sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O vexame dos deputados brasileiros em Israel

Texto escrito por José de Souza Castro:

Não me surpreendeu saber que havia um deputado federal mineiro na comitiva do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, no passeio a Israel, Itália e Portugal, descrita hoje por Miriam Sanger, de Jerusalém, à “Folha de S.Paulo”. O vexame dessa viagem paga pelos contribuintes brasileiros também não me surpreende.
Dos nove deputados federais que acompanharam Rodrigo Maia e sua mulher, sete votaram sim ao relatório do tucano mineiro Bonifácio Andrada que livrou Michel Temer de ser processado pelo Supremo Tribunal Federal. Eles devem ter ido comemorar a vitória, usando para isso um avião da FAB e diárias em dólar pagas por nós.
Que se expliquem os deputados Orlando Silva, do PCdoB paulista, e Rubens Bueno, do PPS paranaense, que votaram não. Por que se juntar a Rodrigo Maia, que não votou, e aos sete do sim, nessa viagem que só trouxe despesas e vexame aos brasileiros?
As despesas, primeiro. Relata Miriam Sanger:

“Os trajetos aéreos estão sendo realizados com um avião da FAB. O valor de uma passagem aérea com o trajeto São Paulo – Tel Aviv – Roma – São Paulo (sem incluir Portugal) teria o custo de R$ 28.500 em classe executiva, de acordo com o site da companhia Air France.
Além do custo aéreo da FAB, o dinheiro público envolvido na viagem inclui diárias para bancar hospedagem, transporte local e alimentação. Ela é de US$ 428 (R$ 1.408) para cada um dos deputados. Devido ao seu cargo, Maia tem direito a um valor maior: US$ 550 (R$ 1.808) – na semana passada, a assessoria de Maia afirmou que ele decidiu abrir mão do recebimento das suas diárias.
Ao todo, cada deputado receberá US$ 2.750 (R$ 8.921). Ou seja, só as diárias, somadas, custarão quase R$ 90 mil aos cofres públicos.”
Nesses cálculos não estão incluídas despesas da FAB com combustível, com diárias da tripulação e com os comes e bebes a bordo. Talvez o contribuinte nunca venha saber quanto disso lhe coube nessa farra.
O vexame, a seguir.





A visita a Israel começou no dia 29 de outubro e terminou no dia 1º de novembro com passeio turístico pela Cidade Velha de Jerusalém e visita a Belém, na Cisjordânia, onde os deputados foram recebidos por um colega de lá no lugar do prefeito Anton Salman, que cancelou o encontro pré-agendado.
O prefeito deve ter tido conhecimento do que ocorreu nos três dias anteriores e decidiu que não tinha tempo a perder com os brasileiros. Sua passagem por Israel, a repórter nos informa, “foi marcada por reuniões oficiais breves a portas fechadas, várias mudanças de agenda e pouco contato com a imprensa, permitido parcialmente nos dois primeiros dias (em Israel), mas proibida nos dois dias seguintes, nas visitas a Ramalá (dia 31) e a Belém (1º). O horário de partida para a Itália também foi alterado de última hora.”
Sim, os deputados estiveram rapidamente no Parlamento israelense, mas antes participaram de uma visita guiada pelo Museu do Holocausto. É difícil dizer qual dessas agendas era pior. Pelo menos, não tiveram que conversar com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que preferiu ignorar os visitantes brasileiros. E quem os recebeu estavam com pressa. “As outras duas reuniões previstas, com o presidente do Parlamento, Yuli Edelstein, e o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan, duraram cerca de 20 minutos”, diz a atenta Miriam Sanger. Afinal, alguém tem que prestar atenção a Maia, não? Em ambas essas reuniões, acrescenta a repórter, “houve apenas uma conversa formal e troca de cortesias”.
A pouca importância levou, na terça-feira, a nova mudança de agenda: em lugar de uma visita a Belém, na Cisjordânia, o grupo se deslocou para Ramalá, onde depositou uma coroa de flores sobre o túmulo de Yasser Arafat. Não foi possível saber se ele se revirou na cova ao receber a homenagem de tão impuras mãos.
A comitiva se reuniu depois, por cerca de 20 minutos, com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, e outros membros do Conselho Legislativo da ANP. Enfim, uma reunião com um primeiro-ministro. Pena que de alguém que governa pouco mais de 4 milhões de pessoas…
Os brasileiros ficariam muito decepcionados se não fossem a Belém, lugar onde teria nascido Jesus. Deu-se um jeito que fossem na quarta-feira de manhã, só para visitar a Igreja da Natividade, que passa por restaurações e precisa de apoio financeiro internacional para a finalização das obras. Duvido que algum deputado tenha enfiado a mão no bolso para ajudar tão nobre causa.
O relato de Miriam, a partir desse dia, se limita a informar que na quinta-feira nossos ilustres compatriotas estariam na Itália, onde “o único compromisso” seria uma cerimônia em Pistoia, no “monumento votivo militar brasileiro”, construído no lugar do antigo cemitério dos pracinhas que morreram em combate na Segunda Guerra Mundial. De Pistoia, a comitiva partiria para Lisboa, onde teria encontro com diplomatas brasileiros e assistiriam à palestra de encerramento do 4º Seminário Internacional de Direito do Trabalho.
O sábado, afirma Miriam, é reservado apenas para “agenda privada” em Lisboa – seja lá o que isso signifique para tantos parlamentares brasileiros que viajaram deixando suas esposas dedicadas, suponha-se, aos afazeres do lar.
Tudo bem. Só não posso terminar sem falar do representante mineiro no convescote internacional. Trata-se do deputado Marcos Montes, em seu terceiro mandato na Câmara Federal, para onde foi eleito, sucessivamente, pelo PFL, pelo DEM e pelo PSD, depois de ter sido prefeito de Uberaba e secretário estadual de Desenvolvimento Social e Esportes, durante a primeira gestão do governador Aécio Neves.
Nesses anos todos como deputado, Montes tem a ostentar apenas duas propostas de alterações em projetos de lei que se transformaram em “normas jurídicas”. Numa, acrescentou novo artigo na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, para instituir a empresa individual de responsabilidade limitada. Noutra, altera a Lei nº 10.893 de 13 de julho de 2004, que dispõe sobre o Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante – AFRMM e o Fundo da Marinha Mercante – FMM.
Canseira! É dura a vida de deputado…

(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/11/03/vexame-deputados-israel/#more-14665)

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