A reportagem é de Rute Pina e publicada por Brasil de Fato, 29-07-2017.
No Piauí, com auxílio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os camponeses do assentamento Rio Preto, no município de Bom Jesus, começaram um projeto de reflorestamento das margens das nascentes do Rio Gurguéia, importante afluente do Rio Parnaíba.
Francisco José, agente pastoral da CPT na região, relata que o projeto teve participação massiva dos moradores, envolvendo crianças, mulheres e adolescentes. O projeto realizou oficinas de produção de mudas nativas, limpeza e recuperação das nascentes e a instalação de um viveiro na comunidade.
Ele afirma que os efeitos positivos já são visíveis após pouco mais de um ano do início do projeto. “Já existem resultados do projeto e do próprio processo de recuperação. A gente percebeu que este ano, no período do inverno, as nascentes tiveram uma vazão maior em relação ao mesmo período do outro ano. Geralmente, elas não são nascentes que correm o ano todo, só no período da chuva e, no período seco, elas secam. A primeira que fizemos em Nova Santana se manteve o ano todo”, explicou.
Desde o início, o projeto do Assentamento Rio Preto foi uma iniciativa dos moradores, sem o apoio do Poder Público. Após os resultados animadores, Francisco conta que a prefeitura passou a olhar para a temática e sancionou o projeto de lei de recuperação das nascentes e riachos que existem no município.
Troca de experiências
A problemática da seca e poluição das nascentes de rios não é caso isolado do Piauí e atinge todo o cerrado. Por isso, as comunidades da região se reuniram nesta quinta-feira (27), durante o Encontro Nacional do Cerrado, para fazer um intercâmbio de experiências locais.Representante do Mato Grosso, o biológo e especialista em licenciamento ambiental Almir Araújo conta que a burocracia do governo paralisou projetos de recuperação de nascentes. Por isso, ele e demais colegas fundaram o Grupo Ararial de Pesquisa e Educação Ambiental. A organização foi batizada após o primeiro trabalho do grupo com o Rio Ararial, no município de Rondonópolis.
A iniciativa tem uma longa trajetória. Ao todo, já recuperaram 57 nascentes desde 2000. "Não adianta limpar [o rio] aqui em baixo, se não recuperar a nascente em cima. E, devido à morosidade do governo e dos poderes constituídos, em apoiar esses projetos, resolvemos juntar força de amigos para poder fazer esse trabalho. A gente reúne Igrejas, entidades como a Cebs [Comunidades Eclesiais de Base] e fazemos o trabalho através de mutirões", disse Almir.
O professor substituto do Instituto de Geografia da Universidade Estadual do PiauÍ (UESPI) Antônio Eusébio destaca a preservação das nascentes no cerrado como estratégica, já que a região considerada o "berço dos rios", engloba nascentes dos rios Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha e Paraná.
Mas, além destas nascentes, ele alerta para o cuidado com o curso dos rios e para a necessidade de buscar mecanismos legais de proteção das bacias hidrográficas contra o avanço do agronegócio.
“Ter uma iniciativa local ou regional, é extremamente importante, mas o que também é importante é a abrangência no estado ou até mesmo na região. O problema vai além de um limite municipal. Quando um grande empreendimento é implementado, ele não tem fronteira”, disse.
Neste sentido, diversas entidades, como a CPT, a Via Camponesa e outras entidades se articularam para lançar a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado. O objetivo é transformar o bioma em patrimônio nacional. Detalhes do projeto e instruções de como assinar a petição estão disponíveis online.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/572209-iniciativas-autonomas-recuperam-nascentes-de-rios-no-cerrado-conheca-alguns-projetos)
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