Minha amiga Vania mandou hoje este comentário da Folha, a respeito de um livro que está sendo lançado, em que o autor disseca a história de uma das mais espetaculares revistas já publicadas neste nosso país, a "Realidade".
Considero-me um espectador privilegiado, porque acompanhei a revista, desde que foi lançada.
Comprei todos os números, exceto o número 10, que foi proibido de circular, só o consegui muitos anos depois.
Encadernei todos os números, até o 90. Mas os últimos já não eram o espelho dos primeiros números. E depois do número 90, até o formato foi modificado, e ela ficou parecida com uma Seleções, de pior qualidade até!
Durante alguns anos, Realidade foi companheira da Veja, dirigida pelo Mino Carta. Uma mensal, a outra semanal, eram as grandes leituras que faziamos na época.
Com o tempo passando, a Realidade morreu e a Veja passou a ser impressa com tinta de esgoto. Um dramático quadro do que a mídia impressa da Abril se transformou.
Esta é a capa do número 10, o número proibido. Coincidência ou não, o livro está sendo lançado na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher.
Ano atrasado eu me desfiz da maior parte da minha biblioteca. Os volumes da Realidade não tinham preço, não consegui comprador para eles. Doei, então, para o pai de uma amiga. Mais ou menos da minha idade, ele saberia dar o devido valor à revista.
Obra do ex-redator Mylton Severiano inclui informações inéditas do criador da revista
DA COLUNISTA DA FOLHAO jornalista Paulo Patarra guardou por 40 anos uma caixa de papelão amarelo da Kodak, com cartas, bilhetes e fotos dos tempos em que dirigia a "Realidade", referência de jornalismo nos anos 1960.
Antes de morrer, em 2008, entregou o material a Mylton Severiano, o Myltainho. O antigo redator da revista, como Patarra sabia, estava àquela altura escrevendo um livro sobre a publicação.
Esse material, somado a um "diário de bordo" sobre os 16 primeiros números, também deixados pelo diretor, são a maior riqueza de "Realidade: A História da Revista que Virou Lenda", que Myltainho lança agora pela catarinense Insular. Especialmente pelo ineditismo.
A publicação, afinal, já foi tema de estudos a perder de vista, além de ter sido retratada por outros ex-membros da equipe, como José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão, organizadores de "Realidade Re-Vista" (Realejo, 2010).
Como todo remanescente da revista gosta de lembrar, a "Realidade" foi lançada em 1966 com um projeto singular bancado pela editora Abril -mensal, ambicionava dar conta de assuntos do momento em grandes reportagens, sem perder a atualidade.
Entravam nas edições histórias tão variadas como a cobertura fotográfica de um parto, por Claudia Andujar, ou o premiado perfil dos meninos de rua do Recife, por Roberto Freire (o terapeuta).
O fato de ninguém ali ter certeza de como seria o resultado, eles dizem, ajudou. Assim como, é claro, contar com reportagens de nomes como Luiz Fernando Mercadante e o escritor João Antônio.
No auge, a revista chegou aos 500 mil exemplares vendidos em bancas, em plena ditadura, dando um jeitinho de ser provocativa sem incomodar demais os militares.
Mas a fórmula, como anotou Patarra em 1968, a certa altura deixou de funcionar: "Os generais pediam (depois iam impor) que Realidade se autocastrasse". Pouco depois ele deixaria a revista, acompanhado por mais de dez membros da equipe.
A "Realidade" sobreviveria até 1976, com menos impacto. Myltainho, no livro, encerra sua história em 1968.
REALIDADE: A HISTÓRIA DA REVISTA QUE VIROU LENDA
AUTOR Mylton Severiano
EDITORA Insular
QUANTO R$ 49 (320 págs.)
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