Um doloroso retrato do que ocorre nas grandes cidades. A matéria é do blog DoLaDoDeLá
Posted: 21 May 2013 08:02 AM PDT
De
tempos em tempos sou atraído pela imagem de uma mulher que no fim da
tarde monta sua barraca num paredão próximo à estação da Barra Funda do
Metrô. De primeiro ela trazia um cartaz no qual descrevia resumidamente
suas necessidades e pedia ajuda a um desses programas de televisão que
realizam sonhos.
Sempre
pensei em me aproximar e conversar com ela, para conhecer melhor como
foi parar ali, mas confesso que - quase sempre - ou estou atrasado, ou
já é tarde o bastante para achar que ela suas duas menininhas, uma de
provavelmente 6 anos e outra de uns 4 ou 5, estariam dispostas a dar
alguma atenção para mim.
Domingo
à tarde criei coragem e me aproximei. Disse que tenho o hábito de vê-la
com seus meninos sempre ali. A garota no colo da mãe, que recebia um
delicioso cafuné, intercedeu: meninos, não, meninas! Ah, disse eu, não
há um menino entre vocês? Não, respondeu secamente a mãe, são só as duas
mesmo.
Trazia
comigo um pacote de biscoitos e algum dinheiro. Sabia que era pouco o
que podia oferecer a ela, mas a mãe agradecida disse que a ajuda chegava
em boa hora, porque elas têm um fogareiro e o mini botijão tinha
acabado. Ajudá-las fez bem mais para mim do que para elas. Na verdade,
ao estender a mão, quem pedia ajuda era eu, ironicamente.
Hoje
deparo-me com estudo do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria
Pública do Estado do Rio de Janeiro, que traça um perfil das pessoas em
situação de rua, naquela metrópole. E pasmem, lá apenas 13% dos
moradores de rua são analfabetos, e dois em cada três não bebem, nem
usam drogas. Ver com números o que senti quando percorri habitações
precárias e conversei com pessoa dos movimentos de luta por moradia no
Centro de São Paulo é confortante.
Se
nossa sociedade abrisse os olhos para conhecer os hábitos da nossa
população de rua e abrisse o coração para os relatos dessas vidas
abandonadas, quem sabe não viveríamos numa cidade mais solidária. Para
quem não sabe, essas pessoas são "invisíveis" inclusive aos olhos dos
recenseadores do IBGE, porque não têm endereço fixo.
Na
rua, elas ficam vulneráveis à toda sorte de abusos. São insultadas,
assaltadas, abusadas sexualmente e sofrem com a violência e intimidação
policial. Ver uma mãe com as duas menininhas naquela situação me fez
pensar tudo isso e perguntar: quantas outras mães não vivem assim?
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