A contribuição recebida hoje foi de ninguém menos que o professor e historiador Ricardo de Moura Faria, que já foi citado várias vezes aqui no blog e tem até livro publicado na nossa biblioteca,
para ser baixado e lido gratuitamente. Ricardo é historiador, autor de
mais de 70 livros didáticos e paradidáticos, e atualmente tem se
dedicado a publicar romances de época: "O amor nos tempos do AI-5" e
"Amor, opressão e liberdade". É também blogueiro
e meu amigo virtual de debates na blogosfera desde os tempos do "Tamos
com Raiva", minha primeiríssima página, criada em 2003. No artigo
abaixo, ele trata de temas importantíssimos da nossa sociedade atual.
Boa leitura!
Depressão e suicídio: os dramas deste século triste
Os
tempos que estamos vivendo estão muito tristes, e eu diria que no
Brasil atual essa tristeza ainda é maior do que em outros locais. E é a
nossa realidade aquela que cientificamente ou empiricamente podemos
debater.
Fiquei espantado com um dado que foi noticiado neste ano: se pudessem, 62% dos jovens brasileiros emigrariam. E não vou negar que já dei esse conselho a alguns amigos.
Por
que emigrariam? Sem dúvida, pela tristeza de viver em um país que não
lhes acena com a possibilidade de um futuro promissor, associada com a
quase certeza de que a situação do país só tende a piorar, que nada dá
certo... enfim...
Os
poucos momentos de alegria social, que são, basicamente, o carnaval e o
esporte, notadamente o futebol, creio que já esgotaram sua capacidade
de provocar alegria. A seleção brasileira é formada por estrangeiros
milionários que estão se lixando para o país; o carnaval que se vê na
mídia é, em essência, aquele que acontece dentro dos parâmetros
estabelecidos, enquanto a violência que acontece nas ruas, durante os
desfiles de blocos, pouco é noticiada.
Nossa
democracia, tão frágil, é esculhambada diariamente pelos integrantes
dos três poderes. O que aparece, dia após dia, são fatos de estarrecer. Somos roubados nos impostos que pagamos para sustentar mordomias inacreditáveis a qualquer país sério.
A violência nas ruas, o aumento do número de sem-teto, sem-terra, a
miséria exposta a cada esquina. Como alguém consegue ser feliz em meio a
tudo isso?
Nossas
mulheres são espancadas, estupradas, mortas. O número de assassinatos
anualmente supera o número de mortos na Guerra do Vietnã, que durou
cerca de vinte anos! Jovens e negros são a maioria dos assassinados.
Essa tristeza toda é que, a meu ver, explicaria o incontável número de depressivos, de suicídios, inclusive entre jovens.
Por uma dessas coincidências da vida, chegou-me às mãos um artigo da escritora Eliane Brum,
em que o tema do suicídio entre jovens é analisado com profundidade,
inclusive com uma entrevista feita por ela com o psicanalista Mario
Corso. E, dissertando sobre o absurdo número de suicídios de jovens (a segunda causa de mortes de adolescentes, em todo o mundo), a grande pergunta que ela levanta é: "Por que mais jovens se suicidam hoje do que antigamente?”
Ela
observa que a pouca divulgação na mídia dos suicídios de jovens acaba
levando à conclusão de que se trata de um problema individual. Resposta
com a qual ela não concorda, pois aborda a questão não como individual,
mas social.
“Quando adolescentes se
matam, eles dizem algo sobre si mesmos, mas também dizem algo sobre a
época em que não viverão. A inversão da pergunta não é um jogo retórico.
Ela é decisiva. É decisiva também porque devolve a política à pergunta,
de onde ela nunca poderia ter saído. E a recoloca no campo do
coletivo.”
Então,
as perguntas corretas seriam: 1) Por que não haveria mais adolescentes
interrompendo a própria vida nos dias atuais do que no passado? E 2)
como conseguir uma resposta que não seja a brutalidade de tirar a
própria vida?
A
primeira pergunta remete ao mundo em que estamos vivendo, pois se trata
de um mundo em que, nas redes sociais, as curtidas e bloqueios assumem
importância para os jovens sem perspectivas de futuro num mundo sem
emprego e com destruição ambiental sem limites.
Trabalho?
Já na década de 1980 a pensadora francesa Vivienne Forrester apontava
em livro brilhante – “O horror econômico” – que, num curto espaço de
tempo, os robôs passariam a ocupar o lugar dos seres humanos, que se
tornariam, portanto, descartáveis. O que fazer com bilhões
de pessoas sem emprego, sem renda e, portanto, não-consumidoras, que
vivem num sistema que clama pelo consumo para se reproduzir?
A
visão dela se completa com a de Robert Kurz em “O colapso da
modernização”, em que ele aponta exatamente esse problema que o sistema
terá de solucionar. Esperamos que não seja uma solução de extermínio
global.
Para a segunda pergunta, eu me confesso incapaz de dar uma resposta. Vocês teriam?
(fonte: blog da Kika Castro)
Fui diagnosticada, em 2007, com síndrome do pânico. Faço tratamento até hoje. E a relação entre adoecimento e trabalho se aplica ao meu caso. As possibilidades se esgotaram no setor privado, o que me exigiu a transferir para o setor público. Essa mudança me obrigou a deixar minha cidade, ficar longe da família e amigos. Fui para uma cidade interiorana e me vi em total isolamento. Pensei em suicídio muitas vezes. O mal estar existencial era de uma intensidade absurda. Tirar a vida parecia a melhor opção. Tive de sair de licença médica para não me matar. A dor da depressão não pode ser medida por equipamentos médicos e nos estigmatiza. A luta é diária, mas busquei suporte para levantar de pé.
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