Texto escrito por José de Souza Castro:
Desde 1991, os Estados Unidos embarcaram numa década de
intervencionismo sem precedente. Sua responsabilidade principal era
presidir sobre um grande projeto de convergência político-econômica e
integração comumente referida como globalização. De fato, porém,
globalização serviu como eufemismo para império – suave ou informal – e
para a tentativa de instituir uma Pax Americana mundial.
A abordagem preferida foi depender, sempre que possível, da
persuasão. Porém, se pressionado, Washington não hesitou no uso da
força, como suas numerosas aventuras militares demonstraram durante a
década de 1990.
Dito isso, antes que me chamem de petista, comunista ou algo
parecido, esclareço: essas palavras não saíram da minha cachola. Elas
foram escritas, em inglês, por Andrew J. Bacevich, professor emérito de
História e Relações Estrangeiras da Boston University, e publicadas no
livro “The Limits of Power – The End of American Exceptionalism”, lançado em 2008 e que não demorou a entrar na lista de best sellers do jornal “The New York Times”.
O autor não é um porra louca esquerdista norte-americano. Com 69 anos
hoje, é membro do Council on Foreign Relations. Iniciou a carreira como
oficial do Armor Branch, setor do Exército criado em 1940 para
controlar as unidades de tanques durante a II Guerra Mundial. Retirou-se
do Exército com a patente de coronel.
Feita a apresentação, posso continuar com o que ele escreveu naquele
seu livro (ele publicou mais quatro), que estou lendo agora.
Os Estados Unidos, dizia Bacevich, antes mesmo da crise financeira
mundial iniciada em 2008 e que veio a ser classificada como a maior
desde 1929: “Oscilamos à beira da insolvência, tentando desesperadamente
fechar as contas confiando em nossas presumivelmente invencíveis forças
armadas. No entanto, aí também, tendo exagerado o nosso poder militar,
cortejamos a bancarrota.”
Para sustentar o que parecem querer os norte-americanos desde os
primórdios de sua história – liberdade e felicidade em casa – eles
precisam olhar para fora de suas fronteiras. A visão atual mudou muito.
“Antigamente, americanos viam o império como a antítese da liberdade.
Hoje, como ilustrado sobretudo pelos esforços do governo Bush de dominar
o Golfo Pérsico, rico em petróleo, o império parece ter-se tornado um
pré-requisito da liberdade”, lamenta Bacevich, que vê uma “gradual
erosão do nosso poder nacional”.
Segundo ele, o Iraque revelou “a futilidade de contar com o poder
militar para sustentar nossos hábitos de desperdício”. E prossegue: “Os
americanos precisam reassumir o controle sobre seu próprio destino,
acabando com sua condição de dependência e abandonando suas ilusões
imperialistas”.
Tudo isso, em tradução livre. Não sei se o livro dele foi publicado em português, não encontrei.
Para o autor, é importante insistir que a liberação de outros países
jamais foi o objetivo principal de qualquer ação dos Estados Unidos.
Bacevich sustenta que se o seu país teve uma missão, não foi para
libertar, mas para expandir-se. Tanto na aquisição de território, quanto
na ampliação de seu comércio no Exterior. “A expansão”, diz o autor,
“foi obtida por quaisquer meios necessários”. Dependendo das
circunstâncias, os EUA recorreram à diplomacia, à dura negociação, à
ameaça, à chicana, à intimidação ou à crua coerção. “Invadimos terra
pertencente a nossos vizinhos e então, descaradamente, proclamamos que
era nossa”.
Também se engajaram na limpeza étnica e não se contiveram pelo fato
de que “as políticas internacionais permitem pouco espaço ao altruísmo”.
E prossegue Bacevich: “A característica definidora da política externa
dos Estados Unidos, frequentemente, se junta ao primo primeiro do
pragmatismo, o oportunismo.”
Encerro as citações a Bacevich, sem qualquer esperança de que os
atuais governantes brasileiros tomem conhecimento de “The Limits of
Power”, pois eles parecem convencidos de que uma aliança sem reservas
com os EUA será a salvação do Brasil. Retroagimos aos tempos da ditadura
militar, quando o marechal Castelo Branco nomeou outro militar, Juracy
Magalhães, como embaixador nos Estados Unidos. Foi nesse cargo que o
esperto baiano definiu: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o
Brasil”.
Só o tempo dirá o que vai acontecer com o pré-sal… para quem ele será bom.
Eu não estou receando, apesar da advertência do coronel Bacevich, de
que os Estados Unidos venham a invadir o Brasil para se apossar do rico
território deste país grande e bobo. Para que faria isso? Se eles têm
condições de nos dominar pela convicção, com a ajuda valiosa de nossa
imprensa. A qual, não é de hoje, vem-nos fazendo a cabeça.
Afinal, para que invadir, se podem comprar na bacia das almas, em
momentos de crise que só tende a se agravar, grandes porções de nosso
território? Hoje qualquer estrangeiro pode comprar até 10% da área de
qualquer município brasileiro e o novo ministro da Agricultura, Blairo
Maggi, quer acabar até com essa limitação.
Deu-me vontade de comentar essa notícia, mas limito-me a indicar a análise feita pelo jornalista Fernando Brito em seu blog Tijolaço.
Aproveitando, recomendo também ouvir os dois vídeos disponíveis no
Youtube gravados no seminário “Mídia e Crise Brasileira: a cobertura
jornalística, a comunicação pública e o olhar da imprensa brasileira”. O primeiro
é de Franklin Martins, o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação
Social da Presidência da República no segundo governo Lula (2007-2010).
O outro
é do jornalista alemão Jens Glüsing, que há 15 anos observa o Brasil
como correspondente para a América Latina da revista alemã Der Spiegel.
Os dois conhecem bem os métodos usados pela grande imprensa
empresarial brasileira para defender interesses que ela prefere não
nomear, pois estão longe de ser os interesses da grande maioria dos
brasileiros.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2016/06/21/governo-temer-limites-poder/#more-12710)
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