sábado, 5 de março de 2016
Medo de ser diferente
(Carta fictícia)
Por Antônio de Paiva Moura
Eu Delcídio do Amaral, senador da república pelo Mato Grosso do Sul, eleito pelo PT, venho a público dizer que fui muito diferente, porque fui o único, no exercício desse cargo, a ser preso neste país. Na verdade, eu nunca quis ser diferente, mas confesso que sou muito contraditório e vacilante. Nos dias de cárcere, fevereiro de 2016, estive refletindo como segue.
Arrependo-me de, no dia 7 de junho de 2006, ter aceitado a oferta do então governador de Minas, Aécio Neves, para me transportar de Mato Grosso do Sul para o Rio de Janeiro em aeronave pertencente àquele estado. Eu sabia que Aécio queria me cooptar para a sua futura campanha a presidente da República.
Se tivesse pensado bem, em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso, eu não teria feito acordo de interesse mútuo com meus colegas de trabalho, Nestor Severó e Paulo Roberto Costa. Arrependo-me de ter aceitado a sugestão desses dois colegas no sentido de me desligar do PSDB e me aproximar do PT, servindo de ponte para eles.
Foi um erro meu, ter exercido a função de presidente da CPI dos Correios, para beneficiar políticos e receber apoio deles.
Finalmente, arrependo-me de ter tentado conturbar a operação lava-jato para beneficiar amigos e a mim mesmo.
Por que cometi tantos erros no passado? Porque tinha vergonha de ser considerado uma pessoa diferente. No nosso país, ser honesto, ser diferente dos demais é o mesmo que ser doente. Desde criança eu tinha a preocupação de não ser diferente dos demais colegas, para não sofrer o que se chama de bulling. Como não consegui ser diferente ao longo de minha vida, continuo sendo igual: levando vantagens e dissimulando minha ambição de poder e de riqueza. Sou igual a Calabar e a Joaquim Silvério dos Reis.
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