Texto escrito por José de Souza Castro:
Minas Gerais deve ou não à União? A dívida de R$ 65 bilhões,
classificada durante o governo Antonio Anastasia, em 2013, como
impagável, já não existe? Qual mágica fez sumir todo esse dinheirão e
mais alguns bilhões de quebra?
E por que não vi fogos de artifício comemorando a notícia dada há
mais de um mês, em entrevista a um jornal mineiro, pelo governador
petista Fernando Pimentel? Logo ele, que a mim me parecia, ele sim, ter
sumido, fugindo da Polícia Federal e dos que querem cassar o seu mandato
– ou pelo menos, mantê-lo acossado e silencioso pelos próximos dois
anos.
Quantas dúvidas!
Essa dívida começou quando o tucano Eduardo Azeredo governava Minas e
se submeteu às exigências do governo FHC para privatizar todos os
bancos estaduais e para pegar um empréstimo com a União, de R$ 18,5
bilhões, para sanear as finanças do Estado. Sobre essa dívida seriam
cobrados juros anuais entre 6% e 7,5% ao ano. Negócio de pai para filho…
O pagamento seria feito em 30 anos, e o estoque da dívida, corrigido
pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Mas esse
índice aumentou mais que a inflação, e a dívida, em 2013, já subira
para R$ 65 bilhões, apesar de o governo de Minas, ainda tucano, garantir
que vinha pagando em dia as parcelas vencidas. Aos governos petistas.
Eu estava distraído. A dívida, cujo valor varia a bel-prazer do
secretário da Fazenda entrevistado em qualquer época, já teria sofrido
uma redução em abril de 2016, quando o ministro Edson Fachin, do
Supremo, concedeu liminar ao governo mineiro. Nesta data, a dívida já
estava em R$ 79,8 bilhões!
Fachin, que não fez na época tanto sucesso na imprensa quanto agora,
que foi nomeado para comandar a Lava Jato, permitiu, com aquela liminar,
que Minas pagasse a dívida sem a incidência de juros sobre juros.
Um refresco e tanto, ao que parece. Veio mais, porém.
Na entrevista do mês passado, Fernando Pimentel, sob novo fogo da
imprensa, por ter ido buscar um filho no Lago de Furnas usando um
helicóptero oficial – bons tempos quando o governador Aécio Neves usava
tal helicóptero sem ser incomodado… –, parecia entusiasmado: “Não temos
mais dívida com a União”. Motivo: O STF teria decidido que o governo
federal deve ressarcir os Estados pela perda de arrecadação de ICMS em
razão da Lei Kandir (do governo FHC), que isentou o imposto sobre
produtos exportados, como nosso rico minério de ferro.
Pelos cálculos de Pimentel, durante 20 anos, Minas deixou de
arrecadar R$ 92 bilhões. Se não é gogó petista, em vez de devedor, o
Estado seria credor da União. Cadê os fogos de artifício dos mineiros?
O silêncio talvez se explique porque essa questão de dívida pública
não interesse a ninguém que não seja banqueiro e rentista dos títulos
públicos. Um punhado de gente, nenhum leitor deste blog. Por isso,
hesitei muito antes de escrever sobre isso.
Animei-me, quando li AQUI
artigo de José Carlos de Assis, que conheci quando trabalhei por um mês
no Copidesque do “Jornal do Brasil”, no Rio, na década de 1970. No
artigo, Assis defende que nenhum Estado ou município deve à União, pois
toda a dívida já foi paga.
O autor dessa tese ousada venceu o Prêmio Esso de Jornalismo de 1983 e escreveu livros de sucesso. Entre eles, A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983.
Sim, corrupção existia também nas ditaduras militares. E vinha de
muito tempo atrás no Brasil. Pelo menos, desde 1500. É provável, porém,
que a dívida pública – uma caixa pretíssima – seja a campeã da
corrupção, em qualquer tempo. Essa, ninguém zera.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/02/08/divida-publica-corrupcao/#more-13580)
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