Brasileiros da CNT-BIO, associados às Monsantos da vida, tramam contra a saúde dos brasileiros. Por que a grande mídia não fala nada? Por que não se fazem passeatas para denunciar essa tramóia?
Tantas perguntas...
Transgênicos: mais agrotóxicos na sua mesa
Na última reunião da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTN-Bio), em 17 outubro, foi rejeitado pedido de
audiência pública apresentado pelo Ministério Público Federal, Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Associação Gaúcha de
Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) para realizar um debate aberto com
a sociedade sobre os impactos de sementes transgênicas resistentes ao
herbicida 2,4-D – que estão em vias de liberação no Brasil. Segundo o
representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ruy de Araújo
Caldas, a comissão não pode ser palco político para “leigos” no assunto:
os debates devem ficar sob responsabilidade dos técnicos.
No entanto, a questão dos transgênicos envolve questões
políticas que deveriam, sim, ser divulgadas entre a população “leiga”.
Desde sua chegada no Brasil (em 1997, com a “soja maradona”), os
Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) têm sido alvo de polêmicas e
muita desinformação ao consumidor – o mais atingido pelas decisões dos
“técnicos”. Não há consenso quanto às consequências dessa tecnologia
para a saúde e os ecossistemas, especialmente quanto ao uso cumulativo
de agrotóxicos. A CTN-Bio, instância científica que delibera sobre o
assunto, tem sido alvo de críticas desde a publicação da Lei de
Biossegurança (Lei 11.105/2005), por seus superpoderes e caráter antidemocrático.
Nos anos 1990, os transgênicos foram defendidos como
alternativa benéfica para a agricultura: as modificações genéticas
levariam à redução da fome no mundo, pelo aumento da produtividade, e à
diminuição do uso de pesticidas. No entanto, as “ervas daninhas”
adquiriram resistência – especialmente ao glifosato, principal herbicida
usado em OGMs. As gigantes da agroquímica estão criando sementes para
aguentar produtos mais agressivos, porque o glifosato sozinho já não é
eficiente para matar “plantas invasoras”. Também a fome mundial
aumentou, nos últimos quinze anos. Os argumentos de que, com os OGMs, a
agricultura utilizaria menos agrotóxicos e resolveria o problema da fome
falharam.
Guerra de gigantes
Sementes de soja e milho, com tecnologia da Dow Chemical,
estão na iminência de ser aprovadas no Brasil. Elas resistem a três
herbicidas: glifosato, glifosato de amônia e 2,4-D – este, um dos
componentes do Agente Laranja (jogado pelos Estados Unidos no Vietnã nos
anos 60), fabricado por sete empresas, entre elas a Dow e a Monsanto.
A Monsanto, por sua vez, está substituindo sua tecnologia
RR, com tolerância ao glifosato, já que as plantas adquiriram
resistência ao herbicida, e lançou a RR2, que além do herbicida
incorpora genes produtores de proteínas inseticidas, capazes de acabar
com a lagarta helicoverpa – recentemente surgida nas lavouras de RR. A
tecnologia da Dow promete matar as plantas que já não morrem mais com
glifosato e glifosato de amônia. Mas a Monsanto não quer perder a
liderança nesse mercado e também pretende lançar sementes de soja e
milho resistentes ao herbicida Dicamba.
O impressionante é que as sementes de ambas as empresas
podem ser aprovadas no Brasil antes mesmo de serem aprovadas nos Estados
Unidos, seu país de origem. Segundo o engenheiro agrônomo Leonardo
Melgarejo, membro da CTN-Bio, o milho da Dow com 2,4-D pode ser aprovado
até o final do ano, enquanto a soja pode demorar um pouco mais. E a
soja com Dicamba também está em avaliação. “Basta que tramitem na CTNBio
e recebam parecer favorável da maioria dos membros daquela comissão”,
segundo Melgarejo.
A “novidade” dessas tecnologias é o uso de dois herbicidas
muito perigosos, em especial o 2,4-D, substância que compôs 50% do
tristemente célebre Agente Laranja
– cujo uso pelos EUA, na Guerra do Vietnã, para destruir as florestas e
assim visualizar melhor o inimigo deixou, até hoje, um legado de
deformações, envenenamento e morte. Ele está classificado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como extremamente perigoso à
saúde (classe toxicológica I), e ao ambiente (classe III).
