Texto escrito por José de Souza Castro:
A Petrobras vem oferecendo extraordinário reforço de caixa à TV
Globo, principalmente, com suas campanhas publicitárias. O anjo da
guarda dos comerciais feitos pela agência de publicidade NBS, mais do
que proteger a rede de postos de combustíveis e os consumidores, está
amparando veículos de comunicação de massa numa época de retração do
mercado publicitário brasileiro.
A outra campanha, criada pela Heads, ao afirmar que “a Petrobras
mudou e está seguindo em frente”, é tapa na cara de quem leu a “Carta
aberta à Sociedade Brasileira sobre a desintegração da Petrobrás”, que
acaba de ser divulgada pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás
(Aepet). Sim, Petrobrás, com acento. A Aepet, pelo visto, ainda não se
conformou com a retirada do acento agudo, feito no governo Fernando
Henrique Cardoso. Talvez, como consolo ao presidente de então, por não
ter podido mudar o nome da estatal para Petrobrax, para que ele soasse
melhor aos ouvidos estrangeiros a quem o governo tucano queria
privatizar toda a empresa, como fez com a Companhia Vale do Rio Doce, na
bacia das almas. O governo Temer vai vendendo aos pedaços, mas também
na mesma bacia.
O anjo da guarda certamente não conseguiu proteger o posto Petrobras
que há anos funciona em frente ao restaurante Roda D’Água, em Juatuba, a
40 quilômetros de Belo Horizonte. Neste fim de semana, ele estava
operando sem bandeira de distribuidora. Não sei o motivo. Se for
retração das vendas de combustível, deve piorar com o último reajuste
feito pela Petrobras.
Não sei também quanto a Petrobras está gastando em publicidade, para
nos enganar, diante do rápido declínio da empresa – e do governo Temer.
A Petrobras parece que não se acha obrigada a dar tal informação. A
última vez que informou sobre investimentos em publicidade, pelo que
verifiquei no Google, foi em março de 2015, quando ela se viu obrigada a
tirar do ar a campanha “Superação”, criada para tentar reverter a crise
de imagem desencadeada pela Operação Lava Jato.
Dilma ainda estava no governo. Um de seus adversários, o deputado
José Carlos Aleluia, do DEM baiano, reclamou junto ao Conselho Nacional
de Autorregulamentação Publicitária (Conar), pedindo mudança na
campanha. O Conar deliberou notificar a empresa, que decidiu cancelar a
campanha. Na época, informou-se que a Gerência de Comunicação
Institucional da Petrobras contou em 2013 com orçamento de cerca de R$
1,2 bilhão para patrocínios, contratos de publicidade, atendimento a
imprensa e planejamento institucional da marca.
Essa fonte valiosa de dinheiro para alguns setores empresariais
privilegiados, como o Grupo Globo, pode secar na mesma rapidez com que a
Petrobras se desintegra. E o Brasil com ela.
Vamos ao que diz a carta aberta da Aepet, que pode ser lida na íntegra AQUI.
A atual direção da Petrobras, presidida por Pedro Parente, sobre o qual escrevi em maio de 2016,
transformou “lucros em prejuízos com a desvalorização de seus ativos,
preparando o caminho para as privatizações e desintegração da companhia;
interrompeu uma série histórica de 22 anos de reposição de reservas
(aumento de reservas superior à produção); entregou o mercado de
combustíveis aos concorrentes, por meio da política de preços, ao
possibilitar o aumento das importações em 41% em um ano, onerando as
contas do país e operando nossas refinarias a 77% da capacidade, contra
98% em 2013”.
Afirma a Aepet que a Petrobras não precisa vender ativos para reduzir
seu nível de endividamento. “Ao contrário, na medida em que vende
ativos ela reduz sua capacidade de pagamento da dívida no médio prazo e
desestrutura sua cadeia produtiva, em prejuízo à geração futura de
caixa, além de assumir riscos empresariais desnecessários. A alienação
de ativos é uma escolha política e empresarial, e revelamos que ela é
desnecessária”, diz.
