Intelectual, ex-ministro e ex-tesoureiro de Fernando Henrique Cardoso,
Luiz Carlos Bresser Pereira publica, nesta segunda, um artigo
antológico; no texto, ele protesta contra o "ataque moralista da
direita" no Brasil; segundo ele, Lula superou o medo dos mercados,
recuperou o crescimento e distribuiu renda, deixando a direita sem
discurso; com Dilma, a "direita recuperou a voz, mas uma voz vazia,
liberal e moralista"; Bresser fez também uma defesa enfática de José
Genoino, um dia depois de FHC ter cobrado pressa do STF e a prisão dos
réus da Ação Penal 470
7 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 08:12
247 - Intelectual
respeitado, que foi ministro de FHC e tesoureiro do PSDB, o cientista
político Luiz Carlos Bresser Pereira parece cada vez mais desapontado
com os rumos tomados por ex-aliados. Ontem, no Estado de S. Paulo, FHC
publicou um artigo em que cobrava pressa do Supremo Tribunal Federal e
exigia a prisão dos réus da Ação Penal 470 (leia aqui).
Hoje, no que talvez seja uma resposta a FHC, Bresser condena o "ataque
moralista da direita" no Brasil. Segundo o cientista político, a direita
brasileira adota um discurso vazio, que passa pelo moralismo e pela
negação da própria política, sem que tenha uma agenda para o
desenvolvimento. Leia abaixo:
O ataque moralista da direita
Durante o governo Dilma, a direita recuperou a voz, mas vazia, de condenação de todos os políticos
Nestes
últimos meses vimos a direita recuperar o dom da palavra. Em 2002 ela
se apavorara com a perspectiva da eleição de um presidente socialista. O
medo foi tanto e contaminou de tal forma os mercados financeiros
internacionais que levou o governo FHC a uma segunda crise de balanço de
pagamentos.
O
novo presidente, entretanto, logo afastou os medos dos ricos que então
perceberam que não seriam expropriados. Pelo contrário, viram um governo
procurando fazer um pacto político com os empresários industriais e que
não hostilizava a coalizão política de grandes e médios rentistas e dos
financistas.
Por
outro lado, o novo governo de esquerda pareceu haver logrado retomar o
crescimento econômico, ao mesmo tempo que adotava uma politica firme de
distribuição de renda. Na verdade, beneficiava-se de um grande aumento
nos preços das commodities exportadas pelo país, e da possibilidade (que
aproveitou de forma equivocada) de apreciar a moeda nacional que se
depreciara na crise de 2002.
Lula
terminou seu governo com aprovação popular recorde, e com a direita
brasileira sem discurso. Deixou, porém, para sua sucessora, a presidente
Dilma, uma taxa de câmbio incrivelmente sobreapreciada, que, depois de
haver roubado das empresas brasileiras o mercado externo, agora (desde
2011) negava-lhes acesso ao próprio mercado interno.
Sem
surpresa, os resultados econômicos dos dois primeiros anos de governo
foram decepcionantes. E, no seu segundo ano, foram combinados com o
julgamento do mensalão pelo STF, transformado em grande evento político e
midiático.
Com
isto o governo se enfraqueceu, e a direita brasileira recuperou a voz.
Mas uma voz vazia, liberal e moralista. Liberal porque pretende que a
solução dos problemas é liberalizar os mercados ainda mais, não obstante
os maus resultados que geraram. Moralista porque adotou um discurso de
condenação moral de todos os políticos, tratando-os de forma
desrespeitosa, ao mesmo tempo que continuava a apoiar em voz baixa os
partidos de direita.
Quando,
devido às manifestações de junho, os índices de aprovação da presidente
caíram, a direita comemorou. Não percebeu que caíam também os índices
de aprovação de todos os governadores. Nem se deu conta de que a
presidente logo recuperaria parte do apoio perdido.
Quando
o STF afinal garantiu a doze dos condenados do mensalão um novo
julgamento de alguns pontos, essa direita novamente se indignou. Agora
era a justiça que também era corrupta.
Quando
o deputado José Genoino (condenado nesse processo porque era presidente
do PT quando as irregularidades aconteceram) manifestou o quanto vinha
sofrendo com tudo isso --ele que, de fato, sempre dedicou a sua vida ao
país, e hoje é um homem pobre--, essa direita limitou-se a gritar que o
Brasil era o reino da impunidade, em vez de perceber que o castigo que
Genoino já teve foi provavelmente maior do que sua culpa.
Os
países democráticos precisam de uma direita conservadora e de uma
esquerda progressista. Mas cada uma deve ter um discurso que faça
sentido, em vez do mero moralismo que a direita vem exibindo.
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