Há várias maneiras de definir o neoliberalismo, mas talvez a maneira mais simples é dizer que é a ideologia da luta de classes
ao inverso. No passado o comunismo foi a ideologia equivocada dos
trabalhadores ou dos pobres contra os ricos; desde os anos 1980, no
mundo, e desde os anos 1990, no Brasil, o neoliberalismo é a ideologia
da luta dos ricos contra os pobres.
Não de todos os ricos, porque entre eles há empresários produtivos, ao
invés de meros rentistas e donos de empresas monopolistas, que ainda
estão comprometidos com a nação – a associação de empresários produtivos
e trabalhadores de cada país na competição com os demais países. Mas
dos ricos rentistas que perderam qualquer compromisso com a ideia de
nação e se sentem parte das “elites globais”.
A reflexão é de Luiz Carlos Bresser Pereira, publicada em seu Facebook, 08-10-2016.
A luta de classes neoliberal tem um objetivo geral: reduzir os salários diretos e indiretos dos trabalhadores.
Os salários diretos através das reformas trabalhistas; os salários
indiretos através da redução do tamanho do Estado ou a desmontagem do
Estado Social através de reformas como a proposta a emenda
constitucional PEC 241, que congela o gasto público exceto juros.
O objetivo dessa emenda não é o ajuste fiscal, que é
necessário, mas a redução do tamanho do Estado, que nada tem de
necessária. Ao contrário do que afirmam os economistas liberais, a carga
tributária brasileira não tem crescido e não há uma crise fiscal
estrutural: apenas uma crise fiscal conjuntural. Desde 2006 a carga
tributária gira em torno de 33% do PIB. Seu grande crescimento ocorreu
no governo Fernando Henrique Cardoso: ela cresceu de 26,1% em 1996 para 32,2% em 2002.
Carga Tributária do Brasil – Ano % do PIB
1996 – 26,14
2002 – 32,20
2006 – 33,31%
2008 – 33,53%
2010 – 32,44%
2012 – 32,70%
2014 – 32,42%
2015 – 32,66%
Fonte: Receita Federal (2015): “Carga Tributária no Brasil 2015” /
Ministério do Planejamento (2015): “Evolução Recente da Carga
Tributária Federal”.
Um capítulo impressionante dessa luta de classes de cima para baixo está hoje sendo travado no Brasil através da PEC 241,
que visa a desmontagem do Estado Social brasileiro – ou seja, reduzir
em termos per capita seus gastos com educação e saúde. Com o aumento da
população e do PIB os recursos para esses dois fins necessariamente se
reduzirão em termos percentuais do PIB e em termos per capita.
Hoje, um grande número de entidades de classe patronais postaram nos grandes jornais um manifesto a favor da PEC.
Paradoxalmente, entre elas estão muitas entidades representando os
empresários industriais, embora, entre 1990 e 2010, as empresas
industriais tenham sido as maiores prejudicadas pela política econômica
liberal-conservadora adotada nos governos FHC e Lula-Meirelles. E também pela política desenvolvimentista populista de Dilma (2011-14). Entendo a insatisfação dos empresários industriais – uma espécie em extinção no Brasil – com o governo Dilma, mas para mim sua incapacidade de criticar o rentismo e a financeirização globalista, que tomaram conta do governo Temer, é um sinal de sua profunda alienação em relação a seus interesses e aos interesses nacionais.
(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/560992-bresser-pereira-pec-241-desmonta-o-estado-social-brasileiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário