Escrito por José de Souza Castro
"Brazil’s
Military Strides Into Politics, by the Ballot or by Force". Este é o
título de uma reportagem de 1.800 palavras publicada pelo "New York
Times" no último sábado (em tradução livre: "Militares do Brasil avançam
na política, pelo voto ou pela força"). Tipo de relato a que os
brasileiros têm acesso em jornais como este dos Estados Unidos, mas não
nos do Brasil.
Os
repórteres Ernesto Londoño e Manuela Andreoni entrevistaram militares
brasileiros de alta patente, na ativa ou na reserva. Entre eles, o
general Eliéser Girão Monteiro, que se candidatou a governador do Rio
Grande do Norte e que defendeu o impeachment de ministros do Supremo
Tribunal Federal que decidiram libertar políticos condenados por
corrupção.
O
sistema político criado pela Constituição de 1988 se tornou uma
“caverna que aparentemente não tem saída de emergência”, disse Monteiro.
Enquanto afirma que pessoalmente não apoia um golpe militar, acrescenta
na entrevista: “A única saída de emergência que o povo está dizendo é
uma intervenção militar”.
Se
a eleição não trouxer mudanças rápidas, alguns destacados generais da
reserva advertem que líderes militares podem se sentir compelidos a
avançar para o reinício de um sistema político pela força, escreve o
NYT.
“Estamos
num momento critico, caminhando sobre o fio da navalha”, disse Antonio
Mourão, um general de quatro estrelas que recentemente se retirou depois
de sugerir no ano passado, ainda na ativa, que uma intervenção militar
seria necessária para purgar a classe política dirigente. “Ainda
acreditamos que o processo eleitoral representará para nós uma solução
preliminar para mudar o curso”.
Antonio
Mourão foi eleito recentemente presidente do influente Clube Militar,
no Rio de Janeiro. Esse general e outros oficiais reformados estão
apoiando vivamente, segundo o NYT, a candidatura de Jair Bolsonaro, o
ex-capitão do Exército que tem proposto medidas polêmicas para restaurar
a ordem, inclusive dando à polícia rédea solta para matar criminosos.
Bolsonaro,
o primeiro ex-oficial militar a ter uma candidatura viável à
Presidência da República desde a restauração da democracia, disse
recentemente que nomearia generais para seu ministério, “não porque são
generais, mas porque são competentes”.
A
campanha de militares se apoia na ampla frustração de brasileiros com
fé na democracia e nas instituições governamentais, surgida em anos
recentes, principalmente depois do impeachment da presidente Dilma
Rousseff em 2016 e os enormes esquemas de propina que mancharam todos os
maiores partidos.
Uma
pesquisa do Latinobarómetro descobriu no ano passado que apenas 13% dos
brasileiros estão satisfeitos com o estado da democracia, o mais baixo
ranking entre 18 nações latino-americanas. Verificou ainda que somente
6% dos brasileiros apoiam seu governo, um ranking bem abaixo de outros
governos profundamente impopulares, incluindo Venezuela e México.
Atentos
a isso, generais da reserva e outros oficiais com fortes laços no
comando militar estão montando uma radical campanha eleitoral, apoiando
cerca de 90 militares veteranos para uma variedade de postos, incluindo a
Presidência da República, nas eleições nacionais de outubro.
Argumentam, diz o jornal, que o esforço é necessário “para resgatar a
nação de uma liderança entrincheirada que geriu mal a economia,
fracassou na redução da crescente violência e descaradamente roubou
bilhões de dólares mediante corrupção”.
O
mais lido jornal do EUA admite que o avanço militar na política é, para
muitos brasileiros, preocupante. A última ditadura militar no Brasil
durou 21 anos, antes de terminar em 1985, e desde então o maior país da
América Latina experimentou o mais longo período de governos
democráticos. “Muitos são aguerridamente defensores da separação entre
política e militar, se resguardando contra qualquer potencial deslize
rumo ao regime militar”.
Acho que podemos nos incluir nesse número. Quem quiser ler o texto completo do NYT, no original, pode acessar AQUI.
(fonte: Blog da Kika Castro)
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