Eu estive bastante ocupado ontem e não tive tempo de escrever nada sobre o falecimento do presidente venezuelano. Hoje cedo, abro o computador e me deparo com o artigo do José de Castro, publicado no blog da Kika Castro. Vale a pena ler.
Texto escrito por José de Souza Castro:
Morre
um homem, nasce um mito. Hugo Chávez não será um mito latino-americano
da estatura de Simon Bolívar, em quem se inspirou na luta contra poderes
coloniais encarnados, conforme ele acreditava, nos Estados Unidos, nos
bancos e nas grandes corporações internacionais, sobretudo as empresas
petroleiras. Mas poderá se ombrear com Getúlio Vargas, do Brasil, e Juan
Domingo Perón, da Argentina.
Chávez
deve passar para a história, também, como ditador. Já foi incluído,
como tal, numa extensa lista de ditadores, desde o século 19, elaborada
pela enciclopédia virtual Wikipedia. Nessa lista estão 73 ditadores
latino-americanos. Na Venezuela, detentora da maior reserva de petróleo
do mundo, foram cinco ditadores ao longo de 143 anos. Desde 1870, o país
só experimentou 64 anos de regime democrático.
A
classificação de alguém como ditador depende do ponto de vista. De 1964
a 1985, o Brasil teve cinco generais na lista de ditadores da
Wikipedia, de Castello Branco a João Figueiredo. O único outro ditador
brasileiro listado é Getúlio Vargas. Poucos historiadores concordariam
em deixar de fora, por exemplo, o segundo presidente brasileiro:
Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”. Na imprensa brasileira, qual
jornal, revista, rádio ou televisão ousaria não classificar Hugo Chávez
como ditador? Qual deles, porém, chamou de ditador qualquer de nossos
ditadores listados na prestigiosa enciclopédia livre da internet, quando
eles estavam no poder?
Porém,
adversários dentro e fora da Venezuela não hesitam em classificar
Chávez como ditador, alegando que, além de menosprezar princípios
fundamentais da democracia como o direito à propriedade privada, ele
pediu ao Congresso, sob o controle de partidários, poderes especiais
para governar por decreto durante um ano. Nem mesmo admitem que ele foi
um ditador benéfico para 80% da população venezuelana, aquela
constituída pelos despossuídos num país rico em petróleo e que, por isso
mesmo, durante muito tempo, foi objeto de desejo e de exploração
predatória das grandes empresas e de nações como os Estados Unidos. E
continuaria assim, não fosse Chávez. Mas que ainda não se livrou da
dependência – e da “maldição do petróleo” [leia mais sobre essa
maldição AQUI e AQUI].
Admitindo-se
que Chávez foi um ditador, é preciso reconhecer que seu poder não se
apoiava apenas nas forças armadas, como os quatro ditadores venezuelanos
que o precederam, mas, sobretudo, no apoio popular. Em razão dele,
fracassou o golpe militar que, com forte apoio da imprensa, em 2002 o
apeou do poder por dois dias. A população armada saiu às ruas, e os
golpistas logo debandaram. Em 1992, quando o então tenente-coronel do
Exército Hugo Chávez intentou, com companheiros de armas, derrubar o
governo, ele não teve o mesmo apoio popular e acabou preso por dois
anos.
Ao
ser libertado, resolveu trilhar o caminho mais indicado pelos
democratas, embora estes não hesitem em recorrer ao golpe militar quando
as urnas lhes falham repetidamente, como já ocorreu e pode acontecer
ainda no Brasil. Chávez fundou um partido político socialista,
incrementou suas críticas aos Estados Unidos e aos opressores dos
trabalhadores em geral e, em 1998, elegeu-se presidente, aos 43 anos. A
primeira das quatro vitórias contra uma oposição poderosa, formada
principalmente pela imprensa e pela parcela mais rica da população, com
respaldo norte-americano. A última foi no dia 7 de outubro passado,
quando seu concorrente mais forte, o governador do estado de Miranda,
Henrique Capriles, não chegou a representar uma ameaça para Chávez, já
então lutando contra o câncer que o matou aos 58 anos.
Haverá
nova eleição na Venezuela, em breve. A presidência da República será
disputada, certamente, por Capriles, apoiado pelos Estados Unidos e pela
elite econômica da Venezuela. Mas o favorito deve ser Nicolás Maduro,
um seguidor do presidente morto e que tudo fará para dar prosseguimento à
política socialista de Hugo Chávez. Se o fizer, certamente, será o
sexto “ditador” venezuelano. A menos que venha a se realizar o desejo
manifestado pelo presidente Obama, logo após a notícia da morte de
Chávez, de uma reaproximação construtiva com o novo governo venezuelano.
Construtiva... Para quem?
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