“The Guardian”, importante jornal britânico, trouxe esperança de que as novas regras do pré-sal propostas pelo governo brasileiro ao Congresso Nacional não venham a prevalecer. Como ignorar o escândalo revelado neste fim de semana de que a comissão mista que aprovou as mudanças foi influenciada pelo lobby comandado no Brasil pelo Ministro do Comércio da Grã-Bretanha, Greg Hands, em favor da Shell, BP (que se chamava British Petroleum) e Premier Oil, gigantes petrolíferas de seu país?
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) faz aqui um bom resumo do mais novo escândalo deste governo, escândalo que, se bem entendido, pode contribuir para reverter o processo de entrega de nossas riquezas às multinacionais.
O líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, o paulista Carlos Zarattini, é um dos que acreditam que a revelação de que o governo Temer trabalhou para a Shell, antes dos leilões do pré-sal, ajudará a oposição a derrubar a MP 795, que acabou com a política de conteúdo nacional e concedeu isenção fiscal de R$ 1 trilhão às multinacionais do petróleo. Para ele, “é um escândalo que só confirma o caráter entreguista desse governo golpista”. Conforme o site 247, entidades empresariais, como a Abimaq, “também pretendem usar a denúncia do Guardian para derrubar a medida provisória encomendada pela Shell e servida de bandeja por Temer”.
Vamos ao que publicou The Guardian. Um telegrama obtido pelo Greenpeace mostra que o ministro Greg Hands veio ao Brasil para negociar redução de impostos e mudanças nas normas ambientais na exploração do pré-sal pela BP e Shell, além da não exigência de participação de empresas brasileiras.
Conforme Requião, Hands foi tão bem-sucedido que justificaria chamar nosso presidente de Mishell Temer.
The Guardian informa que Hands viajou ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, em março, para ajudar empresas de mineração, energia e água a conquistar negócios no Brasil. Ele se encontrou com Paulo Pedrosa, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, e diretamente levantou as preocupações da Shell, BP e Premier Oil com “taxação e licenciamento ambiental”. E obteve de Pedrosa a promessa de que pressionaria autoridades brasileiras sobre essa questão.
A MP 795 é o resultado dessas pressões. Em agosto deste ano, o Brasil propôs um projeto para redução em muitos bilhões de dólares para perfurações na área do pré-sal e, em outubro, PB e Shell venceram as mais importantes concorrências para explorar o petróleo brasileiro.
É um escândalo que atinge não apenas o governo brasileiro, mas também o britânico, razão maior da publicação do “The Guardian”. Trata-se de um embaraço duplo para o governo do Reino Unido, pois o ministro do Comércio fazia lobby junto ao governo brasileiro sobre um gigantesco projeto petrolífero que iria minar os esforços britânicos previstos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada neste mês em Bonn, na Alemanha. E tentou esconder suas ações do público, mas falhou ridiculamente.
Nada engraçado, de fato, para nós. O principal objetivo dos ingleses era enfraquecer as exigências do conteúdo local, impostas ainda no governo Lula, porque BP, Shell e Premier Oil seriam as beneficiárias britânicas diretas das mudanças. E que poderiam fazer suas compras na Grã-Bretanha, livres de impostos e outras amarras.
A Petrobras – e isso quem diz não é “The Guardian”, que também sabe defender os interesses britânicos – seria a maior prejudicada. Sem um governo – e uma imprensa, como bem ressalta Roberto Requião – para defendê-la.
De resto, defender a Petrobras e a indústria brasileira pode sair caro. A Lava Jato cuida para que não saia barato.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/11/22/the-guardian-escandalo-pre-sal/#more-14724)
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