Antônio de Paiva Moura
Recentemente um grupo de pesquisadores
do Fundo Monetário Internacional FMI, composto pelos cientistas Jonathan
Osttry, Prakash Lougani e David Furceri, faz racional e oportuna crítica ao Neoliberalismo.
Para esse grupo, a desregulamentação excessiva vem causando crises no sistema
econômico mundial, permitindo a invasão dos mercados regionais por investidores
externos. Nas grandes cidades as redes de supermercado, serviços bancários,
telecomunicações e grandes empreendimentos industriais são regidos por investidores
externos. As remessas de lucros ao exterior são sangrias que deixam as
economias regionais anêmicas. (ROSSI, 2016)
As privatizações acabaram por provocar
uma desorganização no quadro de trabalho, com perdas na quantidade de empregos
e queda no valor das remunerações. Pequenos investidores foram substituídos por
poucos e grandes acionistas. Aumento exorbitante da concentração de riquezas. A
flexibilização das relações trabalhistas fez diminuir a renda das famílias e
aumentar o tempo de trabalho. A migração de empresas para as regiões onde
prevalecem relações mais favoráveis na produtividade, mão de obra e matéria
prima de baixo custo; desqualificação e eliminação de trabalhadores impostas
pelo avanço das tecnologias da informação na indústria e serviços provocam
aumento na taxa de desemprego e diminuição da circulação monetária.
No Brasil a balança de exportação é
desfavorável ao país. Importa produtos industrializados e exporta commodity, com baixo valor agregado. A
agricultura e a pecuária, cada vez mais mecanizadas, absorvem um mínimo de mão
de obra. Além disso, nos últimos 30 anos, os investimentos estrangeiros
aumentaram consideravelmente neste setor. Na mineração, depois da privatização
da Vale de Rio Doce, o investimento estrangeiro em seu capital foi enorme. A
mineração de ouro está em poder da Anglo Gold Ashanti. A extração e exportação
de minérios de ferro são controladas por grandes companhias estrangeiras. Nunca
houve tanta automação na extração, beneficiamento e transporte do minério de
ferro. Tudo isso concorre com a disparidade na balança de mercado em toda a
América Latina. Para ser considerada como economia global é necessário que haja
equilíbrio nas balanças comerciais. Mas, o que se vê é uma exploração colonial
só comparada ao tempo do mercantilismo nos séculos XVII e XVIII.
No México o
neoliberalismo indicou ao governo a fórmula da tecnologia do ensino à distância
para reduzir os custos do ensino. Com a chegada ao poder do Partido Ação
Nacional PAN, da direita liberal, o número de tele-escola explodiu. Em 2012
chegou a 20% dos alunos no setor público, cerca de um milhão e trezentas mil
crianças estudando diante da televisão. As tele-escolas registram os piores
resultados no sistema de avaliação escolar do país. Essa política educacional
representa um desastre na atualidade com reflexos no futuro. (VIGNA, 2012)
Privatizar a universidade, seguindo a ideologia neoliberal, significa
que a pesquisa não será mais uma prioridade. A universidade será como as
instituições isoladas fundacionais que apenas mercadejam o ensino. Adeus
Humanismo, adeus valores humanos: a universidade privatizada não será uma
escola formadora de agentes críticos ou indivíduos capazes de ampliar horizontes da sociedade em que
atua. Será uma escola que apenas habilitará indivíduos para concorrer com seus
pares; talvez mendigar um trabalho que lhe garanta a sobrevivência, mas não uma
existência digna. Formará um profissional engajado na ideologia dominante que
consiste em aceitar pacificamente tudo como está: “tudo é natural; pouco
importa se estão ruindo todas as instituições como a família, a escola, a
universidade, a justiça, o Estado, os serviços públicos, a democracia".
Tendo no bolso alguns trocados adquiridos mesmo que de forma ilícita e tendo na
mão um diploma de bacharel em qualquer coisa, o
mundo está salvo, pois não sabe, ou não quer saber que seu país ou que o mundo está em crise.
Os trabalhadores desempregados da chamada
economia formal migram-se para a economia informal, passando a atuar como
vendedor ambulante, produtor artesanal e até coletor de frutos silvestres. Com
a chegada desses novos competidores a economia informal entrou em severa crise
na luta por espaços e no incômodo do excesso de concorrentes. Não há mais, em
nossos dias, nenhum setor da sociedade que não esteja em crise. A palavra
crise, em grego, significa abismo. Quem não teme o abismo?
Referências.
ROSSI,
Clovis. Neoliberalismo em xeque.
Folha de São Paulo, São Paulo, 02 jun. 2016.
VIGNA, Anne. No México,
a escola sem professor. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 55,
fev. 2012.
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