O texto é do Alberto Dines, nome mais do que conhecido. Os grifos são meus, reforçando o que eu já tinha dito em matéria publicada anteriormente. O artigo é do Observatório da Imprensa.
A entrevista-voto do jurista Ives Gandra Martins na Folha de S.Paulo de domingo (22/9, pág. A-10) é extremamente didática, corajosa e deve ter funcionando como um bálsamo animador para o ex-ministro José Dirceu e outros réus da Ação Penal 470. Ao afirmar que o ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil foi condenado sem provas, o causídico admite que isso servirá de advertência aos políticos corruptos porém ao mesmo tempo criará “monumental insegurança jurídica’.
Nos últimos 13 meses não foi a primeira condenação veiculada pela imprensa da doutrina do domínio do fato. Mas pode ser considerada como a mais contundente. Ou destacada. Não apenas por que a grande imprensa endossou sem restrições o domínio do fato em detrimento do até então inabalável preceito in dubio pro reo, mas porque em função dessa opção raras foram as ocasiões em que algum jornalão a destacou de forma tão natural e, digamos, pluralista.
Logo no início da entrevista a repórter-colunista revela que o parecer não foi emitido “por um fiel petista”, mas por alguém que se situa no polo oposto do espectro político. E, para validar a importância do entrevistado, cita o número de obras publicadas – algumas em parceria com ministros do STF – e seus títulos (professor emérito da Universidade Mackenzie e instrutor das mais altas instituições militares de ensino).
Não incluiu no currículo o fato de que Ives Gandra Martins é a mais alta autoridade secular do Opus Dei no Brasil. Certamente foi impedida. Figura querida da Folha, frequentador assíduo da página 3 (seção “Tendências/Debates”), o jurista sempre é apresentado de forma insuficiente, sem um atributo que sob o ponto de vista jornalístico é essencial.
Mais luz
O Opus Dei não é uma prelazia como as demais, é uma formidável organização política baseada em Navarra, Espanha, com poderosas ramificações em Portugal, Brasil e demais países das Américas. Sua penetração não ocorre apenas nas altas finanças, mas principalmente na imprensa.
Uma consultoria ligada à prelazia durante anos esteve ligada à Associação Nacional de Jornais (ANJ), foi responsável por uma série de mudanças no Estado de S.Paulo e o seu jornalista mais conhecido, Carlos Alberto Di Franco, é colaborador fixo do mesmo Estadão e do Globo. Na homepage do Opus Dei não constam seus responsáveis seculares. Nem suas conexões com a Universidade de Navarra, seu celeiro de recursos e talentos.
Qual a razão do secretismo?
O Vaticano, sob a inspiração do papa Francisco, ganha transparência e vitalidade. A CNBB é uma entidade tradicional, respeitável e respeitada (sobretudo no tocante ao passado de lutas pelos direitos humanos). A maçonaria era uma confraria secreta para defender-se da perseguição movida pela Santa Inquisição e mais modernamente pelos governos fascistas. Saída da clandestinidade a partir do século 19, é hoje uma referência histórica.
A Obra, Opus Dei, esconde-se de que e de quem? Se a sua figura máxima no Brasil envolve-se nas sombras do anonimato não caberia à imprensa jogar alguma luz sobre suas beneméritas atividades? Ao menos para que o ex-ministro José Dirceu possa agradecer formalmente a bravura do seu chefe.
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