Além disso, tanto o 2,4-D como o Dicamba são herbicidas com
grande deriva e volatilidade, ou seja, são facilmente espalhados pelo
vento, podendo contaminar lavouras não transgênicas – motivo pelo qual
produtores dos EUA vêm protestando contra seu uso – e deixando o
consumidor sem escolha. Mais importante: não há total segurança de que
os transgênicos sejam inócuos à saúde humana, como afirmam seus
defensores.
Dioxina e 2,4-D
Na tentativa de “garantir” a inocuidade do herbicida, a Dow
e mais três empresas do ramo da biotecnologia montaram a Força Tarefa
2,4-D, um website
destinado a divulgar informações sobre o agrotóxico. Segundo as
empresas, “o uso do 2,4-D está relacionado ao seu papel indispensável
para o controle de plantas daninhas no sistema do plantio direto, manejo
do solo que iniciou o conceito de agricultura ambientalmente
sustentável”. No site, há estudos que comprovariam a segurança humana e
ambiental no uso do herbicida. Para as empresas, o 2,4-D não deveria ser
associado com o Agente Laranja, já que a dioxina – a substância mais
tóxica já inventada pelo homem, tão persistente e devastadora que
continua presente no território vietnamita, causando contaminação do
ambiente e das pessoas, especialmente crianças, e relacionada a várias
doenças graves, conforme relatório do Instituto de Medicina dos EUA – só se formaria junto com outro componente, o 2,4,5-T.
No entanto, pesquisadores consideram que o produto não é
seguro para a saúde ou para o ambiente, independente da presença da
dioxina. Segundo o biólogo e pesquisador Gilles Ferment, o 2,4-D possui
potencial de perturbador endócrino (capaz de alterar as funções
hormonais) e de agente cancerígeno. Os perturbadores endócrinos podem
causar danos à saúde humana durante o desenvolvimento fetal e infantil.
O dossiê
“Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), citou pesquisas que relacionam o
2,4-D como um dos agrotóxicos responsáveis por contaminação da água. Especialistas
se mostram preocupados com o uso generalizado da substância, a partir
da aprovação das sementes transgênicas. Robin A. Bernhoft, médico e um
dos diretores da Academia Americana de Medicina e Meio Ambiente, afirmou
que o 2,4-D é considerado a causa de todos os cânceres e defeitos
genéticos nos filhos de ex-combatentes americanos no Vietnã e de
vietnamitas expostos ao Agente Laranja.
Chuck Benbrook, professor e pesquisador da área de
sustentabilidade e saúde na agricultura da Universidade do Estado de
Washington, apontou o risco de que a maior parte do 2,4-D usado no
Brasil seja importado da China, com altos níveis de dioxina: “Concordo
que o 2,4-D da Dow é muito mais limpo do que o dos anos 1970, mas quem
pode garantir que os agricultores brasileiros irão comprar o 2,4-D mais
caro e mais limpo?”. Isso também preocupa Leonardo Melgarejo: “A empresa
alega que no Brasil só será utilizada a formulação ‘amina’, que não é
volátil, com a qual a dispersão das partículas seria menor. Entretando, a
formulação ‘éster’ é mais barata. E é comum a identificação, pela
Anvisa, de aplicações de produtos proibidos e adulterados, coisa que
ocorre fundamentalmente por conta da diferença de custos”.
Riscos e precaução
Gilles Ferment, um dos organizadores do livro “Transgênicos para quem” (download gratuito),
afirma que as multinacionais de transgenia e os órgãos públicos de
regulamentação instituíram o princípio de equivalência substancial: os
produtos transgênicos não possuiriam propriedades diferentes dos
não-transgênicos. Já que “as plantas transgênicas são consideradas
iguais às não-transgênicas, basta adicionar estudos de bioensaios sobre
alguns organismos não-alvo e alguns testes de toxicidade sobre
camundongos para declarar definitivamente a segurança do OGM”, afirmam.
Contudo, a avaliação do risco desses produtos deveria englobar os riscos
para o funcionamento dos ecossistemas, bem como os impactos sociais
decorrentes do emprego da tecnologia.