A redução da dívida pela simples apreciação do real, acrescenta, “é
37% maior do que a Petrobrás planeja arrecadar com as privatizações que
nos próximos dois anos devem somar US$ 19,5 bilhões, por meio de
crescentes parcerias na área de Exploração e Produção, além de Refino,
Transporte, Logística, Distribuição e Comercialização. Em entrevista
coletiva com jornalistas, em 11.01.2017, o diretor financeiro, Ivan
Monteiro, anunciou que a Petrobrás tinha recursos em caixa da ordem de
US$ 22,00 bilhões, suficientes para honrar todos os compromissos, nos
próximos 30 meses. Ao afastar-se da Petrobrás, o ex-presidente Bendine
já havia registrado a existência de saldo de caixa superior a R$ 100,00
bilhões ou US$ 27,00 bilhões ao câmbio da época”.
Aldemir Bendine se afastou da Petrobras no dia 30 de maio do ano
passado, sendo substituído por Pedro Parente, após o impeachment de
Dilma Rousseff.
A nova direção intensificou a desvalorização de ativos para posterior
venda. Verdade que essa desvalorização, dirigida pelo mesmo diretor
financeiro, Ivan Monteiro, já ocorria desde 2014. O valor contábil dos
ativos foi reduzido em R$ 113 bilhões em três anos. “Em 2015, a
companhia teve um lucro bruto de 98,5 bilhões de reais e líquido de 15
bilhões. A desvalorização transformou o lucro em prejuízo de 34 bilhões,
não distribuindo dividendos aos acionistas e ajudando a criar a imagem
de empresa quebrada, divulgada pela grande mídia”, afirma a Aepet.
“Como ensinam os especialistas”, prossegue a carta aberta, “a
desvalorização de ativos deve ser efetuada gradualmente, ao longo dos
anos e não abruptamente, como foi feito, pois reflete um valor de
momento que pode vir a ser revertido. Foi o que fizeram as grandes
companhias internacionais de petróleo neste mesmo período. As
desvalorizações prestaram-se para o passo seguinte, foi a justificativa
para a venda de ativos”.
Essa carta tem seis páginas. A ela a Aepet acrescentou anexos que
ocupam 26 páginas. Eles têm os seguintes subtítulos: Desintegração de
atividades; Pré-Sal; Dívida; O pagamento da dívida sem privatizações; Os
prejuízos contábeis e a desvalorização de ativos; A queda das reservas;
Conteúdo local; A venda de ativos e a desintegração; A venda de 90% da
malha de gasodutos Nova Transportadora Sudeste (NTS), de 2,5 mil km por
US$ 5,19 bilhões; O irrisório valor de venda da Liquigás; A venda da BR
Distribuidora; A venda de 66% do Campo de Carcará; Venda de
participações em refinarias; A venda da Gaspetro para a Mitsui; Venda da
Participação na Petroquímica Suape e Citepe para a Alpek; Venda de
fatias nos campos Iara e Lapa do pré-sal no “Acordo Geral de Colaboração
(Master Agreement) com a francesa Total” por US$ 2,2 bilhões; Doação do
Campo de Xerelete e Xerelete Sul para a Total; Nomeação de Pedro
Parente para a Presidência da Petrobrás; Conflitos de interesse na
Petrobrás; A experiência da Total.
Os interessados terão excelente leitura nesses anexos. Só não garanto
que sairão satisfeitos, ao final. Indignados, provavelmente.
O documento assinado pela diretoria da Associação termina assim:
“Diante de todas as razões expostas, a AEPET considera que os prejuízos
causados à companhia pelos atos praticados são de inteira
responsabilidade dos membros da atual diretoria e do Conselho de
Administração da Petrobrás, pelos quais deverão responder perante a
nação.”
Espero que sim, e sem demora.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/07/24/desintegracao-petrobras/#more-14148)
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