Coloquei uma frase em negrito e vermelho, para todos prestarem bem atenção. Como diz o ditado, para quem sabe ler, um pingo é um i. Não são apenas essas duas, com certeza tem muito mais!
Na Botucúndia, nem Galileo escapa da desmoralização
Por Alberto Dines em 21/01/2014 na edição 782
A grande mídia tem muito a ver com a débâcle da Universidade
Gama Filho e da UniverCidade, no Rio. O ensino superior privado é um
fabuloso negócio. Prova disso é o tamanho da dívida do Grupo Galileo,
mantenedor de ambas: 900 milhões de reais. Cerca de 400 milhões de
dólares – padrão Fifa, coisa de gente grande.
Quantas advertências e denúncias contra arapucas universitárias
apareceram em nossa imprensa ultimamente? No País dos Bacharéis é
temerário colocar sob suspeita a fabricação de doutores. Grande parte
dos ministros do STF ganha ricos pro-labores para dar aulas-magnas e conferências. A ninguém incomoda este ostensivo conflito de interesses.
Em suas edições da segunda-feira (20/1), dia normalmente fraco em
publicidade, os dois jornalões paulistanos não tinham de que se queixar.
Na Folha S.Paulo a Universidade Nove de Julho (Uninove, Sempre
10!), a FMU e a Faculdade Impacto compraram respectivamente uma página,
meia página e um quarto de página para vender seus produtos no segmento
de pós-graduação. Nesse mesmo dia, no Estado de S.Paulo, a Uninove comprou um grande rodapé na capa e uma página inteira no primeiro caderno, ambos dirigidos ao mesmo mercado.
O lobby do ensino superior privado foi sempre um bom freguês dos
“cadernos de serviço”, “informes publicitários” e matérias pagas
disfarçadas exaltando a qualidade da nascente indústria do diploma.
A mídia brasileira é unânime ao proclamar a necessidade de uma
revolução em nossas universidades – cruzada legítima, vital para
implementar nossos padrões de competitividade. Porém, à sombra das boas
causas sempre viceja algum tipo de gangsterismo. Aqui, os pactos
corporativos não permitem a separar o joio do trigo, se um jornal flagra
as trapaças de uma universidade privada o segmento inteiro o boicota. O
jornalista que ousa devassar as espúrias conexões entre políticos,
acadêmicos e fabricantes de diplomas está ferrado. Tem peixe muito
graúdo nesse balaio. O credenciamento de universidades sempre rendeu
fabulosas propinas.
Fundos de pensão
A história desta aberração gramatical e educacional chamada
UniverCidade começou com o “buraco da Delfin”, em 1983, nos estertores
da ditadura, o primeiro grande escândalo financeiro da era moderna no
Brasil. Ronald Levinsohn, o dono da financeira, não perdeu um tostão:
manteve a sua magnífica cobertura em frente ao Central Park em Nova York
e, para branquear seu currículo, comprou a Faculdade da Cidade e a
transformou na UniverCidade (neste Observatório alcunhada de Univer$idade), onde desenvolvia sem fiscalização os delírios tirânicos e idiossincrasias fascistóides (ver “UniverCidade ou Univer$idade”).
Passou o abacaxi ao Grupo Galileo, que já estava com outro, mais
apetitoso, a Universidade Gama Filho, com 70 anos de vida, antigo
Colégio Piedade, um dos melhores da antiga Capital Federal – quase 30
mil alunos pagando religiosamente suas mensalidades. A meta no curto
prazo era comprar outros abacaxis e alcançar um universo de 100 mil
alunos.
O acionista majoritário do Grupo Galileo Educacional é o pastor Adenor
Gonçalves dos Santos. Artífice da montagem do conglomerado, o advogado
Márcio André Mendes Costa ficou com a presidência e convocou a TOTVS,
especializada em soluções de informática e gestão de empresas de ensino
superior, para montar a operação, apresentada em seu portfólio como um
dos seus cases de sucesso.
Não foi fácil: as duas universidades são entidades sem fins lucrativos,
os antigos mantenedores precisavam ser reembolsados, os 100 milhões de
reais em debêntures subscritos pelos fundos de pensão Petros (da
Petrobras) e Postalis (Correios) destinados a sanear a Gama Filho foram
utilizados para pagar a compra da UniverCidade, a patranha logo seria
descoberta
Negócios suspeitos
E foi: a CPI do Ensino Superior criada na Assembleia Legislativa do
Estado do Rio denunciou o grupo, os responsáveis foram acusado de um
monte de malfeitorias, inclusive lavagem de dinheiro. O noticiário não
teve destaque, a greve dos professores e funcionários não repercutiu,
nem os sucessivos protestos dos alunos. A ninguém interessava criar um
caso nacional. Sobretudo aos lobistas do ensino superior que ganham
comissões, escrevem nos jornais e não querem que o seu negócio fique sob
suspeita.
Pobre Galileo Galilei: na Itália, o astrônomo foi condenado pela ignorância e pela Inquisição; no Brasil, denunciado por formação de quadrilha.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/na_botucundia_nem_galileo_escapa_da_desmoralizacao
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