O princípio da precaução – obrigação legal no processo de
análise de risco dos transgênicos e de atividades que possam causar dano
ambiental, assumida pelo Brasil e diversos países no Protocolo de
Cartagena, em 2000 – recomenda que, antes da aprovação do uso dessas
sementes, sejam realizados testes à exaustão, que comprovem de fato a
sua segurança e inocuidade ao ambiente e à saúde humana. Mas ele não vem
sendo aplicado. O princípio estimula conhecer antes de usar. Na dúvida,
não se deve ir em frente, pois os prejuízos, desconhecidos, podem ser
irreversíveis. Segundo Ferment, um ex-presidente da CTN-Bio caracterizou
o princípio da precaução como “anticientífico”, “inventado para
derrotar a ciência”.
Além do risco dos transgênicos em si, há o risco inerente à
aplicação dos agrotóxicos. Uma das características mais preocupantes do
2,4-D (e também do Dicamba) é o alto grau de disseminação do produto no
ambiente, para além da área alvo da aplicação. Existe, portanto, risco
de contaminação de lavouras ou de áreas em torno da plantação,
especialmente no caso de aplicações aéreas.
Nos EUA, a organização de agricultores Save our crops
vem lutando contra a aprovação de OGMs utilizando 2,4-D e Dicamba. Eles
temem a contaminação de seus cultivos – não transgênicos –, pois,
embora recomendados para aplicação via aérea, “ambos os pesticidas são
notoriamente propensos à deriva e volatilização, causando lesão e morte
de plantas de culturas vizinhas e paisagens rurais”. No Brasil, alerta o
engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro (UFRGS), considerando as altas
temperaturas e ventos, jamais se deveria usar avião para aplicar
agrotóxicos.
Recentemente foi divulgado
um caso que justifica a precaução: aplicação de agrotóxico por via
aérea atingiu uma escola em Rio Verde (GO), literalmente banhando
crianças e professores que desfrutavam do horário de recreio. Todos
ficaram intoxicados. Pelos riscos envolvidos nesse tipo de aplicação, a Campanha Permanente Contra o Uso de Agrotóxicos pede que ela seja banida, como já ocorre na União Europeia.
E o consumidor?
Em meio a um mar de desinformação e mal entendidos, o
consumidor está ficando praticamente sem opção. Faça o teste: quando for
ao supermercado, dê uma olhada nas prateleiras dos produtos à base de
milho e soja e veja se consegue encontrar uma marca cuja embalagem não
esteja identificada com o triângulo amarelo. Na maior parte dos grandes
supermercados, uma marca de óleo de soja não-transgênica pode talvez ser
encontrada, com sorte, em meio à grande maioria transgênica. Farinhas,
polentas, canjicas, salgadinhos, bolachas, fermentos para bolos e outros
produtos que utilizam milho ou amido de milho também são, em grande
parte, transgênicos. Os fabricantes alegam não haver milho
não-transgênico à venda.
Outro ponto a ser observado é que as sementes de milho
não-transgênicas estão sendo cruzadas com as transgênicas pela ação do
vento na polinização. O problema é gravíssimo, pois representa ameaça
real à biodiversidade brasileira – se continuar, não existirão mais
sementes “crioulas”, aquelas transmitidas de geração a geração, desde os
indígenas até a agricultura orgânica familiar. Seria o fim de um
capítulo da história de populações tradicionais, que vêm guardando essas
sementes ao longo de décadas – e até séculos.
O fato de que os produtos que utilizam transgênicos estejam
sinalizados com o “T” nas embalagens é uma vitória do consumidor, que
tem o direito de saber o que contém um alimento. O problema é que até
essa conquista básica pode estar ameaçada. Dois Projetos de Lei (PL) de
senadores da bancada ruralista já tentaram barrar ou modificar a
rotulagem, o PDL 90/2007, de Kátia Abreu (PMDB-TO) e o mais recente, PL 4148/2008,
de Luis Carlos Heinze (PP-RS). Esse último, com a justificativa de que o
símbolo com fundo amarelo, semelhante a placas de advertência, tensão
ou risco, “vincula o alimento que contenha DNA ou proteína obtida
através de organismo geneticamente modificado a circunstâncias de
perigo, nocividade, cuidado, alerta, e outras mais para as quais a
apresentação gráfica é usualmente destinada”. Mas a intenção da
rotulagem é justamente essa: alertar os consumidores, já que não há
comprovação científica da total segurança dos transgênicos para a saúde
humana, como recomenda o princípio da precaução.
