Era previsível.... rssss.....
Homens ao mar! Chamem os tubarões
O PSDB encara 2014 com o otimismo de um Titanic frente a um iceberg.
Seus dirigentes continuam dando declarações de que não irão afundar de
maneira alguma. Mas a verdade é que sentem o frio percorrer a espinha.
As más notícias das pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais
são o de menos. Aquilo que realmente os apavora é o ataque sofrido ao
que têm de mais caro, Minas Gerais e São Paulo, sua república particular
do café com leite.
Em 2014, terão pela frente, de um lado, o
julgamento do seu próprio mensalão, o original e que deu origem à série,
no Supremo Tribunal Federal - STF. De outro, sofrerão as investigações
da Polícia Federal sobre o trensalão paulista - denúncia de cartel,
superfaturamento de obras públicas e pagamento de propina a dirigentes
em altos postos de comando no governo paulista. Perto do propinoduto dos
paulistas, o mensalão mineiro é brincadeira de criança.
Sabedores
de que têm sérias avarias no casco, já existe um plano B. É simples,
curto e grosso. Se houver pressão da opinião pública que aprofunde ainda
mais a desmoralização que já vêm sofrendo, e se não conseguirem
suficiente blindagem midiática e do Ministério Público, terão que
sacrificar alguns de seus membros para serem devorados.
Vão,
portanto, desovar em alto mar a carga que considerarem podre. Pretendem
se livrar do peso morto e, ao invés de lançar botes e coletes
salva-vidas, o plano dos comandantes é usar megafones para alertar os
tubarões, dizendo: “olhem eles ali! Encham o estômago e nos deixem em
paz”. Quanto mais forem fustigados, mais carne estarão dispostos a
sacrificar.
Eduardo Azeredo e José Aníbal são sérios candidatos a
serem expulsos. Ambos são considerados figuras isoladas e difíceis de
se defender. São os primeiros da fila para andar na tábua. A coisa se
complica quando se fala em Aloysio Nunes, que é muito ligado a José
Serra e a Fernando Henrique. Mas há informações de que a Polícia Federal
tem documentos suficientes para colocá-lo em péssimos lençóis.
A
alta cúpula do tucanato sabe que houve corrupção em larga escala. O que
não contava é que isso se tornasse tão evidente. Já se avalia que
algumas provas do escândalo são incontestáveis e que haverá delatores
suficientes para enrascar algumas de suas maiores lideranças até o
pescoço, com crueza de detalhes.
Na fissura do salve-se quem
puder, o PSDB quer evitar a estratégia adotada pelo PT. O PT assumiu que
houve irregularidades, mas rechaçou peremptoriamente a prática de
crimes. Se solidarizou com os acusados e atacou quem os condenou. Os
tucanos que estão com os nomes jogados na lama serão abandonados – lama é
apenas uma maneira de dizer, trata-se de algo bem pior.
O
partido que ajudou a envenenar o poço agora vê que não pode reclamar de
beber da água. A tentativa de se distinguir dos petistas será vendida
como um ato de desprendimento em relação aos seus malfeitores. A
questão, no entanto, não tem qualquer fidalguia.
A acusação mais
grave que os petistas sofreram no STF foi a de atentar contra o Estado
democrático e o funcionamento das instituições. Segundo o delator,
Roberto Jefferson, o dinheiro amealhado teria sido distribuído a
parlamentares de partidos para a compra de votos no Congresso - por isso
o apelido de mensalão. E os tucanos? O que poderão dizer de um
escândalo envolvendo a construção de um metrô que teve, como destino
final, dinheiro guardado em contas bancárias na Suíça? Não é política.
Tem cara, cheiro e cor de enriquecimento. Não é poder, é dinheiro. Não é
mensalão. É propina.
Os petistas estão indignados e querem seus
dirigentes de volta. A condenação de José Dirceu, Genoíno e Delúbio uniu
até quem passou a vida fazendo oposição a eles dentro do PT. Os tucanos
estão divididos e querem defenestrar aqueles que foram pegos com a mão
na massa, pelo menos seus operadores, porque já sabem que deles não
podem esperar qualquer reciprocidade partidária.
O PT trata seus
três mosqueteiros como heróis - o quarto, João Paulo Cunha, está a
caminho. O PSDB está fazendo sua lista de párias para publicá-la a
qualquer momento.
Realmente, são duas coisas completamente diferentes. Enquanto o PT cospe fogo, o PSDB se prepara para engolir espadas.
(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB)
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Homens-ao-mar-Chamem-os-tubaroes/29745
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