Novo artigo do jornalista José de Castro, publicado no Blog da Kika
Lula, o mascate
Texto escrito por José de Souza Castro:
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que viajou a países
da África e da América Latina com despesas pagas por empresas privadas,
depois de deixar o governo. Existem embaixadas brasileiras que podem
auxiliar empresários a fazer negócios no exterior, mas há empresas que
consideram Lula mais eficiente nessa atividade.
O
ex-presidente demonstrou, no exercício do poder, ser um bom vendedor e,
em geral, levava empresários na comitiva, em suas muitas viagens ao
exterior. “Viajo para vender confiança”, afirmou Lula nesta semana, em
entrevista ao jornal “Valor Econômico”. “Se for preciso vender carne,
linguiça, carvão, faço com maior prazer. Só não me peça para falar mal
do Brasil”.
Além
de esclarecer o motivo de suas viagens como ex-presidente, Lula atacou
uma das figuras da oposição ao governo petista mais prestigiadas pela
imprensa, ao declarar: "Fico com pena de ver uma figura de 82 anos como o
Fernando Henrique Cardoso viajar falando que o Brasil não vai dar
certo". Ao justificar as palestras remuneradas por empresários, Lula
afirmou que está entre "as poucas pessoas com autoridade para ganhar
dinheiro com isso", por causa do governo que fez.
O
problema dessas viagens surgiu há uma semana. O jornal "Folha de S.
Paulo" revelou, com base em telegramas obtidos via Itamaraty, que das 30
viagens que Lula fez ao exterior, depois de deixar o governo, 13 foram
bancadas por empreiteiras com interesses nos países visitados. Nessas
viagens, o ex-presidente recebeu apoio de embaixadas brasileiras,
mediante funcionários locais ou diplomatas enviados do Brasil para
acompanhá-lo e, ainda, com pagamento de almoços e aluguéis de material
para a comitiva.
O
que se poderia transformar num escândalo, dependendo das interpretações
que se desse ao fato relatado, pode se diluir com a entrevista de Lula,
a menos que se prove que sua atuação é ilegal e que traz prejuízos para
o Brasil. Poucos países no mundo podem contar hoje com uma figura como o
ex-presidente brasileiro para estimular seu comércio e seus negócios
com outras nações.
São
conhecidos os fatos que antecederam a eleição de Lula. Quem não se
lembra de Regina Duarte, num anúncio dramático na televisão, a expressar
o medo da vitória do candidato petista? Não demorou, porém, que o
mercado – e não apenas o brasileiro – descobrisse um Lula bem mais
pragmático que ideológico. É ruim, para o país, que ele continue o
mesmo, depois que entregou a faixa presidencial a Dilma Rousseff?
Fernando
Henrique Cardoso cobrava caro para fazer conferências para empresários,
depois que deixou o governo. Quanto ele cobraria, se tivesse conseguido
eleger seu sucessor, o tucano José Serra? Talvez menos que Lula, pois o
sociólogo tucano teria certamente menos prestígio na Presidência da
República, com Serra, do que o ex-torneiro mecânico com a ex-prisioneira
política.
Para
encerrar: algum jornal já fez pesquisa sobre quem pagava as viagens de
FHC? Se não fez, não tem importância, diante de tudo o mais que
acontece, há séculos, entre os políticos e a elite econômica deste país.
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