sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Neoliberalismo e os abismos



           
Antônio de Paiva Moura

Recentemente um grupo de pesquisadores do Fundo Monetário Internacional FMI, composto pelos cientistas Jonathan Osttry, Prakash Lougani e David Furceri, faz racional e oportuna crítica ao Neoliberalismo. Para esse grupo, a desregulamentação excessiva vem causando crises no sistema econômico mundial, permitindo a invasão dos mercados regionais por investidores externos. Nas grandes cidades as redes de supermercado, serviços bancários, telecomunicações e grandes empreendimentos industriais são regidos por investidores externos. As remessas de lucros ao exterior são sangrias que deixam as economias regionais anêmicas. (ROSSI, 2016)
As privatizações acabaram por provocar uma desorganização no quadro de trabalho, com perdas na quantidade de empregos e queda no valor das remunerações. Pequenos investidores foram substituídos por poucos e grandes acionistas. Aumento exorbitante da concentração de riquezas. A flexibilização das relações trabalhistas fez diminuir a renda das famílias e aumentar o tempo de trabalho. A migração de empresas para as regiões onde prevalecem relações mais favoráveis na produtividade, mão de obra e matéria prima de baixo custo; desqualificação e eliminação de trabalhadores impostas pelo avanço das tecnologias da informação na indústria e serviços provocam aumento na taxa de desemprego e diminuição da circulação monetária.
No Brasil a balança de exportação é desfavorável ao país. Importa produtos industrializados e exporta commodity, com baixo valor agregado. A agricultura e a pecuária, cada vez mais mecanizadas, absorvem um mínimo de mão de obra. Além disso, nos últimos 30 anos, os investimentos estrangeiros aumentaram consideravelmente neste setor. Na mineração, depois da privatização da Vale de Rio Doce, o investimento estrangeiro em seu capital foi enorme. A mineração de ouro está em poder da Anglo Gold Ashanti. A extração e exportação de minérios de ferro são controladas por grandes companhias estrangeiras. Nunca houve tanta automação na extração, beneficiamento e transporte do minério de ferro. Tudo isso concorre com a disparidade na balança de mercado em toda a América Latina. Para ser considerada como economia global é necessário que haja equilíbrio nas balanças comerciais. Mas, o que se vê é uma exploração colonial só comparada ao tempo do mercantilismo nos séculos XVII e XVIII.
            No México o neoliberalismo indicou ao governo a fórmula da tecnologia do ensino à distância para reduzir os custos do ensino. Com a chegada ao poder do Partido Ação Nacional PAN, da direita liberal, o número de tele-escola explodiu. Em 2012 chegou a 20% dos alunos no setor público, cerca de um milhão e trezentas mil crianças estudando diante da televisão. As tele-escolas registram os piores resultados no sistema de avaliação escolar do país. Essa política educacional representa um desastre na atualidade com reflexos no futuro. (VIGNA, 2012)

                              Privatizar a universidade, seguindo a ideologia neoliberal, significa que a pesquisa não será mais uma prioridade. A universidade será como as instituições isoladas fundacionais que apenas mercadejam o ensino. Adeus Humanismo, adeus valores humanos: a universidade privatizada não será uma escola formadora de agentes críticos ou indivíduos capazes  de ampliar horizontes da sociedade em que atua. Será uma escola que apenas habilitará indivíduos para concorrer com seus pares; talvez mendigar um trabalho que lhe garanta a sobrevivência, mas não uma existência digna. Formará um profissional engajado na ideologia dominante que consiste em aceitar pacificamente tudo como está: “tudo é natural; pouco importa se estão ruindo todas as instituições como a família, a escola, a universidade, a justiça, o Estado, os serviços públicos, a democracia". Tendo no bolso alguns trocados adquiridos mesmo que de forma ilícita e tendo na mão um diploma de bacharel em qualquer coisa, o  mundo está salvo, pois não sabe, ou não quer saber  que seu país ou que o mundo está em crise.
                        Os trabalhadores desempregados da chamada economia formal migram-se para a economia informal, passando a atuar como vendedor ambulante, produtor artesanal e até coletor de frutos silvestres. Com a chegada desses novos competidores a economia informal entrou em severa crise na luta por espaços e no incômodo do excesso de concorrentes. Não há mais, em nossos dias, nenhum setor da sociedade que não esteja em crise. A palavra crise, em grego, significa abismo. Quem não teme o abismo?
                    


Referências.
ROSSI, Clovis. Neoliberalismo em xeque. Folha de São Paulo, São Paulo, 02 jun. 2016.

VIGNA, Anne. No México, a escola sem professor. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 55, fev. 2012.

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