por Antônio
de Paiva Moura
Contradição é o que se opõe ao que
foi feito e determinado anteriormente. A superação de uma contradição de forma
incorreta ou incompleta acaba gerando outras que permanecem ao longo da
história. Essas contradições crônicas se manifestam ou se explicitam através do
discurso igualmente contraditório do lado conservador. Este reivindica um estado
mínimo com desvalorização do serviço público, isto é, diminuição progressiva
dos gastos públicos, mesmo com prejuízo dos benefícios sociais. Mas, por outro
lado, precisa de um estado máximo para exercício da segurança; abomina o
ativismo governamental e clama por uma saída autoritária; Denuncia a
intromissão do Estado na vida das pessoas e defende a criminalização de
usuários de maconha; exige que a família seja deixada em paz pelos poderes
públicos, mas propõe uma regulamentação legislativa sobre o conceito de
família; protesta contra o totalitarismo e advoga um controle policial sobre os
corpos das mulheres; quer liberdade religiosa, mas propõe restrições a
religiões de matrizes africanas. De acordo com essas posições o que se deseja é
que tudo permaneça como se encontra ou regrida a estados anteriores.
O neoliberalismo operou a separação entre a
economia e a política, de modo a proteger os operadores econômicos de qualquer
controle. Se a política for definida como defesa do interesse comum, o
interesse econômico passa por cima. Na teoria, a predominância do interesse de
lucro sobre o de bem-estar social já vigora há muito tempo. Na atual conjuntura
isso ficou bem explicito quando o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia,
em 9 de março de 2017 disse que a Justiça do Trabalho é responsável pelo
desemprego no Brasil. O economista austríaco Hayek recusa o conceito de
“justiça social” o qual considera absurdo, já que este julga o que não pode ser
julgado. Ele parte da premissa de que não existe critério algum por meio do
qual poderíamos descobrir o que é socialmente justo, porque não existe um
sujeito por quem essa injustiça poderia ser cometida. A primeira premissa de
Hayek é falsa, logo sua conclusão também o é. Não é possível julgar os fatos
econômicos como fatos jurídicos. O neoliberalismo é um fenômeno político-econômico
universal, regido por ideologias vigentes. O julgamento que se faz dele é um
processo de juízo também universal, ao invés de direito positivo. O conceito de
justiça social não pertence ao direito, mas à história.
Coloca-se em evidência o fato de nos
EUA, 58% de todo crescimento real de renda gerada entre 1976 a 2007 foi
embolsado por apenas 1% de famílias mais ricas. Na base da pirâmide, isto é,
entre as classes operárias e trabalhadores autônomos, houve estagnação e queda
de salários reais, agravada pelo desemprego. Na Europa, também, o aumento da
desigualdade nos últimos anos foi marcante, porque os 20% mais ricos ganharam
quase cinco vezes mais que os 20% mais pobres. A única coisa que se pode
manifestar diante dessa situação, de imediato, é indignação, repulsa e
protesto. Não existe um fórum que possa sentenciar o fim dessa humilhação
universal. Existem, sim, fóruns universais que podem debater os problemas e
buscar a longo prazo, as soluções históricas cabíveis. É oportuno lembrar que o
Fórum Social Mundial que há vinte anos vem se reunindo em diversos continentes
é um desses instrumentos. Em 2010 o geógrafo britânico David Harvey chamou a
atenção para o fato de que o crescimento econômico sem interrupção é impossível
e o capitalismo não sobrevive sem ele.
Em 2012, Joseph Stiglitz, prêmio
Nobel de economia, em seu livro “O preço da desigualdade”, diz que quando 1%
mais rico da população concentra mais de 25% da renda, a bomba atômica
econômica explode, isto é, o capitalismo entra em crise. A desigualdade corrói
o PIB até matá-lo. Em consequência disso o estopim da bomba atômica social está
aceso.
Enquanto Isso, nas terras das alterosas, noutras plagas idem, o empresariado chora por financiamento do dinheiro público, para seus negócios.
ResponderExcluirEnquanto o da pf, rende juros na banca.
Ô burguesia fileira!