Está prevista para esta quinta-feira, dia 9 de novembro, a decisão final da Comissão Europeia sobre a renovação ou não da licença para o Glifosato.
A reportagem é de Alan Tygel, publicada por Brasil de Fato, 08-11-2017.
O Glifosato é o ingrediente ativo do agrotóxico RoundUp, produzido principalmente pela Monsanto. O Glifosato é o agrotóxico mais utilizado no mundo, e no Brasil representa cerca 50% das vendas de venenos, de acordo com o Ibama.
Na Europa, ao contrário do Brasil, o registro de agrotóxicos tem validade definida. A validade de registro do Glifosato
terminou em 2015, e desde então uma guerra vem sendo travada no
contexto da sua renovação. Após sucessivas extensões, o atual prazo de
validade do Glifosato é dia 15 de dezembro.
No mesmo ano de 2015, o IARC – Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, ligada a Organização Mundial da Saúde, órgão da ONU - classificou o Glifosato como “provavelmente cancerígeno” após extensa revisão de publicações sobre o assunto.
As agências reguladoras da Alemanha e da União Europeia (EFSA) chegaram à conclusão inversa, ou seja, de que o Glifosato não causaria câncer. Umas das diferenças entre os estudos é que o IARC
considerou mais pesquisas independentes. Grande parte das pesquisas
avaliadas pela EFSA são financiadas pela indústria de agrotóxicos.
No dia 24 de outubro, o Parlamento Europeu, eleito pelos países membros, aprovou uma resolução não vinculativa, defendendo a proibição do Glifosato
até 2022, com restrições de uso desde já em ambientes urbanos. No mesmo
dia, o Greenpeace entregou um abaixo-assinado com 1,3 milhões de
assinaturas pelo banimento imediato da substância.
A proposta inicial da Comissão Europeia, formada por
representantes dos 28 Estados-membros, previa a renovação da substância
por 10 anos. No entanto, devido à resistência de vários países,
sobretudo a França, já se fala em renovar por 5 anos ou menos. A
Alemanha, por outro lado, vem defendendo o prazo maior.
A decisão deveria ter sido tomada no dia 25 de outubro, porém não se
conseguiu formar uma maioria e a votação foi adiada para o dia 9 de
novembro.
É importante lembrar que está em curso o processo de compra da Monsanto, dos EUA, pela Bayer, da Alemanha. E que a Alemanha é hoje o país economicamente mais forte da UE, e cujas decisões têm o maior peso.
A Monsanto, ciente de que a vida do glifosato está chegando ao fim, passou a investir em sementes transgênicas resistentes ao Dicamba.
Interessante notar que, ao contrário do discurso que sustenta a
inovação no setor agroquímico com foco em substâncias menos perigosas, o
Dicamba é uma molécula antiga, registrada em 1967.
E nos Estados Unidos, o Dicamba já enfrenta forte
resistência, e até suspensão de uso em alguns estados. Fazendeiros
alegam que o produto é altamente volátil, e está atingindo propriedades
vizinhas. Quem não usa a nova semente da Monsanto resistente ao Dicamba, perde a produção.
Na imprensa, uma guerra também vem sendo travada. A superpoderosa
agência Reuters, a mesma que publicou o “Podemos tirar, se achar
melhor”, vem produzindo uma série de ataques ao IARC, buscando desqualificar o relatório que classificou o Glifosato como provavelmente cancerígeno. Em resposta, o IARC
afirmou que suas monografias “são resultado de deliberações científicas
dos grupos de trabalho de cientistas independentes, livres de conflitos
de interesse.”
Historicamente, desde a década de 1970, a indústria de agrotóxicos do
Brasil se movimenta a partir daquilo que já não presta na Europa e EUA.
Por se tratar de um setor fortemente regulado, as empresas buscam o
máximo de lucro enquanto a substância é permitida nos países centrais.
Depois, o objetivo passa a ser maximar o lucro na periferia, onde a
regulação é mais fraca e mais barata de ser comprada.
O Paraquat, da Syngenta,
teve há poucas semanas seu banimento decretado pela Anvisa, mas com
prazo de 3 anos para entrar em vigor. O tempo foi concedido para que
haja tempo da indústria reagir. A pergunta principal dos ruralistas
agora é: o preço para fazer a Anvisa voltar atrás vale a pena, em
comparação com os lucros gerados pelo Paraquat?
Dia 9 de novembro pode ser um dia histórico na luta contra os
agrotóxicos no mundo. Resta saber, por quanto tempo mais nós no Brasil
seremos obrigados a engolir o que já não presta na Europa.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/573462-fim-do-glifosato-na-europa-pode-ser-um-marco-historico-na-luta-contra-os-agrotoxicos)
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