domingo, 22 de julho de 2018

Temporada de baleias no Brasil começa com muitos encalhes


Tanto Pesquisadores como frequentadores do litoral têm observado, nos últimos anos, uma tendência de crescimento do número de encalhes de baleias-jubarte no Brasil, durante seu período de reprodução, que abrange o inverno e a primavera. Apenas neste ano, já foram 21 ocorrências, das quais 9 na Bahia, e a estimativa dos pesquisadores do Projeto Baleia Jubarte, que conta com o patrocínio da Petrobras, é que esse número possa chegar a aproximadamente 100 animais até novembro. Isso é função, principalmente, de uma boa notícia: a população da espécie que vem se reproduzir em nossas águas está quase recuperada da matança, realizada pelos baleeiros até a segunda metade do século XX, e que quase a levou à extinção.
A reportagem foi publicada por Ecodebate, 18-07-2018.

De uma população que na virada do século era de apenas cerca de 3.000 baleias, os pesquisadores do Projeto estimam que hoje ela já seja cerca de 20.000 animais, o que é motivo para celebrar. E mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas de causas naturais, o que não afeta por si só a viabilidade da população “brasileira”. Por outro lado, vários desses encalhes e mortes de jubartes estão acontecendo devido a impactos humanos, e isso pode comprometer a viabilidade desta população se eles não forem identificados e mitigados.
Dentre os principais problemas estão o emalhamento em redes de pesca e a colisão com embarcações. Mas como saber o verdadeiro impacto dessas causas? Essa é a importância de se estudar os encalhes, e para isso o Projeto Baleia Jubarte mantém uma equipe especializada no assunto que sempre que possível vai ao local dos eventos, realiza necropsias das baleias e procura determinar a causa das mortes. Segundo o pesquisador Hernani Ramos integrante da equipe de resgate de mamíferos marinhos, “um número importante de animais encontrados mortos nas praias apresenta marcas de emalhamento em redes de pesca. Há também o risco de traumas com grandes embarcações, principalmente onde as rotas de navios que demandam portos cruzam as áreas de concentração das jubartes, e mesmo o ruído de determinadas atividades, como prospecção sísmica, podem trazer problemas”.
Outras atividades humanas de maior abrangência também podem impactar as jubartes. Por exemplo, é possível que haja uma correlação entre o maior número de encalhes detectado este ano – e em alguns anos anteriores – com uma menor produção de krill (o principal alimento das jubartes do Hemisfério Sul) na região antártica. O quanto essa diminuição de produtividade pode estar sendo causada pelas mudanças climáticas induzidas pela humanidade é ainda motivo de estudos, mas certamente causa preocupação, porque pode comprometer a recuperação futura das populações de baleias.
Ainda segundo Ramos, são raros os casos em que as baleias encalham vivas nas praias. Quando acontecem encalhes de animais vivos, o grande desafio é mover criaturas tão pesadas sem feri-las ainda mais. E ele faz um alerta: “É importante frisar que tentar o desencalhe de uma baleia viva é uma ação que envolve muitos riscos, tanto de ferimentos provocados involuntariamente pelo animal como a aquisição de doenças ao entrar em contato com o mesmo e com o spray de sua respiração. Por isso, essas tentativas devem sempre ser realizadas sob orientação especializada”.
Em suma, apesar de números elevados e da tristeza causada por ver animais majestosos mortos no nosso litoral, os encalhes de jubartes nessa temporada ainda não constituem
uma ameaça para a recuperação da espécie em nossas águas. Mas é preciso estarmos vigilantes e seguirmos monitorando esses eventos, para assegurar que as atividades humanas não sejam responsáveis por mais mortes e que possamos garantir a existência das baleias no mar brasileiro em uma convivência harmônica com as pessoas.
Como ajudar ao constatar um encalhe: O Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte atua no litoral da Bahia e do Espírito Santo e conta com telefones de emergência, que recebem, inclusive, ligações a cobrar. Caravelas: (73) 3297-1340* e (73) 98802-1874** Praia do Forte: (71) 3676-1463* e (71) 981542131** * Horário comercial (segunda a sexta) ** 24 horas/WhatsApp

Sobre o Projeto Baleia Jubarte

Atuando há 30 anos na pesquisa e conservação das baleias-jubarte e do ambiente marinho no Brasil, o Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, integra a Rede Biomar juntamente com outros projetos patrocinados pela empresa (Projeto Albatroz, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Tamar), que atuam de forma integrada na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. O Projeto Baleia Jubarte é administrado pelo Instituto Baleia Jubarte a partir de suas sedes na Praia do Forte e em Caravelas, Bahia. Mais informações sobre as atividades podem ser obtidas em www.facebook.com/projetobaleiajubarte e em www.baleiajubarte.org.

(fonte: http://www.ihu.unisinos.br/580969-temporada-de-baleias-no-brasil-comeca-com-muitos-encalhes-causas-vao-da-falta-de-alimento-na-antartida-a-emalhamento-em-redes)

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