Antônio de Paiva Moura
O filósofo Etienne de La Boétie nasceu
em 1530 na França e faleceu com 33 anos de idade. Quando o pai e a mãe
morreram, ele era criança. Já na adolescência estudava os filósofos clássicos.
Tornou-se grande amigo de Montaigne, seu colega no Tribunal de Bordeux.
Laboétie foi o primeiro a perceber que
os governados eram sempre maioria em relação aos governantes. Mas os sistemas
funcionam porque os governados consentem o estado de servidão humana. Embora
tenha direcionado sua observação para a monarquia despótica de seu tempo, La
Boeétie reconhece que o tirano pode ser eleito, o que muda é apenas a forma de
se chegar ao poder. É o que se verifica no mundo contemporâneo. Para La boétie,
é o povo que se sujeita e se degola; pode escolher entre ser oprimido e ser
livre, rejeita a liberdade e aceita o jugo. Às vezes consente tal mal e até o
procura. Um número infinito de não a
obedecer, mas a servir; não governados, mas tiranizados, sem bens, sem pais,
sem vida a que possam chamar sua. Além disso, têm que suportar as luxurias e as
crueldades de um monarca covarde e mulherengo. Para La Boétie, quando o
indivíduo resolve não querer mais servir, ele é livre.
O governante e o agente econômico têm o
poder de persuadir e convencer o indivíduo a optar pela situação servil. A
superestrutura tem o poder de criar e impor as ideologias e as formas de
comportamentos que levam o sujeito a optar pela servidão. La Boétie reconhece
que a sede de interesses pessoais usada pelos serviçais dos governos e do poder
econômico, com a promessa de enriquecimento, submete e acomoda as camadas
subalternas da sociedade. Em síntese, a alienação leva os indivíduos a não
desejarem a libertação diante do poder governamental e econômico. A alienação
não permite que o indivíduo se recuse a obedecer e se negue a colaborar com
seus opressores.
As relações de servidão voluntária dos
vassalos aos senhores na Idade Média tiveram prosseguimento na colonização da
América Latina. A historiografia e a literatura dos séculos XIX e XX registram
a presença de agregados que viviam na condição de servos e que devotavam fidelidade
a seus senhores. Afonso Arinos, em “Pelo Sertão” conta a história de Joaquim
Mironga, que viveu em uma fazenda e serviu a duas gerações de senhores. Mironga
nunca teve bens e salários, mas sempre arriscou sua vida para defender a
família de seu patrão. Nada diferente de um servo no sistema feudal.
As reformas colocadas em prática pelo
presidente Michel Temer degradam de tal forma as condições de trabalho e de
previdência social, que não demora, os assalariados terão que se contentar com
qualquer valor e qualquer condição de trabalho que o empregador oferecer. A
meta Neoliberal é acabar com o SUS e com a previdência social para obrigar as
pessoas a irem para a previdência privada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário