A reportagem é de Davide Michielin, publicada por La Repubblica, 15-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O estudo piloto
A pesquisa foi financiada através de um crowdfunding iniciado pelo próprio Instituto juntos com a Universidade de Bolonha e do Instituto Superior de Saúde. O estudo examinou os efeitos do glifosato, o princípio ativo de alguns entre os mais difundidos herbicidas, entre os quais o bem conhecido Roundup da Monsanto, em ratos Sprague Dawley, a cepa mais comumente utilizada na indústria farmacêutica para estudos toxicológicos. A pesquisa não se concentrou sobre o aparecimento de câncer em si, mas sobre o acúmulo da substância e sobre as alterações da saúde reprodutiva.
Os efeitos sobre os ratos
Os pesquisadores examinaram a prole de ratos que tinham acumulado nos tecidos níveis de glifosato de 1,75 microgramas por quilograma de peso corporal, ou seja, a dose diária aceitável na dieta de acordo com a Agência de proteção do ambiente (EPA) dos Estados Unidos. O glifosato
foi administrado aos animais durante um período de três meses
dissolvido na água. Embora não tenham entrado em contato diretamente com
o princípio ativo, os pesquisadores observaram nos ratos recém-nascidos
efeitos significativos e potencialmente prejudiciais para o microbioma intestinal."A alteração do microbioma tem sido associada com uma série de consequências negativas para a saúde, como obesidade, diabetes e problemas imunológicos", comentou Mandrioli ao Guardian, revelando como a exposição das mães ao glifosato poderia também alterar o nível normal dos hormônios sexuais, causando anomalias anatômicas. No que diz respeito a genotoxicidade, foi observado um aumento significativo de aberrações cromossômicas nas células da medula óssea dos ratos tratados com o glifosato, em especial nas fases iniciais de vida.
Os efeitos sobre o ser humano
Embora seja um estudo piloto, cujos resultados deverão ser confirmados em análises de longo prazo, a pesquisa do Instituto Ramazzini reacendeu o debate sobre a controversa renovação da prorrogação de cinco anos para o uso do glifosato concedida pela Comissão da União Europeia no final de novembro. Nos últimos vinte anos, a pesquisa encontrou evidências para a carcinogenicidade do composto em animais de laboratório.No entanto, os estudos em humanos parecem menos consistentes. Análises baseadas em marcadores de sangue de comunidades expostas ao herbicida demonstraram que o glifosato causa danos na estrutura do DNA e dos cromossomos. Mas os efeitos a longo prazo da exposição ao glifosato são ainda pouco conhecidos. A Agência de Pesquisa sobre o Câncer da Organização Mundial da Saúde já em 2015 tinha listado o herbicida entre os "provavelmente cancerígenos".
No entanto, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar posteriormente declarou que o glifosato é "improvável que apresente um risco cancerígeno para os seres humanos" e a Agência Europeia para a Química, afirmou que "as evidências científicas disponíveis não atendem os critérios necessários para classificar o glifosato como cancerígeno, mutagênico ou tóxica para a reprodução".
Entrevistado pelo jornal britânico, o vice-presidente da Monsanto responsável pela estratégia global, Scott Partridge, declarou que "o Instituto Ramazzini é uma organização de ativistas com segundas intenções não declaradas na campanha de crowdfunding. Defendem a proibição do glifosato e várias vezes no passado emitiram declarações não confirmadas pelas agências reguladoras. Não se trata de verdadeira pesquisa científica." Partridge inclusive acrescentou que "Todas as pesquisas até agora realizadas, mostraram que não há nenhuma ligação entre o glifosato e o câncer."
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/579071-o-glifosato-provoca-anomalias-em-recem-nascidos-mostra-novo-estudo-piloto-em-animais)
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