A bancada ruralista também quer mais flexibilização para os agrotóxicos. Segundo texto
do Deputado Rosinha (PT-PR), em setembro de 2013 a Câmara dos Deputados
aprovou a Lei de Conversão (nº25/2013) da Medida Provisória 619/2013,
que vai agora à preciação do Senado Federal. Nela foram introduzidos
três artigos, os de nº 52, 53 e 54, que tratam de agrotóxicos. O artigo
53 é o mais perigoso, pois concede ao ministro da Agricultura o poder de
regular a importação, produção, distribuição, comercialização e uso de
agrotóxicos – medidas hoje de competência da Anvisa. Esse artigo poderá
permitir que ato do ministro flexibilize as regras atuais e autorize o
uso de agrotóxicos não permitidos, em “caráter extraordinário e quando
declarado estado de emergência fitossanitário e zoossanitário”. Para o
deputado Rosinha, o artigo “dá poder ao Ministério da Agricultura
(Mapa), dominado pelos ruralistas, e subjuga os outros dois órgãos
(Anvisa e Ibama) para decidir o que bem entender quanto ao uso de
venenos (agrotóxicos) na agricultura”.
Se a lei for aprovada nesses termos, representará enorme
retrocesso na regulamentação dos agrotóxicos. Nos anos 1970-80, durante a
ditadura militar, órgãos do Mapa eram responsáveis pelo assunto, e sua
proximidade com as empresas agroquímicas foi amplamente criticada. A
pressão dos ambientalistas levou à aprovação da primeira lei dos
agrotóxicos no Brasil, a do Rio Grande do Sul, em 1982, e à legislação
nacional, em 1989.
Ainda há esperança?
O forte movimento para ampliar a utilização de OGMs e
agrotóxicos sem observar o princípio da precaução, no Brasil, exige do
consumidor cuidado redobrado. Além de ler os rótulos dos produtos, uma
dica é ficar atento ao website
da CTN-Bio – que também é criticada pelas relações duvidosas de alguns
de seus membros com as multinacionais de OGMs. Vale também ficar alerta
aos movimentos de congressistas que visam reverter conquistas
importantes, como a rotulagem dos alimentos geneticamente modificados.
A boa notícia é que, paralelamente, a agricultura orgânica e ecológica está em expansão no país. Além do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica,
lançado pelo governo federal em outubro, acontece entre 25 e 28 de
novembro, em Porto Alegre, o mais importante evento de agroecologia no
país. O Congresso Brasileiro de Agroecologia,
em sua oitava edição, contará com mais de 1.000 trabalhos a serem
apresentados nas modalidades comunicação acadêmica, relato de
experiências e exposição de pôsteres. Esse número expressivo de
participantes, além do público ouvinte, sinaliza que existe muita
pesquisa na área, o que demonstra a aceitação e vitalidade do tema.
O argumento de que a agricultura precisa de todo o pacote
tecnológico que propugna indispensáveis o uso de agrotóxicos e sementes
geneticamente modificadas para alimentar o mundo não tem mais sentido.
Esperamos que mais e mais recursos sejam destinados à agricultura
ecológica para que possa expandir seu espaço de atuação, especialmente
em propriedades familiares, que valorizam a terra, o respeito e o
cuidado com o solo, com os animais e vegetais que habitam a propriedade,
com seu semelhante que vai comer o alimento, e, por extensão, todo o
planeta. Partindo de “uma ética que liga tudo com tudo”, como dizia
Lutzenberger em seu Manifesto Ecológico, essa agricultura pode, quem
sabe, curar o mundo.
Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/transgenicos-mais-agrotoxicos-na-sua-mesa/
Fonte: http://outraspalavras.net/brasil/transgenicos-mais-agrotoxicos-na-sua-mesa/
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