Oh, Minas Gerais!
Ana Vargas
Oh!
Minas Gerais
Oh! Minas Gerais
Quem te conhece (superficialmente) pensa
que és feita apenas de montanhas, clubes
da esquina, JK, Beagá, pão de queijo, Tiradentes, Inhotim...
Quem
te conhece pelas matérias de seus jornalões ou pelas propagandas políticas, nem
sequer imagina a podridão que
existe nas entranhas de suas
cidadezinhas dominadas (até hoje) pelo coronelismo mais fajuto (mas justamente
por isso, eficiente) e por um certo tipo de gente que ainda olha as coisas de
Minas de cima para baixo...
Que
ainda faz política parecida com aquela feita lá no Maranhão (diga-me de quem és
filho e lhe direi se podeis desviar verbas públicas ou não).
Oh,
Minas Gerais, quem te conhece desse modo, não saberá jamais (jamais!) a
verdadeira história que existe por trás de seus projetos políticos feitos de
artimanhas e corrupções variadas; os conchavos que são tramados até entre
aqueles que deveriam ser ‘os olhos do povo’ (um dia esse foi o papel da
imprensa) e aqueles que se intitulam ‘donos’ desse povo.
Oh! Minas Gerais: como é revoltante saber que em suas cidades pequenas o crack
avança veloz e os governantes desses lugares simplesmente, não se importam, não
fazem absolutamente nada pelos jovens que vão se encaminhando para o terror das
drogas; e aqueles poucos, que gostariam
de fazer, não contam com apoio nenhum e são obrigados a engavetar (mais uma
vez) projetos sociais que beneficiariam milhares de famílias;
Oh,
Minas Gerais, como é terrível saber que nesse momento, verbas estão sendo desviadas,
ministérios que investigam e encontram algo, são obrigados a arquivar tudo em
nome de uma suposta paz e calmaria que deve prevalecer nas imagens turísticas
do estado.
Oh,
Minas Gerais, dizem que tuas terras são altaneiras, mas, ninguém diz que foram
e ainda são vendidas nesses folhetos turísticos apenas para provocar aquele ultrapassado
sentimento de bairrismo inútil, aquela sensação de que esse lugar ainda é ou
deveria ser aquele dos tempos longínquos da liberdade ainda que tardia. Que
liberdade? Ela ainda tarda... (assim como a justiça).
O seu céu é do puro anil e tão puro é que encobre com eficiência a imagem aviltante
de sua política asquerosa, uns poucos, bem poucos, devem estar de fato, fazendo
algo que valha a pena... Mas desses não se fala, é claro.
És bonita, oh terra mineira, quando estampada em páginas de revistas ou jornais
da chamada ‘grande imprensa’- aquelas montanhas azuis ao fundo, o rosto de um
caipira até hoje sendo ‘vendido’ como o de um mineiro típico (e aquelas
tenebrosas piadas sem graça que circulam na internet), aquele olhar conformado
e feliz; como se ser mineiro fosse ser acima de tudo resignado e manso.
Esperança do nosso Brasil: que fardo pesado te deram, oh Minas Gerais! Ser a
esperança de um país que somente a pouco encontrou um rumo; ter que carregar o
fardo de Tiradentes e de tudo aquilo que dizem, foi a inconfidência mineira.
Se
foi: que bom! Como – aí sim – me orgulho apenas o suficiente, bem pouco, de
forma vergonhosa até; pois ainda assim, como me orgulho por saber que no
passado houve gente de Minas que se revoltou e deu a vida em troca de valores
como dignidade e respeito e apreço por aqueles que de fato, precisam ser
lembrados: o povo mineiro.
Se
não foi, se tudo isso não passa de um mito histórico como tantos que existem
por aí; Minas vive de glórias vazias e eu diria mesmo, ridículas! Pobre
Tiradentes: se ele existiu, se foi de fato um herói, como deve estar se
revirando no túmulo por ver no que se transformou o seu ‘sonho’ de liberdade.
Aquele
seu remoto sonho é agora privilégio apenas de tipos raros que podem se dar ao
luxo de roubar porque possuem este ou aquele sobrenome; daqueles que por serem
amigos de fulano ou sicrano, podem até transportar drogas que nada, nada lhes
acontece (acontecerá?).
E
nem ela, a dita ‘imprensa’ está interessada em falar disso... Para quê afinal
gastar palavras, tempo e ideias para falar, ora! É bem melhor acreditar em
coisas como déficit zerado, capacidade política de uns e outros que sobrevivem à
custa de seus sobrenomes (e apenas por isso); acreditar em coisas como
modernidades, poderio político e toda essa palhaçada que ainda (ainda!) engorda
verbas publicitárias deste ou daquele jornaleco, daquela rede de tevê, daquele
fulano que é dono de uma fazenda de 60 milhões
e. bom, o resto você já sabe*.
Oh,
Minas Gerais: ainda acreditam que tua
lua é a mais prateada – embora ela esteja refletindo sobre rios e vales
depredados por mineradoras - que ilumina o nosso torrão – e torrão é a palavra
certa para alguns cantos de sua paisagem tão enfiados em seus sertões que
caixas eletrônicos são explodidos diariamente e a polícia nunca consegue prender quem quer que seja... (Mas aqueles
caras ali, que explodem caixas eletrônicos no sul ou no centro-oeste de Minas, de
vez em quando vão pra cadeia, enquanto que aqueles caras lá, digo, aqueles que
transportam droga em helicópteros de políticos que são amigos de pessoas de
sobrenomes mistificados...Aqueles lá nunca vão pra trás das grades...Porque
será?!)
És formosa, oh terra encantada, mas sua
formosura ainda resistindo bravamente em suas tardes entre as serras do cipó, da
piedade ou da moeda; vai velozmente sendo vilipendiada por empreendedores
desses que loteiam zonas urbanas e destroem o passado e a natureza; desses que cavoucaram
a terra atrás da serra do curral e continuam cavando, talvez para chegar ao
fundo de seu útero e para retirar de lá – quem sabe?- o resto de sua alma, tudo
aquilo que afinal, fez com que fostes o que és.
És orgulho da nossa nação... Será?
Sim,
ainda és orgulho se pudermos nos orgulhar das altas taxas de uso do crack nas
cidades do interior, na capital, no triângulo...
És
orgulho, se olharmos as propagandas do governo mineiro e acreditarmos naquele
festival de mentiras publicitárias sobre
como os índices da economia, da educação e da saúde são invejáveis em Minas...
És
orgulho para quem viu aquela moça que canta naquela banda (ruim) e que
emprestou a sua figura tão modernosa para ser porta voz dessas mentiras; os
adeptos da arte desengajada, da arte pela arte, da arte alienada certamente
aplaudiram e ficaram orgulhosos!
Oh!
Minas Gerais
Oh! Minas Gerais
Quem te conhece
Não esquece jamais
Quem
te conhece e ama de verdade, quem sabe olhar para suas ruas antigas e seus
becos e vielas e enxerga o povo que está ali, subindo estas ruas, cansado e
espremido em transportes públicos lotados, tentando encontrar um lugarzinho ao
sol em meio à avalanche de vagas compradas em concursos públicos, se virando
como pode para pagar as contas com salário de professor, enfrentando filas e
descaso nos postos de saúde e nos hospitais da capital e do interior...
Quem
olha pra’s Minas Gerais e vê de fato a gente dessa Minas Gerais sabe muito bem
que não há mais motivo nenhum para se orgulhar do que quer seja em Minas
Gerais!Fonte: http://antijornalismo.blogspot.com.br/
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