Laurindo Lalo Leal Filho - Publicado na Revista do Brasil, edição de fevereiro de 2017
A partir de 2009 vários países da América Latina vem comemorando os 200 anos de independência do colonialismo espanhol.
Naquele
ano, a Bolívia lembrou com muita festa a revolta liderada pelo padre
Domingo Murillo, em 1809, derrotada pelas forças coloniais, mas que
abriu caminho para a independência conquistada em 1825.
Em
2010, uma regata internacional, iniciada em Mar del Plata na Argentina,
com a presença das presidentas Cristina Kirchner e Michelle Bachelet
(Chile) passou por 14 portos de dez países do continente para lembrar as
datas históricas.
O veleiro Cisne Branco representou a Marinha brasileira no evento.
Dois
anos depois, 126 militares chilenos e argentinos subiram os Andes em
lombos de burro até o local onde os generais San Martin, argentino, e
Bernardo O’Higgins, chileno, se abraçaram há quase 200 anos para selar o
fim da dominação espanhola na região.
Quem ficou sabendo disso no Brasil?
A depender da mídia brasileira ninguém.
Mas a censura empresarial vai além do relato de festividades históricas.
Os governos de Hugo Chávez na Venezuela e de Evo Morales na Bolívia puseram fim ao analfabetismo em seus países.
Alguém soube disso através da mídia por aqui?
Ou
tomou conhecimento da maior redistribuição de renda já ocorrida no
Equador desde a posse de Rafael Correa na presidência da República, com a
chegada pela primeira vez de milhares de jovens da classe trabalhadora à
universidade?
Tratou com
isenção e profundidade a luta do governo equatoriano contra as ações
imperialistas dos Estados Unidos representadas pela petroleira Chevron
e a destruição ambiental por ela provocada? E contra a presença de uma
base militar estadounidense em Mantra, afrontando a independência do
Equador?
São apenas alguns acontecimentos pinçados entre inúmeros outros ocorridos na América Latina e ignorados pela mídia brasileira.
Cabe
acrescentar a má vontade com que ela cobre as ações de integração dos
países do continente como o Mercosul (Mercado Comum do Sul), a Unasul
(União das Nações Sulamericanas) ou a Celac, a Comunidade de Estados
Latinoamericanos e Caribenhos que reúne 32 nações das Américas, sem a
presença dos Estados Unidos e Canadá, fazendo um importante contraponto à
OEA, a Organização dos Estados Americanos onde a influência
estadounidense é muito forte.
O
rompimento desse bloqueio informativo não é fácil, dado o grau de
concentração dos meios de comunicação no Brasil, todos pautados por
linhas editoriais semelhantes.
No continente a Telesur, emissora de TV com sede em Caracas, é uma rara alternativa mas sua sintonia é difícil em nosso pais.
Pode ser vista no Distrito Federal graças a iniciativa de retransmiti-la, em alguns momentos, pela TV Comunitária local.
De alcance um pouco mais abrangente surge agora uma iniciativa pioneira: o programa Crônica de América, produzido na Argentina e veiculado aqui no Brasil pela TVT, a TV dos Trabalhadores, todas as segundas feiras às 22hs.
Pela
primeira vez temos no ar um programa plurinacional, apresentando e
debatendo temas comuns aos diversos países do continente, com um olhar
progressista de apoio as conquistas sociais obtidas pelos governos
populares da região e critico do retorno do neoliberalismo em países
como a Argentina e o Brasil.
A
condução é do jornalista uruguaio residente na Argentina Victor Hugo
Morales, conhecido por sua atuação como locutor esportivo e apresentador
de programas de informação e debates no rádio e na televisão.
Por
suas posições políticas foi demitido da emissora em que atuava há 30
anos, logo após a posse de Mauricio Macri na presidência da República.
Crônica de América
“inicia um caminho para compreendermos juntos o que acontece nos países
da região quando eles são governados pelo neoliberalismo. Será a
crônica de um continente que busca os caminhos de sua emancipação”,
disse Victor Hugo ao anunciar a estréia do programa.
Imperdível.
(fonte: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-silencio-sobre-a-America-Latina/4/37712)
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