Reproduzindo do blog do Rodrigo Vianna, via DoLaDoDeLa.
Posted: 07 Jul 2013 06:13 PM PDT
por Rodrigo Vianna
Conversei
com duas fontes importantes, que trouxeram esclarecimentos sobre o
episódio da sonegação de impostos da Globo, denunciada pelo blog “O Cafezinho” de Miguel do Rosário.
Uma
das fontes é um ex-funcionário público (que conhece bem instituições
como a Receita Federal e o Ministério Público no estado do Rio). Esse
homem é o mesmo que Miguel do Rosário tem chamado de “garganta
profunda”. Por isso, também o chamaremos assim nesse texto. A segunda
fonte (será chamada aqui de “fonte 2″) é uma pessoa que esteve no
governo federal (funcionário de carreira), nunca exerceu cargos
eletivos, mas sabe muito sobre os bastidores do poder – e suas
intercessões com o mundo das finanças e da mídia. Seguem abaixo as
informações que recebi dos dois. O texto é longo, mas peço atenção
porque trata de assunto gravíssimo.
1 - O blog “O Cafezinho” publicou apenas 12 páginas de uma imensa investigação contra a Globo.
Onde está o processo original? Onde estão as centenas de páginas até
agora não reveladas? Um mistério. O “garganta profunda” garante que funcionários
da Receita Federal no Rio estariam “em pânico” (são palavras dele)
porque o processo contra a Globo simplesmente sumiu! Sim. O processo não foi digitalizado, só existe em papel. O deputado Protógenes Queiroz (que pretende abrir uma CPI para investigar a Globo) também considera “estranho” que não haja “back-up” da investigação.
“Mas como um processo some desse jeito?” pergunto incrédulo. E o “garganta profunda” responde com um sorriso: “há
advogados especializados nisso, e às vezes o sumiço físico de um
processo é a única forma de evitar danos maiores quando se enfrenta uma
investigação como essa contra a Globo”. Insisto: “mas quem teria pago pro processo desaparecer?”. E o “garganta profunda” responde com um sorriso apenas.
2
– Importante compreender que, na verdade, há uma investigação contra a
Globo que se desdobra em dois processos. Tudo começa com o ”Processo Administrativo Fiscal” de número 18471.000858/2006-97 , conduzido
pelo auditor fiscal Alberto Sodré Zile; era a investigação propriamente
tributária, no decorrer da qual descobriu-se a (suposta) conta da Globo
em paraíso fiscal e a sonegação milionária. Ao terminar a investigação,
no segundo semestre de 2006, Zile constatou “Crime contra a Ordem
Tributária” e por isso pediu a abertura de uma“Representação Fiscal para Fins Penais” (ou seja: investigação criminal contra os donos da Globo) que recebeu o número 18471.001126/2006-14.
3 - Um dos indícios de que há algo errado com os dois processos contra a Globo surge quando realizamos a consulta ao site ”COMPROT” (qualquer cidadão pode entrar no site“COMPROT” do Ministério da Fazenda e fazer a consulta – digitando os números que reproduzi no item acima). Ao fazê-lo, aparecem na tela as seguintes informações:
“MOVIMENTADO EM: 29/12/2006″
“SITUAÇÃO: EM TRÂNSITO”.
4 – Um processo (ou dois!!!) pode ficar ”em trânsito” durante seis anos e meio? Isso não existe. Onde foi parar o processo? Entrou
em licença médica? Repousa em algum escaninho? Viajou para as Ilhas
Virgens Britânicas? Ou desapareceu no buraco negro que parece unir o
Jardim Botânico ao Planalto Central?
A “fonte 2″ esclarece que a investigação deveria ter seguido dois caminhos:
- a Globo poderia continuar discutindo o imposto devido nas instâncias administrativas da Receita (para isso, teria que pagar o valor original e discutir a multa);
- o Ministério Público Federal no Rio deveria
ter iniciado uma investigação dos aspectos criminais (esse era o
caminho depois da “Representação Fiscal para Fins Penais” apresentada
pelo auditor Zile).
5 - Se a Globo tivesse feito recursos administrativos na Receita, isso deveria constar no site “COMPROT”. Mas a última movimentação é de 29/12/2006 – como qualquer cidadão pode confirmar realizando a consulta. O que se passou? Onde está o processo? O “garganta profunda” garante: “o processo teria sido sido retirado do escritório da Receita do Rio, desviado de forma subterrânea”. Essa informação, evidentemente, ainda precisa ser confirmada.
6
– Se o processo original sumiu, como se explica que Miguel do Rosário
tenha obtido as 12 páginas já publicadas em “O Cafezinho”? Aí está outra
parte do segredo e que vamos esclarecer agora: um homem – não
identificado - teria conseguido preservar o processo original (e feito
pelo menos mais uma cópia, na íntegra, para se proteger). As 12 páginas seriam, portanto, “só um aperitivo do que pode vir por aí”, garante o “garganta profunda”.
7
– O que mais há no processo? Detalhes sobre contas em paraísos
fiscais, e os nomes dos donos da Globo associados a essas contas, além
de muitos outros detalhes – diz o “garganta profunda”, único a
manter contato permanente com o homem que hoje possuiria o processo na
íntegra. Seriam provas avassaladoras, “com nome, endereço e tudo o mais”. Em suma: uma bomba atômica contra a Globo.
