segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Black Blocs, cobrir o rosto é o de menos

Nesses protestos que marcaram os últimos meses, chamou sempre a atenção os grupos que aparecem de máscaras ou que encontram alguma forma de esconder o rosto. Caetano Veloso disse que impedir que as pessoas usem máscaras é ditatorial, ou algo parecido. Interessante é que, na época em que Caetano tinha a idade desses jovens de hoje, os protestos se faziam de cara limpa, por mais repressiva fosse a reação da ditadura de então.
Não sei se por influência do cinema e da televisão, eu sempre vi dois tipos de mascarados: os bandidos que não queriam, por motivos óbvios, serem reconhecidos, e os policiais dos grupos anti-sequestros ou anti-terrorismo, que não podiam, por motivos óbvios, serem reconhecidos.
O Maringoni publicou hoje, no VioMundo, este pequeno texto que eu considerei muito pertinente. Não há que se pensar que ele esteja ao lado da mídia que só mostra os mascarados como os "vândalos" da atualidade. Interessante: os vândalos originais, que ajudaram a derrubar o Império Romano, não usavam máscaras...


Black Blocs, cobrir o rosto é o de menos

por Gilberto Maringoni
A esquerda não pode, em hipótese alguma, ser condescendente com as ações dos Black Blocs.
Assim como é imperativa a condenação da violência policial, deve-se igualmente negar qualquer aprovação a táticas individualistas, desagregadoras e isolacionistas de grupelhos que se valem de manifestações para desatar sua bílis colérica sobre orelhões, lixeiras e vitrines de lojas.
Qual o programa dito radical dos Black Blocs?
Nenhum, pois os Black Blocs não são radicais. Fazem ações epidérmicas, levianas e superficiais.
Radical quer dizer ir à raiz das questões. Qual a radicalidade de se juntar meia dúzia de garotos hidrófobos e depredar a fachada de um banco? Em que isso penaliza o sistema financeiro?
Baixar em um ponto as taxas de juros é algo muito mais eficiente e danoso à especulação do que as travessuras de meninos e meninas pretensamente rebeldes que cobrem os rostos para parecerem malvados ou misteriosos.
Aliás, qual a finalidade de máscaras e rostos ocultos, além do desejo infantil de um dia ser Batman, Zorro ou National Kid e sair por aí saltando sobre prédios e vivendo aventuras espetaculares? De se ter uma identidade secreta, na qual de dia enfrenta-se uma vidinha besta e à noite, na calada, devolve-se anonimamente à sociedade o mal que se esconde nos corações humanos, como dizia o Sombra em voz gutural?
O pior é que as peripécias dos blocos de blaques isolam os protestos da população que a eles poderia aderir e reduz o ímpeto das mobilizações à idéia de baderna pura e simples. Que acaba sendo complementar à violência policial. Ambas se justificam e se explicam.
Trotsky tem um texto admirável chamado “Porque os marxistas se opõem ao terrorismo individual”, escrito em 1911 e que está no link do pé da página. Ali, o revolucionário russo opõe a consequente manifestação coletiva a ações estrepitosas de poucos indivíduos tomados de fúria aleatória.
O seguinte trecho tem a precisão de um compasso:
Para nós o terror individual é inadmissível precisamente porque apequena o papel das massas em sua própria consciência, as faz aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o grande vingador e libertador que algum dia virá cumprir sua missão.
E mais adiante, completa:
Nos opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não nos satisfaz.
Os Black Blocs têm uma ação deletéria. Acabam justificando a violência policial para um grande número de potenciais participantes de mobilizações de protesto. Exacerbam o reacionarismo existente na sociedade e transformam movimentos sociais em sinônimo de vandalismo. Animam pit bulls existentes nos aparelhos de segurança, como o boçal que atende pelo nome de capitão Bruno, da tropa de choque de Brasília.
Os Black Blocs não organizam nada, não querem nada.
E podem fazer com que manifestações maciças virem nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário