quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quantas outras mães não vivem assim?

Um doloroso retrato do que ocorre nas grandes cidades. A matéria é do blog DoLaDoDeLá


Posted: 21 May 2013 08:02 AM PDT

De tempos em tempos sou atraído pela imagem de uma mulher que no fim da tarde monta sua barraca num paredão próximo à estação da Barra Funda do Metrô. De primeiro ela trazia um cartaz no qual descrevia resumidamente suas necessidades e pedia ajuda a um desses programas de televisão que realizam sonhos. 

Sempre pensei em me aproximar e conversar com ela, para conhecer melhor como foi parar ali, mas confesso que - quase sempre - ou estou atrasado, ou já é tarde o bastante para achar que ela suas duas menininhas, uma de provavelmente 6 anos e outra de uns 4 ou 5, estariam dispostas a dar alguma atenção para mim.
Domingo à tarde criei coragem e me aproximei. Disse que tenho o hábito de vê-la com seus meninos sempre ali. A garota no colo da mãe, que recebia um delicioso cafuné, intercedeu: meninos, não, meninas! Ah, disse eu, não há um menino entre vocês? Não, respondeu secamente a mãe, são só as duas mesmo.
Trazia comigo um pacote de biscoitos e algum dinheiro. Sabia que era pouco o que podia oferecer a ela, mas a mãe agradecida disse que a ajuda chegava em boa hora, porque elas têm um fogareiro e o mini botijão tinha acabado. Ajudá-las fez bem mais para mim do que para elas. Na verdade, ao estender a mão, quem pedia ajuda era eu, ironicamente.
Hoje deparo-me com estudo do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que traça um perfil das pessoas em situação de rua, naquela metrópole. E pasmem, lá apenas 13% dos moradores de rua são analfabetos, e dois em cada três não bebem, nem usam drogas. Ver com números o que senti quando percorri habitações precárias e conversei com pessoa dos movimentos de luta por moradia no Centro de São Paulo é confortante.
Se nossa sociedade abrisse os olhos para conhecer os hábitos da nossa população de rua e abrisse o coração para os relatos dessas vidas abandonadas, quem sabe não viveríamos numa cidade mais solidária. Para quem não sabe, essas pessoas são "invisíveis" inclusive aos olhos dos recenseadores do IBGE, porque não têm endereço fixo.
Na rua, elas ficam vulneráveis à toda sorte de abusos. São insultadas, assaltadas, abusadas sexualmente e sofrem com a violência e intimidação policial. Ver uma mãe com as duas menininhas naquela situação me fez pensar tudo isso e perguntar: quantas outras mães não vivem assim?

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