empresa que, se pudesse, transformaria Dilma e Lula em dois
omeletes.
A
atual conjuntura mostra um governo relativamente fragilizado. Verdade
que governadores tucanos e lideranças como Aécio não parecem ser a
alternativa em 2014. Mas há outras. O conservadorismo é matreiro. E
conta com aliados fortes no campo internacional. Os Estados Unidos estão
loucos para botar o Brasil no velho trilho.
Se
o país caminhar para a confrontação e abrir-se uma temporada de “caça
ao lulismo”, Serra vem aí. Podem apostar. Ele é o “anti-Lula”.
Desgastado, sem apoio interno no PSDB – mas com bons amigos na mídia,
nos bancos e no exterior – obteve 45% dos votos.
Do
outro lado, há Lula e um patrimônio político ainda importante. Mas vai
falar através de quais canais? Qual controle remoto Dilma e Lula
pretendem usar agora?
Para
a esquerda, não há saída a não ser a radicalização do quadro político.
Isso não significa jogar ao mar o “centro”. Mas significa ter disposição
para luta aberta. É preciso isolar a direita e o conservadorismo.
Paralisada e apegada às tentativas de acordos, Dilma será engolida pelos
“profissionais”. Se o governo e o lulismo sairem da toca para o
confronto, correm também risco de derrota. Mas não há outra escolha.
Inação e acordos de gabinete = derrota certa da centro-esquerda em 2014.
Mobilização e Política com “P” maiúsculo = uma chance para nova vitória da esquerda em 2014.
Essa
nova vitória, se vier, terá que ser fruto de um novo acordo de forças,
que reflita o novo momento do país. Será outra esquerda, com outra
composição. Outro governo. É preciso lançar ao mar as Helenas, os
Bernardos e os gatos gordos do petismo.
Os
tempos são outros. Não está escrito em lugar nenhum (muito menos
nessa pesquisa do DataFolha) que o lulismo estará derrotado em 2014.
Mas, para ganhar, terá que ser outro lulismo. E terá que ser outra
a esquerda.
A direita, meus amigos, vem babando. E ela não costuma fazer omeletes na cozinha do inimigo quando ganha a parada.
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