8 – Abrimos aqui um parêntesis. A “fonte 2″ garante-me que em 2003 a família Marinho procurou o governo Lula para pedir ajuda. A Globo estava a ponto de quebrar (graças
às barbeiragens com a GloboCabo, que contraiu dívidas em dólar e viu
essa dívida se multiplicar por quatro depois da desvalorização do Real
em 98/99, no governo FHC). Algumas pessoas no entorno de Lula
chegaram a sugerir que o governo emitisse “debêntures” para salvar a
Globo. Na prática, isso poderia dar ao governo o controle da Globo. “Seria uma forma suave de, na prática, estatizar a Globo”, garante-me a “fonte 2″. Por que não foi feito? “Eram
todos marinheiros de primeira viagem no governo, faltou confiança e
convicção para adotar essa medida, que teria sido a mais adequada para o
país“, diz a “fonte 2″ – que acompanhou toda a negociação de perto. Ele conta que a
família Marinho ficou contrariada com essa idéia, que chegou a ser
levada à mesa por integrantes do governo Lula, mas a Globo estava tão
desesperada que cogitou até aceitar essa saída pra não quebrar. Lula, no
entanto, optou pela saída convencional: a Globo conseguiu empréstimos (inclusive no BNDES), e alongou a dívida. A família Marinho manteve seu império intacto.
9 – Ainda pressionada
por essa dívida principal, a família Marinho recebeu notícia da
investigação fiscal, promovida pelo auditor Zile. A Globo pediu
socorro ao governo. Isso deve ter ocorrido entre 2003 e 2004, diz a “fonte 2″. A ordem de Lula teria sido: “não vamos intervir, os auditores têm autonomia funcional e devem fazer o trabalho deles”.
10
– A partir de então (e apesar da “ajuda” do governo para equacionar a
dívida principal originada pelas barbeiragens na Globocabo), a família
Marinho teria declarado guerra. Isso explicaria a cobertura global na
CPI do Mensalão, sob a batuta de Ali Kamel, em 2005. Essa é a tese da “fonte 2″, embasada nesses fatos só agora revelados.
11
– O processo por sonegação (conduzido pelo auditor Alberto Sodré Zile)
foi concluído às vésperas da eleição de 2006, quando a Globo de novo
apontou as baterias contra Lula. Acompanhei tudo isso de perto, eu
estava na Globo na época. Claramente, a temperatura contra o governo
subiu no último mês antes do primeiro turno (ocorrido em outubro de
2006). O auditor Zile concluiu a investigação em setembro de 2006. A
família Marinho queria que a investigação sobre sonegação fosse
interrompida de qualquer forma. Não tanto pelos valores, mas porque a
revelação de contas em paraísos fiscais seria devastadora.
12 – Entre o primeiro e o segundo turnos da eleição de 2006, houve algum acordo entre a Globo e o governo Lula? A
cobertura global da eleição mudou completamente no segundo turno,
tornando-se mais “suave”. Em novembro de 2006, um colega que também era
repórter da Globo e que mantinha bons contatos com Marcio Thomaz Bastos
(então Ministro da Justiça de Lula) disse-me: “Rodrigo, agora eles sentaram pra conversar, o governo e os Marinho“. Não
se sabe ao certo o que foi colocado na mesa para a tal conversa. O que
se sabe é que, coincidentemente, desde dezembro de 2006 a investigação
por sonegação segue “em trânsito.”
13 – A divulgação das doze páginas pelo Cafezinho” pegou a Globo de surpresa. Reparem como a nota oficial da emissora é confusa e contraditória.
A Globo fala que não há imposto a pagar, mas reconhece que discute
algumas cobranças, sim. E não faz qualquer menção à conta nas Ilhas
Virgens. É um ziguezague. Procedimento típico de quem não sabe o que o
“outro lado” possui de munição. A Globo torce para que o resto do
processo não apareça. Sobram várias perguntas…
14 – O homem que está com o processo na mão estaria disposto a revelar todo o conteúdo? Por que não o fez até agora?
15 – O MPF
(Ministério Público Federal) vai esclarecer por que não seguiu a
investigar a Globo, conforme sugeriu o auditor Alberto Sodré Zile em sua
“Representação Fiscal para Fins Penais”? Cabe aos blogueiros e
ao Centro Barão de Itararé fazer essa pergunta diretamente ao MPF.
Aliás, nessa quarta-feira, dia 10, às 11h, o Barão e outras entidades
irão para a porta do MPF no Rio (rua Nilo Peçanha, 31 – centro), levando
a singela pergunta: “MPF, por que você não investiga a fraude da Rede
Globo?”. Gurgel pode dar a resposta…
16 – A Receita Federal alega
que não pode dar mais detalhes sobre a investigação, já que esta
estaria protegida por sigilo fiscal. Ok. Mas a Receita pode – e deve – esclarecer o que foi feito dos processos. E por que eles constam como “em trânsito” na página “COMPROT” do Ministério da Fazenda.
17 - Por último, seria bom esclarecer se houve, de fato, algum acordo entre Lula e Globo em 2006. E
por que ele teria sido rompido depois – com a evidente tomada de
posição da emissora carioca em favor de Serra na eleição de 2010?
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