quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Niilismo e manifestações violentas



Niilismo e manifestações violentas

         Alguns segmentos grupais presentes nas manifestações de rua, como os “black blocs” e outros que provocam destruição estão na linha conceitual do anarquismo e do niilismo.
         Niilismo. Do latim “nihil”, nada, ou redução a nada, aniquilamento; tendência anarquista russa que preconizava a destruição da ordem social estabelecida, sem preocupar com a substituição por outra, ficando somente a descrença absoluta. Ficou muito conhecida a frase de Dostoievski pronunciada pelo personagem Ivan Karamasov, na novela “Irmãos Karamasov”, que diz: Se Deus está morto, então tudo é possível. Entende-se por “Deus” a verdade e o princípio estabelecido com a crença.
         O Niilismo mata ou pretende matar as ideologias dominantes como a democracia liberal capitalista; os mitos e os heróis gerados pela mídia e que idealizam um porvir risonho para a humanidade. Para Carl Marx, as ideologias são sempre uma falsa crença, como por exemplo a afirmação de que todos são iguais perante a lei. Sabe-se que somente os ricos se beneficiam com os atos da Justiça. A novela “O processo”, de Franz Kafka tem esse caráter niilista. O drama do personagem Josef K é angustiante à espera de um resultado.  A corrente de pensamento niilista atingiu diversas esferas da cultura no mundo contemporâneo, como a literatura, arte, filosofia e ciências sociais.
         O Niilismo se coloca sempre em plano utópico. Mas segundo Karl Manhein, as utopias são as ideias que aspiram outra realidade, ainda inexistente. Tem, portanto, uma dimensão crítica de negação da ordem social existente.
         Para Ana Elizabeth Cavalcante (2014) Nietzsche usa o termo decadência para situar e agrupar as condições existenciais do ser humano que causam o surgimento do Niilismo. Ele vê na decadência um tipo de doença social. A decadência provoca um mal-estar na humanidade, manifesta, primeiramente, no desregramento dos instintos. Daí o decadente carrega uma série de problemas, como perda da capacidade de assimilação e de síntese; desencadeamento caótico das paixões. No homem decadente as motivações provêm da vontade de vingança. Nele a noção de justiça se encontra pervertida pelo ressentimento dos decadentes. Quando eles dizem: sou justo, tem-se a impressão de ouvir: Estou vingando.  (Assim falou Zaratrustra).
         Nietzsche compreendia dois tipos de Niilismo: o ativo e o passivo. No ativo, o indivíduo não acredita que a vida deve ser regida por qualquer tipo de padrão moral, fazendo com que o homem minta a si mesmo. No Niilismo passivo o indivíduo não muda de valores nem mesmo com a revolução.

 Belo Horizonte, 9 de fevereiro de 2014.
 
Antônio de Paiva Moura

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